terça-feira, 8 de novembro de 2016

TRIBUTO À INCOMPETÊNCIA
João Eichbaum
Os problemas que se atravessaram na realização do Enem não representam senão a síntese da incompetência e de outras indecências da administração pública, alimentadas desde o tempo em que as margens do Ipiranga eram plácidas.
Vamos por partes. A distribuição dos locais para a realização dos exames é a mais burra, a mais irracional que se possa imaginar. Os candidatos são agrupados segundo a ordem alfabética. Nas grandes cidades, isso representa um transtorno para as famílias.
Separados do local da prova por distâncias consideráveis, os candidatos mais pobres, que dependem do deficiente transporte público, necessitam, muitas vezes, de um tempo quadruplicado, em relação aos demais, para cumprir a exigência da pontualidade. Muito mais fácil e menos traumatizante para eles seria a utilização do CEP, ao invés da ordem alfabética. Assim, seriam agrupados, a partir de suas residências, nas escolas mais próximas. Mas, só a burrice explica a insensatez.
Se esse dado antigo nunca foi resolvido, imaginem-se os imprevistos, como a criminosa invasão das escolas, ocorrida poucas semanas antes da realização dos exames. Para alegria dos prosélitos do rebuliço institucional, da violência, do caos e da desordem, autoridade nenhuma tomou providência. O patrimônio público foi entregue aos vândalos, negando-se, aos bem-intencionados, o direito à educação.
Nem o assassinato de um adolescente, dentro dum desses antros em que se transformaram as escolas sob o domínio de energúmenos, conseguiu tirar do marasmo a administração pública. A partir disso, aconteceram tumultos piores que briga de cachorros, sem tréguas: alunos e pais brigando contra alunos e pais, medidas de coação medievais autorizadas pelo Judiciário, depredações e recrudescimento da intolerância e do ódio.
E para culminar, chamado a botar ordem nas coisas, para que os inocentes não pagassem pelos energúmenos, e sobretudo para fazer prevalecer o princípio constitucional da isonomia, o Judiciário se desquitou do problema, com um esquálido conceito de isonomia relativa: negou o pedido de suspensão da realização do Enem, formulado pelo Ministério Público. Assim, esfacelou a confiança nas instituições e incrementou a certeza de que pagamos impostos para nos submeter à incompetência desses que dispõem sobre a sorte da pátria e do povo.



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