sexta-feira, 22 de junho de 2018


ADIVINHE DONDE ELES VIERAM
João Eichbaum
Um grupo de marmanjos, metidos a engraçadinhos, resolveram desenfrear seus instintos bestiais. Rodearam uma bela jovem russa, loira, de olhos verdes e lábios encorpados, e desataram, com gritos, guinchos e esgares simiescos, uma cantiga bagaceira.
Embora traísse certo constrangimento com um grupo de rapazes histéricos a seu redor, a jovem, talvez mais por cortesia do que por gáudio, sorria no meio daquela encenação de macacos fora do zoológico, sem saber que o mote imundo aludia à sua vagina: “buceta rosa”.
Os arruaceiros, rindo como o faz qualquer degenerado cuja boca só verte tolices, vestiam uma camiseta amarela, com distintivo debruado de azul, em cujo centro se salientava uma cruz de malta branca, no lado esquerdo do peito.
Eram as credenciais deles: vinham de um país chafurdado na desigualdade, na violência, na corrupção, onde pessoas do estrato social mais de cima, que não têm o mínimo dos neurônios necessários para o convívio social, costumam se achar diferentes, acima dos demais.
A conclusão é óbvia: não eram pobres, não eram gente de periferia, porque pobre, gente de periferia, não têm condições de ir à Rússia para assistir a uma Copa do Mundo.
Que eram oriundos de um país sem educação, não há dúvida. Tivessem eles educação, não fariam do vilipêndio seu instrumento de afirmação; da falta de vergonha, a fonte de seus valores pessoais; de seus fracassos como seres humanos, a medida de avaliação dos outros; do seu comportamento, a prova de que nem todos os macacos evoluíram. Tivessem educação, iriam respeitar a indumentária que representava sua pátria amada, idolatrada, com lábaro cheio de estrelas, cruzeiro resplandecente, raios fúlgidos, etc.
Mas, quem é que respeita o próprio país, se o país, exatamente por falta de respeito, não lhes dá educação, não lhes ensina a diferença entre gozação e indecência, entre alegria e opróbrio? Quem é que respeita um país que só tem motivos para emprestar bravura e tratar como heróis a quem sabe chutar bola e, como artistas, a quem sabe mostrar a bunda?

Nenhum comentário: