terça-feira, 30 de maio de 2017

CARTA PARA UM PRIMO POBRE

Primo, me sirvo desta, pra te fazer sabedor dos últimos sucedidos com a minha pessoa e suas respectivas façanhas.  Resolvi lavrar um habilidoso pontapé nas repartições traseiras da tal pátria amada idolatrada e me bandeei pra outra, como já tinha procedido há tempos retrasados em assunto de mulher.

Tu te lembra de certo daquela que quase levei pro altar e pro cartório em primeira mão. Foi no tempo em que eu sovava minhas costas com manta de carne, de açougue em açougue, choferiando pela cidade toda aquele furgãozinho que o velho comprou em prestação a perder de vista. Lembra?

Pois é. Quando subi na vida, o que fiz por primeiro foi me desatarraxar da baranga, que tava já fora de linha, adquirindo uma cara de cartomante, variz, e um par de ancas de devastar estofados. Fui tomado do coração por uma novinha, bem servida pela natureza, com uns arredondados que deixam a parte detrás dela arrebitadinha. Sem falar nas demais partes, quando desprovidas de vestido. Uma garota de programa. De televisão, claro.

Como tu sabe, me iniciei na vida dando duro em cepo de açougue, quebrando costela de boi com machadinha, atorando granito de peito com serra de mão. Vivia salpicado de sangue. Minha parte dos fundos nunca sentou bem em banco de escola. Mal aprendi a fazer conta. E no concernente a caligrafia, minha letra é pior do que a de pichador. 

O de que sempre gostei mesmo foi de negociar, levando vantagem, e Deus me deu esse dom. Por conta dessa natureza, andei enrolando uns doutores, prendi eles pela palavra e tive que abandonar a pátria, antes que os doutores se dessem conta do meu jeito danoso de negociar.

Comecei no varejo dos desregramentos e astúcias, vendendo carne de segunda por primeira e assim fui expandindo os negócios. Até que cheguei nos políticos, na gentinha do governo. Com uma mão de político aqui, outra ali, angariei progressos sem conta. Fiquei rico, e no retorno comecei a comprar políticos, leis, regulamentos, portarias e assuntos de imposto.

Não querendo me gabar, botei no governo três presidentes, vinte e oito senadores e um sortimento de deputados. Até que a coisa veio a furo. Quando senti a mão da lei em cima de mim, resolvi dar com a língua nos dentes, pormenorizando os malfeitos, a troco de delação premiada. E com meu tino pra negócios, saí lucrando: deixei felizes os procuradores, mas mais feliz fiquei eu, me escafedendo. 

Agora, tô aqui, um novo iorquino rico. Até já aprendi a dizer lóviú. Que beleza de vida, primo!! Nada como ser um sujeito de primeiro mundo, bem possuído de grana e desencovando o melhor da vida. Ouvi dizer que a coisa lá tá pegando fogo, que a democracia tá meio desfalecida. Mas eu não tenho nada com isso. No que de melhor sou servido, eu fiz: negociei com os procuradores. E saí lucrando, como sempre.
Jbs, ops, bjs na tia.


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