sexta-feira, 17 de março de 2017

LULA, O PENSIONISTA

João Eichbaum

Todo parlapatão tem orgasmo, quando usa a palavra. Ele sabe que tanto iletrados como doutores se deixam seduzir por adjetivos e advérbios, por mais arrevesada que seja a sintaxe, quando lhe é dado tomar conta da plateia. Por menos instruído que seja, o parlapatão sabe que tem o poder de sedução.

Só não o interrompam com perguntas. Aí se vai o sedutor, o taumaturgo se enrola, gagueja, perde o rumo do discurso, deixa escorregar barranco abaixo o domínio da palavra. Foi o que aconteceu com o Lula, anteontem, durante seu interrogatório, perante o juiz federal de Brasília.

Com a liberdade que o juiz lhe deu para falar, Lula se sentiu dono do campinho. Desenrolou sua biografia de sindicalista e político, devidamente acompanhada de um discurso laudatório de si mesmo, tipo “nunca antes neste país existiu alguém melhor que eu”.

Mas, quando o juiz lhe perguntou, de forma direta, objetiva e simples, em quanto importava sua renda mensal, Lula empacou. Calou por alguns instantes, fez aquela cara de quem diz “não entendi bosta nenhuma”. Ensaiou alguma coisa para dizer, gaguejou: o homem mais honesto do país não soube dizer quanto ganhava.

Não tinha sido instruído por seu famoso advogado, nessa parte. E aí, entre gaguejos e hesitações, revelou para o Brasil inteiro uma das imoralidades mais chocantes que compõem seus rendimentos: dona Maria Letícia recebia, como aposentada, nada menos do que R$ 20.000,00 reais.

E ele, Lula, agora, era pensionista dela, recebia essa quantia, com uma expectativa de aumento para trinta mil reais, além de uma indenização de seis mil, por ter sido preso durante o regime militar, e mais a “ajuda” dos filhos, fechando, “mais ou menos”, “cinquenta mil”...

Para quem não sabe: dona Marisa Letícia era operária como o Lula, quando se conheceram. Donde vem essa aposentadoria? De que diarreia administrativa teriam vazado esses detritos, que levaram a família operária do Lula à prosperidade? Quem teria aprontado essa indecência, furtando ao Lula a moral para protestar contra a reforma da Previdência?

E enquanto o viúvo pensionista, atônito, se desnudava, se revelava um privilegiado desse mesmo poder que anda e defeca para quem se aposenta com salário mínimo, lá na rua sindicalistas e outros aduladores desocupados, levantando cartazes com louvores ao ex-torneiro mecânico, berravam histericamente: “Lula guerreiro, herói do povo brasileiro”.
Moral da história: com um herói desse tipo, dispensam-se os vilões da história do Brasil.



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