terça-feira, 21 de dezembro de 2010

CRÔNICAS RETROSPECTIVAS

PAULO WAINBERG

Já contei que, nos primórdios, fui jornalista e, quando me encarregaram de fazer o horóscopo do jornal, meus dons se esgotaram em uma semana.
Resolvi o problema copiando o horóscopo de ano anterior, no mesmo dia e mês, e fui muito bem-sucedido. Por pouco não ganhei o prêmio de horoscopista do ano.
Assim, seguindo minha tradição de profeta do passado, apresento aqui as previsões para 2011, que são exatamente as mesmas que fiz no ano passado, para 2010.
Mudanças nos destaques do ano.
Época de previsões para o ano que vem e escolha dos melhores do ano passado.
Para quê? Nem as previsões se confirmam nem a escolha dos melhores vai além de opiniões subjetivas a enfei(t)ar as paredes dos escolhidos.
Portanto, vamos lá.
Prevejo que as esperanças do dia 31 de Dezembro desaparecerão no dia Primeiro de Janeiro, durante a ressaca pós porre.
Prevejo que a alegria do carnaval desaparecerá depois do desfile.
Prevejo muito dinheiro no bolso de quem tem muito dinheiro. Prevejo escândalos, corrupção e roubo. Prevejo assaltos, assassinatos, mortes no trânsito, violência, terremotos, furacões, ciclones tropicais, tufões, restaurantes lotados, leis inócuas e mil outras alegrias da mídia, além de guerras institucionais e outras de ocasião.
Prevejo o Papa orando pela paz, cada religião adjudicando-se o poder da salvação. Prevejo as esquerdas querendo o dinheiro alheio e as direitas gastando o dinheiro de todos. Prevejo o divórcio de dezenas de artistas e o casamento de outros tantos. Prevejo campanhas de solidariedade e festas beneficentes sem a presença dos beneficiários. Prevejo búzios jogados, tarôs tirados, espíritos em comunicação, almas penadas, bordéis refinados, direitos humanos defendidos, direitos humanos ofendidos, baleias salvas, juros altos e bolsas de valores instáveis.
Prevejo pedidos de desculpas, amores desfeitos, luas cheias e quartos minguantes, fugas do presídio, combate ao tráfico e caos no tráfego. Prevejo fome na África, abundância em Dubai, quatro novos vírus letais, doze mil explicações e uma ou duas soluções.
Prevejo formaturas, casamentos e batizados. Prevejo listas de aprovados, relação de inadimplentes, briga de camelôs, ações terroristas, roupas no varal e dez bilhões de metros quadrados novos.
Prevejo ovinhos de páscoa, feriadões enrustidos, invasões de terras, conflitos ideológicos e carros estragados. Prevejo que o mundo melhor será adiado por mais um ano, vários milionários arruinados, novos milionários lotéricos, fome no Nordeste, torcidas enlouquecidas e críticas à Seleção.
Prevejo pais nervosos e filhos-calendário com hora marcada no colégio, no balé, no inglês, na escolinha de artes, de futebol, de tênis ou abandonadas nas ruas.
Prevejo para o ano novo a repetição do ano velho. Prevejo tradicionalistas preocupados com a modernidade, modernistas ambicionando o futuro, futurólogos adivinhando o passado, historiadores criando versões, nenhuma fé removendo montanhas a não ser que fé signifique bomba.
Prevejo tudo de velho para o ano novo. E assim prevendo passo às minhas escolhas pessoais que tomaram mais de dez minutos do meu tempo.
Os destaques do ano foram:
Escândalo: Empate técnico entre Senado, Sarney, Câmara de Deputados e Judiciário.
Fofoca: Pirarucu do Tucunaré e disseram que fui eu.
Novidade: Empate técnico: Desfile das Escolas na Sapucaí, corrupção e perda da Copa do Mundo.
Falta de Criatividade: Empate técnico: Novelas de TV e prêmio Jabuti.
Homem do ano: José Serra.
Mulher do ano: Empate técnico: Judith Dent, a “M” dos filmes de James Bond e Marisa Lula da Silva.
Imbecil: O presidente do Irã.
Corja : Os que apóiam o Imbecil.
Partido político: PTPMDBPL.
Turista: Lula (tricampeão).
Governador : Ninguém votou.
Deputado Federal: idem
Senador: Quando for extinto o Senado, qualquer um.
Discernimento: Supremo Tribunal Federal
Facilitador: Supremo Tribunal Federal
O Mundo não é o bastante: Lula
Quase aconteceu: A reforma política.
Nunca vai acontecer: A revitalização do porto de Porto Alegre.
Futebol: Não quero nem falar.
O melhor discriminador racial: Morto.
Repetindo:
Costumo dizer que quando o leitor não compreende a ironia é porque o escritor não foi suficientemente irônico. Espero ter sido, para não ofender ninguém com as minhas. Há quem confunda sarcasmo com ironia. Não faça isso, por favor. O sarcasmo é um estilo provocador, quase sempre picante e que muitas vezes pode expressar um conteúdo ofensivo.
A ironia é uma espécie de prima-irmã do sarcasmo, uma forma mais branda de se dizer exatamente o oposto daquilo que se queria dizer. A ironia não tem a ferocidade ácida do sarcasmo.
Exemplo de ironia: Depois de um dia todo errado você vai tomar banho e falta água. Você exclama, ironicamente, “Perfeito”. Entendeu? A falta de água resulta ser o complemento “perfeito” para o tudo de ruim que aconteceu naquele dia.
Exemplo de sarcasmo: Alguém lhe pergunta: Quer levar um soco na cara? E você: – É claro, e um na boca do estômago também, se for possível. Ou quando lhe chamam de barbeiro no trânsito e você responde: é, mas sua mãe não reclama. E assim por diante.
Olhando bem talvez eu tenha sido meio sarcástico lá em cima, mas palavra de honra que eu queria ser apenas irônico.
Prefiro a ironia ao sarcasmo. O comentário irônico quase sempre faz rir. O sarcasmo dá vontade de brigar.
Portanto se eu perguntar se você gostou desta crônica responda ironicamente: muito. Não seja sarcástico, não acrescente: por que não escreve outra?
Voltando ao tema, prevejo confusão pela frente.

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