ESPETÁCULO DO
TEATRO JUDICIÁRIO
João
Eichbaum
O estado de
guerra, armado em Curitiba, revela as fraquezas dos homens e de suas
instituições no Brasil. Um simples, rotineiro, comezinho ato processual, desses
que acontecem todos os dias, arrancou alguns milhares de reais do bolso dos
brasileiros que trabalham, para permitir um ajuntamento de vagabundos e
baderneiros profissionais.
O direito de
ir e vir, assegurado na Constituição, inclusive para vagabundos, ficou
limitado, a poder de armas, soldados e barreiras. O direito à inviolabilidade
da vida privada e ao uso do direito de propriedade dos moradores das redondezas
do prédio da Justiça Federal, naquela cidade, foram desrespeitados pela
fiscalização e vigilância, a que tiveram de se submeter.
A Justiça
Federal é o órgão que menos trabalha, entre as instituições estatais. Ela goza
de feriados próprios, que não constam do calendário dos cidadãos comuns. Ontem
ela perdeu mais um dia para mostrar sua utilidade: somente a Vara onde está
lotado o juiz Sérgio Moro, a serviço da Lava Jato, funcionou.
E tudo isso
aconteceu por causa de dois cidadãos: Sérgio Moro e Luiz Inácio Lula da Silva.
Duas pessoas, dentre os duzentos milhões desta casa da mãe Joana chamada
Brasil. Alvos de idolatria e de ódio, os dois servem de polo para onde convergem
criaturas que revelam o quanto os seres humanos têm de vil e de desapego a
verdadeiros valores.
Em situações
como as de ontem em Curitiba, há pessoas que se desvestem dos valores próprios,
que as dignificariam, proporcionando-lhes a realização pessoal. Ao invés de si,
porém, se ocupam de outros, a quem idolatram, tendo como recompensa apenas a
satisfação do ego. O único valor que as move é um que não conta na escala
axiológica: a paixão, mais própria do gênero, do que da espécie animal chamada
humana.
Nessa mesma
situação, o Estado reflete, exatamente, o que são os homens que o compõem.
Enquanto o país inteiro sofre, porque o sistema não lhe assegura o direito à
vida através da segurança, esse mesmo sistema mostra que pode fazê-lo, que tem
meios para organizar um estado de guerra contra o crime. Mas, se omite e deixa
o crime tomar conta.
De todo esse
aparato, porém, resultou o de sempre: a montanha pariu um camundongo. Lula agiu
como qualquer réu bem orientado. Dono de si, senhor de uma personalidade
construída ao longo dos anos, com o domínio de multidões, teve sempre, na ponta
da língua, um advérbio conhecido por qualquer analfabeto: não.
E Sérgio
Moro se comportou como um juiz qualquer, que apenas passou num concurso de
questões jurídicas. Agrilhoado à liturgia, mostrou que não tem a habilidade de
um interrogador que sabe dominar o interrogado, arrancando a resposta que interessa
à investigação. Pior ainda: permitiu que o interrogatório desandasse em farpas
pessoais e se valeu de matéria da imprensa e documentos sem assinatura, para
interrogar o réu. Levou o merecido troco.
Baixem-se as
cortinas do teatro judiciário.
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