segunda-feira, 17 de outubro de 2011

BACHARELICE

João Eichbaum

A revista Veja da semana passada publicou em suas “páginas amarelas” uma entrevista com o advogado Roberto Podval que, segundo a matéria, teria atuado na defesa do casal Alexandre Nardoni e Anna Jatobá, processados e condenados sob acusação de terem causado a morte da menina Isabella, filha do primeiro.
O suposto homicídio ocupou páginas e páginas de jornais e revistas, telas e telas de emissoras de televisão, conversas de comadres, taxistas, barbeiros, pedicures, manicures, cabelereiras, etc, durante longo tempo.
O currículo do advogado é pobre. Não se sabe em que faculdade de direito ele completou sua graduação. Fosse na USP, sem dúvida ele o proclamaria alto e bom som.
Se há algo que mereça destaque nesse currículo é a parvoíce, além de um casamento de príncipe, aos 45 anos.
Diz o causídico que iniciou sua carreira profissional, trabalhando com um “advogado de porta de cadeia”, cujo nome não menciona. Ora, quem trabalha com “advogado de porta de cadeia”, “advogado de porta de cadeia” é.
Então, vamos combinar, seus primeiros passos como profissional foram também na condição de “advogado de porta de cadeia”.
Alguma indignidade nisso?
Não. Nenhuma. O trabalho dignifica o homem, assim como também o homem dignifica o trabalho
Mas, o que mais chama a atenção, depois da pobreza de currículo, é a empáfia do bacharel entrevistado. Vejam só o que ele diz: “Que advogado vai deixar a sua banca para assumir uma cadeira no Supremo ganhando menos de 30.000 reais por mês? O teto do Judiciário é ridículo. O salário não é compatível com a missão”.
É no contrapé que se mede a perspicácia das pessoas. Que qualificação poderá merecer quem, num país composto por milhões de seres humanos que vivem com menos de um salário mínimo (quinhentos e quarenta e cinco reais), adjetiva de “ridículo” um salário de 30.000 reais?
Esse advogado é fruto de um estado de coisas reveladas por recente estatística: existem, no Brasil, 1.240 cursos de Direito.
Há muito, a graduação de bacharel em direito deixou de ser atestado de cultura, porque o ensino jurídico se transformou em comércio de diplomas. Já não é a cultura que forma os bacharéis em direito. Basta pagar em longas e antecipadas prestações o diploma de bacharel em ciências jurídicas e sociais, que o sujeito estará livre da dureza do vestibular em universidades públicas. E, deslumbrado, sairá por aí, a divulgar asneiras do próprio bestunto.
Hoje, homens de sucesso não são os preclaros juristas, mas os advogados que vendem a qualquer preço sua imagem: defendendo de graça criminosos do MST (fator multiplicador), recebendo qualquer trocado para aparecer na mídia, com atuação em causas que provocam orgasmo no populacho, patrocinando eventos principescos, etc.
O advogado Roberto Podval encontrou nesse perfil o seu número.

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