FILHA MAIS VELHA
ABRE AS PERNAS
Janer Cristaldo
Aconteceu em Lyon, França, nos anos 70. Um bolsista gaúcho, querendo fazer uma
festa a seus colegas, ofereceu-lhes um churrasco. Entre os convivas havia um
árabe. O assado era de leitão, mas o anfitrião preferiu dizer que era de
cordeiro. Assador de mão cheia, ninguém reclamou da comida. Quis saber o que
havia achado o árabe. Havia adorado o churrasco.
Pelo menos até saber que não era de cordeiro, mas de porco. Ao saber o que
havia comido, começou a vomitar. Ora, é preciso ter o fanatismo impregnado nos
gens, para vomitar ao saber que a comida da qual havia gostado sabendo que era
de cordeiro, na verdade era de porco.
Não é que eu queira voltar ao tema. O tema é
que volta a mim. A revista Le
Pointtraz uma série de reportagens sobre os avanços do Islã na França,
atropelando hospitais, cantinas, piscinas, programas escolares. O conflito
chegou aos jardins de infância. Pais muçulmanos não aceitam que uma filha seja
vigiada durante a siesta por um professor. Um menino tapa as próprias orelhas em
uma escola de Courcouronnes no momento de ouvir música com os outros, porque é
contrário ao Islã.
Em uma empresa que pratica o jejum de Ramadã proíbe aos demais de comer. Uma
instrutora manager recebe em seu celular um SMS aconselhando-a a se portar como
uma boa muçulmana, retirar sua maquiagem e se vestir de outra forma. Há recusas
de apertar a mão de colaboradoras ou de dividir o escritório com uma mulher.
“Muitos não desejam se comportar assim – diz Laurent Depont, que ocupa o
curioso cargo de Diretor de Diversidade na empresa Orange, com mais de cem mil
funcionários -, mas são ostracizados por seus colegas. Acabam fazendo a mesma
coisa para serem reintegrados”. Mulheres veladas recusam-se a posar para a foto
do crachá da empresa ou exigem ser fotografadas unicamente pelo marido.
Nos hospitais, as muçulmanas exigem ser
atendidas por médicas. Ginecologistas, no masculino, nem pensar. Ocorre que o
número de ginecologistas mulheres, na França, é bem menor que o de homens, e
elas estão sobrecarregadas de trabalho. Na Academia de Medicina, as queixas se
acumulam: recusa de tomar medicamentos durante o ramadã, recusa de tirar o véu
em salas de trabalho, recusa de qualquer cuidado quando este é praticado por um
homem sobre uma mulher, ataques de cólera quando o paciente percebe que um
remédio continha gelatina de porco, recusa de ser tratado por um canhoto.
Houve caso, há menos de um ano, de uma muçulmana que teve um colapso por ter
parido sobre um gramado, após ter deixado precipitadamente uma maternidade onde
só havia homens para cuidar dela.
Nas cantinas, o conflito é maior. Para começar, queixas de crianças de apenas
três anos, que gritavam “é nojento” cada vez que se lia “Os três porquinhos”.
Sentiam-se enojadas não pelo lobo mau, mas pelos inofensivos protagonistas da
história, os porquinhos, animais considerados impuros pelos pais das crianças.
Continuando, cestas de lixo que se enchiam misteriosamente de bombons nos dias
de festas de aniversário, largados por crianças de sete anos, porque continham
gelatina de porco.
A religião tomou conta das creches. Nas
cozinhas, desapareceram as garrafas de vinagre desapareceram, porque contém
vinho, e as facas que serviram para cortar carne não-halal são afastadas. Com a
adoção de menus sem carne de porco, mesas diferentes foram criadas e se
formaram grupos. Nos grupos por afinidade religiosa a pressão é forte.
Muitas crianças se sentem obrigadas a recusar carne de porco, com medo de serem
tratadas de “maus muçulmanos”. Estas crianças estão abandonando as cantinas,
não por razões financeiras, mas religiosas. O problema não é só o porco, mas
também a carne, que as crianças deixam em seus pratos, por não ter sido
preparada segundo o ritual halal. Há quem deixe de lado até mesmo os legumes
que a acompanham.
Em meio à indefinição legislativa, os prefeitos se atolam em questionamentos
insolúveis: será necessário, em nome da laicidade, optar por uma mesma comida
para todos e dela privar certos alunos? Como não é fácil fazer arranjos
específicos, o prefeito de Aulnay-sous-Bois propõe pratos sem carne. Em
respeito aos muçulmanos, seja vegetariano.
Em Villeurbaine, encontrou-se uma solução
peculiar. Cada aluno deve colocar um cartão colorido sobre o prato. Azul para o
menu standard, verde para os sem-carne e amarelo para os sem-porco. Imigrantes
que chegam na França para matar a fome, recebem educação, saúde e comida,
coisas às quais nem sempre têm acesso em seus países. Na hora do atendimento,
não aceitam ler historinhas que têm porcos como personagens, mulheres não
aceitam médicos homens, crianças recusam carne de porco ou qualquer carne de
animal não abatido segundo o ritual halal. E os franceses, em nome da
diversidade cultural e do respeito às crenças religiosas, aceitam bovinamente
estas exigências absurdas dos mortos de fome.
Os conflitos se estendem ao mundo dos esportes. Na última Copa do Mundo,
descobriu-se que um bufê halal foi imposto à equipe de futebol dos Azuis (os
franceses), para não criar conflito com os muçulmanos. Os jogos têm de
respeitar os horários das preces. Sem falar que muçulmano não aceita jogar
durante o ramadã. As datas dos jogos são pautadas pelos cabeças-de-toalha.
No futebol feminino, a Fifa autorizou o porte do hidjab pelas atletas nas
competições internacionais. A Federação Francesa de Futebol bateu pé e manteve
a proibição do véu islâmico nos jogos nacionais e na seleção, invocando a
“preocupação de respeitar os princípios constitucionais e legislativos da
laicidade que prevalecem em nosso país e que constam dos estatutos”.
A França cede em todos os fronts. Cá e lá,
alguma voz isolada toma a defesa da sensatez. Frederic Thiriez, presidente da
Liga de Futebol Profissional, não transigiu: “Legitimar hoje o uso do véu nos
campos é infringir uma terrível rejeição, a todos aqueles, homens e mulheres,
que lutaram durante anos pela universalidade do esporte e pela emancipação da
mulher”. Mas agora é tarde.
Em meio a isso, a revista francesa entrevista Tarik Ramadan, professor suíço
que faz uma defesa acirrada do Islã no Ocidente. Para Ramadan, o Islã é uma
religião francesa. O que o professor quer, no fundo, é legitimar comportamentos
que ferem não só as conquistas francesas no campo dos direitos humanos, como
inclusive sua legislação. Islamismo nunca foi religião francesa. A rigor, nem
mesmo o cristianismo. As religiões monoteístas contemporâneas surgiram no
deserto. Mais precisamente, no que hoje chamamos de Oriente Médio. Deus nasce
da areia.
Se a França tem uma religião, esta é o cristianismo, adotado em decorrência da
expansão do poder romano e por imposição de Constantino. Mais precisamente, o
catolicismo. Tanto que a França é conhecida historicamente como “la fille aînée
de l’Église”. Pois seus reis são sucessores diretos de Clovis Iº, primeiro rei
bárbaro a ser batisado cristão.
Se o Islã ocupa hoje o segundo lugar na
França, em número de seguidores, isto não significa que seja uma religião
francesa. É, isto sim, uma religião hostil e invasora, que não concebe a idéia
de um Estado laico. A Europa também já foi teocrática. A experiência histórica
dos europeus levou-os a considerar que é melhor separar Igreja de Estado.
Religião, quando unida ao poder do Estado, é incompatível com democracia. Os
muçulmanos ainda não chegaram lá. E pelo jeito não chegarão tão cedo.
Impossível considerar religião francesa uma religião que pretende legislar
sobre uma nação. Estes conflitos todos, entre europeus e muçulmanos, decorrem
do fato de que o Islã não aceita outras leis senão as de Alá. Jeová ou Cristo
há muito não apitam na Europa, e disto decorre o desenvolvimento do Velho
Continente.
Sem ser teísta, acho muito triste ver a filha mais velha da Igreja abrindo as
pernas para o obscurantismo islâmico. Uma quinta-coluna esquerdista está
entregando o continente aos bárbaros. O pior é que esta traição não tem volta.
Os comunistas falharam na tentativa de destruir a Europa com o marxismo. Estão
agora tentando via Islã. Parece que desta vez vai.