PERSONAL SEX TRAINER, A MAIS NOVA VIGARICE
Essa agora! Leio na Folha de São Paulo que existe no país uma nova e promissora profissão, a de personal sex trainer. Ou seja, uma profissional que, por módicos 500 reais, dá orientação por uma hora e meia ao casal, para fazer aquilo que se nasce sabendo. O preço da - como direi? – consultoria, pode chegar aos 2500 reais. Uma viagem de ida-e-volta a Paris.
Antes tínhamos sexólogos, vigaristas ao melhor estilo de astrólogos e psicanalistas, que pretendiam ensiná-lo como portar-se na cama. Agora, ao que tudo indica, temos um atendimento mais personalizado. Não sei bem como age a sex trainer, mas suponho que um bom atendimento só pode ser feito ao lado da cama, no momento dos acontecimentos. Agora você tira daqui e põe ali. Me passa um pouquinho isso aí, vou mostrar como se faz. Agora, ponha o dedinho aqui. Mais rápido, por favor. Não concebo de outra forma o exercício da novel profissão. Pelo que li, é mais uma moda que importamos dos States, o tal de sex coaching. Mais um pouco, e teremos sex trainer para cães e gatos. Cachorro também é gente.
Algo que nunca entendi foi a educação sexual nas escolas. Que se ensine a fisiologia do sexo, tudo bem, pouco conhecemos sobre nossos órgãos quando adolescentes. Prevenção contra doenças venéreas, ótimo. Daí a pretender ensinar o know how, me parece uma solene idiotice. Sexo é bom quando o descobrimos sem ter a mínima idéia de como seja, quando mergulhamos no desconhecido com medo e excitação. O grande sexólogo de minha geração foi Carlos Zéfiro, o dos catecismos. Os livrinhos suecos e a policromia roubaram seu mercado, mas suas revistas em quadrinhos foram os guias sexuais dos anos 50 e 60. Havia também A Nossa Vida Sexual, do Fritz Kahn, livro considerado obsceno na época, e que hoje faria morrer de rir um adolescente.
Outro “instrutor” daqueles dias foi Henry Miller. Livros como Trópico de Câncer e Trópico de Capricórnio faziam furor entre adolescentes. Já Primavera Negra, onde nada havia de sexo, pouco vendeu. Os Livros em Minha Vida, um belo ensaio sobre leituras, sequer foi traduzido no Brasil. Miller atribuía seu êxito literário à Segunda Guerra. Os soldados se muniam de seus livros quando iam para o front. Verdade que Miller não vendia apenas pelo erotismo. Além de erotismo, trazia o cotidiano de Paris. E sexo em Paris é sempre mais interessante que sexo em Dom Pedrito.
Sexo é coisa que se aprende sozinho. Por tentativa e erro. Basta um pouco de imaginação para se chegar a grandes achados. Dá prazer? Vamos lá. Na cama só não vale dedo no olho e mandar o parceiro para o hospital.
O repórter da Folha nos fala de uma sex trainer que foi visitar um casal, portando algemas e vibradores. Vibrador até que entendo, é infatigável e vem do fim dos tempos. Do Alto Paleolítico, segundo arqueólogos. Os dildos foram muito populares nas antigas Roma e Grécia. Mas algemas? Que me desculpem os adeptos da prática. Alguém precisa ser muito doente – ou muito idiota – para usar algemas na relação sexual. Não vejo nada de erótico em um parceiro subjugado. Tais práticas, a meu ver, são modas vendidas pelo cinema e televisão. O espectador passa a acreditar que aquilo é excitante. E acaba se excitando. Se lhe passarem a idéia de que uma banana é algo erótico, vai se excitar até em fruteiras.Certa noite, zapeando pela TV a cabo, vi no GNT reportagem sobre uma estranha modalidade sexual. Modalidade ianque, pra variar. Homens e mulheres, devidamente encilhados com selins e estribos, eram cavalgados por seus parceiros. Pode isso excitar alguém? A meu ver, o filme era publicidade disfarçada de artigos de couro. Compre couro e seja sexualmente feliz. Vestes de couro sempre excitam, sei lá porquê. Mas selins? Não entendi.
A nova profissão está provocando ciumeira no mercado. Segundo a reportagem, o papel de treinadores sexuais é questionado por sexólogos, em especial quando envolve aconselhamento de casais. "Elas dão conselhos sem ter nenhuma formação", critica Maria Luiza Macedo de Araújo, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. A moça está dizendo que, para entender de sexo, é necessário formação. Preferentemente superior. Giacomo Casanova deve estar rindo em sua tumba."Nós lidamos com coisas muito mais complexas do que isso de "beija aqui, põe a mão ali", conselhos que qualquer amigo de bar dá", continua Maria Luiza. Com a diferença que o amigo de bar não cobra nada. E por isso sua orientação não é valorizada. As pessoas não valorizam o que recebem de graça. Apenas o que pagam. Tenho uma amiga que faz psicanálise e não dá valor algum ao que digo. Mas leva em conta o que lhe diz a analista, afinal ela a paga para isso. Mas atenção: a analista nada lhe diz. “Quanto menos ela fala, mais gosto da análise”. Ou seja, as pessoas estão pagando para serem ouvidas. Propus-lhe então que, quando nos encontrássemos, eu permaneceria em silêncio e ela pagava pelo menos o almoço. Não topou. Não tenho formação na área. Uma coisa é o silêncio do analista. Silêncio de leigo é o mesmo, mas não vale nada.
Segundo a psiquiatra Carmita Abdo, do Programa de Estudos em Sexualidade do Hospital das Clínicas, "o trabalho do personal pode ser interessante para casais que têm muita falta de percepção deles mesmos, mas se o problema é uma disfunção sexual ou um conflito psicológico, daí só o terapeuta é que pode resolver". É outra que está preocupada com reserva de mercado. Mais um pouco e a guilda do sexo exigirá formação superior para as consultorias eróticas.
O que me lembra uma colunista de auto-ajuda da Veja, Betty Milan. Sua coluna é feita de respostas a cartas obviamente forjadas, já que todos os missivistas têm o mesmo estilo. Ao relatarem seus problemas sexuais, invariavelmente recebem uma só resposta: procure um terapeuta. O que nos leva a uma pergunta: como conseguiu a humanidade sobreviver às épocas em que não existiam terapeutas, nem mesmo sex trainers?O Brasil é pródigo na criação de profissões inúteis. Somos um dos raros países do mundo onde existem ascensoristas. Como se quem toma um elevador não soubesse apertar um botão. Temos agora profissionais para nos ensinarem – mediante régio pagamento, é claro – a fazer o que nascemos sabendo fazer.
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