João Eichbaum
Para receber denúncia que imputava atos de
improbidade administrativa a várias
personalidades políticas, uma juíza federal de Santa Maria armou um circo. A
prática de um ato processual comum fê-la personagem principal de um acontecimento
que atraiu a imprensa, os holofotes, as câmeras, as potentes máquinas
fotográficas, os microfones.
Acontece que os réus não
eram pés de chinelo. Eram políticos, empresários, detentores de altos cargos na
administração pública. E quem mais chamava mais atenção era uma das “rés”, a
então governadora Ieda Crusius, que disputaria com o também então ex-ministro
da justiça, Tarso Genro, que começou como poeta em Santa Maria, o cargo de governador do Estado
do Rio Grande do Sul.
O ex-futuro poeta Tarso Genro,
evidentemente, tinha todo o interesse em armar um circo, em chamar a atenção da
população, já que, como candidato, dele próprio nada tinha a oferecer: nunca, em qualquer cargo que ocupou, mostrou competência, fez história, deixou nome.
Nunca passou de simples político.
Para o Ministério Público,
tudo bem, ótimo. Como gosta de aparecer, botou paletó e gravata para ir à
imprensa erguer sua voz contra os “atos de improbidade” dos políticos,
empresários e administradores denunciados, contra os quais “não ia ter moleza”.
Tudo como queria o senhor Tarso Genro.
E aí a “justiça” também
entrou na festa: não podia perder essa oportunidade, porque afinal nunca, até
então, uma figura tão proeminente como uma governadora do Estado lhe caíra nas
mãos.
Depois de todo aquele circo,
a juíza se prestou ainda para mostrar a todo o povo do Rio Grande do Sul sua
qualidades atléticas, trepando em muros e paredões. Nada a ver com o processo,
claro. Mas ela foi foco de várias notícias, por algum tempo se manteve na
crista da onda.
Depois, a governadora Ieda,
graças a um recurso interposto no STJ, foi retirada do processo. Na moita, em
silêncio, ao contrário do que afirmara o Ministério Público, mais onze “réus” tiveram moleza, foram afastados do processo. E aí o processo perdeu
a graça, ninguém falou mais nisso, a juíza nunca mais foi vista nem ouvida.
Agora, em matéria publicada
na ZH de domingo em que a juíza aparece com uma carinha de noviça, se diz que
ela é “discreta” e pensa “em fazer o que faz com processos menos vistosos:
divulgar as conclusões no site da Justiça Federal”.
Será que a juíza se deu
conta de que servira de “garota propaganda” para a eleição do Tarso Genro, ou
amadureceu, depois daquele espetáculo circense com 44 réus, doze dos quais
foram excluídos, numa demonstração de que a denúncia, antes de servir como
espetáculo, deveria ter sido examinada com a serenidade de um jurista?
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