DA ARTE DE SE APROVEITAR DO POVO
João Eichbaum
Foi um espetáculo cinematográfico, digno dos melhores produtores,
daqueles que enriquecem a sétima arte.
Véspera de ano novo, feriadão, considerável parcela da população deixando
os centros urbanos e migrando para o litoral.
Dominado pelo mito, pelos
costumes, pela emotividade, o povo esquece as dificuldades do dia-a-dia e se
envolve totalmente com o clima da festa.
Os profissionais do crime sabem disso. Conhecem esse envolvimento
emocional. Conhecem o clima de Natal e Ano Novo. Sabem que os administradores
da segurança tiram policiais das ruas, para que eles possam fazer boca a boca
com mocinhas que desmaiam no mar.
E tanto sabem que dominaram
facilmente cerca de trinta pessoas que curtiam a vida, descansadamente, num
boliche próximo à fábrica de jóias de Cotiporã. E deram uma lição de
planejamento, de profissionalismo, de como não esquecer detalhes, na construção
de um objetivo. Obrigaram os marmanjos a se desnudarem da barriga para cima, (a
fim de evitar a surpresa de alguma arma escondida). Em cima dessa, veio outra
ordem: todos, homens e mulheres, deveriam ficar descalços (para dificultar possíveis fugas).
Depois de fazerem uma “coleta” de dinheiro e pertences pessoais valiosos
das vítimas, obrigaram-nas a formar um escudo humano, enquanto eles explodiam
portas, paredes e cofres da fábrica. Com sacolas recheadas de ouro, prata e
jóias valiosas, encetaram a fuga, levando consigo alguns reféns.
Quis o destino que, numa curva da estrada, se encontrassem os bandidos,
em fuga, com uma viatura da Polícia Militar. O tiroteio foi inevitável. Por
pura sorte, os reféns não foram atingidos. Mas, Elisandro Falcão, tido como
líder do grupo, e dois de seus companheiros foram abatidos. Mesmo protegido por
dois coletes à prova de balas, Elisandro morreu como havia planejado: sem se
entregar.
Os bandidos que conseguiram fugir se embrenharam mato a dentro e, mais
adiante, fizeram novos reféns: uma família composta de nove pessoas, apanhada
de surpresa em pleno sono, não teve como reagir. Depois de manterem essas
pessoas sob seu domínio durante vinte horas, deitadas, com o rosto colado no
chão, os malfeitores desapareceram.
Do episódio, resta uma triste, mas inevitável constatação: manipulado, o
povo elege maus governantes, que não têm competência para fazer frente ao
crime. Mais inteligentes, os criminosos dominam, porque sabem se organizar,
planejar, escolhendo as vítimas, o dia, a hora, o local e o modo de agir.
Enquanto eles fazem do insano a sua atividade, os governantes fazem da política
uma atividade insana.
Olhem o que fez o Tarso Genro. Não sabendo equacionar o problema da
segurança, procurou saída na demagogia.
E lá foi ele abraçar as vítimas de Cotiporã. Certamente essas pessoas,
seduzidas pela “honra” da visita do governador, irão esquecer as vinte horas de
maceração dos mosquitos, do calor do dia e
do frio da noite, da fome, da sede e do incômodo decúbito ventral, para
votar nele outra vez.
Coisa de povo manipulado, ovelhas dependentes de madrinha. O Tarso sabe
disso.
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