O OUTRO PODER
João Eichbaum
Errando no percurso que fazia em direção ao
Parque Olímpico, uma viatura da Força Nacional entrou no Complexo da Maré, área
dominada por traficantes do Rio de Janeiro, e foi recebida a tiros. Em
consequência do ataque, um soldado morreu.
Em explicações que lhe foram cobradas, o
general Sérgio Etchegoyen, ministro-chefe do Gabinete de Segurança
Institucional (GSI) da Presidência da República, se saiu com essa: “foi uma
fatalidade”. E acrescentou, sem o mínimo sinal de desconforto: “este episódio é
muito menor que a Olimpíada”.
Ninguém ensinou ao ministro que
“fatalidade” é um infortúnio imprevisível, inevitável, fortuito, sem
interferência da vontade humana; que a vida é o maior de todos os espetáculos; e
que muito maior do que a Olimpíada é a dor sofrida pela mãe que perde um filho.
No discurso do general, corroído pela falta de lógica, não há espaço para o
mais cobiçado dos valores humanos, o único de que dependem todos os outros: a
vida.
Claro que essas explicações infelizes são
as únicas a que poderia recorrer o ministro, diante da verdade avassaladora,
que deveria cobrir de vergonha as autoridades brasileiras: na hierarquia do
poder, a hegemonia, no Brasil, pertence ao crime. Ou, aproveitando para botar
na contramão as palavras do general: o crime aqui é muito maior do que a
Olimpíada.
Para dar ao mundo uma falsa ideia de
segurança, foi entregue ao controle da Força Nacional a área em torno do Parque
Olímpico. Enquanto isso, no resto da cidade do Rio de Janeiro e no país, o
poder continuou nas mãos dos bandidos.
Não pode haver segurança, se não houver
inteligência. O que causou a morte do soldado foi a falta de treinamento da
Força Nacional para se locomover no Rio de Janeiro. Dessa deficiência se
aproveitou o banditismo que desmoraliza o poder institucional desorganizado,
carcomido pelos maus costumes políticos.
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