quinta-feira, 3 de janeiro de 2013


A SUPREMACIA DO CRIME

João Eichbaum

Recapitulando: oito bandidos fizeram trinta pessoas reféns, roubaram-nas, explodiram uma fábrica de jóias e se defrontaram com a Polícia Militar, quando fugiam com o produto do crime. Três deles foram abatidos. Os outros se embrenharam no mato e fizeram mais nove reféns. Depois de vinte horas, os reféns foram libertados, enquanto os criminosos retomavam o caminho da fuga.
A polícia, com um aparato de guerra, fez um cerco aos bandidos. Cerca de cem homens, fortemente armados e acompanhados de cães farejadores se plantaram na área em que se presumia estarem os cinco facínoras, com o objetivo de lhes impedirem a fuga. Os comandantes, com táticas decoradas nos bancos da academia de polícia, apostavam na fome, no sono e no cansaço dos assaltantes.
Nem os cem homens, nem seus cães farejadores, nem a tática do comando conseguiram dominar os bandidos. Eles atacaram mais uma família de colonos, entraram na casa, comeram, beberam e deixaram cinqüenta reais como pagamento pela refeição. Enquanto isso os policiais militares enfrentavam os mosquitos, o cansaço, o sono, a incerteza pelo que pudesse acontecer.
Mantendo um refém, os bandidos seguiram sua fuga, utilizando dois veículos roubados, até serem resgatados por comparsas, que os levaram na direção de Porto Alegre.
De que adiantou o armamento da polícia, de que adiantaram os cães farejadores, de que adiantou aquele bando de homens armados, que teriam feito um “cerco” e acabaram ficando com cara de bobos, ao saberem que cinco bandidos teriam escapado?
Humilhação, pela vitória do crime contra a lei?
Não. Nada de humilhação. Deu a lógica. Homem por homem, cada bandido vale por vinte ou trinta policiais.
 Nenhum bandido aceitaria enfrentar perigos pelo mísero salário de um policial militar. Motivados exatamente pelo objetivo de sua ação delituosa, que era ganhar muito dinheiro, os bandidos tinham entusiasmo, garra, denodo, punham todas suas forças no alcance daquele objetivo.
Os policiais? O que ganhariam eles, além do mísero salário de mil e poucos reais, se pusessem as mãos nos bandidos,? Nem mesmo manchetes. As glórias seriam creditadas aos chefes, aos comandantes, ao Secretário da Segurança, que é secretário não por suas qualidades, mas por afinar com a ideologia do Tarso Genro. E este, então, chamaria para si todos os louros.
Vitória do crime, sim. Vitória da força de vontade contra o tédio. E uma vitória fácil, galinha morta, graças à incompetência do Estado.


Um comentário:

Gigi disse...

Eichbaum, podes ter razão em muito do que dizes, mas é um comentário pessimista. Se é assim, nós, sociedade, perderemos todas?Ao menos a vantagem de organização, estrutura, investigação paciente, deveremos ter.
Obs. Às vezes é trabalhoso provar que não se é robô. Na mensagem sonora, pior.