sábado, 13 de maio de 2017

EDIÇÃO EXTRA, PARA ESCLARECER MAL ENTENDIDOS

BANDEIRA BRANCA, AMOR!
João Eichbaum
Quem é de “outros carnavais”, há de ter se lembrado da marcha “Bandeira Branca”, quando o juiz Moro iniciou a audiência de interrogatório do Lula. Com voz pausada e serena, Moro anunciou que não tinha desavenças pessoais com o réu, o interrogatório seria um ato de processo e não de confronto, e Lula seria tratado com todo o respeito. Em outras palavras, pediu paz, como na letra da marchinha.

Lula não tugiu, nem mugiu. Ficou na dele. E Moro, botando na voz um tom de irmã de caridade, foi tirando o seu da reta. Disse que o juiz não acusa ninguém, quem acusa é o Ministério Público. E, com um ar de quem pede desculpas: “o senhor ex-presidente será submetido a algumas perguntas difíceis...”

Aí, o Lula, que não havia dado o mínimo sinal de contemporização para com o humilde juiz que pedia paz, não perdeu tempo e mostrou a que veio. Deu o primeiro bote de quem tem presença de espírito e sabe beneficiar despaupérios: “não existe pergunta difícil, pra quem quer dizer a verdade”.

Foi o que bastou. Sem receber uma resposta à altura do seu jeito de se portar perante um juiz, o réu sentiu firmeza. Acomodou o bundão do jeito que deu, se refestelou na cadeira, ficou à vontade e foi rebatendo as perguntas, como se estivesse tratando com um interlocutor, numa mesa de bar.

Quando o juiz, mostrando um documento, lhe perguntou quem o havia rasurado, Lula devolveu a pergunta: “ a polícia federal não descobriu”? Então, quando ela descobrir, me avise”. Indagado se sabia dos desvios da Petrobrás, não titubeou: “eu não sabia, nem o senhor, nem o MP, nem a PF, nem a imprensa. Só ficamos sabendo quando grampearam o Youssef”. Aí o juiz caiu na armadilha do réu: “eu não tinha como saber”. E a resposta do Lula veio ferina, sibilante: foi o senhor que soltou o Youssef.

Com um ar de descrédito, Lula perguntou ao juiz, quando o meritíssimo lhe pediu esclarecimentos sobre documento que tratava do tríplex, encontrado em sua residência: “tá assinado por quem”? “Não está assinado”, disse Moro. Em resposta, com um muxoxo de desprezo, Lula devolveu: “Então, o senhor pode guardar, por gentileza?”

Esses foram apenas alguns dos episódios que marcaram a presença do Lula, não como réu submisso, de cabeça baixa, perante o juiz Moro. Com frases de efeito, recheadas de ironias e metáforas, ares de senhor da verdade e respondendo a cada pergunta como se fosse uma ofensa, ele se colocou em supedâneo superior ao do magistrado, a quem não legou senão uma contradição, com explicações superpostas.

A mansidão evangélica de Sérgio Moro não fez o mínimo efeito sobre o comportamento do Lula. Pelo contrário. Fê-lo sentir-se dono do campinho, a ponto de cobrar do juiz o excesso de referências à dona Marisa, “sem estar ela aqui para se defender”. Talvez esse primeiro confronto com Lula ensine a Sérgio Moro que de cordeiros gostam leões e lobos. Ah, sim, e homens, de faca afiada, na frente da churrasqueira.



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