quarta-feira, 2 de janeiro de 2013


DA ARTE DE SE APROVEITAR DO POVO

João Eichbaum

Foi um espetáculo cinematográfico, digno dos melhores produtores, daqueles que enriquecem a sétima arte.
Véspera de ano novo, feriadão, considerável parcela da população deixando os centros urbanos e migrando para o litoral.
 Dominado pelo mito, pelos costumes, pela emotividade, o povo esquece as dificuldades do dia-a-dia e se envolve totalmente com o clima da festa.
Os profissionais do crime sabem disso. Conhecem esse envolvimento emocional. Conhecem o clima de Natal e Ano Novo. Sabem que os administradores da segurança tiram policiais das ruas, para que eles possam fazer boca a boca com mocinhas que desmaiam no mar.
 E tanto sabem que dominaram facilmente cerca de trinta pessoas que curtiam a vida, descansadamente, num boliche próximo à fábrica de jóias de Cotiporã. E deram uma lição de planejamento, de profissionalismo, de como não esquecer detalhes, na construção de um objetivo. Obrigaram os marmanjos a se desnudarem da barriga para cima, (a fim de evitar a surpresa de alguma arma escondida). Em cima dessa, veio outra ordem: todos, homens e mulheres, deveriam ficar descalços  (para dificultar possíveis fugas).
Depois de fazerem uma “coleta” de dinheiro e pertences pessoais valiosos das vítimas, obrigaram-nas a formar um escudo humano, enquanto eles explodiam portas, paredes e cofres da fábrica. Com sacolas recheadas de ouro, prata e jóias valiosas, encetaram a fuga, levando consigo alguns reféns.
Quis o destino que, numa curva da estrada, se encontrassem os bandidos, em fuga, com uma viatura da Polícia Militar. O tiroteio foi inevitável. Por pura sorte, os reféns não foram atingidos. Mas, Elisandro Falcão, tido como líder do grupo, e dois de seus companheiros foram abatidos. Mesmo protegido por dois coletes à prova de balas, Elisandro morreu como havia planejado: sem se entregar.
Os bandidos que conseguiram fugir se embrenharam mato a dentro e, mais adiante, fizeram novos reféns: uma família composta de nove pessoas, apanhada de surpresa em pleno sono, não teve como reagir. Depois de manterem essas pessoas sob seu domínio durante vinte horas, deitadas, com o rosto colado no chão, os malfeitores desapareceram.
Do episódio, resta uma triste, mas inevitável constatação: manipulado, o povo elege maus governantes, que não têm competência para fazer frente ao crime. Mais inteligentes, os criminosos dominam, porque sabem se organizar, planejar, escolhendo as vítimas, o dia, a hora, o local e o modo de agir. Enquanto eles fazem do insano a sua atividade, os governantes fazem da política uma atividade insana.
Olhem o que fez o Tarso Genro. Não sabendo equacionar o problema da segurança, procurou saída na demagogia.
E lá foi ele abraçar as vítimas de Cotiporã. Certamente essas pessoas, seduzidas pela “honra” da visita do governador, irão esquecer as vinte horas de maceração dos mosquitos, do calor do dia e  do frio da noite, da fome, da sede e do incômodo decúbito ventral, para votar nele outra vez.
Coisa de povo manipulado, ovelhas dependentes de madrinha. O Tarso sabe disso.



Nenhum comentário: