FUTEBOL
João
Eichbaum
Essa
é a constante que impera no futebol:
todo o craque tem o seu dia de perna de pau e todo o perna de pau tem o seu dia
de craque. Em outras palavras, não existe jogador extraordinário cujo
desempenho seja incondicionalmente brilhante em qualquer jogo. Assim como não
há jogador vulgar que um dia não se saliente.
O
futebol é o retrato da vida, cheio de altos e baixos. Sua trajetória, comandada por acasos, pode conduzir tanto ao
grotesco como ao sublime. Afinal, são vinte e dois participantes em campo. Cada
um deles com seus problemas, com suas preocupações, com seus objetivos, com
suas frustrações e sucessos. Todos querem vencer e, para isso, levam em conta
suas individualidades, sua história, seu motivo de busca pela vitória.
É
desse amálgama de egos e suas circunstâncias que se produz um jogo de futebol:
nem todos no mesmo nível, nem todos despidos de ansiedade, nem todos sem pane
na alma, nem todos desligados da realidade que os cerca, dos aplausos que lhes
injetam vaidade, dos apupos que os humilham.
Enfim,
futebol envolve técnica, arte, condições físicas,
psíquicas e todas as demais circunstâncias que produzem acasos e são por eles
produzidas. Daí nasce a sorte. Ou o azar.
A
beleza do voo acrobático de Cristiano Ronaldo, fazendo gol de cabeça contra
Marrocos, e a precisão geométrica do gol de Toni Kroos contra a Suécia, são
obras de acasos. No primeiro caso, a bola cruzou numa altura e numa velocidade que dificultavam tanto o chute quanto a cabeceada dos defensores, mas
ofereciam para Cristiano Ronaldo uma distância que lhe permitiu preparar aquela
incrível levitação em movimento. Já para o chute de Toni Kroos contribuiu a
falsa expectativa dos gigantes defensores da Suécia. Eles esperavam um
cruzamento, mas a técnica de Toni Kroos transformou a trajetória diagonal da
bola em curva, exatamente no ângulo da goleira, onde ninguém poderia pôr a
cabeça.
Já
para o astro egípcio Mohamed Sallah o acaso foi padrasto. Em jogo pela Liga dos
Campeões, sofreu grave lesão e só pode estrear na Copa do Mundo contra a
Rússia. Sem condições físicas e psíquicas, esteve apagado no jogo: foi o seu
dia de perna de pau.
Nenhum comentário:
Postar um comentário