CRÔNICA METAFÓRICA
João Eichbaum
Antigamente, quando dominavam bons costumes de
civilidade, chamavam-se “senhoritas” às mulheres solteiras, moças - ou nem
tanto - para distingui-las das senhoras casadas. O critério para essa distinção
era uma membrana, chamada hímen, que se mantinha presumidamente íntegra nas
mulheres desobrigadas dos deveres epitalâmicos.
Fosse naqueles tempos, assim seria chamada hoje a
ministra Carmen Lúcia. Além de solteira, ela ingressou no Supremo Tribunal
Federal, preenchendo a condição básica da conduta ilibada. A presunção relativa
a esse último quesito é reforçada por seu porte de mordomo inglês, nos filmes
de mistério, em que o assassino não é conhecido.
Já com relação a Renan Calheiros, a mesma
presunção não funciona, porque tem prova contrária. A prova se chama Mônica
Veloso, uma bela jornalista, que apareceu em carne pura na revista Playboy, prendada
com aqueles dotes físicos que mexem, a quilômetros de distância, com as glândulas
reprodutoras de quem se tem por macho.
Um rebento atribuído às funções do aparelho
reprodutor de Renan Calheiros custou ao alagoano um processo de perda de
mandato. O processo terminou em pizza, mas deixou resquícios para uma denúncia
penal, que ainda espera recebimento no Supremo.
Não tivesse a tradição consolidado a tácita
jurisprudência, segundo a qual, no STF, só não se estanca a prescrição de
crimes praticados por pobres, o fiofó do Renan estaria correndo perigo.
Ao vomitar vocativos adjetivados de baixo quilate
contra um juiz, o senador não imaginava que os impropérios poderiam atingir a
toga da senhorita Carmen Lúcia. Para sorte dele, porém, existem as togas do
Lewandowski e do Toffoli, graças às quais ele não ficará enrolado em maus
lençóis por ter se metido em cama alheia, e por enquanto permanecerá presidente
do Senado. De modo que os presos de Brasília vão continuar na mão.
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