O MENSALÃO NO JOSÉ DIRCEU
João Eichbaum
joaoeichbaum@gmail.com
O José Dirceu está revoltado
com o julgamento do mensalão. Para ele, a sentença que lhe impuseram é injusta.
Não, a sentença não é
injusta. É injurídica. Injusta não é porque, se o José Dirceu tivesse
consciência limpa, ele reconheceria que, na sua vida pública e privada,
aprontou tantas e boas, que uma cadeia de alguns pares de anos estaria de bom
tamanho: um cara que faz cirurgia plástica e muda de nome comete crime de
falsidade ideológica ou, no mínimo, de falsa identidade. A pena que lhe foi
imposta agora é com juros.
A sentença, em razão da qual
ele foi condenado a mais de dez anos de prisão, não representa uma injustiça.
De um jeito ou de outro ele devia pagar pelo que fez.
A sentença é injurídica,
repito, mas não é injusta.
É injurídica porque aquele
calhamaço que o Joaquim Barbosa leu, durante mais de três meses, não é uma
sentença: é um relatório. Um relatório de fatos de que o Barbosa, pinçando
daqui, pinçando dali, fez uma costura na
base de presunções e deu no que deu: uma coisa chamada sentença.
O Lewandowski tentou mostrar
os erros, as incongruências, a falta de fundamentação e, sobretudo, a falta de
provas. Não teve êxito: todos, à exceção de Toffoli, estavam preparados para
condenar o José Dirceu. As duas mulheres, a Rosa Weber e a Carmen Lúcia, por
não entenderem coisa nenhuma de Direito Penal, não teriam cacife para destruir
o voto do Barbosa. Os demais, como eu
disse, já estavam preparados para condenar. O Celso de Mello, o mais culto de
todos os ministros, porque sua memória privilegiada guarda tudo o que ele lê,
já tinha uma diatribe própria, sem fundamentos, sem alusão a provas, mas com
uma contundência capaz de suprir aquilo que mais se exige em Direito Penal, que
é a certeza da materialidade e da autoria do delito.
Uma condenação sem provas,
como foi o caso da condenação de José Dirceu, nem sempre há de ser uma
condenação injusta, mas com certeza é uma condenação injurídica.
Então, o José Dirceu não tem
razão. Ele contava com as garantias do direito de defesa, esquecido de que a
vaidade dos ministros do STF é bem maior do que a sabedoria dos próprios. Então venceu a
vaidade, que praticou justiça por vias travessas: menosprezou o Direito, para
condenar o artífice de um projeto de conquista do poder, em cujo currículo a
única virtude que não comparece é a honestidade.
Mas, se a injurídica
sentença servir de base legal para o exílio do José Dirceu na Venezuela, o
fiasco do STF vai ser bem maior do que o destempero do Joaquim Barbosa.
Pediu, levou.
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