segunda-feira, 26 de novembro de 2012


POSSE NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
João Eichbaum

Dois mil e quinhentos convidados. Casa cheia. Todo mundo com a melhor roupa. Alguns, com roupa sob medida, para a ocasião especial, uma festa que parecia dedicada a alguém que não pertence a este mundo. Nunca houve tanta transparência no Supremo, o preto no branco. Teve gente que jamais pensou em pisar naquele solo sagrado dos deuses de toga, e estava lá. Por ser negro, em primeiro lugar. Em segundo lugar, por ser artista, cantor: o Djavan, o Martinho da Vila, o Lázaro Ramos, o Milton Gonçalves.
Mas, também marcavam presenças aquelas figurinhas capazes de estragar a festa de qualquer pessoa decente. Porque, naquele momento, até os ateus se lembrariam de Jesus Cristo no Calvário. De um lado, o Marco Maia, siderúrgico de Canoas, transformado em Presidente da Câmara dos deputados, sem outras razões nem méritos, que não barganhas, quer dizer, surubas políticas: é dando que se recebe.  Do outro, eternamente vacinado contra a vergonha, o poeta, aquele lá do Maranhão, com a cara de pau de sempre, que só um Sarney pode ter.
A Dilma, gorda e bem pintada, cumprimentou formalmente o afrodescendente mais famoso da atualidade brasileira, o Joaquim Benedito, conhecido popularmente por Joaquim Barbosa. Negou-lhe, porém, o esplendor do seu sorriso, apesar da boca cheia de dentes, naquele momento solene, porque estava louca de vontade de mandar o clone de São Benedito à puta que pariu.
O contrário ocorreu, quando ela foi cumprimentar o vice-presidente da Corte, Ricardo Lewandowski. Aí, extravasou, não quis saber de cerimônias, não tava nem aí pra solenidades. Suspirou sem querer, e tacou um beijão no cara pálida, descendente de polacos.
Ah, e além do hino da pátria tocado em bandolim, houve comes e bebes, claro, pagos por nós, que somos depenados todos os anos pela Receita Federal, trabalhamos de sol a sol, não temos motoristas particulares, nem carros oficiais, muito menos diárias e ajudas de custo, e não fomos convidados nem com a ajuda de Deus para a festa: uísque (que não era o Drurys, aquele que, uma vez por ano, você toma com a patroa, no bar da esquina, pra limpar a barra) vinho, espumante e canapés. Tudo isso aos cuidados de uma irmã do Joaquim Barbosa, numa prova de que, já na entrada, o “brother” se despe do pudor: “Mateus, primeiro os meus”. Ou vocês pensam que não há um serviço de copa e cozinha no STF? Que não há funcionários especializados nessa parte, para preparar aquele lauto lanche, com o qual jamais sonhou a pobreza, e que é servido todas as tardes, lá no Olimpo?
É. A irmã do Barbosa é que foi a “maîtresse”. Mas eu só queria saber se, não contente com a limpeza dos sanitários, ele, que leva uma vida de celibatário, sem mulher fixa, mandaria chamar a irmã para fazer a faxina.
Só não deixou que ela contratasse os músicos. Do alto do seu trono de  glória, ele próprio se encarregou de ordenar o som da festa, com o respectivo repertório cheio de discriminação: nada de sertanejo e nem “funk”. Então o Fux pegou a guitarra, abriu a goela e distraiu os presentes com aquele inglês chiado de carioca, mostrando que o STF perde juristas, mas ganha artistas.
E aí temos o Joaquim Barbosa na presidência do STF. Já vimos como foi a entrada. Agora vamos ver o que vai dar na saída.



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