O IPI E AS FESTAS DE FINAL DE
ANO
João Eichbaum
Com uma cara diferente da que Deus
lhe deu, porque foi repuxada e ficou lisa demais para quem passou do tempo de
ter pele igual àquela parte que mamãe tratava a Hipoglós, a Dilma Rousseff apareceu
um monte de vezes nos noticiários de televisão no ano passado, anunciando, como
um glorioso feito da pátria amada, a redução do IPI para os automóveis.
Sua idéia, com isso, era
engravidar a economia, quer dizer, dar-lhe fertilidade, com aptidão para parir
bons frutos, sem o espermatozóide do IPI, ao contrário da economia da velha
Europa, que dá sinais de que está muito pra lá da menopausa.
O resultado só veio a aparecer nos dois maiores feriadões do ano, aqueles
que são regados a espumante - barato ou sofisticado - e lágrimas que, se não são
de crocodilo, são de bêbado mesmo.
Falo, evidentemente, dos dois últimos feriadões do ano, os do Natal e Ano
Novo.
Aí aconteceu o seguinte: os ricos, com os carrões importados, o alemão do
papai, o francês da mamãe e o coreano do filho que passou no vestibular do ano
passado, foram para a estrada, rumo ao mar azul de Santa Catarina. Os pobres,
com seu “um ponto zero” original, sem ar condicionado, adquirido em setenta e
duas prestações, se tocaram para o mar achocolatado de Tramandaí, levando a
sogra, o cachorro, o papagaio, o nenê de colo e os dois mais crescidinhos,
aproveitando o chalé mal conservado de um parente distante da já mencionada
sogra.
O rico, tendo que cuidar da sua empresa ou de seu escritório, só poderia
partir para as festas de fim de ano no final do expediente de sexta-feira. A
esposa, que não precisa trabalhar, assim como os filhos, em fim de ano letivo,
já tinham ido na quinta-feira.
O pobre, por um motivo diametralmente oposto ao do rico, era obrigado a
bater ponto só no final do expediente de sexta-feira para, depois de se deixar
espremer num ônibus lotado, chegar em casa e botar no carrinho sem IPI tudo o
que tinha de levar consigo: do bujão de gás ao papel higiênico. Então, só lhe
restava enfrentar a noite ou partir no sábado.
Na volta, tanto o pobre como o rico, teriam que iniciar a viagem de
retorno na terça feira, dia 25, após a festa de Natal, e dia 1º, após a festa
do final de ano.
Na ida, tudo bem. Havia a opção de viajar na sexta ou no sábado, quem
sabe até domingo. Mas, na volta, não havia alternativas para quem tinha de
estar no batente ou na sala da chefia no dia 2. Resultado: quilômetros e
quilômetros de engarrafamento e emperramento.
Foi no que deu o IPI da Dilma. As estradas, sem espaço para tantos
veículos, despejavam o povo nas lancherias e restaurantes abarrotados e nas
quilométricas filas de xixi para senhoras, enquanto os machos corriam para os
matos.
As vovós de vocês, meus queridos, fizeram muito mais metros de tricô, do
que a Dilma Rousseff e o Tarso Genro de estrada. Nos seus oito anos, com o “PAC”
da Dilma, o Lula construiu parte da BR 101. Na outra, a cada dois minutos o
mundo pára quinze.
É nessas estradas obsoletas, abarrotadas de veículos, que as sogras,
suando às bicas, têm de agüentar horas e horas aquele cachorrão no meio das pernas e ouvindo os
palavrões expelidos pelo genro e repetidos pelo papagaio. Sem contar a bexiga
cheia e o nenê borrado, berrando. Sorte que os puns são entregues ao vento,
pelas janelas abertas. Tudo por falta de IPI.
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