FUTEBOL
(II)
João
Eichbaum
“Ele
é uma pessoa extraordinária, delicada, doce, amável, meiga, amiga”. Assim foi
descrito por Kleber Leite, em entrevista para a revista Piauí, um certo José Hawila,
poderoso empresário ligado a empreendimentos no mundo futebolístico. Para quem
não sabe: Kleber Leite foi presidente do Flamengo, o mais popular clube carioca
que, tempos atrás, representava uma espécie de marca da malandragem e do
futebol brasileiros.
Hawila e Kleber já se conheciam desde o tempo
em que eram colegas radialistas. Depois, ambos migraram para o campo dos
negócios esportivos, onde o primeiro fundou a empresa que o tornou rico, a
Traffic e o segundo a Klefer, Produções e Promoções Ltda.
Com
fortuna e prestígio, o dono da Traffic chegou a ser considerado pela revista
inglesa World Soccer um dos homens mais influentes do futebol no mundo.
Promovendo marketing esportivo, tinha negócios assim com os grandes clubes,
como com as entidades que os congregavam e, naturalmente, faturava com
empreendimentos fantásticos, tipo Copa do Mundo, Olimpíadas, Copa do Brasil,
Copa América, essas coisas que o povão adora.
Para
chegar onde chegou, usando as qualidades descritas por Kleber Leite, Hawila foi
conquistando espaços na imprensa e na política, além de vínculos muito fortes
com os dirigentes da Confederação Brasileira de Futebol.
Dono
do Esportivo Brasil, do Miami FC, na Flórida, e do Estoril Praia, em Portugal, administrando
grandes clubes e detendo o passe de muitos jogadores, o poderoso empresário promovia
festas memoráveis, reunindo a nata social de todas áreas, de ministros a nomes
fortes da imprensa, como Galvão Bueno e ídolos populares, como o ex-jogador de
futebol Ronaldo.
Pois
esse homem, que vivia de fausto e prestígio devido a seus negócios com a
Confederação Brasileira de Futebol, caiu nas malhas do FBI, cujas investigações
a respeito de falcatruas no futebol mundial acabaram botando na cadeia o ex-
presidente da CBF, José Maria Marin.
Para
gozar de liberdade, o magnata Hawila recebeu a incumbência de entregar os parceiros
de falcatruas. Para isso, grampeava conversas com amigos como Ricardo Teixeira,
também ex-presidente da CBF, e Kleber Leite.
Hawila
morreu, antes de entregar seus amigos. Mas deixou como herança a contaminação
da má fama da Confederação Brasileira de Futebol. Por conta desse infeccioso
contágio, o atual presidente da entidade, semana passada, na Rússia, foi
impedido de ocupar o camarote da FIFA, que se enfeita de vestal, para embriagar
e seduzir o povo, sua galinha dos ovos de ouro, com o ópio do futebol.