UM DOCUMENTO IMPRESTÁVEL
João Eichbaum
Fui votar. Não porque tivesse esperança e confiança na Dilma, no Serra ou na Marina. Muito menos no Arruda. A Dilma não inspira confiança não só pelo seu passado nebuloso, como por sua ausência de graça e feminilidade. O Serra, que foi companheiro da Dilma, na ala esquerda, fugiu do país, e com isso demonstrou que não é homem de arrostar perigos e enfrentar inimigos. A Marina, que queria ser freira, continuou com cara de freira, isto é, com um jeito sonolento e olhar de peixe morto. O Arruda era candidato a palhaço, ao contrário do Tiririca, candidato a político.
Mas, dizia, fui votar. Apresentei meu título eleitoral. Nada feito.
- Com esse documento o senhor não pode votar – me disse gentilmente o mesário.
Aí apresentei outro documento. Ele olhou, procurou o meu nome na lista dos votantes e me passou a ficha para assinatura.
Eu estava apto a votar, graças ao último documento apresentado: a minha carteira de músico profissional, que exibe a fotografia amarelada de um rapazinho cabeludo, nada parecido comigo, feita há mais de cinquenta anos.
Ninguém duvidou da minha identidade. Ninguém conferiu a minha cara atual com o cara da fotografia antiga, mais amarelada do que em preto e branco.
Tudo isso, graças aos ministros do Supremo Tribunal Federal. Para eles, o único documento imprestável para votar é o título eleitoral. Enquanto milhões de brasileiros se postavam em longas filas para obter a segunda via do título eleitoral, eles, os ministros, de toga, aboletados nas suas cátedras, tomando cafezinho, saboreando lanches às nossas custas e entregues à irreflexão, como quem “não ta nem aí”, decidiam que título eleitoral não presta para votar.
Foi para isso que eles se formaram em direito, alguns deles cursaram mestrado e doutorado, a maioria deles faz parte do corpo docente de alguma universidade. Foi para isso que eles venderam a alma ao diabo, ficaram devendo uma vela para cada santo, se penduraram na corda dos favores, a fim de se tornarem ministros do Supremo Tribunal Federal, para demonstrar, publicamente, que cultura não é sinônimo de inteligência, que ser juiz é fácil e o difícil é ser responsável.
Título eleitoral é o único documento que não habilita o eleitor a votar.
Essa decisão ficará para a história, para mostrar o ridículo a que se presta quem, não tendo preparo para ser juiz, fica acima dos juízes, comprovando o que afirmou a ministra Eliana Calmon: “os piores magistrados terminam sendo os mais louvados. O ignorante, o despreparado, não cria problema com ninguém, porque sabe que num embate ele levará a pior. Esse chegará ao topo do judiciário.”
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