sexta-feira, 29 de outubro de 2010

COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO

ZWEI SEITEN?

Em um momento dos mais profundos – e menos conhecidos – de sua obra, escreveu Kafka:
Zwei Seiten
gab es schon
und wird es auch immer geben,
zu allen Zeiten,
in allen Dingen:
die Seite hierund die Seite dort!
Traduzindo: Sempre houve e sempre haverá, em todos os tempos e em todas as coisas, dois lados:o lado de cá e o lado de lá!
Nem sempre, meu caro Kafka! Neste nosso país, justo no momento em que deveria haver dois lados, as eleições, há um lado só. Dois candidatos de extração marxista, ambos ex-militantes de movimentos terroristas, que até hoje não se penitenciaram por seus passados. Pelo contrário, deles se orgulham. Lutaram ombro a ombro com os celerados que pretendiam fazer do Brasil uma republiqueta soviética e hoje se candidatam a salvadores da pátria.
Não há nestas eleições – nem houve nas últimas – aquele outro lado de que falava Kafka. Quando jovem, sempre imaginei que comunismo fosse pensamento dominante na União Soviética, China, Cuba. Certa vez, um bom amigo, o Anibal Damasceno Ferreira, disse-me:- Janer, tu estás contra toda tua geração.
Na época, meus dias de universidade, não entendi bem a frase. Só fui entendê-la bem mais tarde. Minha geração toda era comunista. No curso de Filosofia, meus colegas – e a maioria de meus professores – era comunista. Filosofia, aliás, era sinônimo de marxismo. Os professores começavam falando de dialética em Platão para chegar, obviamente, à dialética de Hegel e Marx. Como se o conceito de dialética em Platão tivesse algo a ver com a dialética marxista.
O Brasil sempre teve o coração à esquerda. Desde os anos 30, com a fundação da USP, a maior difusora da peste no país. Como diziam os moleques de 68 em Paris: o fundo do ar é vermelho. Mas se na França o fundo do ar já não é mais vermelho, cá entre nós continua sendo. O muro de Berlim caiu há mais de duas décadas e os brasileiros não têm alternativa alguma a dois marxistas.
Claro que nenhum dos dois candidatos confessaria professar o marxismo hoje. Mas tampouco renegam o marxismo juvenil. Pior ainda: se pretendem católicos desde o berço. Serra beija um terço. Dilma faz o sinal da cruz. Divina hipocrisia.
Desde há muito não há dois lados no Brasil. Neste sentido, os ex-países comunistas tiveram mais sorte que nós. Lá, ninguém quer mais ouvir falar de comunismo. Chez nous, ainda há não poucos malucos messiânicos - vide Marilena Chauí - propondo um futuro socialista para o Brasil. E não só para o Brasil, mas também para a América Latina e Europa.Continuamos a reboque da História.
PS – A frase com que abri a crônica não é de Kafka coisa nenhuma. É um versinho que ouvi de uma poetisa gaúcha, daquelas que freqüentavam tertúlias no restaurante Dona Maria, em Porto Alegre. Reuniam-se uma vez por mês, no chamado Cafezinho Poético. Eu não perdia nenhum. Divertia-me ver aquelas senhoras macróbias desenrolando um pergaminho e recitando poemas que se pretendiam eróticos.
Pus a frase em alemão porque confere mais autoridade ao texto. Sem falar que a atribui a Kafka. Uma obviedade proferida por Kafka sempre cala fundo. Nem por isso, minha reflexão tem menos sentido.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

ESSE CIRCO CHAMADO JUSTIÇA

O MINISTRO E O ESTAGIÁRIO (II)

João Eichbaum


Noticia a Band News FM Brasília que “o presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça) não vai comentar a demissão do estagiário Marco Paulo dos Santos na última terça-feira. Segundo a assessoria de imprensa do STJ, o ministro só vai falar sobre o caso no próprio processo, que já foi encaminhado ao STF (Supremo Tribunal Federal)”
Porque é que o ministro se cala? Porque é que ele não vem a público dar explicações, oferecer a sua versão sobre o caso, que se lhe imputa, de haver se comportado com desequilíbrio e demitido, aos influxos da ira, no calor do momento, um pobre estagiário que exercia funções no STJ?
Diante desse silêncio, a opinião pública ficará com a primeira impressão, transmitida pela imprensa de São Paulo, de que o ministro se excedeu, agiu com autoritarismo, com desequilíbrio, com destempero e que, em agindo de tal maneira, demonstra não ter condições para o exercício do cargo de Presidente do Superior Tribunal de Justiça.
Esse silêncio também pode levar à suposição de que o ministro não tem argumentos para fazer sua defesa, ou não tem sequer capacidade de tapar o sol com a peneira. Estivesse ele com a razão, agiria como qualquer pessoa, levantaria a voz contra a injustiça, contra a mentira, contra a distorção dos fatos, não precisaria se requebrar para contar a verdade.
Por que fugir então das explicações?
Quem pegou carona nesse silêncio do ministro foi a RBS, empresa de comunicação do Rio Grande do Sul. Seus órgãos principais, a televisão e o jornal Zero Hora, que tanto se orgulham dos “ministros gaúchos”, as estrelas dos Tribunais Superiores, os impolutos, os admiráveis, não disseram uma só palavra sobre o assunto.
Moita, meus amigos! Caluda! Qualquer notícia, por mais imparcial que fosse, quebraria a imagem construída pelos puxassacos que comandam a opinião pública do Rio Grande do Sul. Eles teriam que reconhecer que nem todo o gaúcho com o poder na mão é um ser humano digno de ser exaltado.




quarta-feira, 27 de outubro de 2010

COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO

DE QUAL PLANETA VIERAM ESTES DOUTOS SENHORES?

Comentei, há alguns meses, o fenômeno que chamei de zumbis da Guaianases, a rua que mais concentra drogados em São Paulo. A Guaianases fica na chamada Cracolândia, nas imediações da Estação da Luz, onde está a Pinacoteca do Estado de São Paulo e a sala São Paulo, uma belíssima sala de concertos que nada fica a dever para as congêneres de Paris ou Londres. É algo assustador. Centenas de mortos-vivos, crianças e adultos, homens e mulheres, enrolados em cobertores e capuzes, cachimbando crack, estão deitados na rua ou por ela perambulam em busca de droga. Nenhum taxista ousa entrar no pedaço. Tudo isto no centro da mais imponente capital do continente.
Higienópolis, o bairro onde moro, é um dos mais aprazíveis e seguros de São Paulo. A Cracolândia fica a uns dois quilômetros de meu prédio, distância muito curta nesta cidade. A Prefeitura quer revitalizar a Cracolândia. Para isso, está tocando um projeto que chamou de Nova Luz. Uma vasta área está sendo desapropriada e será demolida para dar lugar a um centro administrativo. A tal de revitalização está gerando um efeito funesto. Os nóias estão se espalhando pelas áreas adjacentes, inclusive pelo centro histórico da cidade. Hoje, na praça da República, e mesmo junto ao terminal de Cumbica, você vê pobres diabos jogados na sarjeta, sempre em grupos, chupando tranqüilamente seus cachimbos, em plena luz do dia.
É um belo cartão de visita para quem chega de Nova York ou Paris. Desembarca no maior aeroporto do continente, toma um ônibus de luxo e cai em meio a um amontoado de lixo humano. O número de usuários de crack quase dobrou no Brasil: de 380 mil para 600 mil. O problema está – ou estava - mobilizando o governo federal, que planejava dobrar o número de vagas para internação de usuários neste ano - de 2,5 mil para 5 mil - e lançou ontem um programa de R$ 410 milhões. Só tem um problema. O usuário se interna se concordar em internar-se. Se não concorda, permanece na rua livre como um passarinho, consumindo a droga na frente da polícia.
Higienópolis, mais que um bairro, é um estado de espírito. Administrativamente, não existe. Para efeitos legais, é Santa Cecília. É um fenômeno típico de São Paulo. Quando um bairro começa a degradar-se, sua parte mais rica e sadia muda de nome. Não há fronteiras precisas entre o que se convencionou chamar de Higienópolis e o que permanece como Santa Cecília. Se você vive na região limítrofe e quer vender seu apartamento, mesmo que ele fique obviamente em Santa Cecília, dirá que é Higienópolis. Mas se você quer comprar o mesmo apartamento, dirá que fica em Santa Cecília, embora o proprietário jure de pés juntos que está em Higienópolis.
Com a tentativa de revitalização da Cracolândia, os nóias estão se aproximando de Higienópolis. Jazem agora em torno ao metrô Santa Cecília, que obviamente fica em Santa Cecília. Mas se antes a Cracolândia estava a uns dois quilômetros de minha rua, agora já está a um quilômetro. Os usuários do metrô adotaram uma estratégia: combinam horários para encontrar-se na estação e, ao sair, formam comboios para enfrentar os zumbis de Santa Cecília. Polícia, que é bom, nem pensar.A polícia vê mas não faz nada. Considera-se que o problema é social, não policial. Às vezes, para mostrar serviço, esvaziam as ruas do crack por algumas horas. Apenas por algumas horas. Ninguém é preso, nem usuários nem traficantes. Moro a uma quadra do shopping Pátio Higienópolis, um dos mais imponentes de São Paulo, segundo freqüentadores de shoppings. Não posso afirmar o mesmo porque é o único que conheço. No shopping fica o auditório da Folha de São Paulo, onde desfilam desde Fernando Henrique Cardoso a Mário Vargas Llosa.
Na última sexta-feira, a Folha organizou um debate sobre a droga em seu auditório. Em reportagem de Reinaldo Lopes, editor de Ciência do jornal, leio que Ronaldo Laranjeira, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), disse que sua posição "era lógica do ponto de vista da saúde pública". "A experiência de legalização das drogas ilícitas está aqui perto da gente, é a Cracolândia", ironizou, criticando o fato de que não há um movimento nacional para tentar controlar o uso do crack com a mesma expressão do que defende descriminalizar a maconha.
A jurista Maria Lúcia Karam, membro da ONG internacional Lead, favorável ao fim da proibição da venda de drogas, argumentou por sua vez que a guerra contra substâncias ilícitas aumentou a violência e ainda fez baixar o preço delas mundo afora. "Legalizar é controlar os danos causados pela droga. As pessoas só morrem de overdose porque não sabem o que estão usando".
O neurocientista Sidarta Ribeiro, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, manifestou-se favorável à legalização das drogas. "Algumas pessoas realmente precisam ser protegidas da maconha, como grávidas e jovens com cérebro em formação - assim como outras pessoas precisam ser protegidas do leite porque têm intolerância à lactose."Enquanto acadêmicos, juristas e especialistas discutiam a legalização da droga, ali ao lado, na estação Santa Cecília, os nóias fumavam e comerciavam a droga, imbuídos da tranqüilidade dos justos.
De que planeta vieram estes senhores que insistem em legalizar a droga? No Brasil, a droga está há muito legalizada.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

ESSE CIRCO CHAMADO JUSTIÇA

O MINISTRO E O ESTAGIÁRIO

A notícia está estampada no Estadão:
O estudante de administração Marco Paulo dos Santos, de 24 anos, relatou ontem ter sido agredido verbalmente e demitido por ordem do presidente do Superior Tribunal de Justiça, ministro Ari Pargendler. O estudante deu queixa contra o ministro por "injúria real".
O delegado Laércio Rossetto disse ao Estado que enviou a ocorrência, com o termo de rescisão de contrato, para o Supremo Tribunal Federal. A agressão teria ocorrido na terça-feira, nos corredores do tribunal. Marco estava na fila do caixa rápido do Banco do Brasil, no complexo de prédios do STJ, para fazer um depósito. Ele tentou usar um dos caixas, mas não conseguiu completar a transação.
Informado por um funcionário do banco de que apenas uma máquina estava funcionando, ele se dirigiu para a fila onde o ministro Ari Pargendler usava um dos caixas. Neste momento, o ministro teria olhado para trás e começado a gritar: "Saia daqui, saia daqui, estou fazendo uma transação bancária", segundo relato do estudante.
Santos era estagiário da Coordenadoria de Pagamento do STJ, mas, segundo ele, não reconheceu o ministro. "Só o havia visto por fotos", explicou o estudante, que trabalhava no tribunal desde fevereiro. Ao ser confrontado pelo magistrado, disse ter respondido que estava a uma distância correta. Ele se encontrava, segundo ele, antes da linha marcada no chão para sinalizar onde começa e termina a fila. Diante da resposta, o ministro teria se alterado e dito: "Eu sou o ministro Ari Pargendler. Você está fora daqui, isto aqui acabou para você".
O estudante disse que o ministro teria puxado diversas vezes seu crachá para ver seu nome. "Tive que me curvar para ele conseguir levar o crachá embora, porque ficou puxando com muita força", relatou o estudante, que disse ter continuado na fila e feito o depósito depois que o ministro foi embora. Ao voltar à sala onde trabalhava, recebeu a notícia de que estava demitido. O chefe de Santos disse a ele que o ministro pediu pessoalmente a demissão porque teria sido afrontado "gravemente" pelo estagiário. Procurado, o chefe de Santos não quis dar entrevista.
Traje. "Fui injustiçado, fiquei sem emprego", reclamou o estudante. "Acham que não, mas existe no funcionalismo público muito preconceito contra estagiários e terceirizados. Se eu fosse um advogado, tenho certeza que não me trataria daquela forma." Ele acredita que o ministro o reconheceu como estagiário porque vestia calça jeans e camisa polo, enquanto os funcionários de alto escalão costumam trajar terno.
A assessoria do STJ informou que o ministro está em viagem e só conversará com a imprensa sobre o assunto na segunda-feira.
O delegado Laércio Rossetto, da 5.ª Delegacia de Polícia, que assinou o boletim de ocorrência, explicou que a polícia não tem competência legal para investigar magistrados e por isso encaminhou a documentação ainda ontem ao STF.

Comentário: a dignidade não está na toga, nem no cargo, porque o comportamento é do homem e, dependendo desse comportamento, o homem dignifica ou macula o cargo que exerce. A arrogância, o destempero, o desequilíbrio são incompatíveis com a serenidade que se espera de quem é pago para fazer justiça. Ao demitir o funcionário, o descomedido senhor Ari Parglender procedeu a um julgamento sumário, unilateral, despido de racionalidade, desprezando o mais primário de todos os direitos: o de defesa.
João Eichbaum

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

ESSE CIRCO CHAMADO JUSTIÇA

QUE FALTA FAZ O NEPOTISMO

João Eichbaum

Antes da guerra que se fez contra o nepotismo, nos tribunais a coisa funcionava assim: o papai desembargador convocava o filho, a filha, a nora, o genro, ou qualquer outro parente, para “trabalhar”como “assessor”, no seu gabinete. E houve desembargador que até a ex-mulher empregou no tribunal, para não pagar pensão alimentícia.
É claro que o parente fazia que trabalhava, mas batia o ponto mensalmente no guichê para receber a sua grana, que não era pouca.
Então o desembargador tinha que trabalhar, porque os seus parentes, ou não tinham competência ou não tinham vontade de trabalhar. Aí o desembargador era obrigado a examinar o processo e a lavrar o seu voto.
Depois que resolveram acabar com o nepotismo a coisa mudou. Para pior. O desembargador, agora, passou a empregar seus amiguinhos e amiguinhas, mas exige serviço deles. Quer dizer, o desembargador não trabalha. Quem faz o voto, quem examina o processo é assessor. O desembargador só comparece na sessão de julgamento para ler o voto que foi feito pelo assessor.
O mundo jurídico desabou. Já não se discute o direito nas sessões dos tribunais, porque os “assessores”, que são assessores porque não têm capacidade para passar em concurso, são pessoas despreparadas para a função judicante, não têm cacife para tratar uma questão jurídica, por menos complexa que ela seja. Ah, e não sabem ler, nem escrever a verdadeira linguagem do direito, naturalmente.
Mas isso ainda não é nada. Como os desembargadores têm assessores, os juízes não quiseram ficar para trás e hoje cada juiz tem seu “assessor”, ou “assessora”, escolhida conforme a cara, conforme o traseiro, conforme o tamanho dos seios, ou a largura dos quadris. O único item que não conta é a qualificação.
Então, agora, a coisa funciona assim: o “assessor” do juiz profere a sentença e o “assessor “ do
desembargador profere o voto.
Ou vocês acham que o desembargador iria se rebaixar, lendo a sentença feita pelo “assessor”?
Não, meus amigos, agora é assim: de “assessor” para “assessor”. E os advogados e as partes que vão se queixar para o bispo, se quiserem, porque essa pantomima chamada Conselho Nacional de Justiça não toma conhecimento de “matéria de jurisdição”.
Em outras palavras: já não existem juízes, quem ordena a justiça hoje são os “assessores”.
E é por isso essa bagunça toda: hoje a justiça decide de um modo, amanhã decide de outro, um “assessor” faz e outro desfaz, as asneiras se repetem a cada dia, a justiça, enfim, não passa de um faz-de-conta.
Mas dá emprego pra muita mulher gostosa.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO

JUÍZA DE BARUERIJULGA URBI ET ORBI

De Cilon Mello, recebo:Janer, saudações;Como tu bem colocas nos teus textos, o judiciário brasileiro há muito perdeu completamente a idéia de qual é o seu papel. A maioria dos senhores juízes decide se pôr a legislar, o que por si só é tão triste quanto perigoso, mas então me deparei com essa noticia que mostra o escárnio que virou o nosso judiciário. http://jogos.uol.com.br/ultnot/multi/2010/10/18/ult530u8459.jhtm
O resumo da história é que devido a um embroglio legal, a vara cível de Barueri mandou que fosse proibida a venda de um videogame cuja trilha sonora está sob litígio. Esse não é o ponto realmente interessante aqui, o ponto realmente interessante é esse: "Portanto, determino que a Ré Rockstar Games se abstenha da veiculação do jogo em testilha, versão "Episodes From Liberty City", recolhendo os exemplares distribuídos ao redor do mundo."
Tem tantas coisas erradas nessa frase que é até difícil comentar. Os nossos excelentes juízes não só não fazem idéia de qual o seu papel, mas também não fazem a mais remota idéia de como funcionam seus poderes ou mesmo quais são. Da próxima vez que visitar o exterior e for adquirir algum produto qualquer, lembre-se de avisar ao lojista sueco para verificar antes se a justiça brasileira não baniu sua comercialização.
Seria cômico se não fosse trágico.
Meu caro Cilon:A meritíssima deve ter sido acometida pela Síndrome de Baltasar Garzón, aquele juiz espanhol que decidiu prolatar sentenças para a cidade e para o mundo.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

ESSE CIRCO CHAMADO JUSTIÇA

AS GALINHAS DO MINISTÉRIO PÚBLICO

João Eichbaum

Na sexta-feira passada, o caminhoneiro Alexandre Ribeiro do Prado dirigia um caminhão frigorífico, Modelo Truck, medindo 10,5 metros, por 4,2 metros de altura, transportando nada menos do que doze toneladas de carne suína e, ao entrar na cidadezinha de São Valentim, foi detido por policiais.
Alta velocidade? Não, nada disso. Ele foi detido porque tinha atropelado duas galinhas..
Acontece que uma moça que viajava de Erechim para São Valentim na RST-480, depois de ultrapassar o caminhão dirigido por Alexandre, viu pelo retrovisor que ele tinha atropelado os galináceos – que não estavam no galinheiro, diga-se de passagem, mas no meio da estrada asfaltada.
A moça se chama Karina Albuquerque Denicol, é promotora de justiça, encarna essa entidade que é una e imprevisível e gosta de fazer barulho e alarde em qualquer órgão da imprensa, para mostrar que existe, o conhecido Ministério Público. Ao ver tamanha barbaridade, tão indizível hediondez, isto é, o atropelo de duas galinhas, chamou a polícia.
E saiu arrasando, fez um julgamento rápido, na hora, como se sua mãe ou sua avó nunca tivessem torcido o pescoço duma galinha, ou como se nunca tivesse tomado caldo de galinha para curar suas diarréias:“como promotora ambiental acho que qualquer vida tem que ser preservada. Ficou evidente que ele deveria ter parado e não fez”.
Qualquer vida tem que ser preservada. Que frase, hein! Que sabedoria! Que profundidade! Como é grandiosa a cultura do Ministério Público!
Atenção, donos de frigoríficos: deu pra vocês. “Qualquer vida tem que ser preservada”. Foi decretado, num átimo de segundo, o fim da indústria da carne. Frigoríficos devem ser fechados. Criação de galináceos para abate, nem pensar. A exportação de frangos, esse grande filão da área de comércio exterior, está com os dias contados: “qualquer vida tem que ser preservada”...
Ah, e tem mais: é o fim da campanha da dengue. Vivente que é, o mosquito da dengue tem que ter a vida preservada.
É ridículo, mas é verdadeiro. Depois que a magistratura e o ministério público, em razão dos altos salários, passaram a ser a grande atração de franguinhos e franguinhas que, além do dinheiro, querem ter nas mãos o poder, deparamos com seres humanos dessa estatura, que nunca trabalharam na vida, não sabem usar a cabeça, não sabem o que é sacrifício, o que é batente, o que é ganhar pouco, trabalhando duro, e muito.
A promotora que, certamente, é ótima motorista de carro com câmbio automático, adquirido graças aos polpudos vencimentos que lhe pagam os contribuintes, não tem a mais puta idéia do que representa frear caminhão truck, medindo 10 metros de comprimento por 4,2 metros de altura e transportando nada menos do que doze toneladas. Mas, pior do que isso, a moça passou um atestado público de sua ignorância em matéria rudimentar de direito: não sabe distinguir entre dolo e culpa.
Tudo porque, para ser membro do ministério público e da magistratura, não é necessário currículo, nem experiência, nem saber para que lado pode saltar uma galinha assustada: basta fazer cruzinhas no lugar certo. Coisa que qualquer analfabeto, com sorte, faz.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

ESSE CIRCO CHAMADO JUSTIÇA

PODER ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA

João Eichbaum

Antigamente o promotor de justiça era, simplesmente, promotor de justiça. Hoje, não. Hoje ele aparece, principalmente na imprensa, com o pomposo nome de Ministério Público.
Com esse nome, a instituição está em todas: investiga, derruba quiosques na praia, esmaga máquinas caça-níqueis, fiscaliza todos os cidadãos e todas as demais instituições, fazendo uso de um poder que não tem porque, afinal, depende mesmo do Judiciário. Mas, passa por poderoso.
Só que também faz das suas.
Olhem só. A imprensa noticia hoje que o promotor de justiça Ricardo Herbstritt, do Rio Grande do Sul, recebeu duas punições, uma de censura outra de remoção, porque teria andado a investigar uma “superiora”, a procuradora de justiça Cristiane Todeschini.
Seguinte. A procuradora tinha em seu gabinete duas “assessoras”: uma concursada e uma privilegiada, que havia entrado pela porta dos fundos, sem concurso, como é muito comum em todos os poderes.
A concursada, que tinha entrado pela porta da frente, superado provas, concorrendo com outros candidatos, ganhava menos do que a privilegiada. E como a privilegiada ganhava mais do que ela, e certamente não trabalhava, não batia ponto, a concursada resolveu agir: começou a cobrar parte da remuneração da dita privilegiada.
Foi aí que entrou em ação o promotor de justiça Ricardo Herbstritt, porque vislumbrou, no caso, uma conduta ilícita.
Certamente, foi denunciado pela procuradora Cristiane Todeschini perante a Corregedoria, pelo fato de estar investigando um caso que ocorria debaixo do nariz dela. Se achou desrespeitada por um promotor de justiça, lotado num cargo inferior da hierarquia.
O promotor foi punido pelo órgão especial com pena de censura escrita, anotada em sua ficha funcional. E a Corregedoria do Ministério Público também meteu sua colher e puniu o promotor com pena de transferência, “por ter ele trabalhado de forma inadequada”.
Ou seja: o promotor foi punido duas vezes pelo mesmo fato, numa prova de que a truculência e o desrespeito à lei e aos princípios gerais do direito são os instrumentos mais usados pelo pomposo Ministério Público. Afinal, a “superiora” do promotor está acima do bem e do mal, acima de qualquer suspeita. Se deu mal o promotor porque investiu contra um poder dotado de tais grandezas.
Ah, sim. E as funcionárias, a concursada e a afilhada? Uma foi demitida. A outra pediu demissão.
Tudo para parecer que o Ministério Público tem transparência.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

COM A PALAVRAS, JANER CRISTALDO

JUIZ REVOGA CONSTITUIÇÃO E ESTUPRA O LEGISLATIVO

Aconteceu ontem algo insólito em São Paulo. Não bastasse um filhote do Sarney ter exigido na Justiça a censura do Estadão – que denunciava suas corrupções - a Polícia Federal apreendeu, no bairro Cambuci, por determinação da Justiça Eleitoral, cerca de um milhão de panfletos que pregam voto contra o PT devido à posição favorável à descriminalização do aborto. Os impressos continham um manifesto, o “Apelo a Todos os Brasileiros”, elaborado pela Comissão de Defesa da Vida da Regional Sul I, da CNBB.
Dilma Rousseff considerou crime eleitoral a distribuição dos panfletos assinados por uma diocese, recomendando voto contra o PT. "É crime eleitoral. Eu acho que tem uma central de boatos fazendo ofensivas contra a minha candidatura. Que são nitidamente ilegais e merecem ser investigados". Afirmou ainda que a ação beneficia José Serra, mas evitou ligá-lo diretamente à confecção dos panfletos. "Não é do meu feitio sair acusando sem ter investigação. Sabemos a quem beneficia: ao meu adversário. Se foi ele ou não, resta ser provado."Antes mesmo de ser eleita, a moça está mostrando ao que vem. Isso sem falar que não tem noção nenhuma do que seja direito, noção das mais úteis em um candidato à Presidência da República. Desde quando desrecomendar – ou recomendar – um candidato constitui crime eleitoral? Admitamos, para efeitos de argumentação, que Serra estivesse ligado à produção dos impressos. Desde quando um candidato não pode recomendar a não votar em seu adversário? Isto é o que tem feito Lula todos os dias e neste caso, evidentemente, Dona Dilma não fala em crime eleitoral. Pelo que se depreende das declarações da candidata, só o PT tem o direito de desrecomendar o adversário. A oposição não tem direito algum a fazer oposição.Stalin não faria melhor. É o bracinho nazista do Dr. Strangelove que o PT porta e não consegue controlar. Longe de mim defender Serra ou a Igreja Católica. Considero inclusive que os religiosos não têm razão alguma para meter-se em questões de Estado. Mas jamais me ocorreria negar-lhes o direito a manifestar sua opinião. Sempre fui a favor do aborto. Mas se alguém é contra, que se manifeste.Toda vez que alguém cita a ex-terrorista como defensora do aborto, ela fala em calúnias e central de boatos. Ora, não se trata de calúnia nem de boatos. Os vídeos que têm sido divulgados nas Internet e jornais a mostram defendendo a descriminalização do aborto em alto em bom som. Isso há apenas três anos. Dona Dilma, em busca do voto religioso, evita tocar no assunto. Nem confirma o que disse, nem desmente e nem ao menos declara que mudou de idéia.
A liminar para a apreensão dos panfletos, atendendo a representação do PT, foi concedida pelo ministro do TSE Henrique Neves, que revogou o direito à livre expressão conferido pela Constituição. Está ocorrendo no Brasil um estupro contínuo do Legislativo pelo Judiciário. Os legisladores fazem leis e os juízes as revogam. Ora, não é função de juiz revogar leis. A função de um juiz é julgar se os fatos estão de acordo com as leis.
Espanta ver a facilidade como um juizeco qualquer neste país revoga de uma penada a Constituição e estupra o Legislativo.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

cOLUNA DO PAULO WAINBERG

PRECE A OSMAR

PAULO WAINBERG
Twitter.com/@paulowainberg



Osmar, você sabe, é meu correspondente que não corresponde e não responde. Jamais se dignou a responder uma carta minha. Sei que ele é sexagenário, barrigudo, levemente careca e obstinado bebedor de cerveja, “a única bebida que incha e embebeda ao mesmo tempo”, como costuma dizer.
Mas, vamos à carta:

Meu querido Osmar.
Você não gostaria de mudar de opinião e, desta vez, me responder?
Por que você não segue o exemplo da Dilma e do Serra?
Bem, vou deixar na sua consciência, se é que ela exerce algum poder sobre você.
Meu assunto hoje é outro.
Li que, nos Estados Unidos, estão fazendo um tratamento inédito com células embrionárias numa pessoa que ficou paraplégica, com boas perspectivas de cura ou substancial melhora: recuperar os movimentos!
Em cobaias deu certo, Osmar, os ratinhos paralíticos recuperaram os movimentos. Já pensou se funcionar em humanos? Quantas doenças, quantas deficiências poderão ser curadas, quantas tragédias evitadas?
Entretanto, igrejas e os soberbos moralistas são contra.
Como é que pode?
Nada entendo de células tronco, células embrionárias e de quaisquer células. Minha abalizada opinião científica é...não sei.
Entendi que células embrionárias são encontradas no cordão umbilical que une o feto à mãe e, após o nascimento, é cortado e posto fora. Material descartável, jogado na cesta de lixo hospitalar.
Já existe um bebê, separado da mãe e nos braços dela.
Parece que uma das objeções religiosas consiste no fato de que o embrião já é um ser vivo, e utilizar suas células tronco para salvar outras vidas é intolerável.
Isto eu também acho: matar alguém para salvar outro é, do ponto de vista da ética humana, um crime, e do ponto de vista da ética religiosa, um pecado mortal.
Grande discussão para definir se o embrião é um ser humano ou ainda não é, por lhe faltar consciência, formação completa e, sobretudo, alma.
Porém, e isto já se sabe, não é preciso matar o embrião para utilizar suas células tronco, porque elas estão, in totum, presentes no cordão umbilical.
É aí que a discussão vai para um viés totalmente absurdo, na minha opinião. As religiões sustentam que as células tronco embrionárias contem a complexidade necessária para criar a vida e, portanto, são vivas.
Acredito que a aversão natural que as religiões sustentam, historicamente, contra as descobertas científicas e respectiva utilização, decorre mais do receio de perder Poder do que princípios religiosos propriamente ditos.
Não quero discutir a Fé, muito menos as religiões.
Supondo, para argumentar, que o que elas afirmam é verdade, temos então que há um desígnio divino para tudo o que diz respeito à criação.
Ainda que o ser humano tenha sido brindado com o livre arbítrio, não está imune à vontade de Deus.
Não serão, as descobertas com as células tronco, o resultado de um desígnio divino? Não estará Deus, com sua infinita bondade, querendo mitigar os sofrimentos de sua principal criatura? Melhorar nossa qualidade de vida? Diminuir o número de doenças incuráveis que nos afligem e das quais tanto medo temos?
Talvez, querido Osmar, você tenha respostas para essas questões e, se tiver, ajude com elas, a reduzir tantas superstições, tanto falso moralismo, tanta intransigência.
Eu lhe imploro, Osmar, dê o ar de sua graça.
Do seu eterno expectante, Haroldo.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO

PERPÉTUA E A OUTRA

A vida já é naturalmente complicada. E existem ainda os que adoram complicá-la um pouco mais. Me refiro a esse draminha secundário após o resgate dos 33 mineiros soterrados em Atacama. Durante a tragédia, a mulher de um dos mineiros, Yonni Barrios, descobriu que ele mantinha relações com outra. E queria se encontrar com as duas ao emergir da terra. Marta Salinas Cabello, a Perpétua, decidiu não ir à mina receber o marido. "Estou contente porque ele se salvou, é um milagre de Deus, mas não vou acompanhar o resgate. Ele me pediu, mas acontece que também convidou a outra mulher e eu tenho decência. A questão é clara, ou ela ou eu", disse ela ao Terra alguns dias atrás, enquanto atendia em seu mercado.
Perpétua está magoada. Barrios foi recebido pela Outra, Susana Valenzuela. Seria o único dos 33 soterrados a viver esta condição? Não acredito. Reúna 33 homens. Você não vai encontrar apenas um entre eles que tenha – ou tenha tido - mais de uma mulher. A traição, como costuma chamar-se este comportamento, hoje é mais ou menos regra no mundo contemporâneo. Já vivi seis décadas e se contar nos dedos de minhas mãos os casais fiéis um ao outro, vai sobrar um monte de dedos. Às vezes, há consenso entre ambos. Na maior parte dos casos, Perpétua sabe muito bem o que está acontecendo. Só não quer que isto lhe seja jogado na cara. No fundo, hipocrisia da Perpétua.
Como costuma chamar-se este comportamento, dizia. Porque há nuanças. Quando um parceiro não mente para o outro, não há traição. Assim conduzi minha vida e até hoje continuo reunindo na mesma mesa minhas namoradas. Com também convivi com namorados delas. Hoje, se se reunirem uma trintena de amigos de longa data – se é que alguém consegue reunir trinta amigos – há muitas trocas de camas na mesma mesa. Faz parte da vida. Estamos no Ocidente, não no mundo islâmico.
Maridos convivendo amistosamente com ex-parceiros de suas mulheres – e vice-versa – fazem parte de minha vida. Parceiro já é mais difícil, mas também acontece. Isto é civilização. O conceito de corno pertence a um mundo bárbaro e medieval. Estamos no século XXI. Ou quem sabe não estamos todos. Alguns ficaram na época dos chamados crimes de honra.
Tento colocar-me no lugar de Barrios. Após mais de dois meses enterrado a quase um quilômetro da superfície, em meio a escuridão, eu não quereria ver apenas duas. Mas todas. Coisa mais mesquinha! Em vez de alegrar-se por reencontrar o marido vivo, Perpétua reclama da Outra. Apesar de ter dito que se sente contente por vê-lo vivo, a conclusão lógica é que preferiria vê-lo morto a vê-lo vivo, mas partilhando seu afeto com a Valenzuela.
Quando tudo seria bem mais simples se as pessoas não mentissem...

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

COISAS DA VIDA

TRÊS VIDAS

João Eichbaum

O jovem de 23 anos era operário, dava duro num curtume. A muito custo e a longo prazo, mas graças à colaboração de sua companheira de cama e mesa, conseguiu comprar um “corsinha” usado e estava feliz por haver realizado o sonho de ter carro próprio.
No último sábado, nesse feriadão do “dia da criança”, ele saiu no seu Corsa, para disputar um torneio de futebol, outra de suas alegrias. Ao final do torneio, participou do churrasco de confraternização dos atletas. Mas a alegria de ter carro próprio, pelo qual já havia quitado a quarta prestação, foi abortada por uma curva, naquela madrugada: perdendo o controle do veículo, o jovem levou seu Corsa de encontro a um caminhão de verduras. O “corsinha”, com o choque, levou a pior e foi arremessado para dentro do Rio Feitoria: o jovem morreu afogado.
O empresário de 53 anos era um homem de sucesso: herdara, com outros irmãos, uma das mais poderosas empresas de transporte coletivo do Estado. Mas, ambicioso, empreendedor, e confiante no seu talento, abriu mão da parceria com os irmãos e montou o próprio negócio: a primeira concessionária de carros japoneses no Brasil. Em pouco tempo liderava o mercado nacional e mantinha, no Rio Grande do Sul, nada menos do que cinco concessionárias.
Segundo depoimento de amigos, era pessoa de “tino para negócios e espírito de liderança”, além da “habilidade para se relacionar”.
Pois esse homem, rico, privilegiado, realizado, amante de carros, que não jogava futebol, mas torcia pelo glorioso Inter, possuía, entre outros veículos, um “Porsche 911”, sonho de consumo que muitos ricos não conseguem realizar. Depois de jantar numa churrascaria, no domingo do feriadão do “dia da criança”, saiu com um amigo para lhe mostrar a excelência do carro importado. Na demonstração, porém, tendo perdido o controle do potente veículo, deu margem para que sua vida de sucesso encontrasse o fim, numa mureta de concreto.
O homem do interior, criador de porcos, mantinha um pequeno frigorífico. Fosse por falta de capital, fosse por falta de “tino para negócios”, sua empresa andava mal das pernas: estava cheio de dívidas, não conseguia sequer pagar os empregados, cuja remuneração, certamente, não passava do salário mínimo.
Mas, mesmo não pagando os empregados, apostou duzentos reais na “mega-sena” e ganhou mais de cem milhões de reais, poucos dias antes do “dia da criança”. Ficou rico da noite para o dia.
São três vidas: uma com muita privação, outra com muita fartura, e uma terceira plena de perspectivas.
Quem é que nos explica isso?
Aqueles que atribuem a um deus a criação e a administração do universo e do homem (feito à imagem e semelhança do dito deus) poderiam nos dizer algumas palavras sobre tão grandes disparidades? O que é que um homem tem melhor do que o outro? Qual será exatamente o critério para a distribuição de privilégios?
Se não nos derem explicações, nós, ateus, permaneceremos agarrados à certeza de que não é “Deus” que faz a bola bater na trave. O homem é que não passa de um animal entregue a sonhos e frustrações, governado inteiramente pelo acaso. E tudo isso a partir de óvulos e espermatozóides que nunca agendam seus encontros.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

CRÔNICAS DECIDIDAS

A ESCOLHA

PAULO WAINBERG

Twitter.com/paulowainberg

Odeio metralhadoras, e das giratórias tenho asco.

Porém, não posso me furtar ao elenco das razões que me levam a não votar em Dilma e das que me fizeram hesitar muito até escolher Serra.

Se, por acaso, parecer uma metralhadora giratória, saiba que não é esta a intenção, muito menos o objetivo.

Não gosto do PT porque não gosto de nada radical. Portanto, não voto nele, embora, se Lula fosse candidato, provavelmente teria meu voto.

Infelizmente, no nosso sistema eleitoral, ao contrário do que parece, votamos primeiro no partido – e nas coligações – e depois no candidato.

Isto explica como, por exemplo, Luciana Genro com mais de cem mil votos no RS, não se elegeu (ainda bem), enquanto outros, com votação bem inferior, conseguiram a vaga.

Explica como Tiririca, em SP, com mais de um milhão de votos, trouxe com ele candidatos com votação mínima, deixando de fora outros com milhares de votos.

O fenômeno já havia acontecido com o famoso Enéas, nas eleições anteriores, sobrou tempo para a lição ser aprendida, mas o Congresso... Bem, já falei o que penso dele.

Isto se chama, no nosso ultrapassado e corrupto sistema político, de coeficiente eleitoral dos partidos e coligações que, em outras palavras, justifica o abuso do poder econômico pelos grandes partidos.

Lula conseguiu, com habilidade e inteligência, afastar ostensivamente do governo os petistas envolvidos com o mensalão, especialmente José Dirceu e José Genuíno.

Acredito que, sobre isto, não há dúvidas.

Dilma terá esse poder? Sinceramente, não creio. Até acho que ela pensa como eles.

Dilma, a quem conheço dos tempos de Universidade – fomos contemporâneos em faculdades diferentes – ingressou de corpo e alma, na luta armada contra a Ditadura.

Respeito isto, e muito. Não condeno a guerrilha, o movimento libertário contra o esbulho militar praticado em 1964.

Na guerrilha luta-se, armado, contra homens armados. Os soldados, treinados para matar, enfrentaram pessoas dispostas a matar por uma causa, e a morrer por ela também.

Porém, Dilma se excedeu. Saiu da heróica luta ideal e ingressou no terreno insuportável do crime comum, de assalto a bancos, sequestros e, a pior de todas as coisas, o terrorismo.

Terrorismo é obsceno! Terrorismo é atacar pessoas que não se sentem ameaçadas. É matar indiscriminadamente, sem possibilitar a defesa. É a bomba que explode na rua, no edifício, na loja.

Não há redenção para este crime, é como eu penso, é como eu sinto.

O terrorista despe-se de humanidade, é um ser brutal, sem o mínimo de empatia, não há causa, não há ideal que justifique o terrorismo. Nem a mais cruel das ditaduras.

Vejo Dilma falar e não consigo imaginar que esta pessoa não é aquela pessoa.

Acho mesmo que se trata da mesma pessoa. Percebo, com clareza, seu viés autoritário, sua arrogante complacência e sua indiferença com o indivíduo.

Nela, ainda fulgura o brilho ideal de sua causa, que legitima sua consciência para fazer qualquer coisa, desde que em nome da causa.

E, o que me dá mais medo, não sei qual é a causa idealizada por Dilma, na atualidade.

Não gosto de mensagens demonizadoras e deleto todas as que recebo, sem ler até o final. Dilma isto, Dilma aquilo, verdades e mentiras se misturam de tal forma que não se distingue umas das outras.

Prefiro ficar com minha percepção, com os fatos que conheço por mim mesmo, para dizer – mesmo que você não tenha me perguntado – que não votarei na Dilma.

Sobrou – para os meus ais – o Serra.

Não que eu tenha algo pessoal contra ele, muito pelo contrário. Mas o Serra, como candidato, possui um quê de fragilidade que dá no que pensar. E, também, nos nervos.

Ele, como a Dilma, engajou-se no movimento contra a ditadura e, como líder estudantil presidente da UNE, arriscou o pescoço a valer.

Entretanto, não perdeu a humanidade, e isto conta muito. Che Guevara não perdeu, como Fidel, a humanidade.

Líderes revolucionários que não perdem a humanidade, são homens a considerar.

Por quê, senhor, Serra precisava usar os elogios de Lula, na sua campanha, assinando um atestado de absurda ingenuidade política?

Serra é um político que, parece, não ultrapassou os limites dos conchavos de Centros Acadêmicos, disposto a ceder, ceder, ceder até o que não pode ser cedido.

Ao contrário do PT, sempre disposto a comprar, dinheiro se arranja, nas malas, nos correios, nas cuecas.

E se, ao contrário do que parece, Serra não for de ceder? E se, na Presidência da República, Serra revele a mesma dureza, frieza e intransigência que percebo no olhar de Dilma?

É improvável, mas temo por isso.

É importante dizer a você que o dilema é meu. E não pretendo transferi-lo a terceiros. Até porque, por incrível que pareça, encontrei uma saída, a revelar que, no final das contas, não se trata de um dilema verdadeiro.

Talvez, e é provável, você não concorde com a minha saída, você não tem nenhum dilema, já sabe o que vai fazer.

Portanto, não se ofenda.

Eu vou votar no Serra, porque a minha opção verdadeira, a Marina, não passou para o segundo turno. E olhe que não sou um ambientalista, eventual ou fanático. Sou perfeitamente capaz de derrubar uma árvore, se ela estiver me atrapalhando.

Entretanto – e talvez isto faça uma diferença – sinto a obrigação de revelar o que mais me incomoda, o que me incomoda acima de tudo e faz com que minha opção seja, no mínimo, coerente.

Quando Dilma ainda era do PDT e se dedicava, com competência, ao assunto das Minas e Energias aqui no RS, vi pela primeira vez Collor de Mello. E lembrei, na hora, de Dilma.

Depois de tantos anos e de tantos acontecimentos, ouço e vejo Dilma falar. E, na minha cabeça, a imagem de Collor toma conta.

É uma imagem que machuca o cérebro, de um homem furioso, dono da verdade e despido de sentimentos de culpa. Um homem que não se arrepende.

Um homem que não se arrepende é capaz de todas a ignomínias.

Por fim, como argumento derradeiro a amparar minha decisão, que não cogita do voto nulo ou branco, jamais votarei, seja quem for o candidato, em alguém que Sarney apoie.

É indispensável, para que sejamos realmente uma democracia, que figuras assim, representantes das nossas piores tradições, sejam extirpadas da cena política, eles que cuidem das suas fazendas, das suas contas bancárias – aqui e no exterior – e nos deixem em paz, a construir um País verdadeiro, com espírito de Nação.

José Serra, em quem vou votar na falta de outra opção, é uma reminiscência da antiga política de bar de Faculdade, longe de ser ideal, mas tolerável.

Dilma?

terça-feira, 12 de outubro de 2010

COM A PALAVRA, HUGO CASSEL

Marcharré


Essa é palavra certa para definir o resultado da eleição no ex-"Rio Grande do Sul". A vitória arrasadora do comunista Tarso Genro, protetor de ladrões, corruptos e assassinos, apequenou o Estado que mais páginas de coragem e façanhas patrióticas escreveu na história deste país. Acovardou-se. "Abestou-se", como diria Tiririca. Esqueceu a desgraça que foi o governo de Olívio Dutra. Esqueceu o Bisol que mandou o policial "avisar" o bandido "antes" de atirar. Alguns pais de família pagaram com a vida cumprindo a ordem. Desejam por certo aplaudir Tarso quando este, como Olívio, chutou a GM para a Bahia afim de que possa lá gerar mais de 20.000 empregos no Recôncavo. Estou de luto e com vergonha de ser gaúcho. Ainda mais depois de ver a figura ridícula do ex-governador Alceu Collares, abraçado ao Tarso Genro, inimigo de Brizola, traindo a memória do grande caudilho, e mais os preceitos da Ordem Maçônica, da qual deveria já ter sido "convidado a sair".

Palhaços


Não vejo nenhuma surpresa na eleição do palhaço Tiririca para a Câmara dos Deputados. Afinal, vai se juntar aos tantos que lá já estão e a nós outros milhões que aqui de fora, usando o nariz vermelho, assistimos há oito anos as pantomimas do Palhaço-Mor e dono do circo.

Dimensão


O general Valmir Fonseca Azevedo Pereira dissecou corajosamente em um artigo, a dimensão política da ex-terrorista Dilma Rousseff. Dessa matéria pincei alguns tópicos: "A "abençoada" candidata recebeu 46% dos votos. Mas não fosse o total e possesso apoio do "Divino Descalabro", qual seria sua votação? Analisando-se seu currículo e seu inexistente passado eleitoral, ficamos estupefatos ao verificar que com tão pobres predicados, pudesse ser aventada a hipótese de sua eleição. Só mesmo um deslumbrado e inconsequente poderia patrocinar tão estúpida e absurda idéia. Mas o cara é uma caixinha de surpresas. Calígula não fez de Incitatus, seu cavalo, senador de Roma? Por que não fazer da "Eguinha Pocotó" presidenta do Brasil? O país merece, concluiu sua mente distorcida. A nobre guerrilheira e terrorista viveu sempre do empreguismo do Estado. Sem concurso, sem méritos, graças a uma carreira de apadrinhamentos, foi alçada aos píncaros da mordomia administrativa. Durante a campanha assistimos a candidata se debatendo nas entrevistas, nos debates e nos comícios. Comprovamos sua opacidade, sua ignorância, seu despreparo, mas ela continuava subindo nas pesquisas, agarrada no rabo do seu inefável guru. Resumindo os percentuais retirados desse crédito artificial, não havia para a medíocre outra escapatória, a não ser aferrar-se à vistosa carona ou padecer incógnita na sua pequenez. Oxalá o segundo turno seja o réquiem para essa indigesta dama".

Papagaia


Repito aqui o que já disse: A terrorista e guerrilheira comunista Dilma Rousseff é uma farsa. Nunca teve, nem terá luz própria. Caso seja eleita, continuará repetindo e falando pela boca de seu ventríloquo "abestado".

Segurança


Nesta eleição, teve Mané com dois votos! Tradução: o voto dele e da nega véia,,, Pior ainda: Os manos (7) tiveram zero votos! Conselho urgente: lugar onde ninguém é amigo, melhor é andar armado...

Piada


Dizem alguns que o Brasil é o país da "piada pronta". A mulher do ex-governador do Distrito Federal é mais que isso: é "piada viva". Substituindo seu cassado marido, a coitada Weslian do Perpétuo Socorro Roriz declarou no debate que sua meta "ERA DEFENDER A CORRUPÇÃO"! Pelo menos foi sincera. O PT ADOROU.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO

UM FALSO DEBATE

Neste Brasil em que chega a um milhão o número de abortos por ano, os candidatos à Presidência discutem a legalização do aborto. Segundo a Veja, o cenário teria sido bem pior na década de 80, quando os abortos clandestinos podem ter chegado a quatro milhões por ano. A redução desse número se deveria ao aperfeiçoamento dos métodos anticoncepcionais e à disseminação no país de políticas de planejamento familiar, logo estas duas medidas às quais à Igreja se opõe ferozmente.

Aborto é crime? Ora, quando se cometem um milhão de crimes ao ano – ou quatro milhões – há muito o crime deixou de ser crime. Aborto entrou na categoria dos usos e costumes. Neste país onde 250 mil criminosos, já condenados, vivem livres como passarinho, porque não há mais vagas nas prisões, onde colocar um milhão – ou quatro milhões – de mulheres, mais os milhares de profissionais que as assistiram durante o aborto? Se aborto ainda é considerado crime pela legislação, é crime de condenação impossível. E sem sanção não há crime.

Sempre foi possível neste país incrível, para quem tivesse algum dinheiro, encontrar médicos e clínicas confiáveis – ainda que clandestinas – para interromper a gravidez. O risco sempre foi quinhão dos pobres, que tinham de submeter-se a açougueiros sem maiores habilitações. Ainda segundo a Veja, as complicações decorrentes de abortos mal feitos, sem condições de higiene ou segurança, constituíram, em 2008, a quarta causa de morte materna, atingindo 200 mulheres.

Em meio a isto, Dilma Rousseff, que declarou com todas as letras ser a favor da descriminalização do aborto, insiste agora em ser “a favor da vida”. Sua defesa do aborto, gravada em alto e bom som, agora são calúnias da oposição. Não bastasse isto, está exibindo fotos junto ao papa. A guerrilheira marxista virou, de repente, católica desde o berço. Para o PT, desdizer hoje o que foi dito ontem faz parte da estratégia. Se pegar, pegou.

Seu oponente José Serra andou afirmando em entrevista à Folha de São Pauloque a liberação do aborto promoveria uma carnificina no País. Está dizendo que os países do Primeiro Mundo, onde o aborto é legalizado, promovem carnificinas diariamente. Temos carnificinas cotidianas na Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Suécia, Estados Unidos, Canadá e por aí afora. No Primeiro Mundo, as carnificinas fazem parte do dia a dia. Só não comete carnificinas este impoluto país, onde se pratica um milhão de abortos por ano.

"Considero o aborto uma coisa terrível", afirmou Serra, durante a sabatina promovida pela Folha. Que horror! O candidato considera esta prática, tão nossa, algo terrível. Os candidatos estão promovendo um falso debate. Estão discutindo a legalização de algo que há muito já não é ilegal. Foi consagrado pelos costumes. Grupos religiosos, cristãos e evangélicos, fingem defender uma proibição que na prática não existe. Incorrem na mesma hipocrisia dos defensores da legalização das drogas, quando a droga, em verdade, também está há muito está legalizada. Ou você viu, nas últimas décadas, alguém preso pelo uso de drogas?

Deixemos de hipocrisia. O aborto está há muito legalizado no país. Como a droga. Só não vê isto quem acredita em conto de fadas. Ou em leis que há muito não vigem. Os candidatos falam de um país de ficção. Aproveitando o azo, a Igreja Católica finge ser o fiel da balança. Normal, padres vivem de ficções. Sem elas, morreriam de fome.

Bobalhões é o que não falta para achar que Serra ou Dilma falam de um país real.



sexta-feira, 8 de outubro de 2010

COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO

DOUTORES DA IGREJA DEFENDEM O ABORTO

A grande discussão neste segundo turno é a posição de Dilma Roussef em relação ao aborto. Há três anos, a candidata se pronunciava com todas as letras a favor da descriminalização. Agora, ante a ameaça de perder eleitores católicos e evangélicos, assume uma postura de quem foi contra o aborto desde criancinha. Coisas da vida democrática. Quem quiser levar, tem inevitavelmente de mentir.
A Igreja Católica tem se pronunciado abertamente sobre o assunto e há bispos pedindo ao rebanho que não vote na candidata petista. Acontece que só agora Dona Dilma está tomando uma posição contra a Igreja. Quando defendia o aborto, estava apenas seguindo a secular defesa do aborto, feita pelos mais excelsos doutores da Igreja.
Escrevi já três ou quatro vezes que nossos purpurados parecem esquecer que a Igreja, durante séculos, admitiu o aborto. Que dois de seus campeões, são Tomás e santo Agostinho, eram favoráveis ao aborto. Segundo Agostinho (séc. IV), chamado pela Igreja de Doutor da Graça, só haveria aborto pecaminoso quando o feto tivesse alma humana, o que só aconteceria depois de o feto ter uma forma humana reconhecível. Isto é, só a partir de 40 dias após a fecundação, quando é infundida no embrião a "alma racional", se pode falar em pessoa.
Para o Doutor Angélico (séc. XIII), como os católicos chamam o aquinata, a chegada da alma ao corpo também só ocorre no 40º dia de gravidez. A posição de Aquino sobre o assunto foi aceita pela igreja no Concílio de Viena, em 1312. Foi em pleno século XIX, em 1869 mais precisamente, que o Papa Pio IX declarou que o aborto constitui um pecado em qualquer situação e em qualquer momento que se realize. Ou seja, durante dezoito séculos a Igreja nada teve contra o aborto.
O que me espanta neste debate é que não vemos, na grande imprensa, um mísero jornalista que contraponha a este episcopado analfabeto a doutrina clara dos santos da Igreja. Se os católicos se pretendem contra o aborto, deveriam começar destituindo seus sábios e santos da condição de sapiência e santidade.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

CRÔNICAS IRRITADIÇAS

PONTO FINAL
Paulo Wainberg
Twitter.com/paulowainberg


“Eles se encontram no cais do porto pelas calçadas,
Fazem biscates pelos mercados, pelas esquinas,
Carregam lixo vendem revistas, juntam baganas,
E são pingentes nas avenidas da capital.
.....
Sopram ventos desgarrados, carregados de saudade,
Viram copos,
viram mundos.
Mas o que foi,
nunca mais será.
Mas o que foi , nunca mais será. “


Você acabou de ler parte de um poema, pura poesia, instigante, bela, evocadora e profunda.
É, também, a letra da música Desgarrados, feita por Sergio Napp e composta por Mario Barbará, um dos maiores sucessos brasileiros.
Não são todos que, como eu, têm a sorte de possuir um Sergio Napp na vida.
Como amigo!
Além de escritor e letrista, e acima de tudo poeta, ele é uma pessoa doce, afável, leal, disponível e que jamais recusa sua presença.
Quando ouvi Desgarrados pela primeira vez, não o conhecia, isto foi na geração passada.
Decorei o poema.
Quando nos conhecemos, iniciou-se uma discussão secular, porque eu disse:
– Sérgio, tu és um poeta.
E ele me respondeu que não, que letra de música não é poesia.
Há mais de trinta anos ele me irrita com essa mania de negar o que é, insistindo com essa absurda tese: letra de música não é poesia.
Poesia não se podia, durante a ditadura. Foi, então, na música, que nossos poetas floreceram, ou Chico Buarque não é poeta? Vinicius? Tom Jobim? Carlinhos Lira? Geraldo Vandré?
Poesia engajada, poesia da alma, poesia da beleza, do sonho, da saudade, da paixão, da alegria e da tristeza.
Nas letras de músicas podia-se dizer, então, que o que foi, nunca mais será, que amanhã será outro dia, que amar é bom, chega de tristeza ou que fazer samba não é contar piada.
O Serginho Napp é um desses, com a sensibilidade de quem é poeta e, portanto, faz poesia.
Um de nossos poetas malditos, já falecido, Paulo Hecker Filho, costumava dizer que um grande poeta faz, no máximo, vinte poemas na vida. O resto é tentativa.
Talvez. Desconheço a estatística.
Fazer um único grande poema é, na minha opinião, a missão do grande poeta. Escrever mil poemas sem um que seja imenso, dolorosamente definitivo, de revolver as entranhas, sufocar o cérebro e martirizar o coração? Que perda de tempo, então, que triste vocação perdida, sem o talento a suportar-lhe o desejo.
Sergio Napp pode dizer o que quizer, pode afirmar que letra de música é um gênero literário a parte, pode negar-se a condição de poeta, pode tudo, até votar em... arghhhhh, senador.
Continuarei amigo dele com toda a força, perto ou longe, sempre ou às vezes.
Em Desgarrados, Sergio escreveu o grande poema que torna grande o poeta.
E como sei que ele vai continuar me irritando, deixo a discussão em aberto, para quem quiser pensar a respeito, opinar ou não.
Para mim, Sergio Napp é poeta. E ponto final.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

CRÔNICAS IMPUDICAS

A MULHER DO LEWANDOWSKI
João Eichbaum

Tenho para mim que votar é um troço chato. A gente perde tempo duas vezes: procurando o título (que já não presta pra nada) e depois na fila de votação. Dependendo dos mesários, a coisa não anda. Principalmente nas primeiras horas, quando tudo é novo e a turma ainda não manjou o funcionamento.
Por ser um troço chato, todo mundo quer votar cedo pra se livrar do incômodo, antes de mais nada, pra depois curtir o domingo, namorar, beber uma cervejinha, daquelas que descem rodopiando, etc.
Mas pra isso tem que agüentar a fila, uma fila sonolenta nas primeiras horas, onde ninguém conhece ninguém e o único assunto possível é política, mas poucos querem falar nisso, porque o voto é secreto, e aí fica no ar aquela chateação, o tempo passando e a gente ali parado, torcendo para que a fila ande.
Bem, aí apareceuu um figurão. Só podia ser figurão, de gravata em pleno domingo. O figurão, devidamente acompanhado pela mulher. A notícia do jornal não diz se era uma gatinha acinturada e de mamilos eretos, de calça jeans, apertadinha, mostrando todos os contornos daquela região chamada glútea, que para os menos recatados não passa de bunda. Certamente era mulher do tipo “até que a morte os separe”, balofa e enfeitada de jóias como um pinheirinho de Natal.
O figurão foi direto onde estavam os mesários, dizendo qualquer coisa pra eles tipo “sabem com quem tão falando?”.
Aí a turma dos mesários se perfilou pra atender o figurão junto com sua distinta. O figurão fura-fila votou e, logo a seguir, a sua cara metade. Enquanto isso o povo esperava na fila. É, o povo, essa massa informe e inútil, que adora zorra e promiscuidade pra ver o Corintians e o Flamengo, e só leva no traseiro quando os políticos se reúnem, esse povo de vez em quando resolve levantar a voz.
Então o dito povo, de saco cheio naquela fila, não agüentou e botou a maior vaia em cima figurão e da sua mulher. O figurão, que tinha mais cara de coroinha do que de corno, era ninguém menos do que o presidente do Superior Tribunal Eleitoral, o ministro Lewandowski. Mas, teve que dar explicação: “estou trabalhando”. E, debaixo daquele turbilhão de vaias, saiu escoltado do local de votação.
Acontece o seguinte: juízes eleitorais e outros figurões têm o privilégio de passar na frente do povo, amparados por instruções dos tribunais eleitorais. Aquela regra “todos são iguais perante a lei” é pura balela, não vale pra figurão. Figurão não é igual a todo mundo, já dizia o filósofo José Inácio Lula da Silva, antigo torneiro mecânico.
Mas, qual é a da mulher do Lewandowski? Baseada em que lei ela foi furar a fila? Quem lhe assegurou tal privilégio? O maridão, claro. O maridão, embriagado de poder, tudo pode.
E o povo que se lixe, porque, se perde pra mulher do Lewandowski, de quem é que vai ganhar?

terça-feira, 5 de outubro de 2010

CRÔNICAS IRRADIANTES

FIM DA PICADA

PAULO WAINBERG
Twitter.com/paulowainberg


Restaram Dilma e Serra.
Será a Dilma uma continuação de Lula, sem o carisma e a genialidade dele? Ficará ela à mercê dos petistas linha-dura, incongruentes, carreiristas e corruptos? Saberá ela lidar com as mazelas ideológicas das correntes do partido, aquelas que planejam o Poder ilimitado, aquelas que, anacronicamente, querem adaptar a realidade à tese?
E o Serra, mais lulista do que a própria Dilma, aparentemente falando? Reimplantará o neoliberalismo fhcardosiano quando o mundo já abandonou tal espírito e está mais preocupado em prover o consumo, à custa do trabalho e graças à produção?
Iremos, como um coral de igreja, afinal reconhecer que Gramsci tinha razão?
Digo isto porque, quando ouço Lula falar em ‘democracia popular’ e quando ouço Tarso Genro – o grande vencedor no RS – falar em ‘democracia social’, tremo de alto a baixo, ouço Stalin falando, ouço Mussolini tripudiando, ouço Hitler vociferando.
Getulio Vargas implantou, em 1930, uma democracia popular e, em 1937, uma democracia social.
Democracia é a palavra que mais rola na boca dos ditadores, tanto quanto Deus, na boca dos religiosos.
Tanto se fala em democracia, todos os países do antigo comunismo alardeavam seus valores democráticos e se autodenominavam repúblicas democráticas.
Numa plena democracia, ‘popular’ e ‘social’ são adjetivos malignos, que contradizem o conceito, afrontam o espírito, negam a idéia.
Dilma que, no furor libertário da juventude, foi além da luta armada e beirou o terrorismo, é adepta de qual democracia? A popular ou a social?
E o Serra, que na mesma juventude, ousou, mas não excedeu, a qual democracia se remete quando menciona valores e ideais?
No mundo contemporâneo, certas democracias não se questionam nem carecem de complementos, adjuntos e adjetivos. Estados Unidos, França, Inglaterra, por exemplo, são países democráticos na essência, encaram as próprias dificuldades de frente, reconhecendo as próprias imperfeições, lidando com elas e, na maioria das vezes, resolvendo e as deixando para trás, sem que o espírito democrático de seu povo seja evocado ou posto em discussão.
No Brasil, cujas instituições são corruptas e corruptoras – falo dos três poderes – a democracia é, ainda, um exercício diário de conquista e de cidadania.
Somos jovens democráticos, ainda temos muito o que aprender. Portanto, não podemos nos distrair nem nos encantar com frases de efeito e expressões ufanistas que, no seu cerne, mascaram outras verdades, outros projetos.
Democracia popular foi a União Soviética e a Alemanha Oriental, antes da queda do Muro de Berlim. Democracia Social foi a Itália de Mussolini, pioneira nos direitos trabalhistas, amavelmente importados pelo Estado Novo.
As mais aterrorizantes, duras, maléficas e corrosivas ditaduras adoram proclamar-se como democracias.
A democracia americana é popular, é social, é ambas? Não. Ela é a democracia, o respeito a lei, a fé nas instituições.
Na verdadeira democracia acredita-se no valor intrínseco das instituições, isto é, o povo realmente crê que o poder executivo governa, o poder legislativo legisla e o poder judiciário julga.
Crendo nisto, não como um ato de fé, mas devido ao espírito democrático, os poderes exercem suas funções para o cumprimento de suas finalidades.
No Brasil, não cremos nelas, duvidamos de suas utilidades, debochamos de seus integrantes e achamos que tudo se resolve com o jeitinho.
É por isto, os que lá estão transformam os Poderes em finalidade em si mesma, que se esgota no simples exercício da função, tudo destorce e mascara: O executivo é cabide de emprego, o legislativo é tráfico de influência e o judiciário, bem, o judiciário é uma enorme caixa preta que, se um dia for aberta, será como a caixa de Pandora onde todo o mal está guardado.
Na verdadeira democracia, o Poder Judiciário não pode se eximir de julgar, de conceder a prestação jurisdicional para o qual é convocado, sempre que se precisam definir ou declarar direitos.
Entretanto, para espanto de qualquer estudante de Direito, o Supremo Tribunal Federal recusou-se a decidir sobre aplicabilidade da chamada Lei da Ficha Limpa.
E todos os eufemismos foram aceitos.
A grande falácia da suprema corte, embutida em suas togas, exarando vaidade por poros perfumados, que empatou a decisão e o Presidente, cujo voto de Minerva – a deusa da sabedoria – por ser de desempate, isentou-se da responsabilidade porque “não gostaria de carregar esse peso”.
E não renunciou ao cargo nem a renúncia lhe foi exigida.
Cordatos entre si, os supremos ministros buscaram todas as tangentes possíveis por onde pudessem sair, até que, abençoados pela sorte, pela gentileza do autor da ação, por telefonemas obscuros em plenário, viram-se livres da incumbência constitucional, com a renúncia do candidato em nome da própria esposa!
Dias depois negaram a aplicação da lei eleitoral que exigia título de eleitor e carteira de identidade, na hora de votar, com absurdo atraso, incompreensível morosidade, que custou milhões ao País na confecção de novos títulos e gastou milhões de horas de brasileiros, nos cartórios eleitorais.
Insisto e repito sempre: A Democracia é o Reino do Judiciário, porque da decisão judicial não cabe mais nada, a não ser cumpri-la.
Como, então, confiar num Poder que se coloca à disposição, que sofre influências externas poderosas, quando em julgamentos, nas cortes, os magistrados ignoram o conteúdo do processo e se valem das próprias experiências, dificuldades e subjetividades para decidir?
Como confiar num Poder Judiciário que institui uma corrente corporativista, de cunho político absoluto, denominada ‘ direito alternativo ‘, como se o Direito, na democracia, pudesse ser alternativo?
Num País Democrático, tal não é uma opção. Isto é, não é cogitável que um Poder da República negue-se a exercer sua função constitucional.
No Brasil, pode. Porque não nos acreditamos, ainda, um País democrático.
Ainda somos caudilhistas, peleguentos, concessivos, frágeis e inconseqüentes.
Ainda acreditamos em currais, zonas da mata e promessas.
Ainda não crescemos e, portanto, somos presas fáceis das palavras enganosas, dos conchavos e dos jogos de interesses.
Condescendemos com fraude por ser coisa “deles”, embora seja nossa a apetência para a transgressão.
Reelegemos Waldemar, o ícone primeiro do mensalão, então presidente do PTB, que renunciou para não ser cassado!!!
E tantos outros que não quero sequer lembrar.
Sarney passou mal depois que o PMDB afundou nas próprias fezes? Não sei por quê? Ele, afinal, não afundou, nem Renan.
Ganhe Dilma, ganhe Serra, eles não afundarão.
Está neles, e em muitos como eles, o estereótipo brasileiro da democracia de mentira, em que vale tudo para estar “lá”, sendo “lá” o paraíso do vale tudo.
Restou-nos Dilma e Serra.
Um deles vai ter que me conquistar, porque eu votei na Marina.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

ESSE CIRCO CHAMADO JUSTIÇA

UM DOCUMENTO IMPRESTÁVEL
João Eichbaum

Fui votar. Não porque tivesse esperança e confiança na Dilma, no Serra ou na Marina. Muito menos no Arruda. A Dilma não inspira confiança não só pelo seu passado nebuloso, como por sua ausência de graça e feminilidade. O Serra, que foi companheiro da Dilma, na ala esquerda, fugiu do país, e com isso demonstrou que não é homem de arrostar perigos e enfrentar inimigos. A Marina, que queria ser freira, continuou com cara de freira, isto é, com um jeito sonolento e olhar de peixe morto. O Arruda era candidato a palhaço, ao contrário do Tiririca, candidato a político.
Mas, dizia, fui votar. Apresentei meu título eleitoral. Nada feito.
- Com esse documento o senhor não pode votar – me disse gentilmente o mesário.
Aí apresentei outro documento. Ele olhou, procurou o meu nome na lista dos votantes e me passou a ficha para assinatura.
Eu estava apto a votar, graças ao último documento apresentado: a minha carteira de músico profissional, que exibe a fotografia amarelada de um rapazinho cabeludo, nada parecido comigo, feita há mais de cinquenta anos.
Ninguém duvidou da minha identidade. Ninguém conferiu a minha cara atual com o cara da fotografia antiga, mais amarelada do que em preto e branco.
Tudo isso, graças aos ministros do Supremo Tribunal Federal. Para eles, o único documento imprestável para votar é o título eleitoral. Enquanto milhões de brasileiros se postavam em longas filas para obter a segunda via do título eleitoral, eles, os ministros, de toga, aboletados nas suas cátedras, tomando cafezinho, saboreando lanches às nossas custas e entregues à irreflexão, como quem “não ta nem aí”, decidiam que título eleitoral não presta para votar.
Foi para isso que eles se formaram em direito, alguns deles cursaram mestrado e doutorado, a maioria deles faz parte do corpo docente de alguma universidade. Foi para isso que eles venderam a alma ao diabo, ficaram devendo uma vela para cada santo, se penduraram na corda dos favores, a fim de se tornarem ministros do Supremo Tribunal Federal, para demonstrar, publicamente, que cultura não é sinônimo de inteligência, que ser juiz é fácil e o difícil é ser responsável.
Título eleitoral é o único documento que não habilita o eleitor a votar.
Essa decisão ficará para a história, para mostrar o ridículo a que se presta quem, não tendo preparo para ser juiz, fica acima dos juízes, comprovando o que afirmou a ministra Eliana Calmon: “os piores magistrados terminam sendo os mais louvados. O ignorante, o despreparado, não cria problema com ninguém, porque sabe que num embate ele levará a pior. Esse chegará ao topo do judiciário.”

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

ESSE CIRCO CHAMADO JUSTIÇA

‘VISTA’ DOS AUTOS
João Eichbaum

“Depois do fiasco protagonizado por seus ministros, que na semana passada não conseguiram chegar a uma decisão sobre a aplicação imediata da lei da Ficha Limpa, tudo o que o Supremo Tribunal Federal não precisava era de um novo episódio para colocar sua credibilidade em xeque. Pois foi o que o ex-presidente Gilmar Mendes conseguiu com seu pedido de vista à ação que questionava a exigência da apresentação do título de eleitor e de um documento de identidade na hora do voto”.
Quem sabe o que penso e escrevo sobre o Judiciário e sobre os ministros do Supremo há de pensar que o texto acima é meu. Não, não é. Quem o escreveu foi a colunista Rosane de Oliveira, no jornal Zero Hora, de ontem.
Isso que a colunista não conhece o direito...
Pois o senhor Gilmar Mendes é o tal, que fica se achando. Imaginem que os ministros estavam votando, já estava sete a zero a votação, contra a apresentação dos dois documentos no dia da eleição, quando o Gilmar “pediu vistas do processo”.
Em primeiro lugar, se já está sete a zero, o que é que ele iria conseguir com o seu voto? Fosse favor ou contra, nada acrescentaria.
Mas, tem mais. Pedir “vistas” do processo pra quê?
Explico. Um processo, quando chega ao Supremo, só pode ser discutido do ponto de vista do direito e não ponto de vista dos fatos. O que está nos autos são os fatos. O direito está – ou deveria estar – no conhecimento dos ministros e não nos autos.
No caso concreto, o que se discute é se a lei é ou não inconstitucional. Bem, o Gilmar Mendes deveria conhecer a Constituição e a Lei. Repito, em outras palavras: a Constituição e a Lei não estão “nos autos”. Pra quê, então pedir “vista” dos autos?
Em suma, conhecendo a Constituição e, confrontando com ela o texto da lei, o verdadeiro juiz (os haverá, nesta terra de palmeiras onde canta o sabiá?) saberá dizer se a lei é inconstitucional ou não: não é necessário consultar “os autos”. Basta conhecer o direito, ter uma ligeira noção de hermenêutica, e pronto.
Isso dito, vocês podem ter uma idéia sobre o Gilmar Mendes. É claro que os adjetivos deixo por conta de vocês.