sexta-feira, 5 de agosto de 2016

UFANISMO VAZIO

João Eichbaum

As lágrimas, misturadas com ranho, que encharcaram as barbas do Lula, quando foi anunciado o Brasil como sede das Olimpíadas de 2016, acabaram desaguando num país mergulhado em crise política e econômica, com o Rio de Janeiro e outros Estados falidos, o povo entregue à violência e a mil outras contrariedades cotidianas.

Mesmo assim, há gente que procura motivos para comemorar. Como a jornalista Balala Campos, em artigo publicado na ZH do dia 2 último, criticando a postura dos brasileiros que ressaltam a face negativa do país, em detrimento de seus aspectos positivos.

Diz ela, entre outras coisas: “ os brasileiros, entretanto, com reconhecida baixa estima, têm ressoado aos quatro ventos a crise econômica e política e os altos índices de violência que nos assolam, o que é repercutido em larga escala pela imprensa internacional”.

O verbo “ressoar”, é intransitivo. Quer dizer: ele esgota, por si mesmo, seu significado, sem necessidade de recurso ao objeto. No texto, “os brasileiros” jamais poderiam servir como sujeito do verbo ressoar. O que ressoa é a voz, o som, o barulho...

Os sujeitos seriam “a crise econômica e política e os altos índices de violência”, válidos em sentido figurado, mas sem valor nenhum, no caso, travestidos que foram de objeto direto. Outra coisa: o verbo “repercutir”, que também é intransitivo, exige a preposição “em” e não a preposição “por”. Assim: repercutiu na imprensa e não “pela” imprensa.

A forma deficiente desarticula o texto, tira-lhe a força do conteúdo. Para se incorporar à campanha da imprensa, conclamando o orgulho dos brasileiros e seu entusiasmo pelas tais de Olimpíadas, Balala Campos invoca a riqueza do Brasil em “biodiversidade”, “energia renovável”, “água doce” e “florestas”.

Dessa vez a deficiência de forma é produzida pela falta de lógica: as Olimpíadas têm tanto a ver com as riquezas naturais brasileiras, quanto o ânus têm a ver com as têmporas. Sem contar que, neste país, os cientistas, os pesquisadores com qualificação para desenvolver projetos dessa área, ganham menos do que um motorista do senado.

Nem Rui Barbosa, com a beleza de seus textos e a força de seus argumentos, despertaria o orgulho e o entusiasmo de brasileiros sensatos, numa hora dessas: não basta o ufanismo para reerguer este país empobrecido e enxovalhado pela corrupção.



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