segunda-feira, 24 de outubro de 2011

TELEVISÃO, FUTEBOL E POLÍTICA

João Eichbaum

A Cláudia Tajes que, mais do que minha amiga, é meu ídolo, abordou, em sua crônica da Zero Hora de quinta-feira última, um tema banal, mas muitíssimo interessante: a cabeleira de alguns jogadores de futebol. Depois de mencionar os “cortes” de cabelo de Ronaldo, Ronaldinho, Cortês, Fábio Ferreira, Carlinhos Paraíba, Kempes e, naturalmente, Neymar (ela esqueceu do Tinga, e eu entendo, gremista que é, não ta nem aí pros vermelhos), concluiu de um modo que não é muito de seu feitio, filosoficamente: “Tanto quanto a política, o esporte dá uma medida do que a gente é, no fim das contas. E, a se julgar pelos cabelos e pelos fatos, a coisa está feia”.
Realmente, o povo, em quase sua totalidade gosta de circo, como já diziam os romanos. Tendo pão e circo o povo está feliz, diziam eles.
O circo daquele tempo, para quem não se lembra, era feroz. Lançavam-se na arena os inimigos, os prisioneiros e se abriam as comportas das jaulas, donde saíam feras famintos. E é claro que saciavam sua fome ali, na arena, sob os aplausos do populacho.
O primata humano evoluiu, claro, e hoje já não caberia um espetáculo dessa ordem, porque se defrontariam duas ideologias: a dos direitos dos animais humanos e a dos animais não humanos.
Mas, de qualquer modo, o gosto pelo circo continuou. O circo do povo hoje é a televisão e o futebol. De tudo o que aparece na televisão e tem sacanagem o povo gosta: noticiário policial, BBB, política, programas de auditório, novelas, e por aí vai.
Mas, o futebol é um espetáculo à parte, porque sua força não distingue idades nem condições sociais, e ele faz a cabeça tanto da criança quanto do velho. A cabeça da criança, literalmente.
E disso também a Cláudia trata na sua crônica. Transformados em “ídolos” pela imprensa e projetados pela televisão, alguns jogadores ditam moda e a criançada ligada em futebol sai a imitá-los, copiando-lhes os cortes de cabelo.
Por seu turno também os adultos, uns mais, outros menos velhos, se entregam às paixões que o futebol desperta. E isso distrai o povo, faz o povo feliz, dispensa-o da prática de pensar. E enquanto o povo se distrai com futebol ou programas de sacanagem da televisão, os políticos aproveitam para fazer das suas e pegam o povo distraído, no contrapé, aumentando impostos, distribuindo dinheiro pra ONGS, Sem Terra, e tudo o mais.
Então, tem razão a Cláudia, com seu enfoque filosófico: esporte e política servem para mostrar o que a gente é. Eu, bancando o hermeneuta do pensamento da Cláudia, só acrescentaria, para deixar bem claro: não passamos de macacos, nos mantemos fiel à nossa natureza. Qualquer circo nos leva.

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