UFANISMO VAZIO
João Eichbaum
As lágrimas, misturadas com ranho, que encharcaram as barbas do
Lula, quando foi anunciado o Brasil como sede das Olimpíadas de 2016, acabaram
desaguando num país mergulhado em crise política e econômica, com o Rio de
Janeiro e outros Estados falidos, o povo entregue à violência e a mil outras
contrariedades cotidianas.
Mesmo assim, há gente que procura motivos para comemorar. Como a jornalista
Balala Campos, em artigo publicado na ZH do dia 2 último, criticando a postura
dos brasileiros que ressaltam a face negativa do país, em detrimento de seus
aspectos positivos.
Diz ela, entre outras coisas: “ os brasileiros, entretanto, com
reconhecida baixa estima, têm ressoado aos quatro ventos a crise econômica e
política e os altos índices de violência que nos assolam, o que é repercutido
em larga escala pela imprensa internacional”.
O verbo “ressoar”, é intransitivo. Quer dizer: ele esgota, por si
mesmo, seu significado, sem necessidade de recurso ao objeto. No texto, “os brasileiros”
jamais poderiam servir como sujeito do verbo ressoar. O que ressoa é a voz, o
som, o barulho...
Os sujeitos seriam “a crise econômica e política e os altos
índices de violência”, válidos em sentido figurado, mas sem valor nenhum, no
caso, travestidos que foram de objeto direto. Outra coisa: o verbo
“repercutir”, que também é intransitivo, exige a preposição “em” e não a
preposição “por”. Assim: repercutiu na imprensa e não “pela” imprensa.
A forma deficiente desarticula o texto, tira-lhe a força do
conteúdo. Para se incorporar à campanha da imprensa, conclamando o orgulho dos
brasileiros e seu entusiasmo pelas tais de Olimpíadas, Balala Campos invoca a
riqueza do Brasil em “biodiversidade”, “energia renovável”, “água doce” e
“florestas”.
Dessa vez a deficiência de forma é produzida pela falta de lógica:
as Olimpíadas têm tanto a ver com as riquezas naturais brasileiras, quanto o
ânus têm a ver com as têmporas. Sem contar que, neste país, os cientistas, os
pesquisadores com qualificação para desenvolver projetos dessa área, ganham
menos do que um motorista do senado.
Nem Rui Barbosa, com a beleza de seus textos e a força de seus
argumentos, despertaria o orgulho e o entusiasmo de brasileiros sensatos, numa
hora dessas: não basta o ufanismo para reerguer este país empobrecido e enxovalhado
pela corrupção.
Nenhum comentário:
Postar um comentário