quarta-feira, 30 de janeiro de 2013


O MUNDO ESTÁ SALVO: PRENDERAM OS GURIS DA BANDA

João Eichbaum
joaoeichbaum@gmail.com

Por ganharem menos do que um motorista do Sarney, os professores da UFSM tiveram que fazer greve. Agora, em janeiro, você estaria na praia, no meio de belas gatas, tomando sua cervejinha, curtindo um descanso merecido, depois do duro ano letivo. Mas teve que ficar aqui, agüentando esse calor de inferno, por causa da maldita greve. Greve feita porque a Dilma, do mesmo modo que o doutor “honoris causa” Lula, não reconhece o valor dos professores universitários.
Então, não havendo outro modo de matar o tempo e esperar as férias, a única coisa que lhe restava  era curtir a noite, na Boate Kiss. E foi pra lá que você foi no sábado.
E aí um dos guris da banda acionou um sinalizador. Primeiro aquelas faíscas. Depois a fumaça, logo a seguir, o pânico desencadeado pelo berro “fogo!”. Então, você não quis saber de mais nada, saiu correndo, acossado pela fumaça. E, com a fumaça, vinha também no seu encalço aquela multidão desesperada. Os gritos, os empurrões, as pessoas que tombavam na sua frente e que você pisoteava, o pavor que se espalhava, não foram superiores ao medo que você sentia de encontrar a morte, antes de encontrar a única porta que o levaria para a vida.
Você teve sorte. Porque conhecia a boate. Sabia que ela só tinha uma saída, que não tinha portas de emergência, nem ventilação suficiente, nem rota de fuga. Você só não sabia que, apesar de tudo isso e ainda com plano contra incêndio já vencido, ela foi liberada pelos bombeiros, os mal pagos soldados do Tarso Genro.
Ainda bem que você não morreu...
Se você tivesse morrido, não saberia que a Dilma Rousseff, abandonando uma reunião no Chile, voou até Santa Maria, comovida, fungando, com lágrimas nos olhos. Ela não conhecia vocês, que estavam na boate, não sabia que vocês existiam, estava se lixando para seus problemas, mas veio voando, para chorar por vocês, para dar um beijo nas mães, para consolar os pais. E trouxe o ministro da Saúde com toda sua equipe. Tudo à nossa custa.
Ah, sim, como você não morreu, você quer saber o que é que veio fazer aqui o ministro da Saúde, depois de um incêndio. Ele não é bombeiro, nem entende nada de rescaldo. Então, saiba que ele veio fazer o que não fez antes: equipar melhor os hospitais.
E como não morreu, você também pôde ficar sabendo que, ao tomar conhecimento da tragédia, o Tarso Genro tratou primeiro de ir ao velório duma senhora de 87 anos, mãe do seu colega político, o José Fortunati, com quem quer se unir para se reeleger governador. Depois veio para mais um de seus atos oficiais funéreos. Como não sabia exatamente o que devia fazer aqui, ele trouxe o Secretário da Segurança, o Chefe de Polícia, e outros mais, para darem explicações. E não as deram. Ninguém aproveitou para inspecionar a vergonheira do presídio, nem explicou porque foi interditada a boate do DCE e não o foi a Kiss.
 Ainda bem que você escapou da prontidão da morte, e pôde ver tudo isso, essa procissão de políticos que, carregando o próprio andor, correram para o local da tragédia, na segunda-feira: onde há tragédias, há povo e câmeras.
Mas nenhum daqueles que representam o poder público bateu no peito, admitindo a falha da máquina estatal. E certamente todos eles respiraram aliviados pela salvação do mundo, quando a Justiça pegou para “Cristo” os guris da banda que tocava na boate.



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