GILMAR MENDES E O APOCALIPSE
DE BRASÍLIA
João Eichbaum
“E eu me pus sobre a
areia do mar, e vi subir do mar uma besta que tinha sete cabeças e dez chifres,
e sobre os seus chifres dez diademas, e sobre suas cabeças um nome de blasfêmia”.
O texto acima consta do
versículo 1 do capítulo 13 do Apocalipse de São João. Mas, na ameaça de
apocalipse para Brasília, acontecida na semana passada, ao invés de uma besta
de sete cabeças, eram sete mulheres, sorrindo para os abelhudos fotógrafos, que
as esperavam na frente do Supremo Tribunal Federal.
Elas traziam o Apocalipse
de Brasília em caixas de papelão, que seguravam contra o peito. Não tinham
chifres visíveis, não traziam diademas sobre a cabeça, nem blasfemavam.
Carregavam as caixas com a naturalidade de quem está saindo de uma loja, onde
tinham acabado de comprar presentes.
Todo o terror
apocalíptico estava nas caixas, e não nas sete mulheres que tinham a missão de
entregá-las no serviço de protocolo do Supremo Tribunal Federal. Para os
políticos de rabo preso, aquele material poderia representar coisa pior do que
dor de chifre, pior do que bestas com sete cabeças: eram bombas que lhes
competiria desarmar.
Mas, pior de tudo seria
mesmo o segredo que as caixas continham. Enquanto esvoaçavam pelo país inteiro
nomes possíveis de um e de outro, ilações, suposições e palpites, homens tidos
como impolutos ou cafajestes, da direita ou da esquerda, ruminariam a própria
desgraça criada pela fértil imaginação do povo e da imprensa, se não tivessem
malandragem suficiente para cuidar dos próprios instintos de conservação.
Pois aí se fez mais
visível o Gilmar Mendes que, desde o enterro do Teori Zawaski, era visto em
colóquios com o Michel Temer, com mais frequência do que os loucos de paixão
encontram suas namoradas – para aproveitar a ideia do tuiteiro Gustavo Pizzo, citado por José Simão.
À moda de quem sabe atravessar
labirintos e desembaralhar destinos, além de conhecer as palavras da salvação,
Gilmar Mendes começou o apaziguamento dos corações. Reuniu futuros e possíveis
réus da Lava Jato para um jantar em homenagem ao também possível candidato ao
banco dos réus, José Serra, conforme tem noticiado a imprensa.
Dessa reunião com
“parabéns a você” e, de certo, lágrimas na cara de bebê chorão do Serra, surgiu
a ideia de uma safadeza institucional em favor dos políticos de rabo preso: uma
reforma política bastarda, que os livrará, sem outros sustos e sem vontade de
vomitar, das garras apocalípticas da Lava Jato, contando com a lerdeza do
Supremo Tribunal Federal, a caminho da prescrição.
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