quinta-feira, 10 de janeiro de 2013


BOLSAS E COTAS

João Eichbaum

A mãe do Badanha era uma dessas por aí. Depois de umas que outras, certa noite deitou com um afrodescendente - vamos dizer assim, porque o adjetivo “negro” foi banido do vernáculo por lei.
Aí, tal como vocês estão pensando, nove meses depois, o Badanha veio ao mundo, patrocinado pelo SUS.
Do pai, nunca se soube quem era. A bem dizer, nem ela mesma, a mãe do Badanha, poderia dizer com certeza quem seria mesmo o progenitor. Aí o Badanha foi crescendo e, à medida que foi crescendo, foram surgindo irmãozinhos e irmãzinhas engrossando a família, que só tinha mãe.
Até que o Lula apareceu. Sabe o Lula? É, isso mesmo, o patrão da Rosemary.
Então, o Lula apareceu e instituiu uma esmola oficial, conhecida como “bolsa-família”. A mãe do Badanha se inteirou do assunto, pedindo informações aqui e ali, e correu para botar as crianças na escola. Escola pública, é claro. Aí começou a receber, mensalmente, o “bolsa-família”, que era a verba complementar dos seus programas. Se tivesse carteira assinada, trabalho formal, seria diferente, não teria direito à esmola oficial. Então, o negócio era continuar a exercer a antiga profissão da Madalena, aquela que lavou os pés de Jesus Cristo.
O Badanha era burro e preguiçoso pra xuxu, vivia matando aula, mas foi passando de ano em ano, porque a Secretaria de Educação proibia a reprovação dos alunos. Só começou a ler no terceiro ano, exatamente como prevê o projeto do Ministério da Educação.  
Assim foi: concluiu o primeiro e o segundo grau numa escola pública, onde os professores faltavam, faziam greve, se aposentavam e não eram substituídos. Mas o Badanha chegou lá. Nunca soube o que era batente porque os michês da mãe eram incrementados com o bolsa-família. Nunca soube o que era estudar, porque o governo garantia a sua aprovação.
Então, assim, ó: filho de negro, ops, de afrodescendente, aluno de escola pública, e carente, o Badanha tinha tudo para ser aprovado no vestibular da UFRGS. Levou de barbada, amparado no direito das cotas.
Quando a coisa começou a apertar e ele sentiu que teria de procurar emprego, veio uma salvação de Brasília: a ajuda de custo para universitário carente, leia-se cotista. Quatrocentos pilas por mês! Para que trabalhar?
Daqui a algum tempo o Badanha estará disputando o mercado de trabalho.
Disputando? Vocês é que pensam. Ele está plenamente confiante de que o governo do PT providenciará: cota de emprego para desqualificados.
Mas, se a lei não vier até lá, de qualquer maneira ele já estará garantido: será deputado. Pelo PT, é claro.



3 comentários:

Gigi disse...

Maravilhosa crônica, mas, lamento, presumo impublicável nos jornais.

Raul disse...

Melhor ler isso do que ser cego

Unknown disse...

LAMENTÁVEL, deve ser muito triste ser um ser preconceituoso feito você, mas triste do que isso deve ser ter seus pensamentos mesquinhos e pequenos. Então quer dizer que se a mulher é Negra, e eu não tenho problemas com o uso da palavra, ela não sabe de quem é o pai e sua profissão é Prostituta? Se é pobre e negro, é burro? NOSSA coitado de você mais um filho dessa sociedade nojenta e cheias de pré-conceitos, que se mete a escritor mas não passa de mais um que fala sem conteúdo!