terça-feira, 31 de julho de 2012

FÉ REMOVE MENSALÃO


Jnaer Cristaldo

Seguidamente, leitores me pedem opinião sobre candidatos. Ora, a vida me ensinou que é mais seguro opinar sobre o bóson de Higgs do que sobre um candidato. O sistema eleitoral brasileiro é falho, somos levados a votar em pessoas que desconhecemos. Voto distrital que é bom sempre é defendido pelos políticos, mas jamais aprovado. Políticos sabem, por instinto, que não é bom ser conhecido de perto.

Político, por definição, é um homem que mente. As regras do jogo o impelem necessariamente a mentir. O que importa é arrebanhar votos. Político diz o que cada platéia pede. E omite tudo o que cada platéia rejeita. Se não mente por intenção, mente por omissão. Se não mente hoje, mentirá amanhã. Políticos pertencem a partidos. Precisam seguir a política de seus partidos, mesmo que dela discordem. Se o partido decide fazer coligação com um canalha, o candidato tem de aderir ao canalha. Vimos isto recentemente, com todas as letras, o impoluto Lula abraçando o malvado Maluf, procurado em todos os países – menos no Brasil – pela Interpol. Vimos também seu delfim para a prefeitura paulistana, o tal de Haddad que quase ninguém conhece, tendo de engolir a ignomínia.

Faz mais de vinte anos que não voto. Meu último voto, confesso sem pejo algum, eu o dei a Collor. Não por seus belos olhos. Mas porque o outro candidato era Lula. Hoje, se ainda votasse, entre Lula e Maluf, votaria no “esforçado filho do imigrante árabe”, como já foi chamado. No que, suponho, não seria reprovado por nenhum petista. Afinal, Maluf hoje é unha e carne com Lula.

Há quem julgue que o PT tem origens operárias. Outro dia, encontrei na rua meu urologista predileto – aquele das leituras teológicas – e ele me perguntou:

- Sabias onde o PT foi fundado?

Sabia. Foi em um colégio de elite de meu bairro, o Sion. Onde estudou a aristocrática Marta Teresa Smith de Vasconcelos Suplicy. Meu urologista imaginava que fosse num sindicato do ABC, como muitos imaginam. PT nada tem a ver com trabalhador. Tem a palavrinha na sigla por devoção a um mito do século XIX, o de que a redenção da humanidade residiria na classe proletária. Nunca residiu. O século passado o demonstrou sobejamente.

Antes mesmo de o PT existir, eu denunciava o PT. Explico. O PT nasceu em 1980. Ora, desde 75, quando colunista da Folha da Manhã, em Porto Alegre, eu desfechava minhas baterias contra senhores como Marco Aurélio Garcia, Tarso Genro, Flávio Koutzii, Luiz Pilla Vares, os pais fundadores do partido no Rio Grande do Sul. Sem falar no que escrevi contra a ideologia que os alimentava. Contra o Tarso, o que escrevi daria uma pequena antologia. Que eram todos comunistas, até as pedras da Rua da Praia sabiam. Mas ai de quem dissesse que eram comunistas! Era um infame delator, um reles dedo-duro. Em pleno regime militar, ser comunista servia como escudo protetor.

Entendo que um adolescente, lá pelos anos 80, votasse no PT. Um jovem ainda não teve tempo de ler o necessário para visualizar o DNA do partido. O PT é filho de uma partouse entre a Igreja Católica e os diversos grupos comunistas e anarquistas que vicejavam no Brasil. Conseguiu consolidar-se uma década antes da queda do Muro. Tivesse surgido depois dos anos 90, não teria cacife para chegar ao poder.

Que pobres diabos que se beneficiam de esmolas estatais votem no PT, isto também entendo. O que não se entende é ver pessoas adultas e bem informadas, intelectuais, funcionários públicos e professores universitários votando em um partido que nasce obsoleto, em um candidato tosco e semi-analfabeto. Pior ainda, que ostenta como virtude sua falta de instrução. Verdade que desde fins do século XIX alimentou-se o mito da salvação pelo proletariado. Ora, os eleitores de hoje tiveram mais de um século para constatar que proletários não salvam ninguém. 

O PT nasceu no Estado mais politizado do país, embalado pela USP e pela Igreja. Por essa mesma USP que foi a grande difusora do marxismo no Brasil e por essa mesma Igreja que o adotou através da sedizente Teologia da Libertação. A eleição de Lula, apoiada pelas elites intelectuais do país em pleno século XXI, significou que estas elites ainda vivem espiritualmente no século XIX.

Mesmo assim, certa vez dei meu voto ao PT. Não que vote em partidos. Nas raras vezes em que votei, votei em pessoas. Nos anos 70, havia em Porto Alegre um engraxate, uma dessas figuras que lê sem método algum, o que não era incomum naqueles anos. Imbuído de um marxismo vulgar misturado a certas idéias anarquistas, tinha uma cadeira na praça da Alfândega. Enquanto lustrava sapatos, discorria sobre o homem e o mundo. Resolveu candidatar-se a vereador. Pelo PT. Considerei que se sentiria melhor sentado em uma curul na Câmara Municipal do que engraxando ajoelhado ante sua cadeira na praça. 

Votei nele. Foi eleito. Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza. O poder subiu-lhe à cabeça. Algumas semanas depois, já andava caçando empregadinhas na rua, em seu carro funcional. Morreu de forma infame o pobre diabo, esfaqueado em uma briga com um seu vizinho. Descobri então que, em se tratando de política, nem em engraxate se pode confiar.

Nos últimos anos, nutri simpatias por um deputado federal paranaense, eleito pelo PSDB. Em seus pronunciamentos, era sempre objetivo, correto, preciso, sem jamais apelar ao bla-bla-blá de políticos. Se um dia voltasse a votar, pensei, tenho um nome. Esse homem é honesto.

Era. Hoje está flertando com o PT. Nada como o tempo para ensinar. Ainda bem que havia tomado a decisão de não votar. Se houvesse votado neste senhor, hoje estaria envergonhado de ter sido enganado como uma criancinha depois de velho. Político, quando não faz na entrada, faz na saída.

Os franceses fazem uma distinção entre politique politique e politique politicienne. Por politique politique, entende-se a grande política, a administração da polis. Por politicienne, a pequena política, a politicagem. Ontem, zapeando no Facebook, encontrei uma conclamação a participar de política. Não da politique, mas da politicienne.

Alguém aventou: política é sinal de corrupção. A interlocutora que teclava do outro lado reagiu: “é esse o senso comum que a mídia com muita competência, faz as pessoas acreditarem, que nenhum político presta, daí os corruptos podem fazer o que lhes der na cabeça e os ignorantes políticos permitem isso com essa posição. Então indiretamente quem não se envolve em política também, é responsável por toda essa lama de corrupção que felizmente, não são todos os políticos que se envolvem não”.

Tomado de um espírito de porco que às vezes me acomete nas madrugadas, decidi divertir-me um pouco. Desconfiei que se tratava de mensagem de petista. Não deu outra. Militante se queixando da mídia, só podia ser petista. Mídia era bom quando denunciava as corrupções do Sarney, Collor, quando denunciava o plano real. Quando denuncia as corrupções do PT, a mídia vira burguesa. Lá pela meia-noite, decidi provocar:

- Não é bem que nenhum político preste. E sim que nenhum político do PT presta. Os outros, de modo geral, também não prestam. De vez em quando se salva algum. Mas uma só andorinha não dá quorum.

A resposta veio de bate-pronto:

- Os politicos do PT sao os que prestam os outros sao uma corja que por muitos anos depenaram esse pais, só nao ve isso quem é muito ignorante mesmo ou então que é igual a eles. mas quem ta na "sorbonne" não ve nada disso só ve e ouve a mídia burguesa e aquilo que quer ver e ouvir,portanto sua opinião pra mim não vale nada.

Não sei o que me causou mais perplexidade. Se ouvir dizer que “os politicos do PT sao os que prestam” ou ouvir falar em mídia burguesa. Burguesia é palavrinha que hoje só alguns desvairados ao estilo de Luciana Genro ou demais militantes do PSOL ainda usam.

- Ok! – respondi -. Então por favor cite um só deputado do PT que condene os mensaleiros. Ou você é daqueles militantes que acham que o mensalão é criação da imprensa? Você fala em mídia burguesa. Ora, burguesia é palavra que morreu com o muro de Berlim. Nem o Zé Dirceu ousaria pronunciar hoje a palavrinha.

A reação foi surpreendente:

- vc é a própria figura da burguesia, e não vou te citar deputado do pt contra o mensalão, porque todos que são inteligentes, sabem bem que é mesmo um produto da mídia e que sempre foi usado por governos anteriores e ninguém falava nada.O próprio Roberto Geferson ja reconheceu que o mensalão foi um bom produto de marketing.

Essa agora! Mensalão é produto da mídia burguesa. A gente vive e não ouve tudo. Aventei que até Lula, o líder máximo das hostes petistas, já havia pedido desculpas pelo mensalão. E citei seu discurso de agosto de 2005:

“Queria, neste final, dizer ao povo brasileiro que eu não tenho nenhuma vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós temos que pedir desculpas. O PT tem que pedir desculpas. O governo, onde errou, tem que pedir desculpas, porque o povo brasileiro, que tem esperança, que acredita no Brasil e que sonha com um Brasil com economia forte, com crescimento econômico e distribuição de renda, não pode, em momento algum, estar satisfeito com a situação que o nosso país está vivendo”. 

A moça, que afinal de contas não era tão moça assim, que o diga seu vocabulário pré 1989, reagiu violentamente:

- Vi esse video agora e vi também a entrevista na época. Se vc fosse inteligente ou bem intencionado, saberia interpretar o pedido de desculpas do nosso presidente, que não tem nada a ver com essa coisa toda, mas ja vi que vc só sabe ver, ouvir e interpretar o que interessa à tua ideologia, deve ser isso que a "sorbonne” te ensinou né, fazer o que?

Isto é, um pedido óbvio de desculpas pelas falcatruas do PT exige agora um hermeneuta. Precisa ser interpretado. Suponho que seja inclusive esta a posição de Lula. Pois, apesar de ter se desculpado pelo mensalão há sete anos, hoje tem afirmado que o mensalão nunca existiu e é produto da mídia. O analfabeto-mór confia na falta de memória dos brasileiros. Imbuído do espírito de porco que me acometera na madrugada, perguntei à petista atroz de que Lula se desculpava. Estava pedindo desculpas à nação por algum verbo mal conjugado ou plural mal flexionado? Que me dissesse então de que ele se desculpava.

- Não vou mais perder meu tempo com alguém que além de desagradável, é muito ignorante, que não sabe interpretar o que le, e ainda: se acha o tal , não aceita que um trabalhador seja presidente e usa a palavra MENSALÃO com tanta vontade que deve ser um dos defensores do mesmo nos governos anteriores. Prefiro um LULA que não conjugue verbos com tanta facilidade do que um BURGUES, NEOLIBERAL e REACIONÁRIO ... ah ainda bem que não somos amigos nem aqui no face.... só mais uma coisa: se quer saber do que o LULA se desculpou, procure uma professora que o ensine a interpretar!!!!!

Acontece que, em meio à madrugada, eu não tinha professora ao alcance da mão. Mas aquele “burguês, neoliberal e reacionário” me rejuvenesceu. Transportou-me aos anos 70, quando eram os palavrões ideológicos prediletos das esquerdas. Menos o neoliberal, que surgiu mais recentemente. 

Daqui a dois dias, começa a ser julgado o mensalão que nunca existiu. O PT confia na fé de seus militantes. Só mesmo uma fé, firme e cega, para remover mensalões.




segunda-feira, 30 de julho de 2012

A ESTAGIÁRIA


João Eichbaum


A Daini (oxítona, se pronuncia com acento tônico no último i) é uma gata de olhos amendoados, pálpebras de artista de cinema, esguia, com um corpo que parece desenhado a nanquim.
Sabe a Gisele Bündchen? Nada a ver.
A Gisele Bündchen não chega nem aos pés da Daini. Ainda mais com aquele narigão, que atrapalha na hora de beijar.
Conheci a Daini na adolescência. Coisa mais fofa. Queria cursar a Faculdade de Direito aquela belezura toda.
Que que tu acha, eu passo?
E me olhava com aqueles olhos amendoados, de tal maneira, que o meu olhar de animal adormecido, sem poesia nenhuma, e ainda atordoado, tinha que procurar qualquer recanto na sala para se aninhar, com medo de algum artigo do Código Penal.
Pois é. Nada é perfeito neste mundo. A Daini, em quem a beleza  estacionou como quem veio para ficar, tem um cérebro desse tamanhinho. Escreve como fala. Para ela não há conjugação de verbo. Se falar em sintaxe na frente dela, ela é capaz de desmaiar, porque nunca ouviu esse palavrão. Apanhava da matemática a pobrezinha, sem dó, nem piedade, e da química, e da física, e da biologia e, diante de tudo quanto exigisse raciocínio, seu pensamento se esfarelava como pastel de vento
Para concluir o segundo grau, teve que mudar de escola. Para sorte sua, existem na região do Vale do Sinos várias faculdades de Direito, e essa concorrência não permite que se entregue ao desconserto da reprovação qualquer candidato, por mais analfabeto que seja.
Uns oito semestres antes de se formar, ouviu falar que um juiz da comarca andava à procura de estagiárias. Não teve dúvida, correu para o foro. E tendo sido apresentada por sua beleza, o juiz a recebeu imediatamente, sem o pedido de audiência que exigia dos advogados.
Não precisou dizer palavra: passou no exame que o ínclito magistrado fez, de alto a baixo, só com os olhos, naquele corpinho esguio de modelo. Começou a trabalhar no mesmo dia. Como estagiária ficou encarregada de lavrar sentenças e despachos, além de fazer companhia ao juiz - sem que o soubesse aquela ruiva química, com cara de travesti, que ele tinha assumido perante o altar, claro.
Ali ficou, até concluir seu curso de direito, a duras penas, e com os olhos e os ouvidos fechados de muitos professores, presos às metas comerciais da Faculdade. Quem fez o trabalho de conclusão por ela, nem sua mãe sabe.
Concluído o curso, perdeu o direito ao estágio. Para ela foi o fim, mas para o juiz, um recomeço: era longa a fila de novas candidatas a estagiária.
A moça, que lavrava sentenças e despachos, agora só tem a companhia do namorado, debruçada, com a inclemência do desespero, sobre antigas provas da OAB: não teve sucesso nas duas tentativas para obter a carteira de advogada.
E não sabe o que será do seu futuro.
Tomara que Hollywood a descubra, antes que passe no concurso de Juiz.



sexta-feira, 27 de julho de 2012

SOBRE OS PRAZERES DA TEOLOGIA

Janer Cristaldo


Pelo jeito, deixei um conterrâneo inquieto em crônica passada. J. Valdério Santos me pergunta: 

- Janer, uma duvida me inquieta: Como alguém que não crê em Deus se motiva a dedicar tanto tempo nas coisas Dele? É a luta por alguma causa beirando como que o fervor religioso ao praticar o proselitismo ou a inquietação da alma que põe à prova as suas convicções? Será que alguém que não acredita em Papai Noel demoraria tanto tempo estudando sobre o mesmo e tentando mostrar a uma singela criança que ele não existe? 

Bom, eu considero que sem estudar história das religiões é difícil entender o mundo. E particularmente o Ocidente, que foi formatado pelo cristianismo. Respiramos cristianismo todos os dias, toda a hora. A ética e cultura ocidentais, instituições e ensino derivam do cristianismo. Há muito defendo a idéia de que história das religiões deveria ser ensinada a partir do secundário. Mas atenção: história das religiões e não religião. Como as religiões são milhares, melhor ater-se à história do judaísmo, cristianismo e mesmo a do Islã, cada vez mais influente no mundo atual e inclusive no Ocidente.

Papai Noel é uma lenda que não teve influência alguma. Hoje só serve para estimular o consumo e fazer girar a roda do comércio. Santa Klaus não impõe uma ética nem influencia legislações. É apenas um penduricalho do Ocidente. 

Gosto de ler a Bíblia. Tenho treze em minha biblioteca, para comparar traduções. Desde a Tanak judia à Bíblia de Jerusalém, que se pretende uma tradução ecumênica. Aí se pode ver como os textos bíblicos foram adaptados conforme os interesses sacerdotais ou políticos da época. Cada um puxa brasa para seu assado. Entre minhas bíblias, tenho inclusive uma nítidamente marxista, publicada pelas edições Paulinas. Com imprimatur de Dom Vital J. G. Wilderink, bispo de Itaguaí. Os tradutores mexeram de tal modo no texto, que a transformaram num panfleto marxista. 

Adoro ler teologia, ver as acrobacias e os arabescos colaterais que os teólogos fizeram para justificar o injustificável. Se há algo que me diverte na história da Igreja Católica, são os dogmas. Verdades reveladas por deus, são imutáveis e definitivos. Justo por isto nos causam tanta perplexidade. 

Os dogmas são mais de quarenta e os católicos em geral não os conhecem. Um dos que gosto de enunciar é o da transubstanciação da carne, promulgado oficialmente em 1551 pelo Concílio de Trento. Os católicos, de modo geral, acreditam que o pão e vinho consagrados durante a missa são símbolos do corpo e sangue de Cristo. Ora, quem assim pensar, está cometendo heresia. Para o Magistério da Igreja, transubstanciação significa a conversão literal do pão e do vinho na carne e no sangue de Cristo. Sei que é duro, para um homem contemporâneo, admitir que a cada comunhão está praticando um ato de canibalismo. Mas dogma é dogma e estamos conversados. Todo católico é um hematófago profissional. 

Outro dogma divertido é o da Santíssima Trindade. Javé, o deus ancestral dos judeus, passa a partilhar sua divindade com o Jesus dos cristãos e mais um terceiro personagem imaterial, o Espírito Santo, que os textos joaninos preferem chamar de Paráclito. Mas o deus hebraico, nos textos antigos, não tem filho algum. Quem reivindica essa paternidade - à revelia do pai, diga-se de passagem – é o Cristo. O feroz Javé assume então a face de um pai amoroso. Ocorre que aí já temos dois deuses. Isso sem falar no Espírito, o ruah hebraico, que pode ser traduzido como ar em movimento, hálito ou vento. De onde viria talvez o terceiro elemento da deidade. 

Para Harold Bloom, em seu excelente Jesus e Javé, a unificação destes três em um só, isto é, o dogma da Trindade, "sempre constituiu a linha crucial de defesa da Igreja contra a imputação judaica e islâmica de que o cristianismo não é uma religião monoteísta". É um achado da Igreja, saliente-se, pois a palavra trindade não consta da Bíblia. O máximo que encontramos é Javé falando no plural, ou Paulo apresentando Jesus e o Espírito como intimamente ligados a Deus, indicando assim que, na Divindade, Deus, Jesus e o Espírito formam uma unidade. Tudo isto para fugir a qualquer semelhança com as tríades divinas das religiões pagãs, chupadas pela Igreja Católica, em que um deus-pai, uma deusa-mãe e um filho formam uma família de deuses, sendo muitas vezes mencionados juntos, como Osíris, Isis e Hórus no Egito. Ou o deus lunar, a deusa solar e a estrela Vênus na Arábia. Ou ainda Brama, Rudra e Vixnu da Índia. 

É por pressão do imperador Constantino (306-337) que se cria nessa época o dogma da Santíssima Trindade. Constantino precisava de um deus forte para seu império e adotou a nascente religião. Ao ver que o cristianismo estava resvalando rumo ao politeísmo, com a história do Pai, Filho e Espírito Santo, o imperador manipulou as discordâncias teológicas existentes entre Arius (Cristo é um ser criado) e Atanásio (Cristo é igual e eterno como seu Pai) e coagiu os bispos do império a assumir a doutrina de Atanásio. “Adoramos um só Deus em Trindade… O Pai é Deus, o Filho é Deus, e o Espírito Santo é Deus; e contudo eles não são três deuses, mas um só Deus”. O que deve ter dado origem, séculos depois, àquele aparelho de som da Gradiente, o três-em-um. O aparelho da Gradiente sumiu do mercado. O três-em-um do Atanásio continua tendo muita demanda. Mas isto já é outra história. 

Outra questão divertida é a do filioque.Tivessem os teólogos se contentado com este malabarismo conceitual para construir um sistema religioso monolítico, até que o dogma da Trindade não seria de difícil intelecção. Ocorre que os teólogos são minudentes e uma complicada peripécia iria provocar uma violenta cisão na cristandade em 1054. 

Segundo o Evangelho de João, o Espírito Santo procede do Pai. Assim o entendeu o Credo niceno-constantinopolitano, que no ano de 381 já repetia esta profissão de fé. Sabe-se lá porque cargas d'água, os latinos acrescentaram ao Credo a partícula filioque, professando que o Espírito procede do Pai e do Filho. Os cristãos orientais acusaram então os latinos de haver alterado os símbolos da fé. Em 444, Cirilo da Alexandria afirmava que o "Espírito é o Espírito de Deus Pai e, ao mesmo tempo, Espírito do Filho, saindo substancialmente de ambos simultaneamente, isto é, derramado pelo Pai a partir do Filho". São inúmeros os teólogos que eram do mesmo aviso. Mas os cristãos gregos não conseguiam aceitar a polêmica conjunção, o e (em latim,que. Daí filioque). 

O caldo engrossou quando o Concílio de Toledo, em 589, oficializou o símbolo da fé com o filioque, e considerou anátema a recusa da crença de que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho. Não bastasse o absurdo conceito do três-em-um - inteligível se levamos em conta a preocupação de fugir ao politeísmo - discutia-se agora a relação de um com os outros dois. Pensamento dogmático é assim mesmo.

O debate percorreu os séculos. As comunidades se cindiram em 1054 e até hoje não chegaram um acordo sobre esta questão literalmente bizantina. Ainda recentemente, em 1995, João Paulo II tentava esclarecer a questão do filioque com o patriarca Bartolomeu I, numa tentativa de melhorar as relações com os orientais. Daí se originou a expressão “questões bizantinas. Isto é, discussão de sutilezas inúteis. Inúteis, mas partiram a Igreja em dois no início do primeiro milênio.

Os ateus são pessoas que lêem muito sobre religião. O crente crê e basta. O ateu procura entender. Não por acaso, a mais reputada história do cristianismo, em sete volumes, foi escrita por um ateu. Em História das Origens do Cristianismo, Ernest Renan traça o percurso da triunfante seita dissidente do judaísmo, desde Cristo até o reinado de Constantino, que “inverteu os papéis, e fez do mais livre e espontâneo religioso um culto oficial, sujeito ao Estado e não já perseguido, mas perseguidor”.

Não satisfeito, Renan escreveu ainda uma colossal história do judaísmo em outros sete volumes. Não imagine o leitor que Renan, sendo ateu, seja hostil ao cristianismo. Pelo contrário, é fascinado pela figura humana do Cristo, e suaVida de Jesus - primeiro volume da história do cristianismo - hoje é um clássico para quem queira entender a trajetória do nazareno. Renan era tão fascinado pelo Cristo a ponto de sua obra ter sido incluída no Index Prohibitorum da Igreja Romana. Toda pessoa fascinada pelo Cristo sempre vai bater de frente com os papistas.

Nunca fiz proselitismo, jamais convidei alguém a participar de minha visão de mundo. Ser ateu exige uma fibra que muitos não possuem. O cristão se porta com honestidade para merecer a recompensa eterna. Nós somos honestos sem esperança de recompensa alguma. Não nos apoiamos em bengala. Na hora de morrer, não pedimos água à divindade alguma. Isto não é para todos. 

Mas me reservo o direito de fazer perguntas. Exerço apenas o sagrado direito da expressão de pensamento, hoje consagrado em todas as democracias do Ocidente.



quinta-feira, 26 de julho de 2012

UM FAZ-DE-CONTA CHAMADO JUSTIÇA




João Eichbaum

O “Espaço Vital” tem publicado veementes manifestações de advogados e professores de direito (Lênio Streck, Luiz Padilla, entre outros) sobre o estado falimentar em que se encontra a função constitucional do Poder Judiciário.
Digna de figurar numa antologia de humor, circula naquele site uma charge de aguda ironia, retratando o caos: no desalinho de uma sala, uma montanha de papéis e processos afoga no desespero um personagem que esbraveja:
“Cadê a maldita sentença modelar que o assessor deixou aqui”?
Assim é. Os juízes, de há muito, deixaram de examinar os processos. Suas maiores preocupações giram em torno de seus privilégios, de seus direitos, de seu “status” na sociedade, da dignidade de suas funções, do seu mestrado ou doutorado, das aulas que ministram nos cursos de direito das mais variadas espécies e nos mais variados rincões, desde a sua Associação até a faculdade lá de São João da Cochinchina.
O trabalho jurisdicional está entregue a belas e deslumbradas estagiárias, de duvidosa alfabetização, recém iniciadas nas inúmeras faculdades de direito espalhadas pelo Estado afora, ou a esforçados, mas feios e despreparados auxiliares e assessores.
As facilidades oferecidas pelo computador, para “copiar” e “colar”, se transformaram, nas mãos de analfabetos funcionais, em decisões com força legal. Os maiores absurdos, as mais inconcebíveis incongruências, as mais horripilantes heresias jurídicas, em pouco tempo, adquirem a roupagem de “coisa julgada”: o recurso, interposto no primeiro grau, recebe o mesmo tratamento no segundo grau, onde o assessor, o estagiário ou o auxiliar de serviços gerais, “copia” a sentença recorrida e a “cola” no acórdão, servindo a decisão “para mantê-la por seus próprios fundamentos”. Sem se darem conta de que não passam de personagens de uma pantomima, muitos advogados ainda se entregam aos arroubos da “sustentação oral”.
Para os embargos declaratórios já existe o “modelo”. E pronto. Ajuizado recurso especial ou extraordinário, o “modus operandi” não muda e a “cópia” e a “cola” funcionam, negando seguimento.
A pergunta que nos ocorre, a nós, contribuintes, é a seguinte: por que é que o Estado não poupa tudo o que gasta com o Judiciário, a começar pelos polpudos subsídios dos juízes?
 Ágeis digitadores custariam bem menos e fariam a mesma coisa. Iria sobrar muita verba para investimentos na saúde, na educação, na segurança, no transporte e, na Justiça, nada mudaria. Quer dizer, pior do que já está não ficaria.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

ESQUERDAS ANALFABETIZAM AS UNIVERSIDADES


Janer Cristaldo

 Após terminar Direito e Filosofia, comecei a trabalhar em jornal e passei duas décadas afastado da universidade brasileira. Digo da brasileira, porque nesse período tive quatro anos na Université Sorbonne Nouvelle, em Paris. Da qual também mantive distância. Nesses quatro anos, tive só 16 horas de aula, das quais apenas quatro foram muito úteis. Em verdade, nunca pensei em fazer doutorado. Queria apenas curtir Paris. Se a condição para uma bolsa era defender uma tese, tudo bem. Foi o que fiz. Só então fiquei sabendo que um doutorado servia para lecionar.

Em 81, a Folha da Manhã fechou as portas. A Caldas Júnior estava à beira da falência. Eu, que enviava uma crônica diária para Porto Alegre, fiquei pendurado no pincel. Às margens do Sena, mas desempregado. Meu orientador ofereceu-me mais um ano de pesquisa, mas recusei. Estava longe de minha mulher – que tivera de retomar seu trabalho após dois anos comigo em Paris – e com vontade de voltar. Acabei mudando de mala e cuia para Florianópolis, onde passei a lecionar literatura na UFSC, como professor visitante. Foi meu retorno à universidade.

Fiquei perplexo. Boa parte de minhas aluninhas, em final de curso – de Letras – não tinha noções mínimas de vernáculo. A meu ver, não podiam sequer ter entrado na universidade. (Digo aluninhas, pois os varões eram raros). Certa vez, ao reprovar uma negrinha em último ano de curso, tive de ouvir choro e ranger de dentes. “Racismo, professor, racismo. Eu nunca tirei zero nesta universidade”.

Então é porque teus professores não lêem tuas provas – respondi. Chamei-a ao estrado. E mostrei a ela o colar de zeros que havia distribuído a mais doze alunas brancas. Não fossem elas, provavelmente seria processado por racismo.

Mais tarde, reprovei a sobrinha de um deputado. Foi, a meu ver, o gesto que me fez ser ejetado da universidade. Não sabia que a festa de formatura da moça seria a festa do ano da cidade, e que 300 convites já haviam sido enviados. Se soubesse, com mais prazer a teria zerado. Resumindo: ao voltar à universidade, nos anos 90, descobri que tivera melhor formação no ginásio Nossa Senhora do Patrocínio, em Dom Pedrito, no início dos 60. Em trinta anos, o ensino universitário havia decaído irremediavelmente.

Leio recente pesquisa segundo a qual apenas 35% das pessoas com ensino médio completo podem ser consideradas plenamente alfabetizadas e 38% dos brasileiros com formação superior têm nível insuficiente em leitura e escrita. É o que apontam os resultados do Indicador do Alfabetismo Funcional (Inaf) 2011-2012, pesquisa produzida pelo Instituto Paulo Montenegro (IPM) e a organização não governamental Ação Educativa.

Ou seja, mais de um terço dos universitários são analfabetos funcionais. O que não me espanta. Isto eu já havia constatado na universidade, há mais de vinte anos. Segundo outra pesquisa também recente, Lula está em primeiro lugar em votação do programa televisivo “O Maior Brasileiro de Todos os Tempos”. Quando um analfabeto é considerado o maior brasileiro de todos os tempos, isto significa que para os brasileiros ser culto é o que menos importa. O que importa é ter sucesso.

A História é uma eterna luta entre alfabetizados e analfabetos, dizia Nestor de Hollanda, de saudosa memória. Em seu livro A Ignorância ao Alcance de Todos, o autor defendia a tese de que os analfabetos estavam avançando inexoravelmente em todas as áreas. Dito e feito. Agora tomaram os campi de assalto. Por obra dos legisladores nacionais, um analfabeto de pai e mãe já pode ostentar em seu currículo um diploma de curso superior. A reprovação, único instrumento eficaz de controle da qualidade de ensino, virou coisa do passado. Se no secundário está se tornando proibida, nos cursos superiores é cada vez mais rara e mesmo inexistente.

Conta-me um amigo, professor de universidade privada, que não pode reprovar nem mesmo alunos que jamais assistiram a suas aulas. O ensino virou um teatro, onde o aluno finge que aprende e o professor finge que ensina - disto está consciente todo professor que costuma olhar-se no espelho antes de entrar em sala de aula. Mas, segundo Hollanda, havia alguma esperança. Alguns alfabetizados já haviam se infiltrado nos quartéis.

Em recente postagem no Facebook, Anselmo Heidrich retomou uma entrevista deVeja, de novembro de 2008, que explica em boa parte a decadência do ensino nacional. Segundo a antropóloga Eunice Durham, professora da USP e ex-secretária de política educacional do Ministério da Educação (MEC) no governo Fernando Henrique, a responsabilidade desta catástrofe deve ser atribuída aos cursos de pedagogia.

- As faculdades de pedagogia formam professores incapazes de fazer o básico, entrar na sala de aula e ensinar a matéria. Mais grave ainda, muitos desses profissionais revelam limitações elementares: não conseguem escrever sem cometer erros de ortografia simples nem expor conceitos científicos de média complexidade. Chegam aos cursos de pedagogia com deficiências pedestres e saem de lá sem ter se livrado delas. Minha pesquisa aponta as causas. A primeira, sem dúvida, é a mentalidade da universidade, que supervaloriza a teoria e menospreza a prática. Segundo essa corrente acadêmica em vigor, o trabalho concreto em sala de aula é inferior a reflexões supostamente mais nobres. 

Não por acaso, só fui reprovado uma vez em minha vida em meus cursos universitários. Foi na Filosofia da UFRGS – então URGS – na cadeira de pedagogia. A faculdade só oferecia licenciatura e os alunos foram obrigados a assistir às aulas das pedagogas. Masturbação acadêmica total. As professoras, que não tinham conteúdo nenhum a oferecer, abominavam as aulas expositivas e se compraziam a ensinar ridículas técnicas de ensino, em geral de extração ianque. Me opus violentamente ao embuste e fui solenemente reprovado. Devo ter sido o primeiro – e talvez o único – acadêmico a ser reprovado naquele curso.

Tive de repetir a cadeira. A situação era tão tensa que, ao encontrar-me com a professora, eu e ela éramos acometidos de taquicardia. “Professora – sugeri – acho melhor aprovar-me logo, esta situação faz mal para nós dois”. Ela concordou comigo. Fiz, no ano seguinte, uma formatura individual. 

O problema ocorre basicamente nas tais de ciências humanas. Cursos que, a meu ver, se fossem extintos seria uma benção para o país. Prossegue a professora Durham:

- Há dois fenômenos distintos nas instituições públicas. O primeiro é o dos cursos de pós-graduação nas áreas de ciências exatas, que, embora ainda atrás daqueles oferecidos em países desenvolvidos, estão sendo capazes de fazer o que é esperado deles: absorver novos conhecimentos, conseguir aplicá-los e contribuir para sua evolução. Nessas áreas, começa a surgir uma relação mais estreita entre as universidades e o mercado de trabalho. Algo que, segundo já foi suficientemente mensurado, é necessário ao avanço de qualquer país. A outra realidade da universidade pública a que me refiro é a das ciências humanas. Área que hoje, no Brasil, está prejudicada pela ideologia e pelo excesso de críticas vazias. Nada disso contribui para elevar o nível da pesquisa acadêmica.

Tampouco por acaso, o rebotalho da História – os velhos marxistas – até hoje dominam “as Humana”, como se dizia – e escrevia, juro – na UFSC. Foram “as Humana” da USP que difundiram o marxismo no ensino universitário brasileiro, em detrimento de conhecimentos banais – mas fundamentais - como o bom manejo do vernáculo.

A repórter pergunta o que, exatamente, se ensina aos futuros professores. Responde Durham:

- Fiz uma análise detalhada das diretrizes oficiais para os cursos de pedagogia. Ali é possível constatar, com números, o que já se observa na prática. Entre catorze artigos, catorze parágrafos e 38 incisos, apenas dois itens se referem ao trabalho do professor em sala de aula. Esse parece um assunto secundário, menos relevante do que a ideologia atrasada que domina as faculdades de pedagogia.
- Como essa ideologia se manifesta?
- Por exemplo, na bibliografia adotada nesses cursos, circunscrita a autores da esquerda pedagógica. Eles confundem pensamento crítico com falar mal do governo ou do capitalismo. Não passam de manuais com uma visão simplificada, e por vezes preconceituosa, do mundo. O mesmo tom aparece nos programas dos cursos, que eu ajudo a analisar no Conselho Nacional de Educação. Perdi as contas de quantas vezes estive diante da palavra dialética, que, não há dúvida, a maioria das pessoas inclui sem saber do que se trata. Em vez de aprenderem a dar aula, os aspirantes a professor são expostos a uma coleção de jargões. Tudo precisa ser democrático, participativo, dialógico e, naturalmente, decidido em assembléia. 

Se hoje um terço dos universitários são analfabetos funcionais, não é preciso ir muito longe para saber quem os analfabetizou. O pior é que a peste, apesar da queda do muro de Berlim e do desmoronamento da União Soviética, não dá sinais de arrefecer neste país que aspira a pertencer ao Primeiro Mundo, mas ainda vive a reboque da História.


terça-feira, 24 de julho de 2012

ANALFABETISMO FUNCIONAL




João Eichbaum

    Deparei com o seguinte impresso publicitário no colado no meu portão:
ATENÇÃO
MÃE QUE ESTAVA DESEMPREGADA
QUANDO GANHOU FILHO, APÓS 20 DE JUNHO À 2012
PODE VIR GANHAR ATÉ R$ 2.015,00 EM DINHEIRO
À VISTA EM ATÉ 45 DIAS MESMO QUE
ESTEJA TRABALHANDO HOJE.
TAMBÉM MÃE QUE PERDEU O BEBÊ APÓS
O 6º MÊS DE GESTAÇÃO PODE COBRAR

LIGUE HOJE MESMO PARA

Aí seguem os números de telefones e endereços.
Confesso que, num primeiro momento, não entendi, não conseguia atinar com o objetivo da propaganda. Pensei que fosse propaganda de igreja, de credo, de milagres, de alguma clínica clandestina de abortos, ou de alguma vidente.
Depois, caiu a ficha: era propaganda de  escritório de advocacia. Propaganda de advogado especializado em “gravidez”. Da mensagem se extrai mais ou menos isso: fique grávida e corra para a Justiça.
O texto é confuso, além de agredir, impiedosamente, o vernáculo. Mas, para mim, teve uma utilidade: servir de prova daquilo que escrevi dias atrás sobre o analfabetismo funcional.
De todos os dados estatísticos, um dos que mais impressiona é o analfabetismo funcional dos doutores. 62% dos portadores de diploma de curso superior se encontram nesse nicho estatístico. Eles não sabem escrever corretamente. Têm imensa dificuldade de redigir um texto claro, inteligível.
E tudo isso só tem uma razão: a comercialização do ensino superior. O ingresso numa Universidade já não exige cultura. Qualquer analfabeto funcional tem acesso ao diploma universitário, desde que o possa comprar, nem que seja pagando altos juros.
Aqui no Vale do Sinos só não é doutor quem nem não pode comprar o diploma. De cada 10 pessoas que se encontra na rua, 7 são advogados, formados na Unisinos, na Feevale, na Ulbra, na Uniritter, na La Sale.
E com o diploma na mão, saem matando cachorro a grito, distribuindo panfletos de propaganda, com o atestado de sua ignorância.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

INFORMAÇÃO PARA QUEM AINDA ACREDITA NA JUSTIÇA




João Eichbaum

    Quem não é ligado em futebol há de ficar impressionado com o zelo excessivo  da Zero Hora  que, em  edições sucessivas, dedica duas páginas inteiras sobre torcedores que, embora proibidos pela Justiça, frequentam os estádios de futebol do Grêmio e do Internacional. Hão de pensar que não existe coisa mais importante para noticiar, que vai tudo bem pelo país afora, que Porto Alegre “é demais” e vive num mar de rosas, etc.
Mas, não é bem assim. Para quem não sabe, o futebol dá dinheiro também para a imprensa. Se assim não fosse, não ocuparia tantos espaços, espaços que são negados para coisas mais importantes. O futebol vende jornal para os torcedores, vende espaço muito bom para publicidade. Essa é a razão pela qual a Zero Hora fez toda essa matéria sobre torcedores desobedientes, que não cumprem a decisão da justiça.
Esclarecendo, para quem não sabe. Torcedores violentos, a quem se atribuiram depredações e agressões de monta, levados à Justiça foram “condenados” à proibição de frequentar os estádios. A “condenação” é acompanhada pela determinação de que, nos dias e horários de jogos, eles sejam recolhidos a uma Delegacia de Polícia, pelo tempo que durar a partida de futebol (coisas copiadas de sistemas jurídicos do primeiro mundo).
Isso está no papel. Na sentença. Mas, os ditos torcedores não estão nem aí para a decisão da Justiça. Continuam frequentando os estádios, como se nada houvesse acontecido (porque vivemos num país da América latrina).
Aí veio a Zero Hora e levantou a questão: quem é que fiscaliza o cumprimento da decisão da Justiça?
Foram entrevistados o juiz, a polícia e os dirigentes dos clubes. Todos fugiram da responsabilidade: não é comigo, é com o juiz, diz a polícia; não é comigo, é com a polícia e os dirigentes dos clubes, diz o juiz; não é conosco, é com o juiz e a polícia, dizem os dirigentes dos clubes.
É por isso que estamos como estamos em questões como a segurança. Nem os funcionários pagos, e muito bem pagos, conhecem suas atribuições, zelam pelo cumprimento de seus próprios deveres.
Não é da competência dos clubes, quer dizer, dos entes privados, o zelo pelo cumprimento das decisões judiciais. O Estado tem funcionários pagos para isso. Para que servem os oficiais de justiça? Não está escrito no Código de Organização Judiciária que a eles incumbe o cumprimento das ordens judiciais? E não está escrito no mesmo Código que podem eles requisitar auxílio de força policial para tal finalidade?
Por incrível que pareça, meus amigos, o juiz não conhece a lei.




sexta-feira, 20 de julho de 2012

FIDELIDADE DE CÃO E DE CAN...DIDATO




João Eichbaum

A diferença básica entre os humanos e os outros animais reside nas funções do cérebro. No homem, a função cerebral por excelência se expressa através da inteligência. Nos outros animais, através do  instinto.
Assim como a inteligência varia de homem para homem, também nos animais o instinto varia, de animal para animal. Há muitos patamares que separam a inteligência do Tarso Genro da inteligência de Werner von Braun, ou de Einstein, por exemplo. 
O instinto das pombas é mais forte e mais abrangente  que o instinto dos pardais. O instinto dos cães é mais agudo do que em qualquer outro animal, que viva próximo do homem. Por isso, a domesticação de um cão é bem mais fácil do que a domesticação de um gato.
Li ontem no jornal local a emocionante narrativa que fizeram os coveiros e outros funcionários do cemitério desta cidade. Uma cachorrinha vinha quase todas as tardes ao cemitério e se dirigia para uma sepultura, que se supõe seja de seu ex-dono. Lá, deitava e dormia, aproveitando o silêncio de mármore do cemitério. Fez isso durante um mês. Depois, não voltou mais.
A cachorrinha aprendeu e ensinou a lição menos esquecível, que é a da fidelidade.
É fascinante esse fato. Como explicar que, em meio a milhares de jazigos e sepulturas, o animalzinho encontrasse o do seu dono?
Só a agudeza do instinto pode explicar esse fenômeno. Nenhuma outra explicação é possível para um acontecimento de tal envergadura, que só a natureza pode produzir.
Se todos os cães tivessem a mesma agudeza de instinto, os cemitérios estariam sempre cheios de cachorros. Então, decididamente, assim como nos outros animais o grau de instinto varia, também no homem a inteligência está sujeita a graus mínimos e máximos. Assim como uma minoria de animais tem instinto máximo, também a minoria dos outros animais, os humanos, tem inteligência máxima.
Nos animais de instinto, a rapina é maior que a fidelidade, da mesma forma que, nos animais de inteligência, o jogo sujo prepondera sobre a honestidade.
E por maior que seja a fidelidade dos animais humanos, ela nunca será igual à dos cães.
Se tiverem dúvida, perguntem à Ana Amélia Lemos.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

DINHEIRO JOGADO PARA CIMA




João Eichbaum

Noticiam os jornais que “já está à disposição da presidente Dilma Rousseff o novo helicóptero francês batizado de VH-36 Caracal”. O brinquedinho foi comprado na gestão do Lula, “ao preço de aproximadamente 30 milhões de euros – cerca de RS$ 75 milhões”.
Bem, para que se servem os políticos de helicópteros?
Se vocês não sabem, é para “inspecionar” regiões tomadas pelas secas ou pelas enchentes.
Mas para que precisam eles “inspecionar” essas regiões abaladas por calamidades? Vai adiantar alguma coisa? A presença deles no local servirá para fazer chuva onde existe seca, ou parar a chuva onde tem enchente? Não têm eles assessores, gente especialista em avaliar catástrofes? Ou eles não acreditam nas notícias da imprensa e têm que ir ao local para ver se é verdade mesmo, ou se é mera invencionice da oposição?
Pois é, o Lula comprou, e agora a Dilma terá à sua disposição um helicóptero de cerca de setenta e cinco milhões, vindo da França, só para ver de cima as desgraças.
Para quem não sabe, o Brasil tem uma empresa que fabrica helicópteros: a Helibrás. E tem vários modelos.
Para esses passeiozinhos que os presidentes e governadores fazem, só para se certificar de que a natureza andou aprontando, qualquer helicóptero serve. Não precisa de helicóptero especial.
Mas nem precisaria comprar helicóptero da Helibrás, para só para usá-lo nessas ocasiões. Todo mundo sabe que o exército, a marinha e a aeronáutica têm helicópteros. Que não servem para nada, claro, que estão lá pelos hangares e pelos pátios só esperando por alguma guerrinha, coisa que está difícil nos mercados da América Latina.
Então, bastaria pedir emprestado um helicóptero desses que não servem para nada e sair com ele a “inspecionar” os males da natureza.
Enquanto isso, os setenta e cinco milhões poderiam ser destinados à saúde. Com essa dinheirama toda dava para construir algum  hospital, por exemplo. Ou incentivar a pesquisa, para a fabricação de medicamentos. Ou simplesmente adquirir vacinas, as vacinas que desapareceram, enquanto a gripe A vai tomando conta.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

TRISTE ESTATÍSTICA




João Eichbaum

Aludi outro dia ao baixo nível cultural do prefeito de Nova Prata, que mandou incluir no currículo escolar dos alunos dos colégios municipais a leitura diária da crônica do Paulo Santana.
Hoje tenho explicações científicas para esse e outros disparates.
De acordo com os dados publicados no último Indicador do Analfabetismo Funcional (Inaf), somente 26% da população brasileira pode ser considerada plenamente alfabetizada.
 Sim, eu disse somente vinte e seis por cento.
A pesquisa, que desembocou nesse triste e humilhante percentual, teve por objeto a análise da capacidade de leitura e compreensão de textos dos entrevistados.
Os analfabetos funcionais representam 27% por cento da população, cuja maioria, 47%, revela os que têm apenas a alfabetização básica, entre os quais se inclui o Lula, naturalmente. Só 35% das pessoas com ensino médio completo podem ser consideradas plenamente alfabetizadas. E 38% dos que conquistaram diploma de curso superior tem insuficiente capacidade de compreensão de leitura e de criação de texto. Quer dizer: tem doutor analfabeto aos montes.
Na área do Direito é uma vergonha. Qualquer analfabeto funcional compra diploma. Digo compra, porque faz cursinhos “a distância” ou entra em qualquer faculdade particular, sem ter o domínio pleno do vernáculo. Tanto assim que nem se arriscam a ingressar numa Universidade Pública.
Mais do que nunca, hoje, na era da informática, “nada se cria, tudo se copia”. E é por isso que a Justiça virou um caos. Qualquer advogado, que não passa de analfabeto funcional, vai à internet, copia uma quilométrica petição e ingressa em juízo. Os processos se avolumam exatamente por isso, porque é fácil copiar. Se não tivessem a facilidade da cópia, a maioria dos advogados não saberia peticionar e teria indeferidas suas petições, resultando na diminuição dos processos.
Mas, com o alto volume de processos, os juízes (muitos dos quais se incluem nos 27% dos analfabetos funcionais) não dão conta e os processos são despachados por outros analfabetos, aqueles que fazem parte dos 47%, os estagiários, os assessores, os secretários, cuja formação não passa da alfabetização básica.
Não é preciso me alongar, porque tenho certeza de que meus leitores fazem parte dos 26%: são plenamente alfabetizados. Para esses, o que escrevi  é  suficiente para explicar os sucessos do Paulo Santana, do Lula, de tantos outros políticos, e a razão pela qual a Justiça não merece crédito. 





terça-feira, 17 de julho de 2012

NOTÍCIA DO ESPAÇO VITAL


A operadora do Direito, sem filhos, saída há seis meses do seu segundo casamento, resolve participar de um evento jurídico em São Paulo, que se realizaria na quinta e sexta-feiras. Justamente pensando"naquilo" - a que fora atraída por anúncios de acompanhantes - decide ir dois dias antes e se hospeda num hotel quatro estrelas.

Instala-se, desfaz a mala, toma um banho e prepara o contato com um dos serviços que oferecia"atendimento masculino erótico". Então, cuidadosamente disca: 9 ... ... ... ... ... ... ...
   
- Boa noite, aqui Jeferson. Em que posso ajudar? - atende uma voz masculina.

- Eu procuro uma sessão de sexo, para hoje à noite. Quero fantasias! Busco um homem carinhoso, forte, másculo, que use acessórios, seja criativo, mas não tolero violências...

- Pois não, senhora - tenta atalhar a mesma voz masculina. Devo lhe dizer que...


A hóspede continua com o seu jeito verbal de comandar:

- Será possível começar com uma sessão de geléia? Ou você tem uma idéia mais caliente? Outra coisa: gostaria de acertar o preço agora.

- Na verdade, me parece emocionante, senhora. Mas, para chamadas externas, é necessário discar o número zero primeiro - 
responde a mesma voz, que era do... recepcionista do hotel!

No dia seguinte, o funcionário informa o fato ocorrido ao chefe de recursos humanos da organização, que é justamente um gaúcho. Em  questão de horas, via MSN, ele conta tudo,  tim-tim por tim-tim a um advogado amigo, no Sul.

Então meia Porto Alegre jurídica fica sabendo da história do "sexo delivery".


Comentário do João Eichbaum:
Lendo a notícia aí de cima, me lembrei do livro “AOS COSTUMES DISSE NADA”, e reli aquele trechinho que conta a cena da juíza, de quatro:
Enfiado no rabo da meritíssima, sem contestação, nem oposição, de boa-fé e com justo título, enquanto ela se entregava ao êxtase anal, eu fazia as minhas contas daquela semana, quanto tinha e para quem tinha que pagar. Tudo estava pela hora da morte, mas sempre sobrava uma grana legal para tomar uma cerveja com alguma putinha mais recatada.
É lamentável que, até hoje, não tenha despertado a atenção dos leitores esse trecho do livro, que faz uma subreptícia comparação entre a moral da juíza (operadora do direito, no dizer do Espaço Vital) e a da operadora do sexo –  também digo eu, porque é muito mais respeitoso do que “puta”.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

DEMÓSTENES DESMORALIZA O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


Janer Cristaldo

Que o Executivo se desmoralize, faz parte da vida política. O Executivo gere a grana e grana é o que os corruptos mais almejam. Natural que procurem água na fonte. Que o Legislativo se desmoralize, também faz parte da vida. É o lugar das grandes barganhas, onde um voto pode valer milhões. Mas quando o Judiciário se desmoraliza, a nação está definitivamente doente.

O Supremo Tribunal Federal, isto é, a suprema instância da Justiça do País, em menos de um ano rasgou duas vezes a Constituição, jogando a lógica na lata de lixo e apelando a recursos poéticos, para dizer o mínimo. A primeira vez foi no ano passado, quando aprovou, com as fanfarras da imprensa, o reconhecimento da tal de união homoafetiva. A nova palavrinha designa o que antes chamávamos de homossexual. E ainda trouxe outra em seu bojo. O ministro Carlos Ayres Britto, relator do caso, pretende ter criado, por analogia, o neologismo heteroafetivo. Assim sendo, atenção à linguagem, leitor. Homossexuais não mais existem. Agora são todos homoafetivos.

Antes de ir adiante: o neologismo não tem pé nem cabeça. O componente grego da palavra – homo – nada tem a ver como homossexualismo. Homo quer dizer mesmo. A construção capenga – homoafetivo – significaria quem cultiva o mesmo afeto.

Em defesa da nova terminologia, o ministro diz que o vocábulo foi cunhado pela vez primeira na obra União Homossexual, o Preconceito e a Justiça, de autoria da desembargadora aposentada e jurista Maria Berenice Dias, consoante a seguinte passagem: “Há palavras que carregam o estigma do preconceito. Assim, o afeto a pessoa do mesmo sexo chamava-se 'homossexualismo'. Reconhecida a inconveniência do sufixo 'ismo', que está ligado a doença, passou-se a falar em 'homossexualidade', que sinaliza um determinado jeito de ser. Tal mudança, no entanto, não foi suficiente para pôr fim ao repúdio social ao amor entre iguais”.

Bem que eu desconfiava que cristianismo, catolicismo, marxismo, socialismo, espiritismo e outros ismos eram doenças, e das mais graves.

Adelante! O voto inaugural do ministro Ayres Britto está eivado de uma poesia extraordinária: “Em suma, estamos a lidar com um tipo de dissenso judicial que reflete o fato histórico de que nada incomoda mais as pessoas do que a preferência sexual alheia, quando tal preferência já não corresponde ao padrão social da heterossexualidade. É a perene postura de reação conservadora aos que, nos insondáveis domínios do afeto, soltam por inteiro as amarras desse navio chamado coração”. Só tem um detalhe: a Constituição só reconhece como entidade familiar a união entre homem e mulher:

Art. 226, § 3º. Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.

Da mesma forma, diz o Código Civil:

Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.

Mas para o STF, constituições ou códigos são papéis pintados com tinta, como diria Pessoa. Que podem ser rasgados ao sabor das ideologias. Lixe-se a Carta Magna. A modernidade exige audácia.

Em abril deste ano, o STF oficializou, por unanimidade, o racismo no país. Pela segunda vez, revogou, com a tranqüilidade dos justos, mais um artigo da Constituição Federal, ao decidir por unanimidade que o sistema de cotas nas universidades é constitucional. No caso, o art 5º, segundo o qual todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza. A partir de então, oficializa-se a prática perversa instituída por várias universidades, de considerar que negros valem mais do que um branco na hora do vestibular.

As tais de ações afirmativas tiveram certo prestígio quando surgiram. Hoje, o sistema de cotas é ilegal nos Estados Unidos. Onde surgiu. Sempre na rabeira da História, o Brasil adota hoje o que nos Estados Unidos foi jogado na famosa lata de lixo da História.

Ao arrepio de toda lógica, o STF tem rasgado serenamente a Constituição. Com o aplauso da imprensa e de grupos de pressão, para os quais respeitar leis é formalismo burguês. O STF afirma que branco é preto ou que preto é branco e ficamos por isso mesmo. Com um agravante: quando a suprema corte do país afirma que preto é branco, passa a ser crime afirmar que preto é preto. Ou branco é branco. Onde se lia homem e mulher, leia-se homem e homem, ou mulher e mulher e estamos conversados. A partir de hoje, onde se lia “todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza”, leia-se: todos são iguais perante a lei, exceto os negros, que valem mais. Simples assim.

Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Cinco anos depois, o julgamento do mensalão ainda nem começou. Só vai começar dia 02 do mês que vem, e isso porque o relator do julgamento, ministro Ricardo Lewandowski, foi pressionado pela imprensa e por seus colegas de curul a apresentar seu relatório em tempo hábil, para evitar a prescrição de alguns dos crimes cometidos pelos quarenta implicados.

Conforme o tempo despendido pelo voto dos ministros, alguns réus ainda não precisam preocupar-se. Conforme a lerdeza da corte, o julgamento pode ainda ficar para o ano que vem. Dependendo das penas que eventualmente receberem, 22 dos 38 réus - entre eles o ex-ministro José Dirceu - poderão terminar o julgamento com a prescrição do crime de formação de quadrilha, o que equivale a uma absolvição. O ministro Joaquim Barbosa anuncia um voto de mais de mil páginas, que exigirá quatro dias para ser lido. Bem que o ministro podia, em nome do bem da nação, fazer um cursinho rápido de redação que lhe fornecesse noções mínimas de síntese.

Antes de ir adiante: se alguém quiser uma antevisão das sentenças, lá vai a minha. Obviamente, os réus serão punidos. A suprema corte não será surda aos anseios da opinião pública. Mas serão punições simbólicas, levinhas, certamente reversíveis em prestação de trabalhos à comunidade, e olhe lá! Se alguém espera ver José Dirceu algemado sendo conduzido ao cárcere, pode tirar seu cavalinho da chuva.

Foi cassado nesta quarta-feira o mandato do senador Demóstenes Torres por quebra de decoro parlamentar. A defesa do senador foi patética. Durante vários dias, proclamou sua inocência ante a perplexidade das poltronas de um plenário vazio. No memorial de sua defesa, seu advogado citou tanto Martin Luther King como Fernando Pessoa.

Que cite Martin Luther King se entende. É um canalha pedindo o apoio de outro canalha ilustre. O santo homem plagiou sua tese de doutorado e, mesmo tendo cometido este crime de lesa-academia, recebeu o Nobel da Paz em 64. Isso sem falar que desviou verbas de suas campanhas em prol da igualdade racial para orgias com profissionais do sexo. "A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo lugar", diz a frase citada de Luther King. Muito coerente que o advogado do senador corrupto invoque o apoio de um colega também corrupto.

Daí a meter Fernando Pessoa neste espúrio imbróglio, é um crime contra tudo que de melhor a humanidade produziu. Do poeta, citou: “Ergo-me da cadeira com um esforço monstruoso, mas tenho a impressão de que levo a cadeira comigo, e que é mais pesada, porque é a cadeira do subjetivismo”. Ora, que tem isto a ver com suas maracutaias?

Pessoa foi um gênio que viveu uma modesta vida de contador, sem nunca preocupar-se com fortuna ou holofotes, tanto que morreu obscuro e quase inédito. Jamais foi tentado pelos pássaros ávidos da fama nem pelo dinheiro alheio. Chamá-lo em defesa do senador é um contra-senso que pede aos céus reparação. O advogado do senador devia ser incurso em crime de lesa-poesia.

Mas não era disto que queria falar. E sim de um desejo do senador, que a meu ver desmoraliza definitivamente o STF. “Me deixem ser julgado pelo Judiciário”, manifestou Demóstenes. O senador conhece os seus. Sabe em que corte pode ser absolvido. E já no começo da noite de quarta-feira afirmou, pelo Twitter, que vai recorrer ao STF para defender o mandato que o "povo de Goiás" lhe concedeu.


Jus non sucurrit dormientibus.
 

sexta-feira, 13 de julho de 2012

O TAMANHO NÃO IMPORTA


João Eichbaum

A Dilma Rousseff não é dessas que dão importância para o tamanho, nem para a grossura.
Calma. Estou falando do PIB.
Quando assumiu a presidência, a Dilma falava muito no PIB, elogiava o PIB do Lula (lembrem-se de que estou falando em PIB), fazia previsões para o PIB, se entusiasmava com o PIB, queria que o PIB crescesse.
Agora, mudou. De repente, o PIB começou a broxar e aí ela chegou à conclusão de que o PIB não vale nada para medir “a grandeza de uma nação”.
A Dilma deu adeus ao PIB, mandou os economistas às favas, pisoteou nos dogmas da economia, nos indicadores tradicionais do desempenho econômico de um país. Ela, portanto, é a única pessoa que entende de economia no mundo. Os outros países, os que se guiam pelo PIB para decidir os rumos de sua política econômica, estão errados.
A partir de agora, o PIB é o de menos para o Brasil, ou seja para a Dilma, que representa o Brasil.
O que mede a “grandeza de uma nação é o que se faz pelas crianças e adolescentes e não o PIB.”
Então eu pergunto, tu perguntas, ele pergunta, nós perguntamos, vós perguntais e todo mundo pergunta: por que é que a Dilma está perdendo o tempo e não faz alguma coisa pelas crianças e adolescentes do país? Não sabe ela que a primeira coisa que o Estado pode e deve fazer por  uma criança é lhe dar escola? E que não basta haver escolas, tem que haver também bons professores, e que bons professores, para tê-los, é preciso remunerá-los condignamente?
E a Dilma poderia responder a nós todos, por que existem tantas crianças que dormem ao relento, passam fome, andam zanzando por aí o dia inteiro, pedindo esmolas para os tios e para as tias, senão roubando?
E finalmente: será que a Dilma não sabe que, para dar educação, formação, dignidade para uma criança e para um adolescente é, preciso antes de tudo, que se lhes dê saúde?
Ou ela pensa que, cuidando da saúde perpétua dos senadores, dos ex-senadores, de todos os familiares dos senadores, com planos de saúde pagos pelos brasileiros que trabalham, se estará resolvendo o problema das crianças e dos adolescentes?
Pena que não existe impeachment para presidentes da república que dizem asneiras.






quinta-feira, 12 de julho de 2012

CASSAÇÃO


João Eichbaum

Como era de se esperar, cassaram o mandado do Demóstenes Torres. Digo que era de se esperar, porque a imprensa já o havia cassado.
Foi cassado o senador porque teria “ligações” com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. E ter “ligações” com bicheiro é coisa muito grave, mancha o mandato, desmoraliza o parlamento, fere de morte o decoro parlamentar.
Decoro parlamentar? O que que é isso? Isso existe?
Decoro parlamentar são as falcatruas do Sarney? O pagamento da amante do Renan Calheiros com o dinheiro público? O assassinato praticado pelo pai do Fernando Collor dentro do Senado? As uniões espúrias do PMDB com o PT para enrabar o povo?
Não, por favor, meu poupem.
Nem o senado, nem a câmara são templos de dignidade. Pelo contrário é lá dentro que se formam as quadrilhas que esbulham o povo brasileiro, aumentando impostos, criando taxas, proibindo o uso de instrumentos de defesa, sem oferecer nada em troca para a defesa do cidadão. Senado e câmara se prestam muito mais para a corrupção do que para o decoro.
Cidadão honesto não se candidata, não se torna político. Quem entra na política como honesto e lá fica é porque perdeu a dignidade.
O que o Senado fez com Demóstenes foi um joguinho para a plateia. É disso que o povo gosta, de espetáculo, e  o Senado unicamente cumpriu a vontade do povo, abrindo o circo.
`No mais, o Senado continuará como está, como sempre foi: valhacouto de aproveitadores.
Rosane de Oliveira, da editoria de política da ZH, afirma que “é provável que o Senado não fique melhor com a saída de Demóstenes Torres, mas é certo que ficaria bem pior se ele tivesse sido absolvido. Porque teria ruído o que ainda resta de credibilidade da instituição”.
A Rosane está por fora. É só sair por aí, perguntando para o povo, se o Senado merece crédito e respeito...
Mas, ainda bem. Antes de descer o pano de fundo do espetáculo, apareceu aquela parte boa, que todo mundo gosta, porque sem a pimenta do sexo nada tem graça: quem vai ocupar a vaga do Demóstenes é o ex-marido corneado por aquela boazuda, que é a atual mulher do Carlinhos Cachoeira...




quarta-feira, 11 de julho de 2012

PENA QUE HAVIA TRANSCENDÊNCIAS




João Eichbaum

E quando existem transcendências,
                     E o homem pede pão
                                                amor
                                               calor
                                                  guia
                                                apoio,
                         E nada existe,
Existe a possibilidade de suicídio.

Essa “maravilha” de poema faz parte de uma antologia da “poesia santamariense”.
Olhem só que coisa sensacional: “quando existem transcendências...existe a possibilidade de suicídio”.
Quer dizer, se não existirem transcendências, que é a premissa maior do “poema”, mesmo que o homem peça “pão, amor, calor, guia, apoio” e nada disso exista, não haverá a “possibilidade de suicídio”. Se o cara estiver passando fome ou tiver sido corneado, ou se estiver sentindo frio, perdido, bêbado, cambaleando, sem apoio, e não houver “transcendências”, tudo bem, não tem perigo de suicídio.
Então, a possibilidade de suicídio depende da existência de transcendências!!!
Entenderam que maravilha de construção, de pensamento, de lógica?
Vocês sabem quem é o autor dessa “maravilha” de poesia?
Ninguém menos do que o senhor Tarso Fernando Genro, atual governador do Estado do Rio Grande do Sul.
No tempo em que defecou esse “poema” ele só praticava mentiras sem maldade, mentia que era poeta e mentia que era um dos melhores poetas santamarienses. Tanto que foi parar numa antologia feita por ele mesmo, em companhia de seu amigo Luiz Alberto Rodrigues.
Esse é o poeta que governa o Estado. Mas ele só está governando este Rio Grande porque “não existia transcendências”. Se existissem as transcendências teria havido suicídio, e nós não estaríamos nessa merda que é o  Rio Grande do Sul atualmente, sem hospitais, sem vacinas, sem segurança, sem professores, sem educação. E também sem “transcendências”.