EDIÇÃO EXTRA, PARA ESCLARECER MAL ENTENDIDOS
BANDEIRA
BRANCA, AMOR!
João
Eichbaum
Quem é
de “outros carnavais”, há de ter se lembrado da marcha “Bandeira Branca”, quando
o juiz Moro iniciou a audiência de interrogatório do Lula. Com voz pausada e
serena, Moro anunciou que não tinha desavenças pessoais com o réu, o
interrogatório seria um ato de processo e não de confronto, e Lula seria
tratado com todo o respeito. Em outras palavras, pediu paz, como na letra da
marchinha.
Lula não
tugiu, nem mugiu. Ficou na dele. E Moro, botando na voz um tom de irmã de
caridade, foi tirando o seu da reta. Disse que o juiz não acusa ninguém, quem
acusa é o Ministério Público. E, com um ar de quem pede desculpas: “o senhor ex-presidente
será submetido a algumas perguntas difíceis...”
Aí, o
Lula, que não havia dado o mínimo sinal de contemporização para com o humilde
juiz que pedia paz, não perdeu tempo e mostrou a que veio. Deu o primeiro bote
de quem tem presença de espírito e sabe beneficiar despaupérios: “não existe
pergunta difícil, pra quem quer dizer a verdade”.
Foi o
que bastou. Sem receber uma resposta à altura do seu jeito de se portar perante
um juiz, o réu sentiu firmeza. Acomodou o bundão do jeito que deu, se refestelou
na cadeira, ficou à vontade e foi rebatendo as perguntas, como se estivesse
tratando com um interlocutor, numa mesa de bar.
Quando o
juiz, mostrando um documento, lhe perguntou quem o havia rasurado, Lula devolveu
a pergunta: “ a polícia federal não descobriu”? Então, quando ela descobrir, me
avise”. Indagado se sabia dos desvios da Petrobrás, não titubeou: “eu não
sabia, nem o senhor, nem o MP, nem a PF, nem a imprensa. Só ficamos sabendo
quando grampearam o Youssef”. Aí o juiz caiu na armadilha do réu: “eu não tinha
como saber”. E a resposta do Lula veio ferina, sibilante: foi o senhor que
soltou o Youssef.
Com um ar
de descrédito, Lula perguntou ao juiz, quando o meritíssimo lhe pediu
esclarecimentos sobre documento que tratava do tríplex, encontrado em sua
residência: “tá assinado por quem”? “Não está assinado”, disse Moro. Em
resposta, com um muxoxo de desprezo, Lula devolveu: “Então, o senhor pode
guardar, por gentileza?”
Esses
foram apenas alguns dos episódios que marcaram a presença do Lula, não como réu
submisso, de cabeça baixa, perante o juiz Moro. Com frases de efeito, recheadas
de ironias e metáforas, ares de senhor da verdade e respondendo a cada pergunta
como se fosse uma ofensa, ele se colocou em supedâneo superior ao do magistrado,
a quem não legou senão uma contradição, com explicações superpostas.
A
mansidão evangélica de Sérgio Moro não fez o mínimo efeito sobre o
comportamento do Lula. Pelo contrário. Fê-lo sentir-se dono do campinho, a ponto
de cobrar do juiz o excesso de referências à dona Marisa, “sem estar ela aqui
para se defender”. Talvez esse primeiro confronto com Lula ensine a Sérgio Moro
que de cordeiros gostam leões e lobos. Ah, sim, e homens, de faca afiada, na
frente da churrasqueira.
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