terça-feira, 22 de novembro de 2016

ELO DE AMARGURAS
João Eichbaum
Acorrentada às grades que cercam o prédio do Forum de São Leopoldo, aquela mãe clama por justiça. Às faíscas da indignação, que despejam seus olhos, junta-se a sombra da tristeza, do desencanto pela vida, do desespero por ver o tempo passar, sem respostas para seu clamor.
O filho Ygor, levado por ela para se submeter a um procedimento simples no hospital, lhe foi devolvido como uma criatura que simplesmente respira por meio de aparelhos, nada mais. O esplendor daquela criança de cinco anos se esvaiu numa sala de cirurgia. Em seu lugar ficou o retrato de um menino que não fala, que não tem mais passado nem perspectivas de futuro, porque sua biografia passou a ser escrita por um sono que não tem fim.
Isadora, de três anos, lépida e de olhar saltitante, padece, sem saber, o mal que uma doença, chamada Niemann Pick-B, lhe faz. Ela não tem a mesma liberdade das outras crianças, surpreendida que foi por um dos infaustos da natureza. A fase melhor da existência lhe está sendo negada por esse mal, que desafia a ciência e lança seus pais no caminho da amargura.
Arthur, com seis anos, outro menino castigado pela natureza com um mal chamado  meduloblastoma, é mais uma criança a quem a vida nega sua beleza, rouba-lhe momentos mais felizes e sobrecarrega seus pais com a verdade insuportável de que não possuem meios para combater a doença.
São três famílias ligadas pelo sofrimento, pela frustração e pela esperança, sempre periclitante, de que algo melhor aconteça. Enquanto seus filhos respiram, enquanto a natureza mostra neles seu trabalho pela vida, esses pais vivem na montanha russa da dor que, mesmo intensa, não se deixa desprender da esperança.
E duas são as esperanças que as movem: a Justiça e a Ciência. Mas a Justiça que se apresenta como um braço do Estado, não passa de um grupo de seres humanos iguais a todos, com as mesmas fraquezas que fazem as criaturas sucumbir aos pecados capitais. E, como se isso não bastasse, quando chamada em nome do Direito, ela se arrasta com a lentidão de um molusco e raramente chega na hora certa.
A Ciência, como a Justiça, custa dinheiro. E o dinheiro necessário para a Ciência deveria vir dos cofres do Estado, para onde é levado pelo suor dos contribuintes. Exatamente por dar sua contribuição, para que o Estado administre o bem comum, resolvendo os problemas da comunidade e dos indivíduos enquanto cidadãos, quem paga imposto se chama contribuinte. Mas o dinheiro se esvai, no caminho entre o bolso do contribuinte e os cofres do Estado. E com ele a Ciência se afasta, porque o Estado prefere gastar em Copas do Mundo e outras festanças para distrair o povo, do que em Saúde e pesquisas científicas.



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