Álbum de fotografias
Paulo Marinho
Foi Günter Grass, quem me deu a idéia. À página 55 de seu memorável Die Blechtommel, de 1959, disse-me: Que romance – ou que outra coisa no mundo – poderia ter a dimensão épica de um álbum de fotografias? Pensei no nobel de literatura que o escritor alemão ganhara a pouco, justamente por este livro, O Tambor. Fica evidente que uma obra que contenha uma frase desta, por pura justiça, há de garantir um nobel. É verdade! Não há prova concorrente capaz de fazer frente a um punhado de fotografias ordenadas num álbum. Como borboletas espetadas no feltro, concretas e visíveis, os retratos sintetizam histórias inteiras. Tanto pode ser a construção da casa nova, registrada passo a passo, do alicerce ao telhado, quanto a saga da família, desde o flagrante extraordinário do trisavô imigrante no porto, até um instantâneo digital seu, de bermudão no carnaval.
Para ratificar esta premissa, abro um dos velhos álbuns de fotografias da família. Vejo que as modas mudam. Tem eu de pantalona. Eu mais gordo. O finado Jurandir posa com os indicadores espetados para o alto, numa festa de igreja. Em preto e branco. Aqui e ali aparecem caras amareladas, paisagens indefinidas. Numa foto tremidíssima, um desconhecido segura algo que tanto pode ser um peixe, como uma fruta. Ao seu lado um outro vivente, que suponho ser meu pai, sorri para a lente. Tomando conta de uma página inteira, meu avô. Monta um cavalo, o vô. No coldre, o revolvão. Dois negrinhos seguram a montaria pelas rédeas. Na próxima folha, meus irmãos mais velhos em Torres. As calças curtas, os cabelos escovinha. Olhos arregalados. Minha irmã segura a saia. O tio Biléu está sentado mais atrás, picando fumo. Tem os pés descalços. Não sei porque, mas mesmo em segundo plano, rouba a cena.
Eu de chuca-chuca. Minha única foto na primeira infância. Depois, no dia da comunhão. De gravata borboleta, camisa Volta-ao-Mundo e tergalina azul-marinho. O Garibaldo! Nem lembrava que tinha uma foto do Garibaldo, o cachorro mas querido da família. O retrato foi feito de surpresa, com ele querendo emprenhar a perna da dona Minaca. Uma foto – épica – mostra o primeiro quadro do time do Cubla estreando o fardamento novo. No cantinho esquerdo, o bico verde, o fusquinha do seu Bebê, quase zero. Eu com meus orelhões de abano e a turma do quartel, chapinhando no barral, idiotamente feliz. 1961, 75, 80, 82... Ah, não fosse o álbum de fotografias seríamos todos como o Darcanssauro Félix, réptil pré-histórico que acabo de inventar, o qual passou pela terra, sem deixar vestígios.
Nem nos damos conta, mas temos na gaveta um importante memorial. Tão importante que, pensando bem, deveria era repousar na sala, bem ao lado daquele vaso caro. Com luz incidental e tudo, sim senhor!
sexta-feira, 30 de abril de 2010
quinta-feira, 29 de abril de 2010
VARIAÇÕES EM TORNO DO TEMA FIADASPUTAS
ESSA É A JUSTIÇA
João Eichbaum
Não sei se vocês já observaram, mas volta e meia há juízes escrevendo para jornais, enaltecendo a justiça, ou seja, se autoelogiando. O que eles dizem é que a justiça é sublime, que o Poder Judiciário é isento, que os juízes não são corruptos, nem preguiçosos, que trabalham de sol a sol e deixam o povo crédulo, contente e batendo palmas, porque confia na justiça. E por aí seguem encômios e laudas.
Mas quem conhece os homens, conhece os juízes e não engole as explicações que eles vêm dar para os jornais.
Por exemplo. Cansado de esperar pela decisão de um processo, que estava nas mãos do ministro Joaquim Barbosa, - o primeiro afrodescendentão que entrou no STF pelas cotas do Lula, - um advogado tributarista do Mato Grosso representou contra ele no CNJ. Vocês sabem o que é isso? É o tal de Conselho Nacional de Justiça, criado para botar ordem na casa, e que atualmente até propaganda tem feito na mídia, adivinhem para quê? Para se autoelogiar. Com o nosso dinheiro, naturalmente.
Bem, mas contava eu que o advogado representou contra o ministro que havia sentado em cima do processo. Aí, o CNJ, que se proclama o moderador dos bons costumes judiciários, caiu fora: não, não, não é com a gente, a gente não fiscaliza ministro do Supremo Tribunal Federal.
Viram só? Pra que é que serve o CNJ? Pra deixar os ministros do Supremo fazerem, ou não fazerem, o que lhes aprouver. Eles são juízes acima de qualquer mortal comum, estão numa redoma de vidro à prova de tudo.
Mas, o advogado não foi nessa e ingressou com mandado no próprio STF contra a decisão do Conselho Nacional de Justiça. Aí o mandado de segurança caiu nas mãos da ministra Elen, a mesma que, quando soube que o Joaquim Barbosa tinha sido indicado para o STF, exclamou: “ué, agora até quem bate em mulher já pode ser ministro do Supremo?”
Pois bem. Sobre o mandado de segurança, ela, como relatora, pediu informações ao Joaquim.
Não deu outra, gente. Pressionado, o afrodescedentão correu e anunciou o julgamento do processo sobre o qual estava sentado, descansando de suas peladas com os amigos.
Então, ficou assim: o dito pelo não dito, arquivaram o mandado de segurança. Tudo numa boa, tudo em casa, tudo em família.
E você, aí no fundo, esperava que ele fosse punido, é? Até pode ser que um ministro seja punido. Mas isso só acontecerá no dia em que a Angelina Jolie me telefonar, implorando para que eu passe uma noite com ela.
João Eichbaum
Não sei se vocês já observaram, mas volta e meia há juízes escrevendo para jornais, enaltecendo a justiça, ou seja, se autoelogiando. O que eles dizem é que a justiça é sublime, que o Poder Judiciário é isento, que os juízes não são corruptos, nem preguiçosos, que trabalham de sol a sol e deixam o povo crédulo, contente e batendo palmas, porque confia na justiça. E por aí seguem encômios e laudas.
Mas quem conhece os homens, conhece os juízes e não engole as explicações que eles vêm dar para os jornais.
Por exemplo. Cansado de esperar pela decisão de um processo, que estava nas mãos do ministro Joaquim Barbosa, - o primeiro afrodescendentão que entrou no STF pelas cotas do Lula, - um advogado tributarista do Mato Grosso representou contra ele no CNJ. Vocês sabem o que é isso? É o tal de Conselho Nacional de Justiça, criado para botar ordem na casa, e que atualmente até propaganda tem feito na mídia, adivinhem para quê? Para se autoelogiar. Com o nosso dinheiro, naturalmente.
Bem, mas contava eu que o advogado representou contra o ministro que havia sentado em cima do processo. Aí, o CNJ, que se proclama o moderador dos bons costumes judiciários, caiu fora: não, não, não é com a gente, a gente não fiscaliza ministro do Supremo Tribunal Federal.
Viram só? Pra que é que serve o CNJ? Pra deixar os ministros do Supremo fazerem, ou não fazerem, o que lhes aprouver. Eles são juízes acima de qualquer mortal comum, estão numa redoma de vidro à prova de tudo.
Mas, o advogado não foi nessa e ingressou com mandado no próprio STF contra a decisão do Conselho Nacional de Justiça. Aí o mandado de segurança caiu nas mãos da ministra Elen, a mesma que, quando soube que o Joaquim Barbosa tinha sido indicado para o STF, exclamou: “ué, agora até quem bate em mulher já pode ser ministro do Supremo?”
Pois bem. Sobre o mandado de segurança, ela, como relatora, pediu informações ao Joaquim.
Não deu outra, gente. Pressionado, o afrodescedentão correu e anunciou o julgamento do processo sobre o qual estava sentado, descansando de suas peladas com os amigos.
Então, ficou assim: o dito pelo não dito, arquivaram o mandado de segurança. Tudo numa boa, tudo em casa, tudo em família.
E você, aí no fundo, esperava que ele fosse punido, é? Até pode ser que um ministro seja punido. Mas isso só acontecerá no dia em que a Angelina Jolie me telefonar, implorando para que eu passe uma noite com ela.
quarta-feira, 28 de abril de 2010
CARTA ABERTA A UMA AUTORIDADE DA JUSTIÇA
Senhora Desembargadora
Laudelino Sardá Jornalista e Professor
Li no Diário Catarinense e ouvi gravações, feitas por um policial em um celular, sobre a blitz em que o veículo do seu filho precisou ser apreendido em razão da documentação vencida.
Já passei por isso também. É comum, sim. Nessa luta inglória contra o relógio, não há quem não escorregue na pontualidade com os compromissos diários, não é mesmo? Se bem que o IPVA de 2009 do carro de seu filho não havia sido pago, além de multas. Contudo, vamos considerar isso normal.
Entretanto, senhora desembargadora, a roda-vida que abrevia o nosso tempo não pode nos roubar o que há de mais sagrado em uma nação democrática: a ética. Imagine se todas as autoridades se achassem no direito de estar acima das leis, como a senhora fez, ao querer exigir que o carro fosse liberado, mesmo irregular, porque pertencia ao filho de uma desembargadora.
Meu peito se comprimiu, uma nuvem afogou o meu cérebro, talvez ainda perturbado pelo episódio anterior, em que um ex-desembargador exigia que uma funcionária do Tribunal dividisse a gratificação de função com a sua esposa. Como é possível, senhora desembargadora, trabalhar o equilíbrio social de uma nação se as leis valem menos do que uma atitude? A réplica do policial à sua irreverência – “sabem com quem estão falando?” – é um sentimento fiel à dignidade humana: “então a senhora é que deveria dar exemplo”. Esse policial serve de espelho a uma instituição, que carece de maior confiança, em razão de alguns poucos militares se envolverem em trapaças e drogas. Esse policial me emocionou e me fez acreditar que essa nação pode resgatar, sim, a ética da autoridade, do político e a moral pública.
O ex-desembargador Marcílio Medeiros, falecido recentemente aos 95 anos, dizia, em seus artigos publicados em O Estado, que o equilíbrio de uma nação dependia substancialmente de uma justiça exemplar. Os países de maior referência democrática, como Finlândia, Suécia, Dinamarca e outros, têm um poder judiciário implacável, obstinado. O Brasil não é exemplar em democracia. A sua corrupção é epidêmica, rouba cerca de 10% do que pagamos de impostos municipais, estaduais e federais. E, até que prove o contrário, a justiça, se não for omissa e lenta, é conivente.
Procuro fugir ao ceticismo, mas sempre me vejo empurrado por comportamentos que agridem as leis. Já vi juízes escondendo a placa de veículos oficiais em viagem de férias, o presidente do Tribunal de São Paulo superfaturando obras públicas, e até mesmo juízes que soltaram bandidos sem justificar o mérito. Ainda não me convenci da decisão do Superior Tribunal de Justiça de proibir as investigações em torno das denúncias contra o banqueiro Daniel Dantas. Enfim, há dezenas de exemplos que me lançam ao pessimismo. Mas, até pouco tempo, eu juraria que o nosso Tribunal fosse movido pela ética e seriedade. O primeiro baque foi a denúncia contra o desembargador que queria a metade do salário de uma funcionária, aliás, uma atitude tão mesquinha que nos desassossega diante da vulnerabilidade do poder judiciário. Agora, a senhora afronta policiais, que cumpriam suas obrigações, exigindo que eles driblassem a lei e liberassem o carro do seu filho.
O que a senhora me recomenda? Acreditar ainda na justiça? Bem, o jornalista Pimenta Neves, que confessou ter assassinado a sua namorada Sandra Gomide, continua solto faz 15 anos, por força de um habeas corpus. E, no entanto, uma menina é equivocadamente jogada em uma cela cheia de bandidos e estuprada, além de sofrer outras violências, tudo porque uma juíza não examinou como deveria a denúncia contra a vítima. A menina depreciada só vê o tempo passar, em meio ao fantasma da violência, enquanto a juíza acaba de ser aposentada.
Senhora desembargadora, escrevo esta carta aberta, sem precisar citar o seu nome, em busca de uma resposta: ainda podemos acreditar na recuperação de uma Nação vilipendiada em seus direitos por dezenas de anos? Por que a abominável lei de Gerson ainda contamina os poderes? Por que a arrogância e a tirania infectam o ser humano, principalmente quando se veste de autoridade?
Imagine se ao invés de desafiar os policiais, a senhora tivesse cumprimentado-os e conduzido seu filho para casa, advertindo-o de que a sua posição de magistrada não poderia ser comprometida por documentos irregulares de um carro? Com certeza os policiais teriam aplaudido a sua atitude e seu filho recebido uma lição inesquecível. Mas a senhora não pensou: apenas impôs uma autoridade que, para a saúde da sociedade, não superou a ética de um simples policial.
Seu filho, com certeza, desconhece leis. Pra quê, não é mesmo? A lei é a senhora. Mas, felizmente, a senhora recebeu uma lição de ética, justamente daquele moço que não deve ter um certificado de ensino superior, mas possui um diploma invejável, de um profissional ético. Hoje, eu acredito na polícia. Mas como acreditar só na polícia se é a justiça que manda prender e soltar bandidos?
Senhora desembargadora, meu único objetivo é provocar-lhe uma reflexão. Contudo, não chegaremos a nenhuma conclusão relevante, até porque o próprio Tribunal de Justiça se omite nestas questões. O Tribunal se acha no direito de punir o cidadão fora da lei, mas foge ao dever de obrigar que seus membros sejam os primeiros a darem exemplo de ética e dignidade.
Laudelino Sardá Jornalista e Professor
Li no Diário Catarinense e ouvi gravações, feitas por um policial em um celular, sobre a blitz em que o veículo do seu filho precisou ser apreendido em razão da documentação vencida.
Já passei por isso também. É comum, sim. Nessa luta inglória contra o relógio, não há quem não escorregue na pontualidade com os compromissos diários, não é mesmo? Se bem que o IPVA de 2009 do carro de seu filho não havia sido pago, além de multas. Contudo, vamos considerar isso normal.
Entretanto, senhora desembargadora, a roda-vida que abrevia o nosso tempo não pode nos roubar o que há de mais sagrado em uma nação democrática: a ética. Imagine se todas as autoridades se achassem no direito de estar acima das leis, como a senhora fez, ao querer exigir que o carro fosse liberado, mesmo irregular, porque pertencia ao filho de uma desembargadora.
Meu peito se comprimiu, uma nuvem afogou o meu cérebro, talvez ainda perturbado pelo episódio anterior, em que um ex-desembargador exigia que uma funcionária do Tribunal dividisse a gratificação de função com a sua esposa. Como é possível, senhora desembargadora, trabalhar o equilíbrio social de uma nação se as leis valem menos do que uma atitude? A réplica do policial à sua irreverência – “sabem com quem estão falando?” – é um sentimento fiel à dignidade humana: “então a senhora é que deveria dar exemplo”. Esse policial serve de espelho a uma instituição, que carece de maior confiança, em razão de alguns poucos militares se envolverem em trapaças e drogas. Esse policial me emocionou e me fez acreditar que essa nação pode resgatar, sim, a ética da autoridade, do político e a moral pública.
O ex-desembargador Marcílio Medeiros, falecido recentemente aos 95 anos, dizia, em seus artigos publicados em O Estado, que o equilíbrio de uma nação dependia substancialmente de uma justiça exemplar. Os países de maior referência democrática, como Finlândia, Suécia, Dinamarca e outros, têm um poder judiciário implacável, obstinado. O Brasil não é exemplar em democracia. A sua corrupção é epidêmica, rouba cerca de 10% do que pagamos de impostos municipais, estaduais e federais. E, até que prove o contrário, a justiça, se não for omissa e lenta, é conivente.
Procuro fugir ao ceticismo, mas sempre me vejo empurrado por comportamentos que agridem as leis. Já vi juízes escondendo a placa de veículos oficiais em viagem de férias, o presidente do Tribunal de São Paulo superfaturando obras públicas, e até mesmo juízes que soltaram bandidos sem justificar o mérito. Ainda não me convenci da decisão do Superior Tribunal de Justiça de proibir as investigações em torno das denúncias contra o banqueiro Daniel Dantas. Enfim, há dezenas de exemplos que me lançam ao pessimismo. Mas, até pouco tempo, eu juraria que o nosso Tribunal fosse movido pela ética e seriedade. O primeiro baque foi a denúncia contra o desembargador que queria a metade do salário de uma funcionária, aliás, uma atitude tão mesquinha que nos desassossega diante da vulnerabilidade do poder judiciário. Agora, a senhora afronta policiais, que cumpriam suas obrigações, exigindo que eles driblassem a lei e liberassem o carro do seu filho.
O que a senhora me recomenda? Acreditar ainda na justiça? Bem, o jornalista Pimenta Neves, que confessou ter assassinado a sua namorada Sandra Gomide, continua solto faz 15 anos, por força de um habeas corpus. E, no entanto, uma menina é equivocadamente jogada em uma cela cheia de bandidos e estuprada, além de sofrer outras violências, tudo porque uma juíza não examinou como deveria a denúncia contra a vítima. A menina depreciada só vê o tempo passar, em meio ao fantasma da violência, enquanto a juíza acaba de ser aposentada.
Senhora desembargadora, escrevo esta carta aberta, sem precisar citar o seu nome, em busca de uma resposta: ainda podemos acreditar na recuperação de uma Nação vilipendiada em seus direitos por dezenas de anos? Por que a abominável lei de Gerson ainda contamina os poderes? Por que a arrogância e a tirania infectam o ser humano, principalmente quando se veste de autoridade?
Imagine se ao invés de desafiar os policiais, a senhora tivesse cumprimentado-os e conduzido seu filho para casa, advertindo-o de que a sua posição de magistrada não poderia ser comprometida por documentos irregulares de um carro? Com certeza os policiais teriam aplaudido a sua atitude e seu filho recebido uma lição inesquecível. Mas a senhora não pensou: apenas impôs uma autoridade que, para a saúde da sociedade, não superou a ética de um simples policial.
Seu filho, com certeza, desconhece leis. Pra quê, não é mesmo? A lei é a senhora. Mas, felizmente, a senhora recebeu uma lição de ética, justamente daquele moço que não deve ter um certificado de ensino superior, mas possui um diploma invejável, de um profissional ético. Hoje, eu acredito na polícia. Mas como acreditar só na polícia se é a justiça que manda prender e soltar bandidos?
Senhora desembargadora, meu único objetivo é provocar-lhe uma reflexão. Contudo, não chegaremos a nenhuma conclusão relevante, até porque o próprio Tribunal de Justiça se omite nestas questões. O Tribunal se acha no direito de punir o cidadão fora da lei, mas foge ao dever de obrigar que seus membros sejam os primeiros a darem exemplo de ética e dignidade.
terça-feira, 27 de abril de 2010
CRÔNICAS DRAMALEÔNICAS
CENA ÚNICA
Paulo Wainberg
HAROLDO: em torno dos quarenta anos, bem apessoado, dono de uma loja de móveis que herdou do pai, onde trabalha desde os 15 anos. Está entediado, olhando para a pilha de papéis (faturas, contas, pedidos, notas fiscais) que entopem sua mesa no pequeno escritório no fundo da loja, sem luz externa. Na parede, atrás dele, uma foto antiga do pai e na do lado direito um relógio que prende a atenção de HAROLDO. Ele é o perfeito exemplo de quem não tem mais ‘joie de vivre’. Numa mesinha auxiliar, uma garrafa térmica com café e um aparelho ligado na tomada, que fornece água gelada.
Com um suspiro ele pega, na gaveta, um pequeno gravador e diz:
HAROLDO: – Desde os quinze anos vendo móveis nesta loja. Atender o freguês, saber o que ele quer, demonstrar o conforto das cadeiras e como a mesa é prática, elogiar a textura dos sofás e poltronas, ressaltar, demonstrando, que um sofá só é cômodo se o assento terminar exatamente na dobra dos seus joelhos. Negociar preço, aceitar agradecimentos e promessas não cumpridas de voltar amanhã.
Levanta e começa a dar voltas na escrivaninha, parando para tomar água num copo plástico.
HAROLDO: – Casei com vinte e cinco anos, aos vinte e oito já era pai e comerciante a pleno, lidando com fábricas, revendedores, representantes comerciais, bancos, contadores, o tempo foi passando e eu aqui, nesta saleta, dia após dias, até chegar aos quarenta. Quer saber de uma coisa? Não agüento mais!
Entra o vendedor:
VENDEDOR: – Seu HAROLDO, quanto posso dar de desconto para o conjunto A723, para pagamento à vista? Já cheguei no nosso limite mas o cliente insiste, se eu não baixar o preço ele vai comprar em outro lugar.
HAROLDO: - Dá mais cinco por cento e se ele não quiser, pode ir pra puta que o pariu!
O vendedor sai e fecha a porta. HAROLDO está em pé, de costas para a platéia, olhando a fotografia do pai, descolorida e empoeirada.
HAROLDO: – Não sei há quanto tempo não tiram o pó dessa merda! (Caminha pela peça e guarda o gravador na gaveta. Pára diante do relógio) Nada acontece, nesta minha vida de merda. E se eu ligar para a Lucinda? Bem que ela anda me dando uns olhares mais longos... Mas e aí, ligo pra ela e digo o que? Convido pra ir a um motel? Já imaginou a bronca que dá, o escândalo, ela conta ao Roberto e para a Clarinha que dei em cima dela... Mas eu posso fazer diferente, o que é que eu poderia querer com ela, no meio da tarde? Alguma coisa assim, que não desse muito na vista, quem sabe invento que estou com um problema com a Clarinha e convido ela para um café, para pedir uns conselhos.... Não, não, isso é loucura! Vai dar o maior rolo....
Pega o telefone e discou para casa. Clarinha, sua esposa atende e ele, disfarçando a voz:
HAROLDO – Quem fala?
CLARINHA – Com quem deseja falar?
HAROLDO – Aí é da casa do HAROLDO? E você é Clarinha, a esposa dele?
CLARINHA – Sim... mas quem está falando... sua voz não é estranha...
HAROLDO– É claro, ele nunca falou de mim, para você.
CLARINHA – Mas eu...
HAROLDO – Provavelmente você nem sabe que eu existo – e desligou.
Sorri ao imaginar a cara de espanto de Clarinha, deixa passar a tarde e, na hora de sempre vai para casa. Clarinha não menciona o episódio.
Dia seguinte, mesmo tédio, mesmo fastio, mesma hora, HAROLDO liga para casa. Clarinha atendeu:
CLARINHA – Alô?
HAROLDO – É da casa do Haroldo? É você, Clarinha?
CLARINHA – Sim, sou eu. E você, quem é?
HAROLDO – Típico do Haroldo, ocultar a existência de seu irmão gêmeo. Também... a ovelha negra da família.
CLARINHA – Como é que é? Você é...
HAROLDO – Sim, Clarinha, sou o irmão gêmeo do Haroldo. Meu nome é Ovídio e há muitos anos saí da cidade. Andei pelo mundo inteiro.
CLARINHA – Mas como você me conhece?
HAROLDO – Eu estive no casamento de vocês. Disfarçado, é claro. Naquele tempo a Interpol me procurava...
CLARINHA – Ah, tá bom Haroldo, é você, reconheci tua voz! Não tem mais nada pra fazer?
HAROLDO – Não sou Haroldo, Clarinha. Acredite. Não sou o Haroldo, sou Ovídio, irmão gêmeo dele que, desde os dez anos, a família ocultou.
CLARINHA – E o que você quer agora? Aparece assim... já falou com ele?
HAROLDO – Não. Ainda não. Pretendo ir na loja, qualquer dia. Ele continua lá, vendendo os mesmos móveis que papai vendia antes...?
CLARINHA – Ouça, Ovídio, ou seja lá quem for, nós somos gente de bem, por favor não venha estragar nossa família.
HAROLDO – Lamento, Clarinha, mas vou estragar, sim. Quero você! Quero você desde o dia em que você casou com Haroldo. Depois de todos estes anos, minha paixão não esmoreceu e ontem, quando vi você, percebi que está mais linda do que nunca.
CLARINHA – Você me viu ontem? Onde? Como?
HAROLDO – Não se preocupe, Clarinha. Não estou seguindo você, mas queria vê-la novamente. Que linda mulher você se tornou. Aposto que o Haroldo nem nota a maravilha que ele tem em casa.
CLARINHA – Você está me encabulando, Ovídio.
Haroldo desligou o telefone, pensativo. Clarinha, diante do elogio, abriu as possibilidades ao chamá-lo de Ovídio.
Ovídio, pensou, onde fora arrumar aquele nome? Caso tivesse um irmão, gêmeo ou não, seus pais jamais dariam aquele nome.
Divertiu-se com a situação. Há muito não se sentia estimulado. Mal pode aguentar até chegar a hora de ir para casa e observar a reação de Clarinha.
Dia após di, sempre no mesmo horário, Haroldo ligava para Clarinha. Ela, enlouquecida com a situação, insistia para encontrar ‘Ovídio’, mas ele sempre tinha uma desculpa, uma viagem de última hora para Bermudas, em busca de um documento secreto, ficar escondido em Amsterdã até “passar o impacto”. Contava histórias mirabolantes e não cansava de elogiar Clarinha, a beleza e a inteligência dela, criticando sistematicamente ‘o irmão’ pela vidinha sem graça que escolhera e obrigara Clarinha a viver.
“Você foi feita para as grandes aventuras, meu amor, você devia estar mergulhando nas águas transparentes do Grande Lago Dourado do Kazaquistão, em busca das famosas floreáceas azulis que valem fortunas no mercado negro de Istambul”
Clarinha suspirava, sua vida se transformou numa espera pelo telefonema de Ovídio enquanto, ao mesmo tempo, cada vez mais nutria enorme desprezo por Haroldo.
Este, por sua vez, embalado pelas histórias que inventava, sentia-se cada vez mais apaixonado por Clarinha e todos os dias, quando voltava para casa, alimentava a esperança de que ela falasse no assunto, o que nunca aconteceu.
Quanto tentava alguma investida, no leito conjugal, era brutalmente afastado e ouvia o resmungo de Clarinha:
– Chato, sem graça, o que foi que eu fiz para casar com tanta mediocridade.
Amuado, ele adormecia. Aos poucos, um insidioso sentimento tomou conta dele: ciúmes de Ovídio.
“Devo estar louco”, pensava, “Eu sou Ovídio, não posso estar com ciúmes de mim mesmo”.
Mas, a cada vez que Clarinha implorava por um encontro, ele se remoia, se retorcia, uma raiva surda a consumi-lo.
Até que, durante um jantar, em que Clarinha estava particularmente irritada, ele não aguentou mais:
HAROLDO – Quer dizer então que você anda falando com Ovídio.
Clarinha sentiu o coração disparar.
CLARINHA – Quem?
HAROLDO – Ovídio, meu bem, você sabe muito bem de quem estou falando.
CLARINHA (explodindo) – POIS fique sabendo que é verdade. Seu irmão gêmeo, o Ovídio, aquilo sim é que é homem de verdade. Perto dele você não passa de um pobre coitado, sentado o dia inteiro naquela loja empoeirada, vendendo cadeiras para velhotas! Ah, que tristeza! Por que não conheci Ovídio primeiro?
HAROLDO – Por uma razão muito simples, querida. Ovídio não existe.
CLARINHA – Como é que é? Como assim, não existe? Ele me liga todos os dias, na mesma hora e...
HAROLDO – Sou eu que ligo, Clarinha. Comecei como uma brincadeira e fui levando, para ver até onde ia. E você passou dos limites!!
Clarinha estava pálida:
CLARINHA – Então era você... bem que eu reconhecia a voz, mas achava que era por serem gêmeos. Ovídio não existe mesmo, não é?
Os olhos de Haroldo fumegavam:
HAROLDO – Não sua puta! Sua vagabunda! Não existe! Mas se existisse você estava prontinha para dar para ele, ordinária!
CLARINHA – E estava mesmo, cretino! Você acha que eu gosto desta vidinha, todos os dias a mesma coisa, as mesmas pessoas, as mesmas tarefas...
HAROLDO – E você acha que eu gosto da minha vidinha de vendedor de móveis? Eu quero a vida de Ovídio, aquilo sim é que é viver, o tempo todo enfrentando o perigo, viajando pelo mundo, parando nos melhores hotéis, freqüentando os Cassinos, mulheres deslumbrantes a minha volta...
CLARINHA – É... ia ser uma vida bem diferente, né? Você me contou tantas histórias, disse tantas coisas a meu respeito... você acha mesmo que eu deveria estar mergulhando no Grande Lago Dourado do Kasaquistão?
Haroldo olhou para ela. Sim. Ele achava. Clarinha estaria deslumbrante, de biquini, nas águas tépidas e transparentes...
HAROLDO – Se fosse com Ovídio você largava tudo e ia, não é? Vagabunda!
CLARINHA – Largava, sim! Largava tudo para me jogar nos braços daquele homem! E nunca mais ia olhar para tua cara, seu chato medíocre!
HAROLDO – Puta!
CLARINHA – Imbecil!
Ouve-se o som da campainha da porta da frente.
HAROLDO – Só que me falta, uma vista agora!
CLARINHA – Melhor do que ficar contigo na frente da TV.
Entra a empregada.
EMPREGADA – Dona Clarinha, tem um senhor lá fora procurando pela senhora. Ele disse que o nome dele é Ovídio, irmão gêmeo do ‘seu’ Haroldo, e que a senhora sabe do que se trata.
PANO SUPERSÔNICO
Paulo Wainberg
HAROLDO: em torno dos quarenta anos, bem apessoado, dono de uma loja de móveis que herdou do pai, onde trabalha desde os 15 anos. Está entediado, olhando para a pilha de papéis (faturas, contas, pedidos, notas fiscais) que entopem sua mesa no pequeno escritório no fundo da loja, sem luz externa. Na parede, atrás dele, uma foto antiga do pai e na do lado direito um relógio que prende a atenção de HAROLDO. Ele é o perfeito exemplo de quem não tem mais ‘joie de vivre’. Numa mesinha auxiliar, uma garrafa térmica com café e um aparelho ligado na tomada, que fornece água gelada.
Com um suspiro ele pega, na gaveta, um pequeno gravador e diz:
HAROLDO: – Desde os quinze anos vendo móveis nesta loja. Atender o freguês, saber o que ele quer, demonstrar o conforto das cadeiras e como a mesa é prática, elogiar a textura dos sofás e poltronas, ressaltar, demonstrando, que um sofá só é cômodo se o assento terminar exatamente na dobra dos seus joelhos. Negociar preço, aceitar agradecimentos e promessas não cumpridas de voltar amanhã.
Levanta e começa a dar voltas na escrivaninha, parando para tomar água num copo plástico.
HAROLDO: – Casei com vinte e cinco anos, aos vinte e oito já era pai e comerciante a pleno, lidando com fábricas, revendedores, representantes comerciais, bancos, contadores, o tempo foi passando e eu aqui, nesta saleta, dia após dias, até chegar aos quarenta. Quer saber de uma coisa? Não agüento mais!
Entra o vendedor:
VENDEDOR: – Seu HAROLDO, quanto posso dar de desconto para o conjunto A723, para pagamento à vista? Já cheguei no nosso limite mas o cliente insiste, se eu não baixar o preço ele vai comprar em outro lugar.
HAROLDO: - Dá mais cinco por cento e se ele não quiser, pode ir pra puta que o pariu!
O vendedor sai e fecha a porta. HAROLDO está em pé, de costas para a platéia, olhando a fotografia do pai, descolorida e empoeirada.
HAROLDO: – Não sei há quanto tempo não tiram o pó dessa merda! (Caminha pela peça e guarda o gravador na gaveta. Pára diante do relógio) Nada acontece, nesta minha vida de merda. E se eu ligar para a Lucinda? Bem que ela anda me dando uns olhares mais longos... Mas e aí, ligo pra ela e digo o que? Convido pra ir a um motel? Já imaginou a bronca que dá, o escândalo, ela conta ao Roberto e para a Clarinha que dei em cima dela... Mas eu posso fazer diferente, o que é que eu poderia querer com ela, no meio da tarde? Alguma coisa assim, que não desse muito na vista, quem sabe invento que estou com um problema com a Clarinha e convido ela para um café, para pedir uns conselhos.... Não, não, isso é loucura! Vai dar o maior rolo....
Pega o telefone e discou para casa. Clarinha, sua esposa atende e ele, disfarçando a voz:
HAROLDO – Quem fala?
CLARINHA – Com quem deseja falar?
HAROLDO – Aí é da casa do HAROLDO? E você é Clarinha, a esposa dele?
CLARINHA – Sim... mas quem está falando... sua voz não é estranha...
HAROLDO– É claro, ele nunca falou de mim, para você.
CLARINHA – Mas eu...
HAROLDO – Provavelmente você nem sabe que eu existo – e desligou.
Sorri ao imaginar a cara de espanto de Clarinha, deixa passar a tarde e, na hora de sempre vai para casa. Clarinha não menciona o episódio.
Dia seguinte, mesmo tédio, mesmo fastio, mesma hora, HAROLDO liga para casa. Clarinha atendeu:
CLARINHA – Alô?
HAROLDO – É da casa do Haroldo? É você, Clarinha?
CLARINHA – Sim, sou eu. E você, quem é?
HAROLDO – Típico do Haroldo, ocultar a existência de seu irmão gêmeo. Também... a ovelha negra da família.
CLARINHA – Como é que é? Você é...
HAROLDO – Sim, Clarinha, sou o irmão gêmeo do Haroldo. Meu nome é Ovídio e há muitos anos saí da cidade. Andei pelo mundo inteiro.
CLARINHA – Mas como você me conhece?
HAROLDO – Eu estive no casamento de vocês. Disfarçado, é claro. Naquele tempo a Interpol me procurava...
CLARINHA – Ah, tá bom Haroldo, é você, reconheci tua voz! Não tem mais nada pra fazer?
HAROLDO – Não sou Haroldo, Clarinha. Acredite. Não sou o Haroldo, sou Ovídio, irmão gêmeo dele que, desde os dez anos, a família ocultou.
CLARINHA – E o que você quer agora? Aparece assim... já falou com ele?
HAROLDO – Não. Ainda não. Pretendo ir na loja, qualquer dia. Ele continua lá, vendendo os mesmos móveis que papai vendia antes...?
CLARINHA – Ouça, Ovídio, ou seja lá quem for, nós somos gente de bem, por favor não venha estragar nossa família.
HAROLDO – Lamento, Clarinha, mas vou estragar, sim. Quero você! Quero você desde o dia em que você casou com Haroldo. Depois de todos estes anos, minha paixão não esmoreceu e ontem, quando vi você, percebi que está mais linda do que nunca.
CLARINHA – Você me viu ontem? Onde? Como?
HAROLDO – Não se preocupe, Clarinha. Não estou seguindo você, mas queria vê-la novamente. Que linda mulher você se tornou. Aposto que o Haroldo nem nota a maravilha que ele tem em casa.
CLARINHA – Você está me encabulando, Ovídio.
Haroldo desligou o telefone, pensativo. Clarinha, diante do elogio, abriu as possibilidades ao chamá-lo de Ovídio.
Ovídio, pensou, onde fora arrumar aquele nome? Caso tivesse um irmão, gêmeo ou não, seus pais jamais dariam aquele nome.
Divertiu-se com a situação. Há muito não se sentia estimulado. Mal pode aguentar até chegar a hora de ir para casa e observar a reação de Clarinha.
Dia após di, sempre no mesmo horário, Haroldo ligava para Clarinha. Ela, enlouquecida com a situação, insistia para encontrar ‘Ovídio’, mas ele sempre tinha uma desculpa, uma viagem de última hora para Bermudas, em busca de um documento secreto, ficar escondido em Amsterdã até “passar o impacto”. Contava histórias mirabolantes e não cansava de elogiar Clarinha, a beleza e a inteligência dela, criticando sistematicamente ‘o irmão’ pela vidinha sem graça que escolhera e obrigara Clarinha a viver.
“Você foi feita para as grandes aventuras, meu amor, você devia estar mergulhando nas águas transparentes do Grande Lago Dourado do Kazaquistão, em busca das famosas floreáceas azulis que valem fortunas no mercado negro de Istambul”
Clarinha suspirava, sua vida se transformou numa espera pelo telefonema de Ovídio enquanto, ao mesmo tempo, cada vez mais nutria enorme desprezo por Haroldo.
Este, por sua vez, embalado pelas histórias que inventava, sentia-se cada vez mais apaixonado por Clarinha e todos os dias, quando voltava para casa, alimentava a esperança de que ela falasse no assunto, o que nunca aconteceu.
Quanto tentava alguma investida, no leito conjugal, era brutalmente afastado e ouvia o resmungo de Clarinha:
– Chato, sem graça, o que foi que eu fiz para casar com tanta mediocridade.
Amuado, ele adormecia. Aos poucos, um insidioso sentimento tomou conta dele: ciúmes de Ovídio.
“Devo estar louco”, pensava, “Eu sou Ovídio, não posso estar com ciúmes de mim mesmo”.
Mas, a cada vez que Clarinha implorava por um encontro, ele se remoia, se retorcia, uma raiva surda a consumi-lo.
Até que, durante um jantar, em que Clarinha estava particularmente irritada, ele não aguentou mais:
HAROLDO – Quer dizer então que você anda falando com Ovídio.
Clarinha sentiu o coração disparar.
CLARINHA – Quem?
HAROLDO – Ovídio, meu bem, você sabe muito bem de quem estou falando.
CLARINHA (explodindo) – POIS fique sabendo que é verdade. Seu irmão gêmeo, o Ovídio, aquilo sim é que é homem de verdade. Perto dele você não passa de um pobre coitado, sentado o dia inteiro naquela loja empoeirada, vendendo cadeiras para velhotas! Ah, que tristeza! Por que não conheci Ovídio primeiro?
HAROLDO – Por uma razão muito simples, querida. Ovídio não existe.
CLARINHA – Como é que é? Como assim, não existe? Ele me liga todos os dias, na mesma hora e...
HAROLDO – Sou eu que ligo, Clarinha. Comecei como uma brincadeira e fui levando, para ver até onde ia. E você passou dos limites!!
Clarinha estava pálida:
CLARINHA – Então era você... bem que eu reconhecia a voz, mas achava que era por serem gêmeos. Ovídio não existe mesmo, não é?
Os olhos de Haroldo fumegavam:
HAROLDO – Não sua puta! Sua vagabunda! Não existe! Mas se existisse você estava prontinha para dar para ele, ordinária!
CLARINHA – E estava mesmo, cretino! Você acha que eu gosto desta vidinha, todos os dias a mesma coisa, as mesmas pessoas, as mesmas tarefas...
HAROLDO – E você acha que eu gosto da minha vidinha de vendedor de móveis? Eu quero a vida de Ovídio, aquilo sim é que é viver, o tempo todo enfrentando o perigo, viajando pelo mundo, parando nos melhores hotéis, freqüentando os Cassinos, mulheres deslumbrantes a minha volta...
CLARINHA – É... ia ser uma vida bem diferente, né? Você me contou tantas histórias, disse tantas coisas a meu respeito... você acha mesmo que eu deveria estar mergulhando no Grande Lago Dourado do Kasaquistão?
Haroldo olhou para ela. Sim. Ele achava. Clarinha estaria deslumbrante, de biquini, nas águas tépidas e transparentes...
HAROLDO – Se fosse com Ovídio você largava tudo e ia, não é? Vagabunda!
CLARINHA – Largava, sim! Largava tudo para me jogar nos braços daquele homem! E nunca mais ia olhar para tua cara, seu chato medíocre!
HAROLDO – Puta!
CLARINHA – Imbecil!
Ouve-se o som da campainha da porta da frente.
HAROLDO – Só que me falta, uma vista agora!
CLARINHA – Melhor do que ficar contigo na frente da TV.
Entra a empregada.
EMPREGADA – Dona Clarinha, tem um senhor lá fora procurando pela senhora. Ele disse que o nome dele é Ovídio, irmão gêmeo do ‘seu’ Haroldo, e que a senhora sabe do que se trata.
PANO SUPERSÔNICO
segunda-feira, 26 de abril de 2010
ESPETO CORRIDO, COLUNA DE HUGO CASSEL
Golpista
Muito se tem falado que, encastelado no poder e temeroso de que, perdendo a eleição venha a responder pelos abusos e crimes cometidos pela quadrilha que comanda, Lula fará o possível e o impossível para não entregar o governo a ninguém que não faça parte do esquema do PT. Circula assim, em vários setores do governo, a possível existência de um plano B de Lula, para perpetuação no poder, uma vez que o desempenho de Dilma no seu vôo solo não é dos mais animadores.
A jogada seria a seguinte: Lula renunciaria à Presidência e se candidataria a vice de Dilma. Esse plano maquiavélico permitiria que o atual capo pudesse subir ao palanque como candidato e desfrutar de seu alto ibope. Os grandes pensadores do PT, segundo o jornalista Cirilo Pontes, acreditam que assim Dilma obteria os votos suficientes para derrotar Serra.
Na segunda parte da maracutaia, Dilma depois de eleita e cumprir um breve estágio na Presidência, sempre "assessorada" por Lula, renunciaria ao cargo alegando motivos de saúde, confirmados facilmente pelos médicos oficiais. Afinal ela tem um histórico de enfermidade. Dessa forma Lula, muito "triste", seria "obrigado" a assumir a presidência, com direito legal de reeleição.
Resistam leitores aos calafrios de pensar em Lula por mais oito anos, tempo mais que suficiente para transformar o Brasil em mais uma República Bolivariana Comunista. Algumas coisas aparentemente sem importância parecem se encaixar: José Alencar desistiu de concorrer ao Senado; Henrique Meireles aceitou permanecer no Banco Central (ambos abriram mão se seus projetos pessoais a troco de que? De nada?). Dilma até agora oficialmente não tem vice (Michel Temer não foi oficializado e nem será tão cedo).
A Constituição permite que sejam feitas legalmente as trocas, bastando a Lula que renuncie seis meses antes da eleição. O parágrafo 6 reza o seguinte: "Para concorrerem a outros cargos, o presidente da República, os governadores de Estado e do Distrito Federal e os prefeitos, devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito" (Emenda Constitucional nº 16 de 1997).
Como se vê, seria isso a concretização do sonho petista do terceiro e quarto mandato de Lula, de forma "legal e democrática". A Copa do Mundo e a Olimpíada seriam o "fecho de ouro" para o Pinóquio Retirante e seus compromissos assumidos até 2018 com os PACs 3, 4, 5, 6, 7. 8 e quem sabe quantos mais, na ditadura civil implantada. Isto é, se algum general mais bem disposto não resolver acabar com a farra. Impossivel? Louco é quem duvida.
Ficha suja
Não importa que o Congresso engavete o "ficha suja". O povo sabe exatamente quem são eles e elas em toda parte, inclusive em Santa Catarina. Como acredito que ainda exista um pouco de vergonha, vamos mandar todos de volta para seu esgoto.
Moral
Um urubu estava sentado numa árvore, sem fazer nada o dia todo, e um coelho que o viu assim perguntou: "Posso sentar com você e ficar sem nada fazer o tempo todo?" O urubu respondeu: Claro! Porque não? O coelho sentou-se relaxado ao pé da árvore e ficou descansando. Subitamente apareceu uma raposa e nhoc! comeu o orelhudo.
Moral da história: "Para ficar sem fazer nada o tempo todo, é preciso estar sentado muito, muito alto (por exemplo num gabinete de Palácio, ou numa poltrona de avião a jato particular).
Advogados
Um deles pergunta ao outro: "Você sabe qual a diferença entre juizes de primeira instância e os de segunda?" Não. Qual é? Os de primeira pensam que são Deus. E os de segunda? "Bem. esses já têm certeza!".
Muito se tem falado que, encastelado no poder e temeroso de que, perdendo a eleição venha a responder pelos abusos e crimes cometidos pela quadrilha que comanda, Lula fará o possível e o impossível para não entregar o governo a ninguém que não faça parte do esquema do PT. Circula assim, em vários setores do governo, a possível existência de um plano B de Lula, para perpetuação no poder, uma vez que o desempenho de Dilma no seu vôo solo não é dos mais animadores.
A jogada seria a seguinte: Lula renunciaria à Presidência e se candidataria a vice de Dilma. Esse plano maquiavélico permitiria que o atual capo pudesse subir ao palanque como candidato e desfrutar de seu alto ibope. Os grandes pensadores do PT, segundo o jornalista Cirilo Pontes, acreditam que assim Dilma obteria os votos suficientes para derrotar Serra.
Na segunda parte da maracutaia, Dilma depois de eleita e cumprir um breve estágio na Presidência, sempre "assessorada" por Lula, renunciaria ao cargo alegando motivos de saúde, confirmados facilmente pelos médicos oficiais. Afinal ela tem um histórico de enfermidade. Dessa forma Lula, muito "triste", seria "obrigado" a assumir a presidência, com direito legal de reeleição.
Resistam leitores aos calafrios de pensar em Lula por mais oito anos, tempo mais que suficiente para transformar o Brasil em mais uma República Bolivariana Comunista. Algumas coisas aparentemente sem importância parecem se encaixar: José Alencar desistiu de concorrer ao Senado; Henrique Meireles aceitou permanecer no Banco Central (ambos abriram mão se seus projetos pessoais a troco de que? De nada?). Dilma até agora oficialmente não tem vice (Michel Temer não foi oficializado e nem será tão cedo).
A Constituição permite que sejam feitas legalmente as trocas, bastando a Lula que renuncie seis meses antes da eleição. O parágrafo 6 reza o seguinte: "Para concorrerem a outros cargos, o presidente da República, os governadores de Estado e do Distrito Federal e os prefeitos, devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito" (Emenda Constitucional nº 16 de 1997).
Como se vê, seria isso a concretização do sonho petista do terceiro e quarto mandato de Lula, de forma "legal e democrática". A Copa do Mundo e a Olimpíada seriam o "fecho de ouro" para o Pinóquio Retirante e seus compromissos assumidos até 2018 com os PACs 3, 4, 5, 6, 7. 8 e quem sabe quantos mais, na ditadura civil implantada. Isto é, se algum general mais bem disposto não resolver acabar com a farra. Impossivel? Louco é quem duvida.
Ficha suja
Não importa que o Congresso engavete o "ficha suja". O povo sabe exatamente quem são eles e elas em toda parte, inclusive em Santa Catarina. Como acredito que ainda exista um pouco de vergonha, vamos mandar todos de volta para seu esgoto.
Moral
Um urubu estava sentado numa árvore, sem fazer nada o dia todo, e um coelho que o viu assim perguntou: "Posso sentar com você e ficar sem nada fazer o tempo todo?" O urubu respondeu: Claro! Porque não? O coelho sentou-se relaxado ao pé da árvore e ficou descansando. Subitamente apareceu uma raposa e nhoc! comeu o orelhudo.
Moral da história: "Para ficar sem fazer nada o tempo todo, é preciso estar sentado muito, muito alto (por exemplo num gabinete de Palácio, ou numa poltrona de avião a jato particular).
Advogados
Um deles pergunta ao outro: "Você sabe qual a diferença entre juizes de primeira instância e os de segunda?" Não. Qual é? Os de primeira pensam que são Deus. E os de segunda? "Bem. esses já têm certeza!".
sexta-feira, 23 de abril de 2010
COM A PALAVRA, EUCÁRDIO DEROSSO
SINDROME DA PSICOSE DA REVISÃO
Eucárdio Derrosso*
Por ter estudado muito a gramática, por ter feitorevisão de jornais e livros, atuado em diagramação, quase a vida inteira, adquiri com o tempo o que se pode denominar de síndrome ou psicose da revisão, isto, é,se você lê qualquer coisa, antes de tudo, presta atenção às regras gramaticais, à correçãoortográfica e à sintaxe textual. Depois, vem oconteúdo ou o teoria. É o espírito revisional, que acomete o cidadão acostumado a realizar revisão textual.E a gente mete a colher tentando arrumar o mundo, ou corrigir a gramática nesses casos.
Assim, por exemplo, se você passa num restaurante, na rua, ou lê qualquer cartaz, vê escrito, em livros e folhetos, jornais, e aparece um erro, por mínimo que seja, imperceptível ao público geral, a tendência é anotar o que está incorreto e, se possível, falar com a pessoa para acertar o erro.
Tem acontecido muitas vezes esses fatos, que até me dão seguidamente a pecha de metido, mas vou com jeito e, geralmente, as pessoas tratam o assunto com seriedade e atenção, entendendo o caso, mas existem aquelas que insistem e querem comprovar que seu erro está certo. Como num caso num restaurante em Taquara com relação ao bife à milanesa ou à parmeggiana, que a dona insistia em dizer que era parmagiana . Como se diz, vou até o Papa se acho que uma frase ou palavra está malescrita( ou será estão mal escritas?).
No caso dos elevadores, sempre me doía (ainda me fere osolhos) ver o erro quando avisa - “verifique se o mesmo encontra-se parado nesse andar”. Aí até um colega meu movimentou a Assembléia Legislativa e, agora, saiu uma lei corrigindo o erro de próclise do reflexivo. Para honra eglória da gramática nacional.
E tem o caso também no aeroporto quando a moça chama os passageiros, dizendo que o “avião já encontra-se na pista”, chamei reservadamente a sua atenção. Não ouvi se ela acertou o passo, pois peguei em seguida o voo(agora, sem acento). Outro caso: enviei algumas correções de erros gramaticais de um jornal que estava iniciando e, em agradecimento, o periódico me homenageoucom uma fotografia no dia o meu aniversário.
Bom ou mau esse costume?
Algumas vezes, quando há erros crassos, especialmente em propagandas de rua ou de lojas, até que vale a premissa de acertá-los. Pela correção textual. No entanto, em certos casos, e como existem pessoas que dizem que a gramática evolui, certas personalidades torcem o nariz e preferem continuar na ingnorância( aí está um erro clássico) ou na erritude ( uma palavra difícil e técnica).
Me perdoem, ou será perdoem-me?, se padeço desse mal que é a psicose da revisão. É que até agora não encontrei nem remédio nem médico que tratem dessa compulsão gramatical e revisional. Em conclusão: vou ter que levar essa síndrome pelas vidas afora.
*Jornalista e pós-graduado em Letras
Eucárdio Derrosso*
Por ter estudado muito a gramática, por ter feitorevisão de jornais e livros, atuado em diagramação, quase a vida inteira, adquiri com o tempo o que se pode denominar de síndrome ou psicose da revisão, isto, é,se você lê qualquer coisa, antes de tudo, presta atenção às regras gramaticais, à correçãoortográfica e à sintaxe textual. Depois, vem oconteúdo ou o teoria. É o espírito revisional, que acomete o cidadão acostumado a realizar revisão textual.E a gente mete a colher tentando arrumar o mundo, ou corrigir a gramática nesses casos.
Assim, por exemplo, se você passa num restaurante, na rua, ou lê qualquer cartaz, vê escrito, em livros e folhetos, jornais, e aparece um erro, por mínimo que seja, imperceptível ao público geral, a tendência é anotar o que está incorreto e, se possível, falar com a pessoa para acertar o erro.
Tem acontecido muitas vezes esses fatos, que até me dão seguidamente a pecha de metido, mas vou com jeito e, geralmente, as pessoas tratam o assunto com seriedade e atenção, entendendo o caso, mas existem aquelas que insistem e querem comprovar que seu erro está certo. Como num caso num restaurante em Taquara com relação ao bife à milanesa ou à parmeggiana, que a dona insistia em dizer que era parmagiana . Como se diz, vou até o Papa se acho que uma frase ou palavra está malescrita( ou será estão mal escritas?).
No caso dos elevadores, sempre me doía (ainda me fere osolhos) ver o erro quando avisa - “verifique se o mesmo encontra-se parado nesse andar”. Aí até um colega meu movimentou a Assembléia Legislativa e, agora, saiu uma lei corrigindo o erro de próclise do reflexivo. Para honra eglória da gramática nacional.
E tem o caso também no aeroporto quando a moça chama os passageiros, dizendo que o “avião já encontra-se na pista”, chamei reservadamente a sua atenção. Não ouvi se ela acertou o passo, pois peguei em seguida o voo(agora, sem acento). Outro caso: enviei algumas correções de erros gramaticais de um jornal que estava iniciando e, em agradecimento, o periódico me homenageoucom uma fotografia no dia o meu aniversário.
Bom ou mau esse costume?
Algumas vezes, quando há erros crassos, especialmente em propagandas de rua ou de lojas, até que vale a premissa de acertá-los. Pela correção textual. No entanto, em certos casos, e como existem pessoas que dizem que a gramática evolui, certas personalidades torcem o nariz e preferem continuar na ingnorância( aí está um erro clássico) ou na erritude ( uma palavra difícil e técnica).
Me perdoem, ou será perdoem-me?, se padeço desse mal que é a psicose da revisão. É que até agora não encontrei nem remédio nem médico que tratem dessa compulsão gramatical e revisional. Em conclusão: vou ter que levar essa síndrome pelas vidas afora.
*Jornalista e pós-graduado em Letras
quinta-feira, 22 de abril de 2010
CRÕNICAS SEM PÉ
FELIZES PARA SEMPRE
Paulo Wainberg
Quem lê minhas crônicas – e quem não lê também – sabe do meu rigor científico na abordagem das questões relevantes para mudar os rumos da Humanidade.
Meu método preferido é o da observação e síntese, contraponto ao sistema de análise reflexiva – ou atemporal – ou anacrônica – ou primitivamente especulativa..
Foi assim que, ao longo destas crônicas, apresentei incontáveis alternativas bombásticas que deveriam alterar regras morais, modus vivendi, novas formas de não compreender o incompreensível, deslumbrando estéticas alternativas em que o feio e o belo se unem para construir o monstruoso e o monstruoso e o terrível se fundem para reconstruir a arte e, quicas, o abominável.
Não raro, e a mercê do tema da pesquisa acrescento, à função de observador sintético, a condição pessoal de cobaia da pesquisa, submetendo-me à idênticas agruras da clientela, não por solidariedade, muito menos por caridade: apenas por honestidade pseudo-intelectual.
Provavelmente os que me lêem e, também, os que não me lêem, já devem ter percebido que o dia de hoje é especial e que estou prestes a revelar uma nova tese, absolutamente definitiva, que, devidamente apreciada, modificará os hábitos sexuais do mundo inteiro, inclusive das tribos primitivas de Arquijuriatuba, escondida na montanha sagrada de Funesto, em algum lugar do continente afro-asiático.
HAROLDO (recém transferido para o setor de Clarinha, na repartição: - O que você quer que eu faça com este memorando? (Cadela, pensou).
CLARINHA:- (Enfia no rabo, pensou.) Carimba, Haroldo, só carimba (imbecil).
HAROLDO:- Por que você mesma não carimbou? Precisa mandar isso pra mim?
CLARINHA:- Porque eu sou tua Chefe, Haroldo, entendeu, TUA CHEFE!
“Vadia desgraçada”, pensa Haroldo, com o zíper da bragueta.
“Idiota imprestável”, pensa Clarinha, com as alcinhas do sutiã.
É verdade, os dois se odiaram à primeira vista, desde o primeiro minuto do primeiro encontro do primeiro olhar que trocaram.
Há décadas, como observador sintético, estudo os casamentos. E, como cobaia, submeti-me a um que dura mais de quarenta anos, até que finalmente concluí a pesquisa, chegando ao resultado espetacular que hoje revelo.
Vi casamentos por amor à primeira vista, por amor, casamentos por dinheiro, por amizade, por genética, acompanhei casamentos na falta de coisa melhor, casamentos obrigatórios por causa da gravidez, casamentos programados pelos pais dos noivos antes mesmo deles serem concebidos, casamentos celebrados por questões religiosas e raciais, casamentos em troca de uma Diretoria, casamentos por paixões alucinadas, por tesões perfunctórias, por desesperos dramáticos, por inconstância, por constância, por falta de objetivos, por sobra de objetivos, casamentos com filhos, casamentos sem filhos e todo o cabedal de casamentos motivados por todo o cabedal de razões que a espécie vem cultivando, século após século, ano após ano, mês após mês, dia após dia, hora após hora. E minuto após minuto!
Lá no meu íntimo, pressionado pela pesquisa incessante que não me deixava dormir nem ficar acordado, eu sabia que faltava alguma coisa, que tinha de existir uma motivação maior, poderosa, intransponível, superior, mitológica e absurdamente imperativa para o casamento e que, por mais que eu tentasse, se me escapava à compreensão.
E os anos se passaram, eu ali, observando e participando, como cobaia, da pesquisa.
Vi paixões fenecerem, amores ruírem, fortunas desabarem, famílias sucumbirem, tesões murcharem, filhos atrapalharem, religiões escafederem e... nada. Onde, quando, em que segmento da psicopatia humana estava o elo perdido, aquele que me faltava?
Até que recentemente, me ensaboando de alto a baixo no chuveiro, espremendo uma bolota no meu ombro que parecia ser um quisto sebáceo, tive uma epifania, uma revelação, no exato momento em que a espuma do sabonete entrou nos meus olhos, provocando uma ardência superlativa.
Mas é claro, como eu não me havia dado conta? Onde eu estava com a cabeça? Como eu era burro!!!
No fim do expediente, Clarinha e Haroldo, sem querer, entraram juntos no elevador:
HAROLDO:- “Cadela”, pensou.
CLARINHA:- “Imprestável! Inútil! Traste”, pensou.
O elevador chega ao térreo e os dois saem, lado a lado:
HAROLDO:- Você está indo para onde, desgraçada?
CLARINHA:- Não é da tua conta, vagabundo!
HAROLDO:- Então um drinque está fora de cogitação? Ordinária! Mulherzinha barata!
CLARINHA:- E por que estaria? Só você sabe o que é bom ou que é ruim? Arrogante! Narcisista! Sifilítico!
HAROLDO:- Então vamos tomar chope, vadia!
CLARINHA:- Vamos, esquizofrênico!
Então! Estava ali a resposta, bem diante dos meus olhos e eu, idiota, não me dera conta: O casamento por ódio!!! Exatamente, você que me lê e você que não me lê, o casamento por ódio!
Os outros tipos de casamento são repletos de problemas, incompreensões, relações discutíveis, intransigências, exigências, proficiências, desencontros, raivas fugazes e desgostos perpétuos.
Mas o casamento por ódio não! Desde o começo os nubentes sabem o que os espera, qual o terrível caminho que irão percorrer, sem ilusões, fantasias, cobranças e decepções.
Eles se odeiam, portanto qualquer coisa boa que acontecer atingirá nove pontos na escala Richter e o que vier de ruim não será surpresa para ninguém.
O casamento por ódio produz filhos saudáveis, ajustados, bons alunos, raramente dão problemas.
No casamento por ódio a traição é inconcebível pois os dois se odeiam tanto que não admitem dar ao outro o gostinho de ser enganado.
HAROLDO:- Vamos tomar mais um, pústula?
CLARINHA:- O último, então, animal!
HAROLDO:- Posso te fazer uma pergunta? Quer casar comigo?
CLARINHA:- Claro que quero.
HAROLDO:- Desgraçada!
CLARINHA:- Miserável!
E viveram se odiando e felizes para sempre.
Paulo Wainberg
Quem lê minhas crônicas – e quem não lê também – sabe do meu rigor científico na abordagem das questões relevantes para mudar os rumos da Humanidade.
Meu método preferido é o da observação e síntese, contraponto ao sistema de análise reflexiva – ou atemporal – ou anacrônica – ou primitivamente especulativa..
Foi assim que, ao longo destas crônicas, apresentei incontáveis alternativas bombásticas que deveriam alterar regras morais, modus vivendi, novas formas de não compreender o incompreensível, deslumbrando estéticas alternativas em que o feio e o belo se unem para construir o monstruoso e o monstruoso e o terrível se fundem para reconstruir a arte e, quicas, o abominável.
Não raro, e a mercê do tema da pesquisa acrescento, à função de observador sintético, a condição pessoal de cobaia da pesquisa, submetendo-me à idênticas agruras da clientela, não por solidariedade, muito menos por caridade: apenas por honestidade pseudo-intelectual.
Provavelmente os que me lêem e, também, os que não me lêem, já devem ter percebido que o dia de hoje é especial e que estou prestes a revelar uma nova tese, absolutamente definitiva, que, devidamente apreciada, modificará os hábitos sexuais do mundo inteiro, inclusive das tribos primitivas de Arquijuriatuba, escondida na montanha sagrada de Funesto, em algum lugar do continente afro-asiático.
HAROLDO (recém transferido para o setor de Clarinha, na repartição: - O que você quer que eu faça com este memorando? (Cadela, pensou).
CLARINHA:- (Enfia no rabo, pensou.) Carimba, Haroldo, só carimba (imbecil).
HAROLDO:- Por que você mesma não carimbou? Precisa mandar isso pra mim?
CLARINHA:- Porque eu sou tua Chefe, Haroldo, entendeu, TUA CHEFE!
“Vadia desgraçada”, pensa Haroldo, com o zíper da bragueta.
“Idiota imprestável”, pensa Clarinha, com as alcinhas do sutiã.
É verdade, os dois se odiaram à primeira vista, desde o primeiro minuto do primeiro encontro do primeiro olhar que trocaram.
Há décadas, como observador sintético, estudo os casamentos. E, como cobaia, submeti-me a um que dura mais de quarenta anos, até que finalmente concluí a pesquisa, chegando ao resultado espetacular que hoje revelo.
Vi casamentos por amor à primeira vista, por amor, casamentos por dinheiro, por amizade, por genética, acompanhei casamentos na falta de coisa melhor, casamentos obrigatórios por causa da gravidez, casamentos programados pelos pais dos noivos antes mesmo deles serem concebidos, casamentos celebrados por questões religiosas e raciais, casamentos em troca de uma Diretoria, casamentos por paixões alucinadas, por tesões perfunctórias, por desesperos dramáticos, por inconstância, por constância, por falta de objetivos, por sobra de objetivos, casamentos com filhos, casamentos sem filhos e todo o cabedal de casamentos motivados por todo o cabedal de razões que a espécie vem cultivando, século após século, ano após ano, mês após mês, dia após dia, hora após hora. E minuto após minuto!
Lá no meu íntimo, pressionado pela pesquisa incessante que não me deixava dormir nem ficar acordado, eu sabia que faltava alguma coisa, que tinha de existir uma motivação maior, poderosa, intransponível, superior, mitológica e absurdamente imperativa para o casamento e que, por mais que eu tentasse, se me escapava à compreensão.
E os anos se passaram, eu ali, observando e participando, como cobaia, da pesquisa.
Vi paixões fenecerem, amores ruírem, fortunas desabarem, famílias sucumbirem, tesões murcharem, filhos atrapalharem, religiões escafederem e... nada. Onde, quando, em que segmento da psicopatia humana estava o elo perdido, aquele que me faltava?
Até que recentemente, me ensaboando de alto a baixo no chuveiro, espremendo uma bolota no meu ombro que parecia ser um quisto sebáceo, tive uma epifania, uma revelação, no exato momento em que a espuma do sabonete entrou nos meus olhos, provocando uma ardência superlativa.
Mas é claro, como eu não me havia dado conta? Onde eu estava com a cabeça? Como eu era burro!!!
No fim do expediente, Clarinha e Haroldo, sem querer, entraram juntos no elevador:
HAROLDO:- “Cadela”, pensou.
CLARINHA:- “Imprestável! Inútil! Traste”, pensou.
O elevador chega ao térreo e os dois saem, lado a lado:
HAROLDO:- Você está indo para onde, desgraçada?
CLARINHA:- Não é da tua conta, vagabundo!
HAROLDO:- Então um drinque está fora de cogitação? Ordinária! Mulherzinha barata!
CLARINHA:- E por que estaria? Só você sabe o que é bom ou que é ruim? Arrogante! Narcisista! Sifilítico!
HAROLDO:- Então vamos tomar chope, vadia!
CLARINHA:- Vamos, esquizofrênico!
Então! Estava ali a resposta, bem diante dos meus olhos e eu, idiota, não me dera conta: O casamento por ódio!!! Exatamente, você que me lê e você que não me lê, o casamento por ódio!
Os outros tipos de casamento são repletos de problemas, incompreensões, relações discutíveis, intransigências, exigências, proficiências, desencontros, raivas fugazes e desgostos perpétuos.
Mas o casamento por ódio não! Desde o começo os nubentes sabem o que os espera, qual o terrível caminho que irão percorrer, sem ilusões, fantasias, cobranças e decepções.
Eles se odeiam, portanto qualquer coisa boa que acontecer atingirá nove pontos na escala Richter e o que vier de ruim não será surpresa para ninguém.
O casamento por ódio produz filhos saudáveis, ajustados, bons alunos, raramente dão problemas.
No casamento por ódio a traição é inconcebível pois os dois se odeiam tanto que não admitem dar ao outro o gostinho de ser enganado.
HAROLDO:- Vamos tomar mais um, pústula?
CLARINHA:- O último, então, animal!
HAROLDO:- Posso te fazer uma pergunta? Quer casar comigo?
CLARINHA:- Claro que quero.
HAROLDO:- Desgraçada!
CLARINHA:- Miserável!
E viveram se odiando e felizes para sempre.
terça-feira, 20 de abril de 2010
COM A PALAVRA, HUGO CASSEL
TARTUFO
Tartufo, como sabeis, é o título de uma comédia político/religiosa de Moliére. Uma das mais famosas em todos os tempos, eis que a situação retratada permanece muito atual, particularmente no Brasil. Na língua portuguesa o termo "Tartufo", tal como em outros idiomas, passou a ter a acepção de "pessoa hipócrita, falsa e mentirosa". Originou ainda uma série de derivados como "tartufice", "tártúfico", ou ainda o verbo "tartuficar", significando enganar, ludibriar e outros relativos. Esse personagem, na obra é o símbolo do poder na aristocracia francesa na sua luta para manter e aumentar seu poder e seus privilégios, usando a seu bel prazer a seu único e exclusivo proveito, sendo capaz de mentir, roubar, fraudar, especular e transgredir normalmente, com o único objetivo de não só manter, mas granjear novos privilégios. Na obra de Moliére, em nome de Deus; no governicho do senhor Luiz Inácio Tartufo Lula da Silva, em nome da sua "democracia bolivariana" copiada de Hugo Chavez. Em tudo e por tudo a obra de Moliére se aplica ao Brasil. Na corrupção, na hipocrisia e na ocupação dos cargos de mando, por espertalhões, corruptos, assassinos, assassinas, assaltantes, terroristas e bandidos de todos os calibres. Moliére escondeu por trás da atuação de seus personagens a crítica à hipocrisia, de alguns poderosos falsos paladinos democráticos que na verdade eram saqueadores, de heranças na peça; do dinheiro público no Brasil. A comedia é "tão Brasil" que tem até um personagem, Argas, que "entra mudo e sai calado", mas que dá um grande prejuízo. No Palácio do Planalto, em Brasília, tem alguém assim, Argas porém, coitado, não tinha cartão corporativo (ilegal) para gastar R$ 400.000,00 mensais.
Direitos Humanos
O grito de Mayakovski ressoa pelo país: "Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor em nosso jardim. E não dizemos nada; na segunda noite já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão e não dizemos nada. Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada". Quando a cruz de Cristo for tirada das paredes e colocadas a Foice e o Martelo ou a Estrela Vermelha, por não ter dito nada, já não teremos como dizer nada. Acorda Brasil!
Ajudinha
Esta semana o presidente Lula deu prosseguimento à sua campanha de "Ajuda Humanitária" a alguns países pobres, com já fez com o Paraguai, a Venezuela e a Bolívia. Deu alguns milhões de dólares que sobram no Brasil, para Cuba recuperar um porto naval, mais outros milhões para melhorar a rede hoteleira de Havana, mais alguns trocados para montar uma fábrica de óleo lubrificante, e alguns míseros milhões outros para recuperar as estradas esburacadas de Cuba, afim de que fiquem nota 10 como as nossas. Eta brasileiro bonzinho!
Maçonaria
A Maçonaria brasileira foi, por enquanto, a única Ordem que publicamente se manifestou contra a absurda Lei dos Direitos Humanos, a corrupção e a favor da "Ficha Limpa". Onde está a OAB? Onde estão as ONGs? Onde estão as Igrejas Católica, Luterana, Pentecostais, Evangélicas? Seguem o "Grito de Mayakovski"?
Tartufo, como sabeis, é o título de uma comédia político/religiosa de Moliére. Uma das mais famosas em todos os tempos, eis que a situação retratada permanece muito atual, particularmente no Brasil. Na língua portuguesa o termo "Tartufo", tal como em outros idiomas, passou a ter a acepção de "pessoa hipócrita, falsa e mentirosa". Originou ainda uma série de derivados como "tartufice", "tártúfico", ou ainda o verbo "tartuficar", significando enganar, ludibriar e outros relativos. Esse personagem, na obra é o símbolo do poder na aristocracia francesa na sua luta para manter e aumentar seu poder e seus privilégios, usando a seu bel prazer a seu único e exclusivo proveito, sendo capaz de mentir, roubar, fraudar, especular e transgredir normalmente, com o único objetivo de não só manter, mas granjear novos privilégios. Na obra de Moliére, em nome de Deus; no governicho do senhor Luiz Inácio Tartufo Lula da Silva, em nome da sua "democracia bolivariana" copiada de Hugo Chavez. Em tudo e por tudo a obra de Moliére se aplica ao Brasil. Na corrupção, na hipocrisia e na ocupação dos cargos de mando, por espertalhões, corruptos, assassinos, assassinas, assaltantes, terroristas e bandidos de todos os calibres. Moliére escondeu por trás da atuação de seus personagens a crítica à hipocrisia, de alguns poderosos falsos paladinos democráticos que na verdade eram saqueadores, de heranças na peça; do dinheiro público no Brasil. A comedia é "tão Brasil" que tem até um personagem, Argas, que "entra mudo e sai calado", mas que dá um grande prejuízo. No Palácio do Planalto, em Brasília, tem alguém assim, Argas porém, coitado, não tinha cartão corporativo (ilegal) para gastar R$ 400.000,00 mensais.
Direitos Humanos
O grito de Mayakovski ressoa pelo país: "Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor em nosso jardim. E não dizemos nada; na segunda noite já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão e não dizemos nada. Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada". Quando a cruz de Cristo for tirada das paredes e colocadas a Foice e o Martelo ou a Estrela Vermelha, por não ter dito nada, já não teremos como dizer nada. Acorda Brasil!
Ajudinha
Esta semana o presidente Lula deu prosseguimento à sua campanha de "Ajuda Humanitária" a alguns países pobres, com já fez com o Paraguai, a Venezuela e a Bolívia. Deu alguns milhões de dólares que sobram no Brasil, para Cuba recuperar um porto naval, mais outros milhões para melhorar a rede hoteleira de Havana, mais alguns trocados para montar uma fábrica de óleo lubrificante, e alguns míseros milhões outros para recuperar as estradas esburacadas de Cuba, afim de que fiquem nota 10 como as nossas. Eta brasileiro bonzinho!
Maçonaria
A Maçonaria brasileira foi, por enquanto, a única Ordem que publicamente se manifestou contra a absurda Lei dos Direitos Humanos, a corrupção e a favor da "Ficha Limpa". Onde está a OAB? Onde estão as ONGs? Onde estão as Igrejas Católica, Luterana, Pentecostais, Evangélicas? Seguem o "Grito de Mayakovski"?
segunda-feira, 19 de abril de 2010
NÓS, PRIMATAS
BOTA NO MEU TAMBÉM, MAS SÓ UM POUQUINHO...
João Eichbaum
Dias desses, estava eu nem um pouquinho chateado, muito pelo contrário, super feliz, muito humano e atento, alimentando o sagrado contentamento de estar entre duas mulheres, ou, como queiram, diante de dois pares de...,digamos, braços, com uma mulher na minha frente e outra de ladinho. As duas, belas mulheres, ambas morenas, cor de canela, uma de cabelos castanhos dourados, a outra de cabelos negros, dessas obras primas da natureza, - nem seria preciso dizer, porque eu, muito educado, gentilmente, costumo deixar as feias para outros.
Estávamos no bem bom, os três, bocas em ação, nos regalando, revirando os olhos de tanto gozo, nos entregando aos excessos que as circunstâncias patrocinavam, sem abstinências, com a leveza de quem não é feito de matéria quântica. E elas diziam e repetiam, com aqueles suspiros que lhes vinham do mais fundo da alma, quando tinham a boca livre:
-Ah, tá uma delícia!
Depois de termos provado quase tudo, uma delas, a de cabelos castanhos dourados, pediu uma coisa diferente. No que, foi prontamente atendida e insistiu, se dirigindo para a outra, a de cabelos negros:
-É super delicioso!
Aí, a outra não se sofreu e foi pedindo:
-Bota no meu também, mas só um pouquinho, só pra experimentar...
Só tem uma coisa, gente: não é o que vocês estão pensando. Ninguém aqui tá falando daquela rodelinha impronunciável. Nós não estávamos enrodilhados, pele contra pele, zerados da cintura pra baixo, tipo Adão e Eva, sem os ademanes e a indumentária que a civilização exige, quando se está em público. A gente estava num restaurante, em reunião de trabalho. Os excessos corriam por conta da saborosa comida e as delícias, que arrancavam suspiros e adjetivos, vinham das tentadoras sobremesas. E já nos tínhamos regalado o suficiente, quando a garçonete ofereceu café.
-Com canela – pediu a colega de cabelos castanhos dourados, que estava ao meu lado, acrescentando, mais uma vez, que era uma delícia.
Então a outra, a de cabelos negros, que estava à minha frente resolveu aderir e pediu:
-Bota no meu também, mas só um pouquinho, só pra experimentar.
Aí, sabe cumé, rendeu essa crônica.
João Eichbaum
Dias desses, estava eu nem um pouquinho chateado, muito pelo contrário, super feliz, muito humano e atento, alimentando o sagrado contentamento de estar entre duas mulheres, ou, como queiram, diante de dois pares de...,digamos, braços, com uma mulher na minha frente e outra de ladinho. As duas, belas mulheres, ambas morenas, cor de canela, uma de cabelos castanhos dourados, a outra de cabelos negros, dessas obras primas da natureza, - nem seria preciso dizer, porque eu, muito educado, gentilmente, costumo deixar as feias para outros.
Estávamos no bem bom, os três, bocas em ação, nos regalando, revirando os olhos de tanto gozo, nos entregando aos excessos que as circunstâncias patrocinavam, sem abstinências, com a leveza de quem não é feito de matéria quântica. E elas diziam e repetiam, com aqueles suspiros que lhes vinham do mais fundo da alma, quando tinham a boca livre:
-Ah, tá uma delícia!
Depois de termos provado quase tudo, uma delas, a de cabelos castanhos dourados, pediu uma coisa diferente. No que, foi prontamente atendida e insistiu, se dirigindo para a outra, a de cabelos negros:
-É super delicioso!
Aí, a outra não se sofreu e foi pedindo:
-Bota no meu também, mas só um pouquinho, só pra experimentar...
Só tem uma coisa, gente: não é o que vocês estão pensando. Ninguém aqui tá falando daquela rodelinha impronunciável. Nós não estávamos enrodilhados, pele contra pele, zerados da cintura pra baixo, tipo Adão e Eva, sem os ademanes e a indumentária que a civilização exige, quando se está em público. A gente estava num restaurante, em reunião de trabalho. Os excessos corriam por conta da saborosa comida e as delícias, que arrancavam suspiros e adjetivos, vinham das tentadoras sobremesas. E já nos tínhamos regalado o suficiente, quando a garçonete ofereceu café.
-Com canela – pediu a colega de cabelos castanhos dourados, que estava ao meu lado, acrescentando, mais uma vez, que era uma delícia.
Então a outra, a de cabelos negros, que estava à minha frente resolveu aderir e pediu:
-Bota no meu também, mas só um pouquinho, só pra experimentar.
Aí, sabe cumé, rendeu essa crônica.
sexta-feira, 16 de abril de 2010
COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO
TRISTES NOVASDA CATALUNHA
Barcelona é uma das capitais européias que mais me fascina. Sem falar que tenho pela cidade um afeto especial. Foi a primeira que conheci na Europa e isto é algo que marca. Em verdade, antes de Barcelona estivera em Lisboa, mas minha estada entre os lusos não passou de um passeio de seis horas. Eu viajava no Eugenio C, desarmado em 1980, e vestia um casaco de pele de porco dos mais vistosos. E tinha 24 anos, o que faz alguma diferença entre ontem e hoje. Ao descer do barco, uma catalã linda como ela só me jogou um piropo:
- Que guapo!
No entrevero da aduana e liberação de bagagens perdi a chavala. Ora, não é todos os dias que alguém chega em um país e é assim saudado por uma de suas mais belas cidadãs. Depois da beleza da guapa, o charme da cidade: o colorido das Ramblas, as ruelas medievais do barrio Barrio Gotico, Montjuich, Gaudi, flamenco, sardana, cochinillos y lechales. Para quem saia de Porto Alegre, era todo um universo a desbravar. Naquele dia, prometi a mim mesmo: ainda vou viver aqui. Não consegui. Mas vivi em Madri, cujos encantos nada ficam a dever à capital catalã.
Isso foi em 71. O Barrio Gotico não tinha a sofisticação que hoje ostenta. O casario estava meio que caindo aos pedaços e o Carrer Avignyó era infestado por prostitutas. (As personagens retratadas por Picasso em Demoiselles d’Avignon são em verdade as moças da Avignyó). Me consta que as autoridades deixaram que o bairro se deteriorasse definitivamente, para depois reformar seus prédios. Hoje seus quarteirões estão estalando de novos, mas foram preservadas as formas da antiga arquitetura.
Não há mais profissionais no Carrer Avignyó. As prostitutas migraram para a região da Boqueria. Ano passado, El País trazia fotos das moças, exercendo o ofício em plena luz do dia, escoradas nas pilastras que ficam atrás do mercado.O Barrio Gotico era decadente, assim como também a Barceloneta, antigo bairro de pescadores que se tornou esplendorosa com as reformas para as Olímpiadas de 1992. Se nos anos 70 Barcelona tinha seu charme, tinha também um certo ar de deterioração. Mas você podia flanar tranqüilamente por suas madrugadas, sem medo algum de assalto ou violência.
Hoje Barcelona é uma metrópole moderna e sofisticada. Mas algo mudou em suas ruas.Leio hoje no UOL que os roubos na área das Ramblas e Bairro Gótico são tão comuns que já existem duas comunidades no site de relacionamentos Facebook com alusões diretas ao problema: I know someone who got robbed in Barcelona e I’ve been robbed in Barcelona. A cidade tem hoje uma média de 120 mil queixas policiais por ano e média de um roubo a cada cinco minutos, de acordo com estatísticas do Ministério do Interior.Isso sem contar um roubo em anos passados (uma máquina fotográfica) e duas tentativas na última viagem - uma comigo e outra com minha filha – que não registramos na polícia. Mais os milhares de casos que alguém que está viajando não vai registrar. Primeiro, porque não terá de volta o que lhe foi roubado. Segundo, porque ninguém viaja para tomar chá de banco em delegacia. O registro só se torna necessário quando há roubo de passaporte ou cartão de crédito. Dica para quem viaja: não ande com passaporte nas ruas. Quanto a cartões, leve-os em bolsos internos das calças. Não há violência. Alguém se aproxima de você tentando abraçá-lo. Enquanto isso, um grupo o cerca e revista seus bolsos. No Carrer de Ferrán, onde sempre me hospedo, em pleno Barrio Gotico, a las cinco en punto de la tarde, fui abordado por um desses marginais, inclusive com certa agressividade. Só consegui desembaraçar-me do vagabundo com alguns empurrões. Não me pareceu que algum transeunte se espantasse com aquela tentativa de assalto. O ladrão saiu caminhando tranqüilamente pela rua, em busca de outra vítima.
Segundo o Código Civil da Espanha – diz o UOL – qualquer roubo que não supere os 400 euros (aproximadamente R$ 1 mil) está livre de punição judicial. O ladrão é levado para a delegacia, fichado e liberado em seguida. A polícia diz que pouco pode fazer. Com legislação assim permissiva, não pode fazer nada mesmo. Ora, 400 euros por dia – ou a cada assalto – não é quantia de se jogar fora. Com o singelo esforço de um assalto por dia, tem-se no mês a simpática quantia de 12 mil euros. Isto é salário de altos executivos. Que pode ser ganho, sem risco algum, por qualquer desqualificado que decida optar por este meio de vida.Um assalto a cada cinco minutos, em uma capital turística, é coisa que afasta muito turista. Doze mil queixas por ano significa dez mil queixas por mês. Mais de 330 por dia. A Barcelona que um dia amei – e ainda amo – está se tornando cada vez mais hostil para com seus amantes.
O mesmo está acontecendo nas demais capitais européias. Quem são os ladrões? É claro que um nacional não vai se arriscar a interpelações policiais e mesmo eventualmente a prisão pelos trocados que um turista carrega no bolso. Já sofri outros roubos e tentativas de roubo em outras viagens. Quem eram eles? Em Estocolmo, foi um paquistanês. Em Bolonha, ciganas. Em Madri, los moros – como dizem os madrilenhos. Desta última vez, não consegui identificar a origem do ladrão. Pelo modo de falar, não me pareceu espanhol.
O velho continente está se entregando de mãos atadas à violência dos imigrantes. Volto a meu bordão: se você ainda não conhece a Europa, viaje logo. Antes que a Europa acabe.
Barcelona é uma das capitais européias que mais me fascina. Sem falar que tenho pela cidade um afeto especial. Foi a primeira que conheci na Europa e isto é algo que marca. Em verdade, antes de Barcelona estivera em Lisboa, mas minha estada entre os lusos não passou de um passeio de seis horas. Eu viajava no Eugenio C, desarmado em 1980, e vestia um casaco de pele de porco dos mais vistosos. E tinha 24 anos, o que faz alguma diferença entre ontem e hoje. Ao descer do barco, uma catalã linda como ela só me jogou um piropo:
- Que guapo!
No entrevero da aduana e liberação de bagagens perdi a chavala. Ora, não é todos os dias que alguém chega em um país e é assim saudado por uma de suas mais belas cidadãs. Depois da beleza da guapa, o charme da cidade: o colorido das Ramblas, as ruelas medievais do barrio Barrio Gotico, Montjuich, Gaudi, flamenco, sardana, cochinillos y lechales. Para quem saia de Porto Alegre, era todo um universo a desbravar. Naquele dia, prometi a mim mesmo: ainda vou viver aqui. Não consegui. Mas vivi em Madri, cujos encantos nada ficam a dever à capital catalã.
Isso foi em 71. O Barrio Gotico não tinha a sofisticação que hoje ostenta. O casario estava meio que caindo aos pedaços e o Carrer Avignyó era infestado por prostitutas. (As personagens retratadas por Picasso em Demoiselles d’Avignon são em verdade as moças da Avignyó). Me consta que as autoridades deixaram que o bairro se deteriorasse definitivamente, para depois reformar seus prédios. Hoje seus quarteirões estão estalando de novos, mas foram preservadas as formas da antiga arquitetura.
Não há mais profissionais no Carrer Avignyó. As prostitutas migraram para a região da Boqueria. Ano passado, El País trazia fotos das moças, exercendo o ofício em plena luz do dia, escoradas nas pilastras que ficam atrás do mercado.O Barrio Gotico era decadente, assim como também a Barceloneta, antigo bairro de pescadores que se tornou esplendorosa com as reformas para as Olímpiadas de 1992. Se nos anos 70 Barcelona tinha seu charme, tinha também um certo ar de deterioração. Mas você podia flanar tranqüilamente por suas madrugadas, sem medo algum de assalto ou violência.
Hoje Barcelona é uma metrópole moderna e sofisticada. Mas algo mudou em suas ruas.Leio hoje no UOL que os roubos na área das Ramblas e Bairro Gótico são tão comuns que já existem duas comunidades no site de relacionamentos Facebook com alusões diretas ao problema: I know someone who got robbed in Barcelona e I’ve been robbed in Barcelona. A cidade tem hoje uma média de 120 mil queixas policiais por ano e média de um roubo a cada cinco minutos, de acordo com estatísticas do Ministério do Interior.Isso sem contar um roubo em anos passados (uma máquina fotográfica) e duas tentativas na última viagem - uma comigo e outra com minha filha – que não registramos na polícia. Mais os milhares de casos que alguém que está viajando não vai registrar. Primeiro, porque não terá de volta o que lhe foi roubado. Segundo, porque ninguém viaja para tomar chá de banco em delegacia. O registro só se torna necessário quando há roubo de passaporte ou cartão de crédito. Dica para quem viaja: não ande com passaporte nas ruas. Quanto a cartões, leve-os em bolsos internos das calças. Não há violência. Alguém se aproxima de você tentando abraçá-lo. Enquanto isso, um grupo o cerca e revista seus bolsos. No Carrer de Ferrán, onde sempre me hospedo, em pleno Barrio Gotico, a las cinco en punto de la tarde, fui abordado por um desses marginais, inclusive com certa agressividade. Só consegui desembaraçar-me do vagabundo com alguns empurrões. Não me pareceu que algum transeunte se espantasse com aquela tentativa de assalto. O ladrão saiu caminhando tranqüilamente pela rua, em busca de outra vítima.
Segundo o Código Civil da Espanha – diz o UOL – qualquer roubo que não supere os 400 euros (aproximadamente R$ 1 mil) está livre de punição judicial. O ladrão é levado para a delegacia, fichado e liberado em seguida. A polícia diz que pouco pode fazer. Com legislação assim permissiva, não pode fazer nada mesmo. Ora, 400 euros por dia – ou a cada assalto – não é quantia de se jogar fora. Com o singelo esforço de um assalto por dia, tem-se no mês a simpática quantia de 12 mil euros. Isto é salário de altos executivos. Que pode ser ganho, sem risco algum, por qualquer desqualificado que decida optar por este meio de vida.Um assalto a cada cinco minutos, em uma capital turística, é coisa que afasta muito turista. Doze mil queixas por ano significa dez mil queixas por mês. Mais de 330 por dia. A Barcelona que um dia amei – e ainda amo – está se tornando cada vez mais hostil para com seus amantes.
O mesmo está acontecendo nas demais capitais européias. Quem são os ladrões? É claro que um nacional não vai se arriscar a interpelações policiais e mesmo eventualmente a prisão pelos trocados que um turista carrega no bolso. Já sofri outros roubos e tentativas de roubo em outras viagens. Quem eram eles? Em Estocolmo, foi um paquistanês. Em Bolonha, ciganas. Em Madri, los moros – como dizem os madrilenhos. Desta última vez, não consegui identificar a origem do ladrão. Pelo modo de falar, não me pareceu espanhol.
O velho continente está se entregando de mãos atadas à violência dos imigrantes. Volto a meu bordão: se você ainda não conhece a Europa, viaje logo. Antes que a Europa acabe.
quinta-feira, 15 de abril de 2010
COM A PALAVRA, HUGO CASSEL
JUSTIÇA I
Na ordem esotérica filosófica da qual faço parte em determinado grau a palavra chave é justiça. Fazer justiça ou distribuir justiça é missão de terrível responsabilidade, eis que decide a vida e o futuro das pessoas. Advogados, magistrados e promotores estão preparados para esse trabalho e ganham para isso. A grande responsabilidade, porém, é daqueles a quem cabe absolver ou condenar. Não pode o jurado ter a mínima dúvida ao proferir seu voto. A frase "em dúbio pró réu" sintetiza tudo. É preferível absolver um culpado, do que condenar um inocente. Centenas de exemplos pelo mundo afora comprovam os terríveis erros cometidos. O julgamento, porém, do casal Nardoni, é um desses casos onde o corpo de jurados esteve completamente à vontade para responder aos quesitos que condenaram os réus. Não só os argumentos do promotor, mas as provas devastadoras da acusação, não permitiam nenhuma outra decisão contra os autos. Muito se comentou sobre o brilhante trabalho do promotor, mas na minha opinião a estrela que mais brilhou foi a do magistrado. Pela primeira vez na historia jurídica do Brasil o povo assistiu e ouviu uma sentença tão bem elaborada e de cristalina compreensão, em termos simples e objetivos. Mesmo que já fora de tempo, registro aqui, como advogado frustrado, de curso incompleto, a minha admiração e respeito à magistratura brasileira por nos devolver a esperança. A última.
JUSTIÇA II
O Conselho de Sentença num julgamento é uma decisão do povo ali representado. Numa eleição política, da mesma forma quem julga é o povo. Esse julgamento terá lugar mais uma vez em outubro, quando o povo brasileiro escolherá um novo presidente. Oportuno então conhecer quem será julgado: Mario Kosel Filho nasceu em 6 de julho de 1949. Estava com 19 anos e prestava o serviço militar na 5ª Cia de Fuzileiros, do 4º Regimento de Infantaria Raposo Tavares, em Quitaúna. Na madrugada de 26 de julho de 1968 estava no quartel de serviço, quando ouviu um tiro na parte externa do quartel. Saiu e verificou que fora um tiro de advertência para um automóvel que ultrapassara a área proibida, e que havia batido em um poste. Mario, preocupado em socorrer possíveis feridos, correu para o local. Era uma armadilha. Um segundo automóvel passa e lança uma poderosa bomba que estraçalha o corpo do jovem soldado. Quem lançou o artefato mortal foi a terrorista de codinomes "Ângela", "Vanda" e "Estela", mais conhecida hoje como Dilma Vana Rousseff, candidata a presidente do Brasil. Essa mesma que não sabe fritar um ovo, mas que monta e desmonta no escuro, em minutos, qualquer fuzil moderno ou submetralhadora. O Conselho de Sentença agora não serão de apenas 7, mas milhões de brasileiros que estão tomando conhecimento dos crimes cometidos pela "Didi Carabina", que tem a coragem de fumar charutos cubanos vestindo a mesma farda militar que ela manchou de sangue no passado.
CANDIDATA
A pobreza de nomes do PT para candidatos às eleições é de dar pena. Não tem nenhum em parte alguma que mereça alguma confiança, tirando no RS o senador Paulo Paim. Aqui em Santa Catarina, que Deus "nos Salvati" desse castigo.PreservaçãoFalam muito as campanhas de preservação ambiental que devemos todos trabalhar para "deixar um planeta melhor para nossos filhos". Pelo que andam fazendo nossos filhos, acho que o certo seria "devemos todos deixar filhos melhores para nosso planeta".
ESTADISTA
Alguém já disse que a maior ofensa para Lula não é atirar nele um sapato, como no Bush, e sim alvejá-lo com uma carteira de trabalho. Agora a empresa que "vende" sua imagem no exterior "plantou" Lula como candidato a presidente da ONU! Me segura que vou ter um troço!
Na ordem esotérica filosófica da qual faço parte em determinado grau a palavra chave é justiça. Fazer justiça ou distribuir justiça é missão de terrível responsabilidade, eis que decide a vida e o futuro das pessoas. Advogados, magistrados e promotores estão preparados para esse trabalho e ganham para isso. A grande responsabilidade, porém, é daqueles a quem cabe absolver ou condenar. Não pode o jurado ter a mínima dúvida ao proferir seu voto. A frase "em dúbio pró réu" sintetiza tudo. É preferível absolver um culpado, do que condenar um inocente. Centenas de exemplos pelo mundo afora comprovam os terríveis erros cometidos. O julgamento, porém, do casal Nardoni, é um desses casos onde o corpo de jurados esteve completamente à vontade para responder aos quesitos que condenaram os réus. Não só os argumentos do promotor, mas as provas devastadoras da acusação, não permitiam nenhuma outra decisão contra os autos. Muito se comentou sobre o brilhante trabalho do promotor, mas na minha opinião a estrela que mais brilhou foi a do magistrado. Pela primeira vez na historia jurídica do Brasil o povo assistiu e ouviu uma sentença tão bem elaborada e de cristalina compreensão, em termos simples e objetivos. Mesmo que já fora de tempo, registro aqui, como advogado frustrado, de curso incompleto, a minha admiração e respeito à magistratura brasileira por nos devolver a esperança. A última.
JUSTIÇA II
O Conselho de Sentença num julgamento é uma decisão do povo ali representado. Numa eleição política, da mesma forma quem julga é o povo. Esse julgamento terá lugar mais uma vez em outubro, quando o povo brasileiro escolherá um novo presidente. Oportuno então conhecer quem será julgado: Mario Kosel Filho nasceu em 6 de julho de 1949. Estava com 19 anos e prestava o serviço militar na 5ª Cia de Fuzileiros, do 4º Regimento de Infantaria Raposo Tavares, em Quitaúna. Na madrugada de 26 de julho de 1968 estava no quartel de serviço, quando ouviu um tiro na parte externa do quartel. Saiu e verificou que fora um tiro de advertência para um automóvel que ultrapassara a área proibida, e que havia batido em um poste. Mario, preocupado em socorrer possíveis feridos, correu para o local. Era uma armadilha. Um segundo automóvel passa e lança uma poderosa bomba que estraçalha o corpo do jovem soldado. Quem lançou o artefato mortal foi a terrorista de codinomes "Ângela", "Vanda" e "Estela", mais conhecida hoje como Dilma Vana Rousseff, candidata a presidente do Brasil. Essa mesma que não sabe fritar um ovo, mas que monta e desmonta no escuro, em minutos, qualquer fuzil moderno ou submetralhadora. O Conselho de Sentença agora não serão de apenas 7, mas milhões de brasileiros que estão tomando conhecimento dos crimes cometidos pela "Didi Carabina", que tem a coragem de fumar charutos cubanos vestindo a mesma farda militar que ela manchou de sangue no passado.
CANDIDATA
A pobreza de nomes do PT para candidatos às eleições é de dar pena. Não tem nenhum em parte alguma que mereça alguma confiança, tirando no RS o senador Paulo Paim. Aqui em Santa Catarina, que Deus "nos Salvati" desse castigo.PreservaçãoFalam muito as campanhas de preservação ambiental que devemos todos trabalhar para "deixar um planeta melhor para nossos filhos". Pelo que andam fazendo nossos filhos, acho que o certo seria "devemos todos deixar filhos melhores para nosso planeta".
ESTADISTA
Alguém já disse que a maior ofensa para Lula não é atirar nele um sapato, como no Bush, e sim alvejá-lo com uma carteira de trabalho. Agora a empresa que "vende" sua imagem no exterior "plantou" Lula como candidato a presidente da ONU! Me segura que vou ter um troço!
quarta-feira, 14 de abril de 2010
COM A PALAVRA, PAULO MARINHO
ORGANIZADAS
Paulo Marinho
A notícia deu num destes programas esportivos: a sociedade – representada por delegados, militares, cartolas e promotores de justiça – prepara uma frente contra as torcidas organizadas de futebol. Para quem só assiste futebol pela tevê, torcida organizada é aquele monte de gente brincando, pulando, acendendo palitos luminosos e ondulando como um corpo único em coreografias fantásticas. Pela tevê, as torcidas organizadas são as responsáveis pela cantoria emocionada. Com-muito-orgulho-no-coraçãã-aão. Pela tevê.
Porque, ao vivo, o espetáculo é outro. Começa que você, simples e comum torcedor, não pode escolher aquele lugarzinho que dá bem no meio da risca do campo. Aquele espaço nobre é da Organizada. Sim com maiúscula. Ou, melhor, de uma delas. Porque são várias, cada qual arrogando para si o poder e a glória suprema de torcer para o seu time. Caso um desavisado, seja idoso, do sexo feminino ou portador de necessidade especial, cometa a desatenção de aboletar-se por ali, ai Jesus. Três lobões parrudos sairão do meio da alcatéia e, aos berros, expulsarão o fortuito invasor.
Torcedor de Organizada tem prerrogativas e critérios únicos. Só ele, em especiais ocasiões, pode vaiar o próprio time. Vai um outro fazer isto, que já vem uma enxurrada de palavrões, com exortações ao símbolo augusto do clube. Na eventualidade de uma reação, é fundamental que a vítima tenha um plano de saúde que contemple remoções de helicóptero. Organizada não bate, massacra. Aliás, seus membros não vêm para o estádio preocupados em ver futebol. Vêm é arrumar confusão.
É verdade. Torcedores das Organizadas não olham o jogo. Seu passatempo predileto é provocar a torcida adversária. E, na falta dela, os outros torcedores, os mortais, que não fazem parte de sua raça de semideuses uniformizados. As Organizadas acham-se acima de gente como eu e você que bota um radinho de pilhas na orelha, rói as unhas e ainda veste a camiseta com o logotipo do patrocinador da temporada passada. O mais humilde servidor público, a mais rampeira das prostitutas, o mais humilhado dos boys de escritório e o mais infeliz dos desocupados, na Organizada são doutores. Titãs capazes de puxar um coro de milhares de vozes, em repetição de seus slogans ufanistas e muitas vezes ofensivos.
Na sua fanática e exacerbada visão, são eles que levam o time nas costas. São todos Mel Gibson do Coração Valente, a frente de uma horda ensandecida. São os arianos puros do III Reich. Matariam as próprias mães em sua obstinação obtusa e cruel. A um sinal do centroavante, são capazes de arrancar o fígado do primeiro parvo que apareça e mastigá-lo em frente as câmeras, para todo o Brasil.
Já vem tarde a movimentação contra estes covis de intolerância. Não bastasse a cartolagem ladroeira, os meia-direitas pipoqueiros e os zagueiros piores do que eu, ainda termos que nos cuidar da nossa própria torcida é, literalmente, o fim da bola!
Paulo Marinho
A notícia deu num destes programas esportivos: a sociedade – representada por delegados, militares, cartolas e promotores de justiça – prepara uma frente contra as torcidas organizadas de futebol. Para quem só assiste futebol pela tevê, torcida organizada é aquele monte de gente brincando, pulando, acendendo palitos luminosos e ondulando como um corpo único em coreografias fantásticas. Pela tevê, as torcidas organizadas são as responsáveis pela cantoria emocionada. Com-muito-orgulho-no-coraçãã-aão. Pela tevê.
Porque, ao vivo, o espetáculo é outro. Começa que você, simples e comum torcedor, não pode escolher aquele lugarzinho que dá bem no meio da risca do campo. Aquele espaço nobre é da Organizada. Sim com maiúscula. Ou, melhor, de uma delas. Porque são várias, cada qual arrogando para si o poder e a glória suprema de torcer para o seu time. Caso um desavisado, seja idoso, do sexo feminino ou portador de necessidade especial, cometa a desatenção de aboletar-se por ali, ai Jesus. Três lobões parrudos sairão do meio da alcatéia e, aos berros, expulsarão o fortuito invasor.
Torcedor de Organizada tem prerrogativas e critérios únicos. Só ele, em especiais ocasiões, pode vaiar o próprio time. Vai um outro fazer isto, que já vem uma enxurrada de palavrões, com exortações ao símbolo augusto do clube. Na eventualidade de uma reação, é fundamental que a vítima tenha um plano de saúde que contemple remoções de helicóptero. Organizada não bate, massacra. Aliás, seus membros não vêm para o estádio preocupados em ver futebol. Vêm é arrumar confusão.
É verdade. Torcedores das Organizadas não olham o jogo. Seu passatempo predileto é provocar a torcida adversária. E, na falta dela, os outros torcedores, os mortais, que não fazem parte de sua raça de semideuses uniformizados. As Organizadas acham-se acima de gente como eu e você que bota um radinho de pilhas na orelha, rói as unhas e ainda veste a camiseta com o logotipo do patrocinador da temporada passada. O mais humilde servidor público, a mais rampeira das prostitutas, o mais humilhado dos boys de escritório e o mais infeliz dos desocupados, na Organizada são doutores. Titãs capazes de puxar um coro de milhares de vozes, em repetição de seus slogans ufanistas e muitas vezes ofensivos.
Na sua fanática e exacerbada visão, são eles que levam o time nas costas. São todos Mel Gibson do Coração Valente, a frente de uma horda ensandecida. São os arianos puros do III Reich. Matariam as próprias mães em sua obstinação obtusa e cruel. A um sinal do centroavante, são capazes de arrancar o fígado do primeiro parvo que apareça e mastigá-lo em frente as câmeras, para todo o Brasil.
Já vem tarde a movimentação contra estes covis de intolerância. Não bastasse a cartolagem ladroeira, os meia-direitas pipoqueiros e os zagueiros piores do que eu, ainda termos que nos cuidar da nossa própria torcida é, literalmente, o fim da bola!
terça-feira, 13 de abril de 2010
CRÔNICAS FORÇADAS
INJUSTIÇAS HISTÓRICAS
Paulo Wainberg
TV digital, celulares, conquista do espaço, forno de micro-ondas, computadores, Internet, saca-rolhas hidráulico, silicone, transplantes de órgãos, trem-bala, avião a jato, física quântica e tantas outras maravilhosas conquistas tecnológicas, produtos da pertinácia humana em busca de novos conhecimentos a melhorar a vida hodierna, mas hein?.
Saúdo todas, inclusive as que não citei.
Parabéns.
O que não entendo é a razão pela qual a comunidade científica em geral e a Humanidade em particular, recusam-se a dar o verdadeiro valor e colocar no merecido pedestal, aquela que foi a segunda maior invenção do Homem, se considerarmos que a roda foi a primeira.
Ao contrário, noto um certo desprezo, uma espécie de indiferença despeitada daqueles gênios da humanidade, ganhadores dos prêmios Nobel, pesquisadores do Universo e inventores dos nano robôs, quando o assunto vem a baila, quando a maravilhosa criação é invocada, mencionada e, até mesmo, usada, por eles mesmos e pela família.
Estou me referindo, vocês já devem ter percebido, à invenção que mudou os rumos dos passos do Homem, dando-lhes consistência, proteção e conforto nas mais difíceis jornadas: o chinelo de dedo.
Se você pensar por trinta segundos em como seria sua vida sem o chinelo de dedo, verá que tenho razão.
Experimente:...
Viu?
Sem o chinelo de dedo você iria para a piscina do clube, com a mulher e as crianças, todos, ainda, calçando tamancos.
A milenar cultura japonesa seria reduzida, não passaria de uma centenária cultura. Gueixas seriam descobertas muito mais tarde. Samurais não teriam descanso para os pés, Banzai seria um cumprimento, Tora Tora um pedido de desculpas e o sushi um pedido de licença para ir ao banheiro.
O primeiro que vi foi na década de cinquenta e achei que o meu amigo, que estava usando, tinha virado veado.
Duas tiras em forma de A sem o tracinho ou, se preferir, em forma de V invertido, cujo vértice preso à sola de borracha, é perfeito para o encaixe do dedão e do dedinho, definiram os caminhos da Humanidade que ousou enfrentar areias escaldantes, pedras pontiagudas e o piso gelado do banheiro.
O chinelo de dedo foi crucial para o sucesso da Bossa Nova. Tom e Vinicius jamais teriam composto Garota de Ipanema se a menina passasse por eles com alpargatas ou chinelas comuns.
O doce balanço da musa, a caminho do mar, era ritmado pelo clept, clept do chinelo de dedo contra a sola do pezinho dela, mais exatamente no calcanharzinho dela, marcando a batida e o requebro do corpo dourado do sol de Ipanema, muito mais do que um poema.
Duas tiras presas numa plataforma de borracha e pronto: Nunca mais suor nos pés, nunca mais calos nos mindinhos, nunca mais unhas encravadas.
O calo saiu de moda, após o chinelo de dedo. Também desapareceram unhas compridas pretas de sujeira e pretume no garrão.
O chinelo de dedo contribuiu fortemente para a higiene nacional.
O sucesso foi tamanho que a incipiente indústria calçadista nacional explodiu, tornando-se uma das nossas principais fontes de divisas e, também, de falências, para gáudio de advogados especialistas.
Assim como a primitiva roda de pedra lascada evoluiu para os pneus radiais, o chinelo de dedo também alcançou estágios evolutivos espetaculares.
Surgiram os chinelos de dedo que não deixam cheiro, os chinelos de dedo cujas tiras não despregam, os chinelos de dedo de solados altos, intermediários e coloridos, os chinelos de dedo de salto alto, os chinelos de dedo com enfeites sugestivos e floreados marcantes, a decorar as tiras.
Evoluiu o chinelo de dedo ao estágio superior no qual mudou de nome, passou a ser conhecido como rasteirinha, verdadeira obra de arte dos mestres sapateiros, a enfeitar pés de donzelas da primeira a última idade.
Rasteirinha é o chinelo de dedo chique, que pode ser usado na festa e elogiado pelas comparsas.
As mulheres de classe mais baixa continuam usando chinelos de dedos. As de classe média usam rasteirinhas coloridas. As de classe média alta usam rasteirinhas trançadas com fios douradas. E as ricas usam rasteirinhas com tiras cravejadas de brilhantes.
O chinelo de dedo, na sociedade moderna, passou a ser o indicador do status femininos, determinando que deve e quem não deve ser mencionada na coluna social.
Os homens, não. Enfiam seus chinelos de dedo tradicionais, pretos, e vão fazer o churrasco no domingo. Depois, vão ao jogo.
Chinelo de dedo em homem é chinelo mesmo, para ir ao bar e para sair do banho. Homem que é homem usa chinelo de dedo na roça, pisa em bosta de cavalo e em mato com urtiga. E ainda tranca umas esporas nos calcâneos e doma a égua, mesmo a mais bragueada e falseta..
Qualquer um pode usar chinelo de dedo, seja na sauna, seja na massagem erótica.
Lula e Mariza por acaso não usam lá os seus chinelinhos de dedo, enquanto namoram na sala?
Angelina Jolie de chinelo de dedo...? Só de chinelo de dedo...
Meu chinelo de dedo tem dez anos e nunca me contestou.
Graças ao chinelo de dedo a indústria do marqueting floresceu, a criatividade pululando os pezinhos das modelos, atrizes e misses.
Graças ao chinelo de dedo quase ninguém mais escorrega e, se escorrega, não cai.
E agora, neste exato momento, compreendo o motivo pelo qual ninguém atribui o devido valor científico do chinelo de dedo:
Ô assuntinho chato.
Paulo Wainberg
TV digital, celulares, conquista do espaço, forno de micro-ondas, computadores, Internet, saca-rolhas hidráulico, silicone, transplantes de órgãos, trem-bala, avião a jato, física quântica e tantas outras maravilhosas conquistas tecnológicas, produtos da pertinácia humana em busca de novos conhecimentos a melhorar a vida hodierna, mas hein?.
Saúdo todas, inclusive as que não citei.
Parabéns.
O que não entendo é a razão pela qual a comunidade científica em geral e a Humanidade em particular, recusam-se a dar o verdadeiro valor e colocar no merecido pedestal, aquela que foi a segunda maior invenção do Homem, se considerarmos que a roda foi a primeira.
Ao contrário, noto um certo desprezo, uma espécie de indiferença despeitada daqueles gênios da humanidade, ganhadores dos prêmios Nobel, pesquisadores do Universo e inventores dos nano robôs, quando o assunto vem a baila, quando a maravilhosa criação é invocada, mencionada e, até mesmo, usada, por eles mesmos e pela família.
Estou me referindo, vocês já devem ter percebido, à invenção que mudou os rumos dos passos do Homem, dando-lhes consistência, proteção e conforto nas mais difíceis jornadas: o chinelo de dedo.
Se você pensar por trinta segundos em como seria sua vida sem o chinelo de dedo, verá que tenho razão.
Experimente:...
Viu?
Sem o chinelo de dedo você iria para a piscina do clube, com a mulher e as crianças, todos, ainda, calçando tamancos.
A milenar cultura japonesa seria reduzida, não passaria de uma centenária cultura. Gueixas seriam descobertas muito mais tarde. Samurais não teriam descanso para os pés, Banzai seria um cumprimento, Tora Tora um pedido de desculpas e o sushi um pedido de licença para ir ao banheiro.
O primeiro que vi foi na década de cinquenta e achei que o meu amigo, que estava usando, tinha virado veado.
Duas tiras em forma de A sem o tracinho ou, se preferir, em forma de V invertido, cujo vértice preso à sola de borracha, é perfeito para o encaixe do dedão e do dedinho, definiram os caminhos da Humanidade que ousou enfrentar areias escaldantes, pedras pontiagudas e o piso gelado do banheiro.
O chinelo de dedo foi crucial para o sucesso da Bossa Nova. Tom e Vinicius jamais teriam composto Garota de Ipanema se a menina passasse por eles com alpargatas ou chinelas comuns.
O doce balanço da musa, a caminho do mar, era ritmado pelo clept, clept do chinelo de dedo contra a sola do pezinho dela, mais exatamente no calcanharzinho dela, marcando a batida e o requebro do corpo dourado do sol de Ipanema, muito mais do que um poema.
Duas tiras presas numa plataforma de borracha e pronto: Nunca mais suor nos pés, nunca mais calos nos mindinhos, nunca mais unhas encravadas.
O calo saiu de moda, após o chinelo de dedo. Também desapareceram unhas compridas pretas de sujeira e pretume no garrão.
O chinelo de dedo contribuiu fortemente para a higiene nacional.
O sucesso foi tamanho que a incipiente indústria calçadista nacional explodiu, tornando-se uma das nossas principais fontes de divisas e, também, de falências, para gáudio de advogados especialistas.
Assim como a primitiva roda de pedra lascada evoluiu para os pneus radiais, o chinelo de dedo também alcançou estágios evolutivos espetaculares.
Surgiram os chinelos de dedo que não deixam cheiro, os chinelos de dedo cujas tiras não despregam, os chinelos de dedo de solados altos, intermediários e coloridos, os chinelos de dedo de salto alto, os chinelos de dedo com enfeites sugestivos e floreados marcantes, a decorar as tiras.
Evoluiu o chinelo de dedo ao estágio superior no qual mudou de nome, passou a ser conhecido como rasteirinha, verdadeira obra de arte dos mestres sapateiros, a enfeitar pés de donzelas da primeira a última idade.
Rasteirinha é o chinelo de dedo chique, que pode ser usado na festa e elogiado pelas comparsas.
As mulheres de classe mais baixa continuam usando chinelos de dedos. As de classe média usam rasteirinhas coloridas. As de classe média alta usam rasteirinhas trançadas com fios douradas. E as ricas usam rasteirinhas com tiras cravejadas de brilhantes.
O chinelo de dedo, na sociedade moderna, passou a ser o indicador do status femininos, determinando que deve e quem não deve ser mencionada na coluna social.
Os homens, não. Enfiam seus chinelos de dedo tradicionais, pretos, e vão fazer o churrasco no domingo. Depois, vão ao jogo.
Chinelo de dedo em homem é chinelo mesmo, para ir ao bar e para sair do banho. Homem que é homem usa chinelo de dedo na roça, pisa em bosta de cavalo e em mato com urtiga. E ainda tranca umas esporas nos calcâneos e doma a égua, mesmo a mais bragueada e falseta..
Qualquer um pode usar chinelo de dedo, seja na sauna, seja na massagem erótica.
Lula e Mariza por acaso não usam lá os seus chinelinhos de dedo, enquanto namoram na sala?
Angelina Jolie de chinelo de dedo...? Só de chinelo de dedo...
Meu chinelo de dedo tem dez anos e nunca me contestou.
Graças ao chinelo de dedo a indústria do marqueting floresceu, a criatividade pululando os pezinhos das modelos, atrizes e misses.
Graças ao chinelo de dedo quase ninguém mais escorrega e, se escorrega, não cai.
E agora, neste exato momento, compreendo o motivo pelo qual ninguém atribui o devido valor científico do chinelo de dedo:
Ô assuntinho chato.
segunda-feira, 12 de abril de 2010
VARIAÇÕES EM TORNO DO TEM FIADASPUTAS
UM CERTO SENHOR ZVEITER
João Eichbaum
Alô, colorados do mundo inteiro! Vocês se lembram de um certo senhor chamado Zveiter? É, isso mesmo, aquele juiz de direito do Rio de Janeiro, que tirou o campeonato do Inter e o deu para o Corintians, com a desculpa de anular jogos, etc, etc...?
Pois é, agora, não sei é coincidência, mera coincidência, o desembargador Luiz Zveiter, atual Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, depois de passar pelo cargo de corregedor geral da Justiça, está sendo investigado pelo Conselho Nacional de Justiça.
Acontece que essa sumidade andou aprontando.
Olhem só.
O cara tem ou tinha uma namorada, Flávia Mansur Fernandes, que deve ser uma baita gata. Homem nenhum faria o que ele fez, se a mina não valesse a pena. Uma baranga horrível, por exemplo, ou uma coroa cheia de varizes e parecida com o Jô Soares, não mereceria tamanha consideração, a consideração que veremos adiante.
Sua excelência, o então corregedor geral da Justiça do Rio de Janeiro, vejam só, era presidente da comissão do concurso para (nossa, que mina!) “Admissão nas Atividades Notariais e/ou Registrais do Estado do Rio de Janeiro”, entre cujos candidatos figuravam sua namorada... e mais uma amiga dele, Heloisa.
Bem, as duas, Flávia e Heloisa já tinham sido escancaradamente beneficiadas por Zveiter, quando ele as designou para responderem pelo Segundo Cartório de Notas de Niterói (que boca, hein!), em detrimento do ajudante substituto.
Pois sabem que, por coincidência, tanto a namorada quanto a amicíssima do Zveiter, presidente da comissão do concurso, repito, para não haver dúvida, foram aprovadíssimas, sendo que a namorada descolou um brilhantíssimo segundo lugar?
Nem seria necessário dizer que um cartório desses é o sonho de consumo de milhares de bacharéis em direito, coisa parecida com ganhar a sena sozinho.
Mas a coisa veio a furo e foi parar no Conselho Nacional de Justiça. Um grupo de candidatos que tinham ralado um monte, mas não eram namorados do presidente, resolveram botar a boca no trombone. Flávia, a namorada, chamava a atenção não só pela beleza, como pela pouca intimidade que tinha com o vernáculo e com a linguagem jurídica, deficiências que não combinavam com o sucesso por ela obtido no concurso.
O Conselho – ainda bem – anulou o concurso, sob o argumento de que o namoro do desembargador com a candidata aprovada não fechava com os princípios constitucionais da moralidade e da impessoalidade.
Viram agora de quê é capaz uma mulher? E duas, então, nem se fala. Seduzido pelos encantos femininos, o desembargador mandou às favas a moralidade e ficou com a pessoalidade.
Mas, agora, vem a pergunta de todos nós: vai ficar por isso mesmo a semvergonhice, se anula o concurso, faz-se outro e está resolvida a questão? E a conduta ilibada que deve ter um desembargador, hein, gente?
Bom, em matéria de preferências e preferidos, os colorados, muito antes desse concurso, já sabiam de quê é capaz um certo magistrado chamado Zveiter.
João Eichbaum
Alô, colorados do mundo inteiro! Vocês se lembram de um certo senhor chamado Zveiter? É, isso mesmo, aquele juiz de direito do Rio de Janeiro, que tirou o campeonato do Inter e o deu para o Corintians, com a desculpa de anular jogos, etc, etc...?
Pois é, agora, não sei é coincidência, mera coincidência, o desembargador Luiz Zveiter, atual Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, depois de passar pelo cargo de corregedor geral da Justiça, está sendo investigado pelo Conselho Nacional de Justiça.
Acontece que essa sumidade andou aprontando.
Olhem só.
O cara tem ou tinha uma namorada, Flávia Mansur Fernandes, que deve ser uma baita gata. Homem nenhum faria o que ele fez, se a mina não valesse a pena. Uma baranga horrível, por exemplo, ou uma coroa cheia de varizes e parecida com o Jô Soares, não mereceria tamanha consideração, a consideração que veremos adiante.
Sua excelência, o então corregedor geral da Justiça do Rio de Janeiro, vejam só, era presidente da comissão do concurso para (nossa, que mina!) “Admissão nas Atividades Notariais e/ou Registrais do Estado do Rio de Janeiro”, entre cujos candidatos figuravam sua namorada... e mais uma amiga dele, Heloisa.
Bem, as duas, Flávia e Heloisa já tinham sido escancaradamente beneficiadas por Zveiter, quando ele as designou para responderem pelo Segundo Cartório de Notas de Niterói (que boca, hein!), em detrimento do ajudante substituto.
Pois sabem que, por coincidência, tanto a namorada quanto a amicíssima do Zveiter, presidente da comissão do concurso, repito, para não haver dúvida, foram aprovadíssimas, sendo que a namorada descolou um brilhantíssimo segundo lugar?
Nem seria necessário dizer que um cartório desses é o sonho de consumo de milhares de bacharéis em direito, coisa parecida com ganhar a sena sozinho.
Mas a coisa veio a furo e foi parar no Conselho Nacional de Justiça. Um grupo de candidatos que tinham ralado um monte, mas não eram namorados do presidente, resolveram botar a boca no trombone. Flávia, a namorada, chamava a atenção não só pela beleza, como pela pouca intimidade que tinha com o vernáculo e com a linguagem jurídica, deficiências que não combinavam com o sucesso por ela obtido no concurso.
O Conselho – ainda bem – anulou o concurso, sob o argumento de que o namoro do desembargador com a candidata aprovada não fechava com os princípios constitucionais da moralidade e da impessoalidade.
Viram agora de quê é capaz uma mulher? E duas, então, nem se fala. Seduzido pelos encantos femininos, o desembargador mandou às favas a moralidade e ficou com a pessoalidade.
Mas, agora, vem a pergunta de todos nós: vai ficar por isso mesmo a semvergonhice, se anula o concurso, faz-se outro e está resolvida a questão? E a conduta ilibada que deve ter um desembargador, hein, gente?
Bom, em matéria de preferências e preferidos, os colorados, muito antes desse concurso, já sabiam de quê é capaz um certo magistrado chamado Zveiter.
quinta-feira, 8 de abril de 2010
COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO
ATEUS DE ARAQUE
Leitor me pergunta como pode um ateu acreditar em intervenção divina na criação do universo. Não pode. Ocorre que vivemos em época de convicções sem fundamento algum. Os católicos que conheço de catolicismo nada entendem. Desconhecem os dogmas, que constituem o fundamento da Igreja Católica. Mais ainda: sequer sabem o que seja dogma. São católicos como alguém é corintiano ou gremista. Tanto que vemos por todos os lados católicos freqüentando cultos de umbanda ou sessões espíritas. Sempre é bom apostar uma fichinha em cada crença. Nunca se sabe...A irresponsabilidade no que tange a crenças não é apenas católica.
Conheço marxistas que jamais leram Marx, Lênin ou Stalin. Têm todos os reflexos de um comunista, pensam, agem, se comportam e votam como comunistas. Mas nunca ouviram falar em materialismo dialético ou ditadura do proletariado.
Conheço universitários que se pretendem cientistas e acreditam nas potocas do Além. Há doutores que acreditam em Deus. Como pode orientar uma tese um homem que acredita no que não existe?
Sempre depositei certa confiança nos ateus. Um homem, para descrer de superstições milenares, necessita de certa erudição. Não basta apenas dizer que não crê em Deus porque jamais o viu. É preciso entender como a idéia de Deus serve a quem quer exercitar poder sobre seus semelhantes. Como esta idéia é útil aos Estados e tiranos. Como serve para conquistar “mentes e corações”, como dizia Richard Nixon.
Se na culta França existem católicos que não acreditam em Deus, nada espanta que neste país incrível encontremos ateus que nele acreditem. Incultura não é apanágio de crentes. Analfabetos existem inclusive entre ateus. É no entanto lastimável constatar que este analfabetismo esteja contaminando pessoas que, por obrigação intelectual, deveriam ser cultas. Coisas nossas.
Essa gente que se declara atéia e crê numa intervenção divina na evolução das espécies é tão atéia quando o católico que se julga católico e acha que o vinho da comunhão é apenas um símbolo do sangue de Cristo. Pessoas que nada entenderam de nada. Não são ateus. São bobalhões que vêm algum charme em se professarem ateus. São ateus de araque.
O crente não precisa conhecer nada do que crê. Crê e basta. Já o ateu, este precisa entender o que nega. Em minha biblioteca, que já terá uns cinco mil volumes, tenho pelo menos quinhentos sobre cristianismo, história do cristianismo e catolicismo. Mais uns cem sobre judaísmo. E mais uma meia centena sobre islamismo e crenças outras. Não que pretenda usar estes instrumentos para justificar meu ateísmo. Ocorre que acho divertido ler sobre superstições. Duvido que algum católico tenha tal bibliografia sobre sua fé. Algum bispo, talvez. Mas os padres de hoje já nem conhecem latim.
Um outro leitor acha que não estou dando ao livro de Darwin o crédito que ele merece. Em verdade, o livro está em minhas estantes. Mas não o li. Muito árido e além do alcance de minha compreensão. Não preciso de Darwin para ser ateu. A Bíblia já me basta. Continua o leitor: “Hume, na verdade, não foi o primeiro a ficar em cima do muro. Você conhece algum pensador que se declarou ateu antes de Darwin? Desde a antiguidade, em todas as escolas de filosofia, o máximo que os pensadores conseguiam fazer, para tentar negar as teorias criacionistas, era afirmar que os deuses não intervinham na sua criação. Foi o caso de Epicuro, Confúcio e uma escola indiana cujo nome não me vem a mente. Acontece que as pessoas tinham medo de não haver resposta para as perguntas como quem criou o universo, para onde vamos?"Não é que tivessem medo. É que para tais perguntas não há resposta que satisfaça mortais contaminados por este vírus medíocre, o desejo de eternidade. Quem criou o universo? Quem disse que o universo teve de ser criado por alguém? Para onde vamos? Vamos para a morte, oras. Não há outro horizonte à frente. Antes de chegar lá, vamos para onde quisermos.
Quanto a conhecer alguém que se tenha declarado ateu antes de Darwin, a antigüidade está cheia deles. O fato é que o conceito de ateu entre os antigos é um tanto distinto do conceito contemporâneo. Se o ateu de hoje diz não crer em deus, o ateu de então descria não de deus, mas dos deuses.Se os primeiros indivíduos a se identificarem como ateus surgem no século XVIII, a idéia em muito antecede a Era Cristã. Segundo o Dictionnaire de théologie catholique, de Vacant e Mangenot, “é pela Índia que deve se abrir a história do ateísmo”. Segundo Finngeir Hiorth, historiador norueguês, “há documentos que mostram a existência de ateus na Índia dois mil anos antes que na Grécia”, isto é, dois mil e quinhentos anos antes de Cristo.
SÓ VOLTAREMOS NA PRÓXIMA SEGUNDA FEIRA
Até lá
Leitor me pergunta como pode um ateu acreditar em intervenção divina na criação do universo. Não pode. Ocorre que vivemos em época de convicções sem fundamento algum. Os católicos que conheço de catolicismo nada entendem. Desconhecem os dogmas, que constituem o fundamento da Igreja Católica. Mais ainda: sequer sabem o que seja dogma. São católicos como alguém é corintiano ou gremista. Tanto que vemos por todos os lados católicos freqüentando cultos de umbanda ou sessões espíritas. Sempre é bom apostar uma fichinha em cada crença. Nunca se sabe...A irresponsabilidade no que tange a crenças não é apenas católica.
Conheço marxistas que jamais leram Marx, Lênin ou Stalin. Têm todos os reflexos de um comunista, pensam, agem, se comportam e votam como comunistas. Mas nunca ouviram falar em materialismo dialético ou ditadura do proletariado.
Conheço universitários que se pretendem cientistas e acreditam nas potocas do Além. Há doutores que acreditam em Deus. Como pode orientar uma tese um homem que acredita no que não existe?
Sempre depositei certa confiança nos ateus. Um homem, para descrer de superstições milenares, necessita de certa erudição. Não basta apenas dizer que não crê em Deus porque jamais o viu. É preciso entender como a idéia de Deus serve a quem quer exercitar poder sobre seus semelhantes. Como esta idéia é útil aos Estados e tiranos. Como serve para conquistar “mentes e corações”, como dizia Richard Nixon.
Se na culta França existem católicos que não acreditam em Deus, nada espanta que neste país incrível encontremos ateus que nele acreditem. Incultura não é apanágio de crentes. Analfabetos existem inclusive entre ateus. É no entanto lastimável constatar que este analfabetismo esteja contaminando pessoas que, por obrigação intelectual, deveriam ser cultas. Coisas nossas.
Essa gente que se declara atéia e crê numa intervenção divina na evolução das espécies é tão atéia quando o católico que se julga católico e acha que o vinho da comunhão é apenas um símbolo do sangue de Cristo. Pessoas que nada entenderam de nada. Não são ateus. São bobalhões que vêm algum charme em se professarem ateus. São ateus de araque.
O crente não precisa conhecer nada do que crê. Crê e basta. Já o ateu, este precisa entender o que nega. Em minha biblioteca, que já terá uns cinco mil volumes, tenho pelo menos quinhentos sobre cristianismo, história do cristianismo e catolicismo. Mais uns cem sobre judaísmo. E mais uma meia centena sobre islamismo e crenças outras. Não que pretenda usar estes instrumentos para justificar meu ateísmo. Ocorre que acho divertido ler sobre superstições. Duvido que algum católico tenha tal bibliografia sobre sua fé. Algum bispo, talvez. Mas os padres de hoje já nem conhecem latim.
Um outro leitor acha que não estou dando ao livro de Darwin o crédito que ele merece. Em verdade, o livro está em minhas estantes. Mas não o li. Muito árido e além do alcance de minha compreensão. Não preciso de Darwin para ser ateu. A Bíblia já me basta. Continua o leitor: “Hume, na verdade, não foi o primeiro a ficar em cima do muro. Você conhece algum pensador que se declarou ateu antes de Darwin? Desde a antiguidade, em todas as escolas de filosofia, o máximo que os pensadores conseguiam fazer, para tentar negar as teorias criacionistas, era afirmar que os deuses não intervinham na sua criação. Foi o caso de Epicuro, Confúcio e uma escola indiana cujo nome não me vem a mente. Acontece que as pessoas tinham medo de não haver resposta para as perguntas como quem criou o universo, para onde vamos?"Não é que tivessem medo. É que para tais perguntas não há resposta que satisfaça mortais contaminados por este vírus medíocre, o desejo de eternidade. Quem criou o universo? Quem disse que o universo teve de ser criado por alguém? Para onde vamos? Vamos para a morte, oras. Não há outro horizonte à frente. Antes de chegar lá, vamos para onde quisermos.
Quanto a conhecer alguém que se tenha declarado ateu antes de Darwin, a antigüidade está cheia deles. O fato é que o conceito de ateu entre os antigos é um tanto distinto do conceito contemporâneo. Se o ateu de hoje diz não crer em deus, o ateu de então descria não de deus, mas dos deuses.Se os primeiros indivíduos a se identificarem como ateus surgem no século XVIII, a idéia em muito antecede a Era Cristã. Segundo o Dictionnaire de théologie catholique, de Vacant e Mangenot, “é pela Índia que deve se abrir a história do ateísmo”. Segundo Finngeir Hiorth, historiador norueguês, “há documentos que mostram a existência de ateus na Índia dois mil anos antes que na Grécia”, isto é, dois mil e quinhentos anos antes de Cristo.
Isso sem falar que nós todos somos ateus. Se não em relação ao deus cristão, pelo menos em relação a outros. Quem hoje crê em Zeus, Netuno, Urano, Afrodite, Gaia, Titãs ou Cíclopes? Ateus existem desde o nascimento dos deuses. Isto é, desde sempre.
SÓ VOLTAREMOS NA PRÓXIMA SEGUNDA FEIRA
Até lá
quarta-feira, 7 de abril de 2010
ESSE CIRCO CHAMADO JUSTIÇA
AGORA O BBB É NO MINISTÉRIO PÚBLICO
João Eichbaum
O Ministério Público, claro, não podia ficar para trás. Trouxe, para exibir ao respeitável público do Rio Grande do Sul, senhoras e senhores, o seu BBB também.
Seguinte. Mataram em Porto Alegre, um médico que era Secretário Municipal da Saúde. Eis algumas qualidades que o finado trazia no currículo: figura polêmica, metido a valentão, cristão da Assembléia de Deus,
Pois mataram o cara, na frente de uma igreja da Assembléia de Deus, de noite. Poucos dias depois, tratando de quem se tratava, a polícia descobriu os autores da morte do médico: eram ladrões de carro, chinelões, portanto.
Prenderam os chinelões, o inquérito foi encerrado, fim de papo, autos com o Ministério Público.
Pois agora veio o espetáculo. O Ministério Público não aceitou a versão da polícia, de que era coisa de ladrãozinho de automóvel e denunciou mais uns cinco, de colarinho mais ou menos branco: um assessor da secretaria de saúde, donos de uma empresa que prestava serviços de segurança para a mesma secretaria, e por aí vai. Segundo os promotores, os novos réus teriam contratado os chinelões pra fazer o serviço no secretário.
Sem piscar os olhos, uma juíza atendeu ao pedido do Ministério Público e mandou prender esse pessoal todo. Só que tem um detalhe, as prisões foram feitas, estranhamente, pela polícia militar. A polícia civil tomou conhecimento de tudo isso através dos jornais.
Agora, MP e Polícia estão na passarela da vaidade, na maior disputa de beleza de que se tem notícia no Rio Grande do Sul. Para o Ministério Público, a polícia civil é incompetente e desonesta; para a polícia civil, o Ministério Público é leviano e irresponsável, cavando a prisão de inocentes.
E nós, os babacas contribuintes, assistindo ao BBB deles, pra ver quem vai ser o vencedor.
Virou moda. Primeiro foi aquela juíza federal lá de Santa Maria que convocou a imprensa falada, escrita e portadora de câmeras, para receber uma denúncia. Depois uma apresentação dos procuradores da república, enchendo a boca com terminologia jurídica: “não vai ter moleza”. Agora chegou a vez do Ministério Público estadual.
Tudo não passa de um grande circo, em cujos bastidores se esconde a incompetência, enquanto a vaidade se esbalda no picadeiro.
Mas a população continua à mercê dos assaltantes, que explodem bancos, fazem reféns, pintam e bordam, mas não vão para a cadeia, por causa do probleminha dos direitos humanos. Assalto é obra que não dá ibope, microfone, jornal e televisão para o Ministério Público. Assalto é comum, todo o mundo é assaltado todo o dia. Se não for pra distrair o povo com o BBB, o Ministério Público não ta nem aí.
João Eichbaum
O Ministério Público, claro, não podia ficar para trás. Trouxe, para exibir ao respeitável público do Rio Grande do Sul, senhoras e senhores, o seu BBB também.
Seguinte. Mataram em Porto Alegre, um médico que era Secretário Municipal da Saúde. Eis algumas qualidades que o finado trazia no currículo: figura polêmica, metido a valentão, cristão da Assembléia de Deus,
Pois mataram o cara, na frente de uma igreja da Assembléia de Deus, de noite. Poucos dias depois, tratando de quem se tratava, a polícia descobriu os autores da morte do médico: eram ladrões de carro, chinelões, portanto.
Prenderam os chinelões, o inquérito foi encerrado, fim de papo, autos com o Ministério Público.
Pois agora veio o espetáculo. O Ministério Público não aceitou a versão da polícia, de que era coisa de ladrãozinho de automóvel e denunciou mais uns cinco, de colarinho mais ou menos branco: um assessor da secretaria de saúde, donos de uma empresa que prestava serviços de segurança para a mesma secretaria, e por aí vai. Segundo os promotores, os novos réus teriam contratado os chinelões pra fazer o serviço no secretário.
Sem piscar os olhos, uma juíza atendeu ao pedido do Ministério Público e mandou prender esse pessoal todo. Só que tem um detalhe, as prisões foram feitas, estranhamente, pela polícia militar. A polícia civil tomou conhecimento de tudo isso através dos jornais.
Agora, MP e Polícia estão na passarela da vaidade, na maior disputa de beleza de que se tem notícia no Rio Grande do Sul. Para o Ministério Público, a polícia civil é incompetente e desonesta; para a polícia civil, o Ministério Público é leviano e irresponsável, cavando a prisão de inocentes.
E nós, os babacas contribuintes, assistindo ao BBB deles, pra ver quem vai ser o vencedor.
Virou moda. Primeiro foi aquela juíza federal lá de Santa Maria que convocou a imprensa falada, escrita e portadora de câmeras, para receber uma denúncia. Depois uma apresentação dos procuradores da república, enchendo a boca com terminologia jurídica: “não vai ter moleza”. Agora chegou a vez do Ministério Público estadual.
Tudo não passa de um grande circo, em cujos bastidores se esconde a incompetência, enquanto a vaidade se esbalda no picadeiro.
Mas a população continua à mercê dos assaltantes, que explodem bancos, fazem reféns, pintam e bordam, mas não vão para a cadeia, por causa do probleminha dos direitos humanos. Assalto é obra que não dá ibope, microfone, jornal e televisão para o Ministério Público. Assalto é comum, todo o mundo é assaltado todo o dia. Se não for pra distrair o povo com o BBB, o Ministério Público não ta nem aí.
terça-feira, 6 de abril de 2010
COM A PALAVRA, PAULO MARINHO
PRÁTICA ÉTICA
Paulo Marinho
A cena é a seguinte: você, satisfeito da vida, roda com seu carrinho carregado com as compras em direção aos caixas do supermercado. Anos de experiência lhe ensinaram que nesta hora a situação exige sentidos – visuais, matemáticos e cronológicos – acurados e simultâneos. Não basta um ou outro agindo individualmente. A invariável fila que você enfrentará não só deve ser a menor em número de pessoas, mas aquela em que os carrinhos dessas pessoas estejam menos cheios. A sincronia entre longitude, espaço, tempo e volume precisa ser a mais perfeita possível. Por isso, você ronda os caixas como um felino à procura da presa.
Então, num dos guichês, a prosaica imagem de uma senhora segurando uma garrafa de refrigerante debaixo do sovaco, logo atrás de uma outra que já está pagando a conta, faz com que o lince que existe em você exulte. Logicamente você se coloca faceiro e impávido nesta fila, pois entre as tantas que seus olhos repassaram, pelo conjunto esta é a melhor de todas. Uma fila expressa, rara. Sua alegria é tanta que você esfrega as mãos e dá mini pulinhos, enquanto a beatífica endorfina invade seu corpo em pequenos uiuiuis, embora sua vontade é se sacudir de pura alegria num batidão de funk.
Então, surge um homem com seu carrinho abarrotado – feito um transatlântico insólito e ameaçador – e se aboleta a sua frente. É o marido da mulher do refrigerante, que disfarçada e dissimuladamente guardava o lugar pra ele. Seus aminoácidos fogem covardemente, dando lugar à adrenalina oportunista. Doses cavalares dela escorrem pelos cantos da sua boca. Qualquer reação diante da iniquidade, como ameaçar bater no casal com um embutido de mortadela de cinco quilos ou abandonar a fila, avisando aos berros que vai buscar o trabuco no carro, vai estragar seu dia. Definitiva e inapelavelmente você sairá do supermercado irritadíssimo.
Ausência de ética irrita mesmo. Irrita tanto que a mídia vive discutindo-a. Reúne cinco ou seis sabichões, faz uma mesa redonda e debate a ética como doutrina filosófica. Cita os pré-socráticos e aristotélicos, os fundamentos da conduta humana na política, nos movimentos sociais, antropológicos e noutras faixas pomposas. Mas, esquece é de discutir a ética da esquina. A ética paroquial. A falta de ética do casal que guarda fila em supermercado. Do sujeito que tem o rádio do carro furtado e sai correndo pra comprar outro dos ladrões automotivos. Dos canalhas que se adonam das vagas para pessoas portadoras de necessidades especiais nos estacionamentos e que, flagrados, descaradamente fingem que mancam.
A mídia deveria discutir a ética do insano que joga lixo na boca-de-lobo e depois sai xingando os governos de ineptos, por causa da inundação das ruas. Dos que não respeitam a faixa de segurança, dos que atendem celular aos berros no elevador, dos que conversam no cinema e dos cinemas que cobram um horror pela singela pipoca e colocam meio iceberg para dar volume ao refrigerante. Dos malditos que vendem picolé na praia com trezentos por cento de aumento. Enfim, dos exploradores, aproveitadores e corruptores em geral.
Desde a mais tenra idade, uma pergunta deveria ser batida e rebatida, como água mole em pedra dura: “como devo agir perante os outros?”. A resposta a esta questão central, acredite, se não ajudar para um mundo melhor, no mínimo iria moralizar as filas. Qualquer fila.
Paulo Marinho
A cena é a seguinte: você, satisfeito da vida, roda com seu carrinho carregado com as compras em direção aos caixas do supermercado. Anos de experiência lhe ensinaram que nesta hora a situação exige sentidos – visuais, matemáticos e cronológicos – acurados e simultâneos. Não basta um ou outro agindo individualmente. A invariável fila que você enfrentará não só deve ser a menor em número de pessoas, mas aquela em que os carrinhos dessas pessoas estejam menos cheios. A sincronia entre longitude, espaço, tempo e volume precisa ser a mais perfeita possível. Por isso, você ronda os caixas como um felino à procura da presa.
Então, num dos guichês, a prosaica imagem de uma senhora segurando uma garrafa de refrigerante debaixo do sovaco, logo atrás de uma outra que já está pagando a conta, faz com que o lince que existe em você exulte. Logicamente você se coloca faceiro e impávido nesta fila, pois entre as tantas que seus olhos repassaram, pelo conjunto esta é a melhor de todas. Uma fila expressa, rara. Sua alegria é tanta que você esfrega as mãos e dá mini pulinhos, enquanto a beatífica endorfina invade seu corpo em pequenos uiuiuis, embora sua vontade é se sacudir de pura alegria num batidão de funk.
Então, surge um homem com seu carrinho abarrotado – feito um transatlântico insólito e ameaçador – e se aboleta a sua frente. É o marido da mulher do refrigerante, que disfarçada e dissimuladamente guardava o lugar pra ele. Seus aminoácidos fogem covardemente, dando lugar à adrenalina oportunista. Doses cavalares dela escorrem pelos cantos da sua boca. Qualquer reação diante da iniquidade, como ameaçar bater no casal com um embutido de mortadela de cinco quilos ou abandonar a fila, avisando aos berros que vai buscar o trabuco no carro, vai estragar seu dia. Definitiva e inapelavelmente você sairá do supermercado irritadíssimo.
Ausência de ética irrita mesmo. Irrita tanto que a mídia vive discutindo-a. Reúne cinco ou seis sabichões, faz uma mesa redonda e debate a ética como doutrina filosófica. Cita os pré-socráticos e aristotélicos, os fundamentos da conduta humana na política, nos movimentos sociais, antropológicos e noutras faixas pomposas. Mas, esquece é de discutir a ética da esquina. A ética paroquial. A falta de ética do casal que guarda fila em supermercado. Do sujeito que tem o rádio do carro furtado e sai correndo pra comprar outro dos ladrões automotivos. Dos canalhas que se adonam das vagas para pessoas portadoras de necessidades especiais nos estacionamentos e que, flagrados, descaradamente fingem que mancam.
A mídia deveria discutir a ética do insano que joga lixo na boca-de-lobo e depois sai xingando os governos de ineptos, por causa da inundação das ruas. Dos que não respeitam a faixa de segurança, dos que atendem celular aos berros no elevador, dos que conversam no cinema e dos cinemas que cobram um horror pela singela pipoca e colocam meio iceberg para dar volume ao refrigerante. Dos malditos que vendem picolé na praia com trezentos por cento de aumento. Enfim, dos exploradores, aproveitadores e corruptores em geral.
Desde a mais tenra idade, uma pergunta deveria ser batida e rebatida, como água mole em pedra dura: “como devo agir perante os outros?”. A resposta a esta questão central, acredite, se não ajudar para um mundo melhor, no mínimo iria moralizar as filas. Qualquer fila.
segunda-feira, 5 de abril de 2010
ESSE CIRCO CHAMADO JUSTIÇA
BBB DO JUDICIÁRIO
João Eichbaum
Antes de mais nada, quero declarar um “confiteor” e fazer justiça a quem de direito: furtei a brilhante idéia do Janer Cristaldo, para trazê-la como título desta crônica.
A revista Veja da semana passada traz como chamada de capa o júri do casal Nardoni, a quem foi atribuida a morte de uma menina chamada Isabela.
Parece que a revista aproveita a matéria policial para homenagear o espírita Chico Xavier, estampando a manchete: “Isabela pode descansar em paz”.
Foi a primeira vez que vi a revista Veja fazer sensacionalismo de mãos dadas com a Globo. “Um admirável julgamento”, reza o título da matéria na qual analisa a performance do promotor e do advogado de defesa, concluindo que o júri é o tribunal por excelência, para cuja competência deveriam ser arrastados outros crimes como “corrupção, estelionato, fraudes, abuso de poder”
A Veja, como a Globo e todos os demais jornais e revistas do mundo inteiro querem o que todo mundo quer: dinheiro. Por isso é que lhes interessa o sensacionalismo, pois o sensacionalismo vende muito bem, é o produto que mais calha no gosto do povo. Se há coisa de que o povo goste, é de desgraça alheia.
Justiça e sensacionalismo não combinam. O julgamento é um juízo de valor, embasado em silogismo, no qual não há lugar para ingredientes ligados ao sentimento. O sensacionalismo é fruto do puro sentimento. O julgamento técnico é fruto de pura razão. Sensacionalismo produz vingança. Julgamento produz justiça.
É claro que a imprensa aproveita o momento claudicante da Justiça brasileira: o Poder Judiciário está em maré muito baixa, marcando com fatos negativos sua história, a partir do Supremo Tribunal Federal, hoje coalhado de figurinhas deslumbradas com o poder. E com o sensacionalismo do júri, que tem muito mais de circo do que de julgamento, a imprensa quer mostrar que o povo cumpre melhor o papel que caberia ao Judiciário. Em cima dos sentimentos, está cobrando do Judiciário o valor justiça, pelo qual todos clamam e com o qual poucos são agraciados: os bancos, os banqueiros, as multinacionais, os políticos, os candidatos à lista da Forbes.
Para um jurista de formação isso é uma heresia. Mas, na prática, para quem vive o dia-a-dia forense se cava um abismo de dúvida: será melhor essa justiça circense, de espetáculo, ou as sentenças saturadas de ignorância jurídica, lavradas por secretários, assessores e estagiários, enquanto os juízes, os desembargadores e os ministros embebedam sua vaidade nas cátedras universitárias, ou viajam pelo Brasil e pelo mundo, pronunciando conferências, participando de seminários, gastando o nosso dinheiro?
João Eichbaum
Antes de mais nada, quero declarar um “confiteor” e fazer justiça a quem de direito: furtei a brilhante idéia do Janer Cristaldo, para trazê-la como título desta crônica.
A revista Veja da semana passada traz como chamada de capa o júri do casal Nardoni, a quem foi atribuida a morte de uma menina chamada Isabela.
Parece que a revista aproveita a matéria policial para homenagear o espírita Chico Xavier, estampando a manchete: “Isabela pode descansar em paz”.
Foi a primeira vez que vi a revista Veja fazer sensacionalismo de mãos dadas com a Globo. “Um admirável julgamento”, reza o título da matéria na qual analisa a performance do promotor e do advogado de defesa, concluindo que o júri é o tribunal por excelência, para cuja competência deveriam ser arrastados outros crimes como “corrupção, estelionato, fraudes, abuso de poder”
A Veja, como a Globo e todos os demais jornais e revistas do mundo inteiro querem o que todo mundo quer: dinheiro. Por isso é que lhes interessa o sensacionalismo, pois o sensacionalismo vende muito bem, é o produto que mais calha no gosto do povo. Se há coisa de que o povo goste, é de desgraça alheia.
Justiça e sensacionalismo não combinam. O julgamento é um juízo de valor, embasado em silogismo, no qual não há lugar para ingredientes ligados ao sentimento. O sensacionalismo é fruto do puro sentimento. O julgamento técnico é fruto de pura razão. Sensacionalismo produz vingança. Julgamento produz justiça.
É claro que a imprensa aproveita o momento claudicante da Justiça brasileira: o Poder Judiciário está em maré muito baixa, marcando com fatos negativos sua história, a partir do Supremo Tribunal Federal, hoje coalhado de figurinhas deslumbradas com o poder. E com o sensacionalismo do júri, que tem muito mais de circo do que de julgamento, a imprensa quer mostrar que o povo cumpre melhor o papel que caberia ao Judiciário. Em cima dos sentimentos, está cobrando do Judiciário o valor justiça, pelo qual todos clamam e com o qual poucos são agraciados: os bancos, os banqueiros, as multinacionais, os políticos, os candidatos à lista da Forbes.
Para um jurista de formação isso é uma heresia. Mas, na prática, para quem vive o dia-a-dia forense se cava um abismo de dúvida: será melhor essa justiça circense, de espetáculo, ou as sentenças saturadas de ignorância jurídica, lavradas por secretários, assessores e estagiários, enquanto os juízes, os desembargadores e os ministros embebedam sua vaidade nas cátedras universitárias, ou viajam pelo Brasil e pelo mundo, pronunciando conferências, participando de seminários, gastando o nosso dinheiro?
sexta-feira, 2 de abril de 2010
CRÔNICAS DO DIABO
SEXTA FEIRA SANTA
João Eichbaum
Acho que nem Freud explica a razão pela qual a divindade judaica, chamada Javé, é um deus explicitamente sádico.
Começa que, na versão bíblica, ele teria criado o homem, essa criatura que dispensa comentários. Se, no dizer dos teólogos, esse deus é onisciente e onipotente, que razão teria ele para, sabendo como seriam os homens - por exemplo Fidel Castro, Chaves, Sadam Hussein, Stalin, os padres pedófilos, o José Sarney, o Adriano do Flamengo, só para ficar no mínimo – criá-los e exigir deles virtudes cuja ausência é motivo de “condenação eterna”?
Depois dessa demonstração de sadismo inominável, que consistiu na criação de um ser imperfeito para exigir dele virtudes impossíveis, antes de matá-lo e mandá-lo para o inferno, o seguinte ato sádico do deus judeu foi exigir de Abraão o holocausto de seu filho Isaac e, na hora “H”, dizer para o desesperado pai:”deixa disso, é brincadeira minha”.
O antigo testamento está repleto de páginas sangrentas e talvez seja em razão disso que a imprensa, dominada quase que inteiramente, pelos descendentes de Abraão, Isaac e Jacob, faz ainda hoje, do sangue, suas manchetes mais sensacionais, lucrando com a desgraça.
Pois esse sadismo do rito judaico, concretizado no sacrifício de animais, foi adotado pela religião cristã, sem o menor pudor. Um judeu chamado Jesus, conhecido pelo apelido de Cristo, seria a criatura que a divindade judaica teria feito nascer, através de métodos pouco convencionais, para ser levado ao holocausto. E sabem para quê? Para “salvar” a humanidade ou, também segundo se diz, em reparação aos pecados dos homens, aplacando, com essa violência, os incômodos de “Deus”.
Para que não pairem dúvidas, repito: o deus judaico, adotado posteriormente pelos cristãos, exigiu que “seu filho”, Jesus, fosse imolado, para lhe aplacar as ofensas cometidas pelos homens.
Pois é nesse ato de explícito e inexplicável sadismo que repousa toda a doutrina cristã e, em conseqüência, toda a riqueza do Vaticano.
Se não fosse isso, não teríamos a Sexta Feira Santa e todo esse feriadão de páscoa, que empanturra de chocolate as crianças e provoca engarrafamentos nas estradas, mas faz o povão feliz, embora não esteja a salvo de porra nenhuma, com a morte do Cristo na cruz.
João Eichbaum
Acho que nem Freud explica a razão pela qual a divindade judaica, chamada Javé, é um deus explicitamente sádico.
Começa que, na versão bíblica, ele teria criado o homem, essa criatura que dispensa comentários. Se, no dizer dos teólogos, esse deus é onisciente e onipotente, que razão teria ele para, sabendo como seriam os homens - por exemplo Fidel Castro, Chaves, Sadam Hussein, Stalin, os padres pedófilos, o José Sarney, o Adriano do Flamengo, só para ficar no mínimo – criá-los e exigir deles virtudes cuja ausência é motivo de “condenação eterna”?
Depois dessa demonstração de sadismo inominável, que consistiu na criação de um ser imperfeito para exigir dele virtudes impossíveis, antes de matá-lo e mandá-lo para o inferno, o seguinte ato sádico do deus judeu foi exigir de Abraão o holocausto de seu filho Isaac e, na hora “H”, dizer para o desesperado pai:”deixa disso, é brincadeira minha”.
O antigo testamento está repleto de páginas sangrentas e talvez seja em razão disso que a imprensa, dominada quase que inteiramente, pelos descendentes de Abraão, Isaac e Jacob, faz ainda hoje, do sangue, suas manchetes mais sensacionais, lucrando com a desgraça.
Pois esse sadismo do rito judaico, concretizado no sacrifício de animais, foi adotado pela religião cristã, sem o menor pudor. Um judeu chamado Jesus, conhecido pelo apelido de Cristo, seria a criatura que a divindade judaica teria feito nascer, através de métodos pouco convencionais, para ser levado ao holocausto. E sabem para quê? Para “salvar” a humanidade ou, também segundo se diz, em reparação aos pecados dos homens, aplacando, com essa violência, os incômodos de “Deus”.
Para que não pairem dúvidas, repito: o deus judaico, adotado posteriormente pelos cristãos, exigiu que “seu filho”, Jesus, fosse imolado, para lhe aplacar as ofensas cometidas pelos homens.
Pois é nesse ato de explícito e inexplicável sadismo que repousa toda a doutrina cristã e, em conseqüência, toda a riqueza do Vaticano.
Se não fosse isso, não teríamos a Sexta Feira Santa e todo esse feriadão de páscoa, que empanturra de chocolate as crianças e provoca engarrafamentos nas estradas, mas faz o povão feliz, embora não esteja a salvo de porra nenhuma, com a morte do Cristo na cruz.
quinta-feira, 1 de abril de 2010
COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO
MÉTODO PRÁTICO PARARECEBER MENSAGENSDO ALÉM-TÚMULO
Leitor me lembra que a entidade preferida de Chico Xavier era um senador romano que falava português ao invés de latim. E me pergunta: será que há algum cursinho de idiomas no Além?Pelo jeito tem, e muitos. Chico Xavier recebia o espírito Emmanuel. Que antes de ter encarnado no cônsul Públio Lentulus Cornelius - conspirador e amigo e amigo de Sulla e Cícero, condenado à morte em 63 a.C. – encarnou em Simas, grão-sacerdote do templo de Amon-Rá, em Tebas. Segundo a milenar biografia de Emmanuel que consulto, Lentulus teria desencarnado em Pompéia, em 79, vítima das cinzas do Vesúvio, cego e já voltado aos princípios de Jesus.Emmanuel renasceu em Éfeso, em 131, como o escravo Nestório. Em Chipre foi Basílio, romano filho de escravos gregos, que viveu como liberto em 233. Entre seus renascimentos, acabou encarnando inclusive no padre Manuel da Nóbrega, quando deve ter aprendido português. No início do século XXI – ó decadência! – teria reencarnado em uma cidadezinha no interior de São Paulo. Da glória do Egito e Roma imperiais ao universo caiçara brasileiro.
As escolas de línguas do Além, ao que tudo indica, são antiqüíssimas, inclusive anteriores à Era Cristã. Em um romance de Chico Xavier, Há dois mil anos, publicado em 1939, o patrício romano tem a oportunidade de se encontrar pessoalmente com Jesus, mas entre a opção de ser servo de Jesus ou servo do mundo, escolhe a segunda. O romance do médium tem significativas coincidências com A Vida de Jesus, de Ernest Renan, publicado em 1863 e traduzido ao português pela Lello & Irmão Editores, de Porto. Uma alma generosa teve a lembrança de colocá-las na rede.
Les voilà:Xavier:Nuvens de aves cariciosas cobriam, em bandos compactos, aquelas águas feitas de um prodigioso azul celeste, hoje encarceradas entre rochedos adustos e ardentes.
Renan:Revoadas de aves aquáticas cobrem o lago. As águas, de um azul-celeste, profundamente encravadas entre rochedos abrasantes, parecem, quando se olha para elas do alto da montanha de Safed, estar no fundo de uma taça de ouro.
Xavier:Ao norte, as eminências nevosas do Hermon figuravam-se em linhas alegres e brancas, divisando-se ao ocidente as alevantadas planícies da Gaulanítida e da Pereia, envolvidas de sol, formando, juntas, um grande socalco que se alonga de Cesareia de Filipe para o sul.
Renan:Ao norte, os barrancos cobertos de neve do Hermon se recortam em linhas brancas no céu; a oeste, os planaltos ondulados da Gaulonítida e da Peréia, absolutamente áridos e envolvidos pelo sol numa espécie de atmosfera aveludada, formam uma montanha compacta, ou, melhor dizendo, um longo terraço bem elevado que, desde Cesaréia de Filipe, corre indefinidamente para o sul.
Xavier:Uma vegetação maravilhosa e única, operando a emanação incessante do ar mais puro, temperava o calor da região, onde o lago se localiza, muito abaixo do nível do Mediterrâneo.
Renan:O calor nas margens é agora muito pesado. O lago ocupa uma depressão de 189 metros abaixo do nível do Mediterrâneo e participa, assim, das condições tórridas do mar Morto. Antigamente, uma vegetação abundante temperava esse calor excessivo; dificilmente se compreendia que uma fornalha como a que é hoje toda a bacia do lago, a partir do mês de maio, tenha sido o palco de uma atividade tão prodigiosa. Josefo, aliás, acha a região bastante temperada.Eis o médium. Ou seja, receber mensagens do Além não é tão complicado. Basta ter em mãos uma tradução de um clássico.
Se há cursos de língua no Além, Chico Xavier não parece ter tido a oportunidade de freqüentá-los. Foi preciso esperar a tradução de Renan ao português.Outro aspecto que sempre me intrigou é que médiuns nunca psicografam obras em idiomas estrangeiros. Se o Emmanuel era poliglota, o Chico era tão monoglota quanto o Lula. Por que um espírito – ainda mais um espírito que reencarnou em tantas geografias – não transmite obras nas línguas dos países por onde vagou?Mistério, profundo mistério.
Leitor me lembra que a entidade preferida de Chico Xavier era um senador romano que falava português ao invés de latim. E me pergunta: será que há algum cursinho de idiomas no Além?Pelo jeito tem, e muitos. Chico Xavier recebia o espírito Emmanuel. Que antes de ter encarnado no cônsul Públio Lentulus Cornelius - conspirador e amigo e amigo de Sulla e Cícero, condenado à morte em 63 a.C. – encarnou em Simas, grão-sacerdote do templo de Amon-Rá, em Tebas. Segundo a milenar biografia de Emmanuel que consulto, Lentulus teria desencarnado em Pompéia, em 79, vítima das cinzas do Vesúvio, cego e já voltado aos princípios de Jesus.Emmanuel renasceu em Éfeso, em 131, como o escravo Nestório. Em Chipre foi Basílio, romano filho de escravos gregos, que viveu como liberto em 233. Entre seus renascimentos, acabou encarnando inclusive no padre Manuel da Nóbrega, quando deve ter aprendido português. No início do século XXI – ó decadência! – teria reencarnado em uma cidadezinha no interior de São Paulo. Da glória do Egito e Roma imperiais ao universo caiçara brasileiro.
As escolas de línguas do Além, ao que tudo indica, são antiqüíssimas, inclusive anteriores à Era Cristã. Em um romance de Chico Xavier, Há dois mil anos, publicado em 1939, o patrício romano tem a oportunidade de se encontrar pessoalmente com Jesus, mas entre a opção de ser servo de Jesus ou servo do mundo, escolhe a segunda. O romance do médium tem significativas coincidências com A Vida de Jesus, de Ernest Renan, publicado em 1863 e traduzido ao português pela Lello & Irmão Editores, de Porto. Uma alma generosa teve a lembrança de colocá-las na rede.
Les voilà:Xavier:Nuvens de aves cariciosas cobriam, em bandos compactos, aquelas águas feitas de um prodigioso azul celeste, hoje encarceradas entre rochedos adustos e ardentes.
Renan:Revoadas de aves aquáticas cobrem o lago. As águas, de um azul-celeste, profundamente encravadas entre rochedos abrasantes, parecem, quando se olha para elas do alto da montanha de Safed, estar no fundo de uma taça de ouro.
Xavier:Ao norte, as eminências nevosas do Hermon figuravam-se em linhas alegres e brancas, divisando-se ao ocidente as alevantadas planícies da Gaulanítida e da Pereia, envolvidas de sol, formando, juntas, um grande socalco que se alonga de Cesareia de Filipe para o sul.
Renan:Ao norte, os barrancos cobertos de neve do Hermon se recortam em linhas brancas no céu; a oeste, os planaltos ondulados da Gaulonítida e da Peréia, absolutamente áridos e envolvidos pelo sol numa espécie de atmosfera aveludada, formam uma montanha compacta, ou, melhor dizendo, um longo terraço bem elevado que, desde Cesaréia de Filipe, corre indefinidamente para o sul.
Xavier:Uma vegetação maravilhosa e única, operando a emanação incessante do ar mais puro, temperava o calor da região, onde o lago se localiza, muito abaixo do nível do Mediterrâneo.
Renan:O calor nas margens é agora muito pesado. O lago ocupa uma depressão de 189 metros abaixo do nível do Mediterrâneo e participa, assim, das condições tórridas do mar Morto. Antigamente, uma vegetação abundante temperava esse calor excessivo; dificilmente se compreendia que uma fornalha como a que é hoje toda a bacia do lago, a partir do mês de maio, tenha sido o palco de uma atividade tão prodigiosa. Josefo, aliás, acha a região bastante temperada.Eis o médium. Ou seja, receber mensagens do Além não é tão complicado. Basta ter em mãos uma tradução de um clássico.
Se há cursos de língua no Além, Chico Xavier não parece ter tido a oportunidade de freqüentá-los. Foi preciso esperar a tradução de Renan ao português.Outro aspecto que sempre me intrigou é que médiuns nunca psicografam obras em idiomas estrangeiros. Se o Emmanuel era poliglota, o Chico era tão monoglota quanto o Lula. Por que um espírito – ainda mais um espírito que reencarnou em tantas geografias – não transmite obras nas línguas dos países por onde vagou?Mistério, profundo mistério.
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