segunda-feira, 12 de novembro de 2012


A INTELIGÊNCIA É INIMIGA DA VIRTUDE

João Eichbaum

O homem é o mais inteligente dos animais, o mais malicioso, o mais concupiscente, o mais vaidoso, o mais ganancioso e, exatamente por tudo isso, o mais feroz. Só não é o mais preguiçoso, porque a inteligência lhe impede que seus esforços sejam limitados, quando tem em mira as satisfações exigidas pelo ego.
Por ser o mais inteligente, ele concebe e fabrica as armas que, subsidiando suas forças, o tornam mais feroz do que qualquer outro animal, quando se trata de derrotar o inimigo, ou de conquistar alvos ditados por seus interesses.
É o mais malicioso porque, também usando de sua inteligência, concebe armadilhas, materiais ou morais, para atingir seus objetivos: a concupiscência, a ganância, a vaidade.
A serviço da concupiscência, que é a exacerbação da necessidade sexual imposta pela natureza, ele não poupa a inteligência, nem aceita limites, a ponto de transformar em objetivo do sexo atividades fisiológicas destinadas para outros fins.
Mais armadilhas do que armas o homem coloca a serviço de sua vaidade. Com a sedução ele conquista a fama, que é a mais aguda materialização da vaidade.
Mas o alvo maior da ganância do homem é o poder, exatamente porque esse lhe proporciona dinheiro e satisfação da concupiscência e da vaidade.
Como se vê, é um verdadeiro círculo vicioso, que começa no ego e volta para esse ego em forma de satisfação, ou de frustração, porque não se pode esquecer que todos os concorrentes da espécie querem os mesmos objetivos e muitos deles têm armas ou armadilhas mais eficientes.
É por isso que a vida não é outra coisa senão um monstruoso “salve-se quem puder”: poucos têm muito, muitos têm pouco, outros, nem sentido têm para viver. E sendo um círculo vicioso, nada, até hoje, conseguiu transformar o homem. A maior das tentativas talvez tenha sido a do cristianismo, que está fracassando cada vez mais, exatamente porque a ideia foi concebida e desenvolvida por homens, que podem escapar de alguns, mas não de todos os defeitos, exacerbados pela inteligência.
Afinal, só há uma vaidade maior do que a de criar uma filosofia de vida, considerando-a inspiração divina: a de se atribuir a infalibilidade como “representante” de Deus na terra.

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