sexta-feira, 4 de novembro de 2016

CRÔNICA METAFÓRICA
João Eichbaum

Antigamente, quando dominavam bons costumes de civilidade, chamavam-se “senhoritas” às mulheres solteiras, moças - ou nem tanto - para distingui-las das senhoras casadas. O critério para essa distinção era uma membrana, chamada hímen, que se mantinha presumidamente íntegra nas mulheres desobrigadas dos deveres epitalâmicos.

Fosse naqueles tempos, assim seria chamada hoje a ministra Carmen Lúcia. Além de solteira, ela ingressou no Supremo Tribunal Federal, preenchendo a condição básica da conduta ilibada. A presunção relativa a esse último quesito é reforçada por seu porte de mordomo inglês, nos filmes de mistério, em que o assassino não é conhecido.

Já com relação a Renan Calheiros, a mesma presunção não funciona, porque tem prova contrária. A prova se chama Mônica Veloso, uma bela jornalista, que apareceu em carne pura na revista Playboy, prendada com aqueles dotes físicos que mexem, a quilômetros de distância, com as glândulas reprodutoras de quem se tem por macho.

Um rebento atribuído às funções do aparelho reprodutor de Renan Calheiros custou ao alagoano um processo de perda de mandato. O processo terminou em pizza, mas deixou resquícios para uma denúncia penal, que ainda espera recebimento no Supremo.

Não tivesse a tradição consolidado a tácita jurisprudência, segundo a qual, no STF, só não se estanca a prescrição de crimes praticados por pobres, o fiofó do Renan estaria correndo perigo.

Ao vomitar vocativos adjetivados de baixo quilate contra um juiz, o senador não imaginava que os impropérios poderiam atingir a toga da senhorita Carmen Lúcia. Para sorte dele, porém, existem as togas do Lewandowski e do Toffoli, graças às quais ele não ficará enrolado em maus lençóis por ter se metido em cama alheia, e por enquanto permanecerá presidente do Senado. De modo que os presos de Brasília vão continuar na mão.



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