sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

UMA LEI QUE PARIU O ÓDIO
João Eichbaum

Para quem não sabe: o Grêmio Futebol Portoalegrense não admitia negros na equipe. Mas, o preconceito foi vencido pelo talento. O primeiro negro que vestiu a camiseta tricolor foi o grande Tesourinha.

Por aí se tem ideia de como era o pensamento reinante na sociedade. Havia preconceito, sim, mas não havia ódio. A distinção de cor era vista com naturalidade. A divisória social não implicava desdém contra os negros.

Podiam estar separados, porque havia clubes sociais, como o Grêmio, que os não admitiam. Nem por isso eram vistos como pessoas de classe inferior. Eles integravam a vida em sociedade a seu modo, respeitando os próprios costumes, herdados dos avós.

Por isso mesmo, tinham, uns e outros, brancos e negros, liberdade para sair em busca de seus objetivos. Quer dizer, os negros tinham condição de ascender em todas as camadas da sociedade: não jogavam no Grêmio, mas eram astros no Inter, por exemplo.

O que talvez a alguns inibisse seria o juízo de inferioridade social, uma herança maldita da escravidão, que eles próprios se atribuíam. Mas, os que venceram essa barreira, se realizaram, em condições de igualdade com os brancos, atingindo os píncaros do reconhecimento social.

Hoje é diferente. Transformados pela lei em criaturas intocáveis, privilegiadas, alguns descendentes de africanos passaram a se considerar cidadãos com sensibilidade social acima da comum. E, por conta de ressentimentos atrasados, esse comportamento está servindo para atiçar a fogueira do ódio, sem que a finalidade da lei tenha sido atingida. O fosso social continua: as quotas raciais servem mais à lassidão de filhinhos de papai, do que às necessidades dos negros pobres, que sobrevivem na penumbra do trabalho rude, senão na miséria.

 Nessa semana, a área de acesso à reitoria da Universidade de Santa Maria foi ocupada, em sinal de protesto contra atos de racismo. Funcionários e empregados terceirizados (brancos e negros) foram impedidos de trabalhar. As sedizentes vítimas de racismo se transformaram em algozes, sobrepondo-se ao direito dos demais e impondo exigências, porque enxergam na lei, que as protege, um instrumento de poder.

Esses atos que, em tese, podem ser crimes contra a organização do trabalho, certamente passarão impunes, para pouparem melindres a cidadãos de estrato social superior. E tal insanidade social só pode acontecer num país cuja Constituição prescreve, mas não assegura, a igualdade de todos perante a lei.


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