LULA, O PENSIONISTA
João Eichbaum
Todo parlapatão tem
orgasmo, quando usa a palavra. Ele sabe que tanto iletrados como doutores se
deixam seduzir por adjetivos e advérbios, por mais arrevesada que seja a
sintaxe, quando lhe é dado tomar conta da plateia. Por menos instruído que
seja, o parlapatão sabe que tem o poder de sedução.
Só não o interrompam com
perguntas. Aí se vai o sedutor, o taumaturgo se enrola, gagueja, perde o rumo
do discurso, deixa escorregar barranco abaixo o domínio da palavra. Foi o que
aconteceu com o Lula, anteontem, durante seu interrogatório, perante o juiz
federal de Brasília.
Com a liberdade que o
juiz lhe deu para falar, Lula se sentiu dono do campinho. Desenrolou sua
biografia de sindicalista e político, devidamente acompanhada de um discurso
laudatório de si mesmo, tipo “nunca antes neste país existiu alguém melhor que
eu”.
Mas, quando o juiz lhe
perguntou, de forma direta, objetiva e simples, em quanto importava sua renda
mensal, Lula empacou. Calou por alguns instantes, fez aquela cara de quem diz “não
entendi bosta nenhuma”. Ensaiou alguma coisa para dizer, gaguejou: o homem mais
honesto do país não soube dizer quanto ganhava.
Não tinha sido instruído
por seu famoso advogado, nessa parte. E aí, entre gaguejos e hesitações,
revelou para o Brasil inteiro uma das imoralidades mais chocantes que compõem
seus rendimentos: dona Maria Letícia recebia, como aposentada, nada menos do
que R$ 20.000,00 reais.
E ele, Lula, agora, era
pensionista dela, recebia essa quantia, com uma expectativa de aumento para
trinta mil reais, além de uma indenização de seis mil, por ter sido preso
durante o regime militar, e mais a “ajuda” dos filhos, fechando, “mais ou
menos”, “cinquenta mil”...
Para quem não sabe: dona
Marisa Letícia era operária como o Lula, quando se conheceram. Donde vem essa
aposentadoria? De que diarreia administrativa teriam vazado esses detritos, que
levaram a família operária do Lula à prosperidade? Quem teria aprontado essa
indecência, furtando ao Lula a moral para protestar contra a reforma da
Previdência?
E enquanto o viúvo
pensionista, atônito, se desnudava, se revelava um privilegiado desse mesmo
poder que anda e defeca para quem se aposenta com salário mínimo, lá na rua
sindicalistas e outros aduladores desocupados, levantando cartazes com louvores
ao ex-torneiro mecânico, berravam histericamente: “Lula guerreiro, herói do
povo brasileiro”.
Moral da história: com um
herói desse tipo, dispensam-se os vilões da história do Brasil.
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