terça-feira, 13 de novembro de 2012


DESAPARECIDA EM APARECIDA

João Eichbaum

Há cerca de um mês, um casal de idosos, ele com 82 anos e ela com 77, tomou parte numa excursão à Basílica de Nossa Senhora Aparecida. Ambos, fervorosos católicos, desses que gastam sua velhice com atividades participativas na paróquia onde residem, foram a Aparecida, movidos pela fé.
Lá chegados, entregara-se ele à piedosa ocupação de acender velas para pedir ou agradecer benefícios da Virgem Maria, enquanto sua esposa contemplava as belezas do templo. Ao voltar-se para se juntar a ela, não a encontrou. Foi até a porta da igreja e também não a viu. Meteu-se à sua procura entre os magotes de peregrinos que por ali circulam o dia todo, sem sucesso.
Ela que, segundo consta, às vezes tem a memória comprometida, teria dito a circunstantes, na porta da igreja: “vou para casa”.
Desde aquele dia a família não descansa e, embora já tenham sido mobilizados todos os meios, incluindo a direção da igreja, a polícia e alguns meios de comunicação, até agora não há pistas sobre o paradeiro da idosa.
Ontem, por acaso, me detive por alguns minutos na TV Rede Vida. É um canal de televisão de propriedade dos religiosos responsáveis pela basílica Nossa Senhora Aparecida. Naquele canal, cujo objetivo principal é difusão de temas ligados à religião católica, transmitem-se missas, sermões, fala-se muito no “amor de Deus” e nas “graças da Senhora Aparecida”. Mas o que me chamou a atenção, verdadeiramente, foi um quadro publicitário que apresenta pessoas prestando depoimentos, exaltando  milagres, curas, graças e melhorias de vida, atribuídas àquela personagem que a Virgem Maria encarna, sob o nome de Nossa Senhora Aparecida.
Parece que a Virgem de Aparecida discrimina, e discrimina sem critérios. Enquanto “concede graças” para alguns, deixa que o destino se encarregue de fazer o que quiser com uma senhora idosa, sem rumo, sem referência, que outra coisa não faz na vida senão rezar e pedir graças. O misterioso desaparecimento, de dentro do Santuário, que tem a denominação de Aparecida, soa como verdadeira contrapropaganda.
E o resultado dos insucessos das orações perante a Senhora Aparecida é que os familiares da desaparecida já estão correndo atrás de curandeiros e espíritas, em busca do benefício que lhes foi negado.
Isso é a prova de que aquilo a que denominam “fé” não é senão um sentimento, e que está sujeito a mutações tanto quanto qualquer outro sentimento.
Reaparecendo a idosa, e espero que isso aconteça, quero ver quem vai levar os louros do milagre: a Virgem Aparecida, os curandeiros ou os adeptos de Xico Xavier, que não jogam no mesmo time.
A menos que ela tenha fugido com o sacristão.

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