Jnaer Cristaldo
Seguidamente,
leitores me pedem opinião sobre candidatos. Ora, a vida me ensinou que é mais
seguro opinar sobre o bóson de Higgs do que sobre um candidato. O sistema
eleitoral brasileiro é falho, somos levados a votar em pessoas que
desconhecemos. Voto distrital que é bom sempre é defendido pelos políticos, mas
jamais aprovado. Políticos sabem, por instinto, que não é bom ser conhecido de
perto.
Político, por definição, é um homem que mente. As regras do jogo o impelem necessariamente a mentir. O que importa é arrebanhar votos. Político diz o que cada platéia pede. E omite tudo o que cada platéia rejeita. Se não mente por intenção, mente por omissão. Se não mente hoje, mentirá amanhã. Políticos pertencem a partidos. Precisam seguir a política de seus partidos, mesmo que dela discordem. Se o partido decide fazer coligação com um canalha, o candidato tem de aderir ao canalha. Vimos isto recentemente, com todas as letras, o impoluto Lula abraçando o malvado Maluf, procurado em todos os países – menos no Brasil – pela Interpol. Vimos também seu delfim para a prefeitura paulistana, o tal de Haddad que quase ninguém conhece, tendo de engolir a ignomínia.
Faz mais de vinte anos que não voto. Meu último voto, confesso sem pejo algum, eu o dei a Collor. Não por seus belos olhos. Mas porque o outro candidato era Lula. Hoje, se ainda votasse, entre Lula e Maluf, votaria no “esforçado filho do imigrante árabe”, como já foi chamado. No que, suponho, não seria reprovado por nenhum petista. Afinal, Maluf hoje é unha e carne com Lula.
Há quem julgue que o PT tem origens operárias. Outro dia, encontrei na rua meu urologista predileto – aquele das leituras teológicas – e ele me perguntou:
- Sabias onde o PT foi fundado?
Sabia. Foi em um colégio de elite de meu bairro, o Sion. Onde estudou a aristocrática Marta Teresa Smith de Vasconcelos Suplicy. Meu urologista imaginava que fosse num sindicato do ABC, como muitos imaginam. PT nada tem a ver com trabalhador. Tem a palavrinha na sigla por devoção a um mito do século XIX, o de que a redenção da humanidade residiria na classe proletária. Nunca residiu. O século passado o demonstrou sobejamente.
Antes mesmo de o PT existir, eu denunciava o PT. Explico. O PT nasceu em 1980. Ora, desde 75, quando colunista da Folha da Manhã, em Porto Alegre, eu desfechava minhas baterias contra senhores como Marco Aurélio Garcia, Tarso Genro, Flávio Koutzii, Luiz Pilla Vares, os pais fundadores do partido no Rio Grande do Sul. Sem falar no que escrevi contra a ideologia que os alimentava. Contra o Tarso, o que escrevi daria uma pequena antologia. Que eram todos comunistas, até as pedras da Rua da Praia sabiam. Mas ai de quem dissesse que eram comunistas! Era um infame delator, um reles dedo-duro. Em pleno regime militar, ser comunista servia como escudo protetor.
Entendo que um adolescente, lá pelos anos 80, votasse no PT. Um jovem ainda não teve tempo de ler o necessário para visualizar o DNA do partido. O PT é filho de uma partouse entre a Igreja Católica e os diversos grupos comunistas e anarquistas que vicejavam no Brasil. Conseguiu consolidar-se uma década antes da queda do Muro. Tivesse surgido depois dos anos 90, não teria cacife para chegar ao poder.
Que pobres diabos que se beneficiam de esmolas estatais votem no PT, isto também entendo. O que não se entende é ver pessoas adultas e bem informadas, intelectuais, funcionários públicos e professores universitários votando em um partido que nasce obsoleto, em um candidato tosco e semi-analfabeto. Pior ainda, que ostenta como virtude sua falta de instrução. Verdade que desde fins do século XIX alimentou-se o mito da salvação pelo proletariado. Ora, os eleitores de hoje tiveram mais de um século para constatar que proletários não salvam ninguém.
O PT nasceu no Estado mais politizado do país, embalado pela USP e pela Igreja. Por essa mesma USP que foi a grande difusora do marxismo no Brasil e por essa mesma Igreja que o adotou através da sedizente Teologia da Libertação. A eleição de Lula, apoiada pelas elites intelectuais do país em pleno século XXI, significou que estas elites ainda vivem espiritualmente no século XIX.
Mesmo assim, certa vez dei meu voto ao PT. Não que vote em partidos. Nas raras vezes em que votei, votei em pessoas. Nos anos 70, havia em Porto Alegre um engraxate, uma dessas figuras que lê sem método algum, o que não era incomum naqueles anos. Imbuído de um marxismo vulgar misturado a certas idéias anarquistas, tinha uma cadeira na praça da Alfândega. Enquanto lustrava sapatos, discorria sobre o homem e o mundo. Resolveu candidatar-se a vereador. Pelo PT. Considerei que se sentiria melhor sentado em uma curul na Câmara Municipal do que engraxando ajoelhado ante sua cadeira na praça.
Votei nele. Foi eleito. Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza. O poder subiu-lhe à cabeça. Algumas semanas depois, já andava caçando empregadinhas na rua, em seu carro funcional. Morreu de forma infame o pobre diabo, esfaqueado em uma briga com um seu vizinho. Descobri então que, em se tratando de política, nem em engraxate se pode confiar.
Nos últimos anos, nutri simpatias por um deputado federal paranaense, eleito pelo PSDB. Em seus pronunciamentos, era sempre objetivo, correto, preciso, sem jamais apelar ao bla-bla-blá de políticos. Se um dia voltasse a votar, pensei, tenho um nome. Esse homem é honesto.
Era. Hoje está flertando com o PT. Nada como o tempo para ensinar. Ainda bem que havia tomado a decisão de não votar. Se houvesse votado neste senhor, hoje estaria envergonhado de ter sido enganado como uma criancinha depois de velho. Político, quando não faz na entrada, faz na saída.
Os franceses fazem uma distinção entre politique politique e politique politicienne. Por politique politique, entende-se a grande política, a administração da polis. Por politicienne, a pequena política, a politicagem. Ontem, zapeando no Facebook, encontrei uma conclamação a participar de política. Não da politique, mas da politicienne.
Alguém aventou: política é sinal de corrupção. A interlocutora que teclava do outro lado reagiu: “é esse o senso comum que a mídia com muita competência, faz as pessoas acreditarem, que nenhum político presta, daí os corruptos podem fazer o que lhes der na cabeça e os ignorantes políticos permitem isso com essa posição. Então indiretamente quem não se envolve em política também, é responsável por toda essa lama de corrupção que felizmente, não são todos os políticos que se envolvem não”.
Tomado de um espírito de porco que às vezes me acomete nas madrugadas, decidi divertir-me um pouco. Desconfiei que se tratava de mensagem de petista. Não deu outra. Militante se queixando da mídia, só podia ser petista. Mídia era bom quando denunciava as corrupções do Sarney, Collor, quando denunciava o plano real. Quando denuncia as corrupções do PT, a mídia vira burguesa. Lá pela meia-noite, decidi provocar:
- Não é bem que nenhum político preste. E sim que nenhum político do PT presta. Os outros, de modo geral, também não prestam. De vez em quando se salva algum. Mas uma só andorinha não dá quorum.
A resposta veio de bate-pronto:
- Os politicos do PT sao os que prestam os outros sao uma corja que por muitos anos depenaram esse pais, só nao ve isso quem é muito ignorante mesmo ou então que é igual a eles. mas quem ta na "sorbonne" não ve nada disso só ve e ouve a mídia burguesa e aquilo que quer ver e ouvir,portanto sua opinião pra mim não vale nada.
Não sei o que me causou mais perplexidade. Se ouvir dizer que “os politicos do PT sao os que prestam” ou ouvir falar em mídia burguesa. Burguesia é palavrinha que hoje só alguns desvairados ao estilo de Luciana Genro ou demais militantes do PSOL ainda usam.
- Ok! – respondi -. Então por favor cite um só deputado do PT que condene os mensaleiros. Ou você é daqueles militantes que acham que o mensalão é criação da imprensa? Você fala em mídia burguesa. Ora, burguesia é palavra que morreu com o muro de Berlim. Nem o Zé Dirceu ousaria pronunciar hoje a palavrinha.
A reação foi surpreendente:
- vc é a própria figura da burguesia, e não vou te citar deputado do pt contra o mensalão, porque todos que são inteligentes, sabem bem que é mesmo um produto da mídia e que sempre foi usado por governos anteriores e ninguém falava nada.O próprio Roberto Geferson ja reconheceu que o mensalão foi um bom produto de marketing.
Essa agora! Mensalão é produto da mídia burguesa. A gente vive e não ouve tudo. Aventei que até Lula, o líder máximo das hostes petistas, já havia pedido desculpas pelo mensalão. E citei seu discurso de agosto de 2005:
“Queria, neste final, dizer ao povo brasileiro que eu não tenho nenhuma vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós temos que pedir desculpas. O PT tem que pedir desculpas. O governo, onde errou, tem que pedir desculpas, porque o povo brasileiro, que tem esperança, que acredita no Brasil e que sonha com um Brasil com economia forte, com crescimento econômico e distribuição de renda, não pode, em momento algum, estar satisfeito com a situação que o nosso país está vivendo”.
A moça, que afinal de contas não era tão moça assim, que o diga seu vocabulário pré 1989, reagiu violentamente:
- Vi esse video agora e vi também a entrevista na época. Se vc fosse inteligente ou bem intencionado, saberia interpretar o pedido de desculpas do nosso presidente, que não tem nada a ver com essa coisa toda, mas ja vi que vc só sabe ver, ouvir e interpretar o que interessa à tua ideologia, deve ser isso que a "sorbonne” te ensinou né, fazer o que?
Isto é, um pedido óbvio de desculpas pelas falcatruas do PT exige agora um hermeneuta. Precisa ser interpretado. Suponho que seja inclusive esta a posição de Lula. Pois, apesar de ter se desculpado pelo mensalão há sete anos, hoje tem afirmado que o mensalão nunca existiu e é produto da mídia. O analfabeto-mór confia na falta de memória dos brasileiros. Imbuído do espírito de porco que me acometera na madrugada, perguntei à petista atroz de que Lula se desculpava. Estava pedindo desculpas à nação por algum verbo mal conjugado ou plural mal flexionado? Que me dissesse então de que ele se desculpava.
- Não vou mais perder meu tempo com alguém que além de desagradável, é muito ignorante, que não sabe interpretar o que le, e ainda: se acha o tal , não aceita que um trabalhador seja presidente e usa a palavra MENSALÃO com tanta vontade que deve ser um dos defensores do mesmo nos governos anteriores. Prefiro um LULA que não conjugue verbos com tanta facilidade do que um BURGUES, NEOLIBERAL e REACIONÁRIO ... ah ainda bem que não somos amigos nem aqui no face.... só mais uma coisa: se quer saber do que o LULA se desculpou, procure uma professora que o ensine a interpretar!!!!!
Acontece que, em meio à madrugada, eu não tinha professora ao alcance da mão. Mas aquele “burguês, neoliberal e reacionário” me rejuvenesceu. Transportou-me aos anos 70, quando eram os palavrões ideológicos prediletos das esquerdas. Menos o neoliberal, que surgiu mais recentemente.
Daqui a dois dias, começa a ser julgado o mensalão que nunca existiu. O PT confia na fé de seus militantes. Só mesmo uma fé, firme e cega, para remover mensalões.
Político, por definição, é um homem que mente. As regras do jogo o impelem necessariamente a mentir. O que importa é arrebanhar votos. Político diz o que cada platéia pede. E omite tudo o que cada platéia rejeita. Se não mente por intenção, mente por omissão. Se não mente hoje, mentirá amanhã. Políticos pertencem a partidos. Precisam seguir a política de seus partidos, mesmo que dela discordem. Se o partido decide fazer coligação com um canalha, o candidato tem de aderir ao canalha. Vimos isto recentemente, com todas as letras, o impoluto Lula abraçando o malvado Maluf, procurado em todos os países – menos no Brasil – pela Interpol. Vimos também seu delfim para a prefeitura paulistana, o tal de Haddad que quase ninguém conhece, tendo de engolir a ignomínia.
Faz mais de vinte anos que não voto. Meu último voto, confesso sem pejo algum, eu o dei a Collor. Não por seus belos olhos. Mas porque o outro candidato era Lula. Hoje, se ainda votasse, entre Lula e Maluf, votaria no “esforçado filho do imigrante árabe”, como já foi chamado. No que, suponho, não seria reprovado por nenhum petista. Afinal, Maluf hoje é unha e carne com Lula.
Há quem julgue que o PT tem origens operárias. Outro dia, encontrei na rua meu urologista predileto – aquele das leituras teológicas – e ele me perguntou:
- Sabias onde o PT foi fundado?
Sabia. Foi em um colégio de elite de meu bairro, o Sion. Onde estudou a aristocrática Marta Teresa Smith de Vasconcelos Suplicy. Meu urologista imaginava que fosse num sindicato do ABC, como muitos imaginam. PT nada tem a ver com trabalhador. Tem a palavrinha na sigla por devoção a um mito do século XIX, o de que a redenção da humanidade residiria na classe proletária. Nunca residiu. O século passado o demonstrou sobejamente.
Antes mesmo de o PT existir, eu denunciava o PT. Explico. O PT nasceu em 1980. Ora, desde 75, quando colunista da Folha da Manhã, em Porto Alegre, eu desfechava minhas baterias contra senhores como Marco Aurélio Garcia, Tarso Genro, Flávio Koutzii, Luiz Pilla Vares, os pais fundadores do partido no Rio Grande do Sul. Sem falar no que escrevi contra a ideologia que os alimentava. Contra o Tarso, o que escrevi daria uma pequena antologia. Que eram todos comunistas, até as pedras da Rua da Praia sabiam. Mas ai de quem dissesse que eram comunistas! Era um infame delator, um reles dedo-duro. Em pleno regime militar, ser comunista servia como escudo protetor.
Entendo que um adolescente, lá pelos anos 80, votasse no PT. Um jovem ainda não teve tempo de ler o necessário para visualizar o DNA do partido. O PT é filho de uma partouse entre a Igreja Católica e os diversos grupos comunistas e anarquistas que vicejavam no Brasil. Conseguiu consolidar-se uma década antes da queda do Muro. Tivesse surgido depois dos anos 90, não teria cacife para chegar ao poder.
Que pobres diabos que se beneficiam de esmolas estatais votem no PT, isto também entendo. O que não se entende é ver pessoas adultas e bem informadas, intelectuais, funcionários públicos e professores universitários votando em um partido que nasce obsoleto, em um candidato tosco e semi-analfabeto. Pior ainda, que ostenta como virtude sua falta de instrução. Verdade que desde fins do século XIX alimentou-se o mito da salvação pelo proletariado. Ora, os eleitores de hoje tiveram mais de um século para constatar que proletários não salvam ninguém.
O PT nasceu no Estado mais politizado do país, embalado pela USP e pela Igreja. Por essa mesma USP que foi a grande difusora do marxismo no Brasil e por essa mesma Igreja que o adotou através da sedizente Teologia da Libertação. A eleição de Lula, apoiada pelas elites intelectuais do país em pleno século XXI, significou que estas elites ainda vivem espiritualmente no século XIX.
Mesmo assim, certa vez dei meu voto ao PT. Não que vote em partidos. Nas raras vezes em que votei, votei em pessoas. Nos anos 70, havia em Porto Alegre um engraxate, uma dessas figuras que lê sem método algum, o que não era incomum naqueles anos. Imbuído de um marxismo vulgar misturado a certas idéias anarquistas, tinha uma cadeira na praça da Alfândega. Enquanto lustrava sapatos, discorria sobre o homem e o mundo. Resolveu candidatar-se a vereador. Pelo PT. Considerei que se sentiria melhor sentado em uma curul na Câmara Municipal do que engraxando ajoelhado ante sua cadeira na praça.
Votei nele. Foi eleito. Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza. O poder subiu-lhe à cabeça. Algumas semanas depois, já andava caçando empregadinhas na rua, em seu carro funcional. Morreu de forma infame o pobre diabo, esfaqueado em uma briga com um seu vizinho. Descobri então que, em se tratando de política, nem em engraxate se pode confiar.
Nos últimos anos, nutri simpatias por um deputado federal paranaense, eleito pelo PSDB. Em seus pronunciamentos, era sempre objetivo, correto, preciso, sem jamais apelar ao bla-bla-blá de políticos. Se um dia voltasse a votar, pensei, tenho um nome. Esse homem é honesto.
Era. Hoje está flertando com o PT. Nada como o tempo para ensinar. Ainda bem que havia tomado a decisão de não votar. Se houvesse votado neste senhor, hoje estaria envergonhado de ter sido enganado como uma criancinha depois de velho. Político, quando não faz na entrada, faz na saída.
Os franceses fazem uma distinção entre politique politique e politique politicienne. Por politique politique, entende-se a grande política, a administração da polis. Por politicienne, a pequena política, a politicagem. Ontem, zapeando no Facebook, encontrei uma conclamação a participar de política. Não da politique, mas da politicienne.
Alguém aventou: política é sinal de corrupção. A interlocutora que teclava do outro lado reagiu: “é esse o senso comum que a mídia com muita competência, faz as pessoas acreditarem, que nenhum político presta, daí os corruptos podem fazer o que lhes der na cabeça e os ignorantes políticos permitem isso com essa posição. Então indiretamente quem não se envolve em política também, é responsável por toda essa lama de corrupção que felizmente, não são todos os políticos que se envolvem não”.
Tomado de um espírito de porco que às vezes me acomete nas madrugadas, decidi divertir-me um pouco. Desconfiei que se tratava de mensagem de petista. Não deu outra. Militante se queixando da mídia, só podia ser petista. Mídia era bom quando denunciava as corrupções do Sarney, Collor, quando denunciava o plano real. Quando denuncia as corrupções do PT, a mídia vira burguesa. Lá pela meia-noite, decidi provocar:
- Não é bem que nenhum político preste. E sim que nenhum político do PT presta. Os outros, de modo geral, também não prestam. De vez em quando se salva algum. Mas uma só andorinha não dá quorum.
A resposta veio de bate-pronto:
- Os politicos do PT sao os que prestam os outros sao uma corja que por muitos anos depenaram esse pais, só nao ve isso quem é muito ignorante mesmo ou então que é igual a eles. mas quem ta na "sorbonne" não ve nada disso só ve e ouve a mídia burguesa e aquilo que quer ver e ouvir,portanto sua opinião pra mim não vale nada.
Não sei o que me causou mais perplexidade. Se ouvir dizer que “os politicos do PT sao os que prestam” ou ouvir falar em mídia burguesa. Burguesia é palavrinha que hoje só alguns desvairados ao estilo de Luciana Genro ou demais militantes do PSOL ainda usam.
- Ok! – respondi -. Então por favor cite um só deputado do PT que condene os mensaleiros. Ou você é daqueles militantes que acham que o mensalão é criação da imprensa? Você fala em mídia burguesa. Ora, burguesia é palavra que morreu com o muro de Berlim. Nem o Zé Dirceu ousaria pronunciar hoje a palavrinha.
A reação foi surpreendente:
- vc é a própria figura da burguesia, e não vou te citar deputado do pt contra o mensalão, porque todos que são inteligentes, sabem bem que é mesmo um produto da mídia e que sempre foi usado por governos anteriores e ninguém falava nada.O próprio Roberto Geferson ja reconheceu que o mensalão foi um bom produto de marketing.
Essa agora! Mensalão é produto da mídia burguesa. A gente vive e não ouve tudo. Aventei que até Lula, o líder máximo das hostes petistas, já havia pedido desculpas pelo mensalão. E citei seu discurso de agosto de 2005:
“Queria, neste final, dizer ao povo brasileiro que eu não tenho nenhuma vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós temos que pedir desculpas. O PT tem que pedir desculpas. O governo, onde errou, tem que pedir desculpas, porque o povo brasileiro, que tem esperança, que acredita no Brasil e que sonha com um Brasil com economia forte, com crescimento econômico e distribuição de renda, não pode, em momento algum, estar satisfeito com a situação que o nosso país está vivendo”.
A moça, que afinal de contas não era tão moça assim, que o diga seu vocabulário pré 1989, reagiu violentamente:
- Vi esse video agora e vi também a entrevista na época. Se vc fosse inteligente ou bem intencionado, saberia interpretar o pedido de desculpas do nosso presidente, que não tem nada a ver com essa coisa toda, mas ja vi que vc só sabe ver, ouvir e interpretar o que interessa à tua ideologia, deve ser isso que a "sorbonne” te ensinou né, fazer o que?
Isto é, um pedido óbvio de desculpas pelas falcatruas do PT exige agora um hermeneuta. Precisa ser interpretado. Suponho que seja inclusive esta a posição de Lula. Pois, apesar de ter se desculpado pelo mensalão há sete anos, hoje tem afirmado que o mensalão nunca existiu e é produto da mídia. O analfabeto-mór confia na falta de memória dos brasileiros. Imbuído do espírito de porco que me acometera na madrugada, perguntei à petista atroz de que Lula se desculpava. Estava pedindo desculpas à nação por algum verbo mal conjugado ou plural mal flexionado? Que me dissesse então de que ele se desculpava.
- Não vou mais perder meu tempo com alguém que além de desagradável, é muito ignorante, que não sabe interpretar o que le, e ainda: se acha o tal , não aceita que um trabalhador seja presidente e usa a palavra MENSALÃO com tanta vontade que deve ser um dos defensores do mesmo nos governos anteriores. Prefiro um LULA que não conjugue verbos com tanta facilidade do que um BURGUES, NEOLIBERAL e REACIONÁRIO ... ah ainda bem que não somos amigos nem aqui no face.... só mais uma coisa: se quer saber do que o LULA se desculpou, procure uma professora que o ensine a interpretar!!!!!
Acontece que, em meio à madrugada, eu não tinha professora ao alcance da mão. Mas aquele “burguês, neoliberal e reacionário” me rejuvenesceu. Transportou-me aos anos 70, quando eram os palavrões ideológicos prediletos das esquerdas. Menos o neoliberal, que surgiu mais recentemente.
Daqui a dois dias, começa a ser julgado o mensalão que nunca existiu. O PT confia na fé de seus militantes. Só mesmo uma fé, firme e cega, para remover mensalões.