sexta-feira, 29 de junho de 2018


FUTEBOL (II)
João Eichbaum
“Ele é uma pessoa extraordinária, delicada, doce, amável, meiga, amiga”. Assim foi descrito por Kleber Leite, em entrevista para a revista Piauí, um certo José Hawila, poderoso empresário ligado a empreendimentos no mundo futebolístico. Para quem não sabe: Kleber Leite foi presidente do Flamengo, o mais popular clube carioca que, tempos atrás, representava uma espécie de marca da malandragem e do futebol brasileiros.
 Hawila e Kleber já se conheciam desde o tempo em que eram colegas radialistas. Depois, ambos migraram para o campo dos negócios esportivos, onde o primeiro fundou a empresa que o tornou rico, a Traffic e o segundo a Klefer, Produções e Promoções Ltda.
Com fortuna e prestígio, o dono da Traffic chegou a ser considerado pela revista inglesa World Soccer um dos homens mais influentes do futebol no mundo. Promovendo marketing esportivo, tinha negócios assim com os grandes clubes, como com as entidades que os congregavam e, naturalmente, faturava com empreendimentos fantásticos, tipo Copa do Mundo, Olimpíadas, Copa do Brasil, Copa América, essas coisas que o povão adora.
Para chegar onde chegou, usando as qualidades descritas por Kleber Leite, Hawila foi conquistando espaços na imprensa e na política, além de vínculos muito fortes com os dirigentes da Confederação Brasileira de Futebol.
Dono do Esportivo Brasil, do Miami FC, na Flórida, e do Estoril Praia, em Portugal, administrando grandes clubes e detendo o passe de muitos jogadores, o poderoso empresário promovia festas memoráveis, reunindo a nata social de todas áreas, de ministros a nomes fortes da imprensa, como Galvão Bueno e ídolos populares, como o ex-jogador de futebol Ronaldo.
Pois esse homem, que vivia de fausto e prestígio devido a seus negócios com a Confederação Brasileira de Futebol, caiu nas malhas do FBI, cujas investigações a respeito de falcatruas no futebol mundial acabaram botando na cadeia o ex- presidente da CBF, José Maria Marin.
Para gozar de liberdade, o magnata Hawila recebeu a incumbência de entregar os parceiros de falcatruas. Para isso, grampeava conversas com amigos como Ricardo Teixeira, também ex-presidente da CBF, e Kleber Leite.
Hawila morreu, antes de entregar seus amigos. Mas deixou como herança a contaminação da má fama da Confederação Brasileira de Futebol. Por conta desse infeccioso contágio, o atual presidente da entidade, semana passada, na Rússia, foi impedido de ocupar o camarote da FIFA, que se enfeita de vestal, para embriagar e seduzir o povo, sua galinha dos ovos de ouro, com o ópio do futebol.

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