sexta-feira, 12 de maio de 2017

ESPETÁCULO DO TEATRO JUDICIÁRIO
João Eichbaum
O estado de guerra, armado em Curitiba, revela as fraquezas dos homens e de suas instituições no Brasil. Um simples, rotineiro, comezinho ato processual, desses que acontecem todos os dias, arrancou alguns milhares de reais do bolso dos brasileiros que trabalham, para permitir um ajuntamento de vagabundos e baderneiros profissionais.

O direito de ir e vir, assegurado na Constituição, inclusive para vagabundos, ficou limitado, a poder de armas, soldados e barreiras. O direito à inviolabilidade da vida privada e ao uso do direito de propriedade dos moradores das redondezas do prédio da Justiça Federal, naquela cidade, foram desrespeitados pela fiscalização e vigilância, a que tiveram de se submeter.

A Justiça Federal é o órgão que menos trabalha, entre as instituições estatais. Ela goza de feriados próprios, que não constam do calendário dos cidadãos comuns. Ontem ela perdeu mais um dia para mostrar sua utilidade: somente a Vara onde está lotado o juiz Sérgio Moro, a serviço da Lava Jato, funcionou.

E tudo isso aconteceu por causa de dois cidadãos: Sérgio Moro e Luiz Inácio Lula da Silva. Duas pessoas, dentre os duzentos milhões desta casa da mãe Joana chamada Brasil. Alvos de idolatria e de ódio, os dois servem de polo para onde convergem criaturas que revelam o quanto os seres humanos têm de vil e de desapego a verdadeiros valores.

Em situações como as de ontem em Curitiba, há pessoas que se desvestem dos valores próprios, que as dignificariam, proporcionando-lhes a realização pessoal. Ao invés de si, porém, se ocupam de outros, a quem idolatram, tendo como recompensa apenas a satisfação do ego. O único valor que as move é um que não conta na escala axiológica: a paixão, mais própria do gênero, do que da espécie animal chamada humana.

Nessa mesma situação, o Estado reflete, exatamente, o que são os homens que o compõem. Enquanto o país inteiro sofre, porque o sistema não lhe assegura o direito à vida através da segurança, esse mesmo sistema mostra que pode fazê-lo, que tem meios para organizar um estado de guerra contra o crime. Mas, se omite e deixa o crime tomar conta.

De todo esse aparato, porém, resultou o de sempre: a montanha pariu um camundongo. Lula agiu como qualquer réu bem orientado. Dono de si, senhor de uma personalidade construída ao longo dos anos, com o domínio de multidões, teve sempre, na ponta da língua, um advérbio conhecido por qualquer analfabeto: não.

E Sérgio Moro se comportou como um juiz qualquer, que apenas passou num concurso de questões jurídicas. Agrilhoado à liturgia, mostrou que não tem a habilidade de um interrogador que sabe dominar o interrogado, arrancando a resposta que interessa à investigação. Pior ainda: permitiu que o interrogatório desandasse em farpas pessoais e se valeu de matéria da imprensa e documentos sem assinatura, para interrogar o réu. Levou o merecido troco.
Baixem-se as cortinas do teatro judiciário.


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