segunda-feira, 10 de outubro de 2011

NO MEU TEMPO

João Eichbaum

A gente, que tem bastante mais de idade e é protegido pela lei do idoso, tem lugares especiais no transporte coletivo, espera uma hora menos na fila do banco, para receber uma pensão miserável do INSS, ou como dizem por aí, é um cara “vivido”, a gente é testemunha viva da evolução e da involução desse primata chamado homem.
Quer ver, ó: no nosso tempo, a gente não “cantava” a guria, nem “ficava” com ela. A gente conquistava a guria.
Primeiro, com muita atenção. Por assim dizer, a gente “cercava” a presa, com atenção, carinho, e sabem com quê mais? Com poesia.
Sim, muitos de nós, velhinhos, já perpetramos poesia, uma coisa que nem existe mais, depois que botaram na Academia Brasileira de Letras poetas que não sabem fazer poesia.
É, sim.Vocês se lembram do Vinicius de Morais, vocês, um pouco mais jovens que nós? Se lembram das poesias dele?
E vocês sabiam que o Vinicius de Morais nunca esteve na Academia Brasileira de Letras?
E vocês, mais antigos ainda, se lembram do J.G. de Araújo Jorge, que fazia as meninas se derreterem em lágrimas, ao lerem seus sonetos?
Pois o J.G. de Araújo Jorge nunca esteve na Academia Brasileira de Letras. E o Mário Quintana, todos sabem quem foi: o maior poeta do Rio Grande do Sul. Ele não foi aceito na ABL.
Agora me digam, vocês, um pouco mais modernos, algum dia leram alguma poesia do Carlos Nejar, que é também do Rio Grande do Sul? Ou mais do que isso, mandaram algum bilhetinho para alguma guria, com alguma poesia do dito Carlos Nejar?
Pois é. O Carlos Nejar pertence à Academia Brasileira de Letras. Ele e o Sarney.
Bem, dizendo que o Sarney é membro da Academia Brasileira de Letras, eu já disse tudo.
Só espero não ter estragado o jantar de vocês.
Não era exatamente sobre isso que eu queria falar. Eu queria dizer que, “no meu tempo” as coisas eram diferentes. Mas é que a cara do Sarney só me faz lembrar só duma coisa: bunda.
E aí pensei que mais diferentes éramos ainda no tempo em que nós, os primatas, agíamos de outra maneira para perpetuar a espécie, obedecendo a uma ordem da mãe natureza.. Assim, ó: os nossos antepassados pegavam a fêmea na marra, nada de cantadas e muito menos de poesia. O negócio era arrastá-las para a nossa caverna, puxando-as pelos cabelos, que eram compridos, em razão da inexistência absoluta de “salões de beleza”. E aí, ó, deu: mais um primatinha, nove meses depois.
Assim, tudo evoluiu. Principalmente em matéria de costumes. Houve um tempo, no tempo dos avós de vocês, e que era no “meu tempo”, era bonito fumar. Humphrey Bogart, por exemplo, um dos grandes astros do cinema americano, se tornou charmoso e famoso e galanteador, porque fumava. E era muito macho.
As mulheres copiaram o modelo. E o costume chegou ao auge: era bonito fumar. Mulher que fumava era atraente, conquistadora, dominante, irresistível.
Mas, se era bonito fumar, era horrível, era humilhante, era um vilipêndio ser “pederasta” .
Mas o primata involuiu. E no Brasil, quem ordena e organiza a involução e a evolução é o PT e os ministros que ele escolhe para o STF, como o Fux, por exemplo. Ou, os deputados, como a Maria do Rosário, que quer botar na cadeia quem não gostar de pederastas.
Hoje, no seu tempo, (não no meu) é proibido fumar. Fumar é feio. Mas é legal (e lindo!) dar a bunda.

Um comentário:

Janer disse...

Ah, do J. G. eu lembro.

Choraste, pomba adorada,
e uma lágrima cristalina
banhou-te a face divina,
e a bela fronte inspirada
pálida e triste pendeu?

Choraste? E longe não pude
ouvir tua voz de alaúde,
nem sufocar os teus ais.