CARTA PARA UM PRIMO POBRE
Primo, me sirvo desta, pra te fazer sabedor dos
últimos sucedidos com a minha pessoa e suas respectivas façanhas. Resolvi lavrar um habilidoso pontapé nas
repartições traseiras da tal pátria amada idolatrada e me bandeei pra outra,
como já tinha procedido há tempos retrasados em assunto de mulher.
Tu te lembra de certo daquela que quase levei pro
altar e pro cartório em primeira mão. Foi no tempo em que eu sovava minhas
costas com manta de carne, de açougue em açougue, choferiando pela cidade toda
aquele furgãozinho que o velho comprou em prestação a perder de vista. Lembra?
Pois é. Quando subi na vida, o que fiz por primeiro
foi me desatarraxar da baranga, que tava já fora de linha, adquirindo uma cara
de cartomante, variz, e um par de ancas de devastar estofados. Fui tomado do
coração por uma novinha, bem servida pela natureza, com uns arredondados que
deixam a parte detrás dela arrebitadinha. Sem falar nas demais partes, quando
desprovidas de vestido. Uma garota de programa. De televisão, claro.
Como tu sabe, me iniciei na vida dando duro em cepo
de açougue, quebrando costela de boi com machadinha, atorando granito de peito
com serra de mão. Vivia salpicado de sangue. Minha parte dos fundos nunca
sentou bem em banco de escola. Mal aprendi a fazer conta. E no concernente a
caligrafia, minha letra é pior do que a de pichador.
O de que sempre gostei mesmo foi de negociar,
levando vantagem, e Deus me deu esse dom. Por conta dessa natureza, andei
enrolando uns doutores, prendi eles pela palavra e tive que abandonar a pátria,
antes que os doutores se dessem conta do meu jeito danoso de negociar.
Comecei no varejo dos desregramentos e astúcias,
vendendo carne de segunda por primeira e assim fui expandindo os negócios. Até
que cheguei nos políticos, na gentinha do governo. Com uma mão de político
aqui, outra ali, angariei progressos sem conta. Fiquei rico, e no retorno
comecei a comprar políticos, leis, regulamentos, portarias e assuntos de
imposto.
Não querendo me gabar, botei no governo três
presidentes, vinte e oito senadores e um sortimento de deputados. Até que a
coisa veio a furo. Quando senti a mão da lei em cima de mim, resolvi dar com a
língua nos dentes, pormenorizando os malfeitos, a troco de delação premiada. E
com meu tino pra negócios, saí lucrando: deixei felizes os procuradores, mas
mais feliz fiquei eu, me escafedendo.
Agora, tô aqui, um novo iorquino rico. Até já
aprendi a dizer lóviú. Que beleza de vida, primo!! Nada como ser um sujeito de
primeiro mundo, bem possuído de grana e desencovando o melhor da vida. Ouvi
dizer que a coisa lá tá pegando fogo, que a democracia tá meio desfalecida. Mas
eu não tenho nada com isso. No que de melhor sou servido, eu fiz: negociei com
os procuradores. E saí lucrando, como sempre.
Jbs, ops, bjs na tia.
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