SENTANDO EM CIMA DO PROCESSO
João Eichbaum
Segundo levantamento efetuado pela Folha de SP, um terço dos processos
que correm no STF contra políticos corruptos são atingidos pela prescrição.
Quer dizer, suas excelências, os corruptos, são beneficiados pela inércia, pelo
esquecimento nas prateleiras, pelo dar de ombros, pela falta de tempo de suas
excelências os ministros, que têm como prioridade suas aulas nas universidades,
suas viagens, suas conferências e outros tipos de tietagem promovidas por
eternos puxa-sacos.
O próximo beneficiário dessa mamata será o senador Renan Calheiros. Por
conta do caso com uma jornalista, que andou mostrando seus avantajados de
natureza e demais partes na revista Playboy, ele teve que pagar alta pensão
alimentícia para um bebê nascido no paralelo. A pensão superava seus subsídios
como senador, mas era paga religiosamente. Aí a coisa veio a furo, ele explicou
que vendia gado, mas a polícia achou que era muita vaca gorda para um alagoano
só.
Resultado: inquérito policial por peculato (desvio de dinheiro público
ou bem público por funcionário público), falsidade ideológica e uso de
documento falso. A denúncia foi oferecida, mas algum ministro do Supremo, por
descuido, sentou em cima do processo. Agora, quando a denúncia for recebida
pelo STF, os crimes estarão prescritos.
Chama-se “foro privilegiado” a esse protecionismo judicial aos políticos
e outros altos funcionários, como ministros, juízes, promotores,
desembargadores, etc. O certo seria “foro dos privilegiados”: são pessoas acima
da lei, acima do falso princípio constitucional da isonomia, segundo o qual
“todos são iguais perante a lei”.
Todos são iguais, uma ova. Pobre não tem vez. Pobre é desigual. Pobre
vai para cadeia, sem muitos recursos, sem ter chance de chegar ao Supremo, onde
seu processo poderia servir de amaciador para os glúteos volumosos de algum
ministro. Pobre está fora desse círculo do compadrio, onde senadores aprovam
ministros para o STF e ministros do STF julgam senadores.
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