POSSE NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
João Eichbaum
Dois mil e quinhentos
convidados. Casa cheia. Todo mundo com a melhor roupa. Alguns, com roupa sob medida,
para a ocasião especial, uma festa que parecia dedicada a alguém que não pertence
a este mundo. Nunca houve tanta transparência no Supremo, o preto no branco.
Teve gente que jamais pensou em pisar naquele solo sagrado dos deuses de toga,
e estava lá. Por ser negro, em primeiro lugar. Em segundo lugar, por ser
artista, cantor: o Djavan, o Martinho da Vila, o Lázaro Ramos, o Milton
Gonçalves.
Mas, também marcavam
presenças aquelas figurinhas capazes de estragar a festa de qualquer pessoa
decente. Porque, naquele momento, até os ateus se lembrariam de Jesus Cristo no
Calvário. De um lado, o Marco Maia, siderúrgico de Canoas, transformado em
Presidente da Câmara dos deputados, sem outras razões nem méritos, que não
barganhas, quer dizer, surubas políticas: é dando que se recebe. Do outro, eternamente vacinado contra a
vergonha, o poeta, aquele lá do Maranhão, com a cara de pau de sempre, que só
um Sarney pode ter.
A Dilma, gorda e bem
pintada, cumprimentou formalmente o afrodescendente mais famoso da atualidade
brasileira, o Joaquim Benedito, conhecido popularmente por Joaquim Barbosa. Negou-lhe,
porém, o esplendor do seu sorriso, apesar da boca cheia de dentes, naquele
momento solene, porque estava louca de vontade de mandar o clone de São
Benedito à puta que pariu.
O contrário ocorreu, quando
ela foi cumprimentar o vice-presidente da Corte, Ricardo Lewandowski. Aí,
extravasou, não quis saber de cerimônias, não tava nem aí pra solenidades.
Suspirou sem querer, e tacou um beijão no cara pálida, descendente de polacos.
Ah, e além do hino da pátria
tocado em bandolim, houve comes e bebes, claro, pagos por nós, que somos
depenados todos os anos pela Receita Federal, trabalhamos de sol a sol, não
temos motoristas particulares, nem carros oficiais, muito menos diárias e
ajudas de custo, e não fomos convidados nem com a ajuda de Deus para a festa:
uísque (que não era o Drurys, aquele que, uma vez por ano, você toma com a
patroa, no bar da esquina, pra limpar a barra) vinho, espumante e canapés. Tudo
isso aos cuidados de uma irmã do Joaquim Barbosa, numa prova de que, já na
entrada, o “brother” se despe do pudor: “Mateus, primeiro os meus”. Ou vocês pensam
que não há um serviço de copa e cozinha no STF? Que não há funcionários
especializados nessa parte, para preparar aquele lauto lanche, com o qual
jamais sonhou a pobreza, e que é servido todas as tardes, lá no Olimpo?
É. A irmã do Barbosa é que
foi a “maîtresse”. Mas eu só queria saber se, não contente com a limpeza dos
sanitários, ele, que leva uma vida de celibatário, sem mulher fixa, mandaria
chamar a irmã para fazer a faxina.
Só não deixou que ela
contratasse os músicos. Do alto do seu trono de glória, ele próprio se encarregou de ordenar o
som da festa, com o respectivo repertório cheio de discriminação: nada de sertanejo
e nem “funk”. Então o Fux pegou a guitarra, abriu a goela e distraiu os presentes
com aquele inglês chiado de carioca, mostrando que o STF perde juristas, mas
ganha artistas.
E aí temos o Joaquim Barbosa
na presidência do STF. Já vimos como foi a entrada. Agora vamos ver o que vai
dar na saída.
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