terça-feira, 21 de março de 2017

GILMAR MENDES E O APOCALIPSE DE BRASÍLIA

João Eichbaum

“E eu me pus sobre a areia do mar, e vi subir do mar uma besta que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre os seus chifres dez diademas, e sobre suas cabeças um nome de blasfêmia”.

O texto acima consta do versículo 1 do capítulo 13 do Apocalipse de São João. Mas, na ameaça de apocalipse para Brasília, acontecida na semana passada, ao invés de uma besta de sete cabeças, eram sete mulheres, sorrindo para os abelhudos fotógrafos, que as esperavam na frente do Supremo Tribunal Federal.

Elas traziam o Apocalipse de Brasília em caixas de papelão, que seguravam contra o peito. Não tinham chifres visíveis, não traziam diademas sobre a cabeça, nem blasfemavam. Carregavam as caixas com a naturalidade de quem está saindo de uma loja, onde tinham acabado de comprar presentes.

Todo o terror apocalíptico estava nas caixas, e não nas sete mulheres que tinham a missão de entregá-las no serviço de protocolo do Supremo Tribunal Federal. Para os políticos de rabo preso, aquele material poderia representar coisa pior do que dor de chifre, pior do que bestas com sete cabeças: eram bombas que lhes competiria desarmar.

Mas, pior de tudo seria mesmo o segredo que as caixas continham. Enquanto esvoaçavam pelo país inteiro nomes possíveis de um e de outro, ilações, suposições e palpites, homens tidos como impolutos ou cafajestes, da direita ou da esquerda, ruminariam a própria desgraça criada pela fértil imaginação do povo e da imprensa, se não tivessem malandragem suficiente para cuidar dos próprios instintos de conservação.

Pois aí se fez mais visível o Gilmar Mendes que, desde o enterro do Teori Zawaski, era visto em colóquios com o Michel Temer, com mais frequência do que os loucos de paixão encontram suas namoradas – para aproveitar a ideia do tuiteiro Gustavo Pizzo, citado por José Simão.

À moda de quem sabe atravessar labirintos e desembaralhar destinos, além de conhecer as palavras da salvação, Gilmar Mendes começou o apaziguamento dos corações. Reuniu futuros e possíveis réus da Lava Jato para um jantar em homenagem ao também possível candidato ao banco dos réus, José Serra, conforme tem noticiado a imprensa.

Dessa reunião com “parabéns a você” e, de certo, lágrimas na cara de bebê chorão do Serra, surgiu a ideia de uma safadeza institucional em favor dos políticos de rabo preso: uma reforma política bastarda, que os livrará, sem outros sustos e sem vontade de vomitar, das garras apocalípticas da Lava Jato, contando com a lerdeza do Supremo Tribunal Federal, a caminho da prescrição.




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