segunda-feira, 19 de abril de 2010

NÓS, PRIMATAS

BOTA NO MEU TAMBÉM, MAS SÓ UM POUQUINHO...

João Eichbaum

Dias desses, estava eu nem um pouquinho chateado, muito pelo contrário, super feliz, muito humano e atento, alimentando o sagrado contentamento de estar entre duas mulheres, ou, como queiram, diante de dois pares de...,digamos, braços, com uma mulher na minha frente e outra de ladinho. As duas, belas mulheres, ambas morenas, cor de canela, uma de cabelos castanhos dourados, a outra de cabelos negros, dessas obras primas da natureza, - nem seria preciso dizer, porque eu, muito educado, gentilmente, costumo deixar as feias para outros.
Estávamos no bem bom, os três, bocas em ação, nos regalando, revirando os olhos de tanto gozo, nos entregando aos excessos que as circunstâncias patrocinavam, sem abstinências, com a leveza de quem não é feito de matéria quântica. E elas diziam e repetiam, com aqueles suspiros que lhes vinham do mais fundo da alma, quando tinham a boca livre:
-Ah, tá uma delícia!
Depois de termos provado quase tudo, uma delas, a de cabelos castanhos dourados, pediu uma coisa diferente. No que, foi prontamente atendida e insistiu, se dirigindo para a outra, a de cabelos negros:
-É super delicioso!
Aí, a outra não se sofreu e foi pedindo:
-Bota no meu também, mas só um pouquinho, só pra experimentar...
Só tem uma coisa, gente: não é o que vocês estão pensando. Ninguém aqui tá falando daquela rodelinha impronunciável. Nós não estávamos enrodilhados, pele contra pele, zerados da cintura pra baixo, tipo Adão e Eva, sem os ademanes e a indumentária que a civilização exige, quando se está em público. A gente estava num restaurante, em reunião de trabalho. Os excessos corriam por conta da saborosa comida e as delícias, que arrancavam suspiros e adjetivos, vinham das tentadoras sobremesas. E já nos tínhamos regalado o suficiente, quando a garçonete ofereceu café.
-Com canela – pediu a colega de cabelos castanhos dourados, que estava ao meu lado, acrescentando, mais uma vez, que era uma delícia.
Então a outra, a de cabelos negros, que estava à minha frente resolveu aderir e pediu:
-Bota no meu também, mas só um pouquinho, só pra experimentar.
Aí, sabe cumé, rendeu essa crônica.

Um comentário:

Vivian disse...

Ainda não consegui parar de dar gargalhadas!! Adorei!! Grande abraço João. Vivian.