segunda-feira, 7 de janeiro de 2013


O IPI E AS FESTAS DE FINAL DE ANO

João Eichbaum

 Com uma cara diferente da que Deus lhe deu, porque foi repuxada e ficou lisa demais para quem passou do tempo de ter pele igual àquela parte que mamãe tratava a Hipoglós, a Dilma Rousseff apareceu um monte de vezes nos noticiários de televisão no ano passado, anunciando, como um glorioso feito da pátria amada, a redução do IPI para os automóveis.
 Sua idéia, com isso, era engravidar a economia, quer dizer, dar-lhe fertilidade, com aptidão para parir bons frutos, sem o espermatozóide do IPI, ao contrário da economia da velha Europa, que dá sinais de que está muito pra lá da menopausa.
O resultado só veio a aparecer nos dois maiores feriadões do ano, aqueles que são regados a espumante - barato ou sofisticado - e lágrimas que, se não são de crocodilo, são de bêbado mesmo.
Falo, evidentemente, dos dois últimos feriadões do ano, os do Natal e Ano Novo.
Aí aconteceu o seguinte: os ricos, com os carrões importados, o alemão do papai, o francês da mamãe e o coreano do filho que passou no vestibular do ano passado, foram para a estrada, rumo ao mar azul de Santa Catarina. Os pobres, com seu “um ponto zero” original, sem ar condicionado, adquirido em setenta e duas prestações, se tocaram para o mar achocolatado de Tramandaí, levando a sogra, o cachorro, o papagaio, o nenê de colo e os dois mais crescidinhos, aproveitando o chalé mal conservado de um parente distante da já mencionada sogra.
O rico, tendo que cuidar da sua empresa ou de seu escritório, só poderia partir para as festas de fim de ano no final do expediente de sexta-feira. A esposa, que não precisa trabalhar, assim como os filhos, em fim de ano letivo, já tinham ido na quinta-feira.
O pobre, por um motivo diametralmente oposto ao do rico, era obrigado a bater ponto só no final do expediente de sexta-feira para, depois de se deixar espremer num ônibus lotado, chegar em casa e botar no carrinho sem IPI tudo o que tinha de levar consigo: do bujão de gás ao papel higiênico. Então, só lhe restava enfrentar a noite ou partir no sábado.
Na volta, tanto o pobre como o rico, teriam que iniciar a viagem de retorno na terça feira, dia 25, após a festa de Natal, e dia 1º, após a festa do final de ano.
Na ida, tudo bem. Havia a opção de viajar na sexta ou no sábado, quem sabe até domingo. Mas, na volta, não havia alternativas para quem tinha de estar no batente ou na sala da chefia no dia 2. Resultado: quilômetros e quilômetros de engarrafamento e emperramento.
Foi no que deu o IPI da Dilma. As estradas, sem espaço para tantos veículos, despejavam o povo nas lancherias e restaurantes abarrotados e nas quilométricas filas de xixi para senhoras, enquanto os machos corriam para os matos.
As vovós de vocês, meus queridos, fizeram muito mais metros de tricô, do que a Dilma Rousseff e o Tarso Genro de estrada. Nos seus oito anos, com o “PAC” da Dilma, o Lula construiu parte da BR 101. Na outra, a cada dois minutos o mundo pára quinze.
É nessas estradas obsoletas, abarrotadas de veículos, que as sogras, suando às bicas, têm de agüentar horas e horas  aquele cachorrão no meio das pernas e ouvindo os palavrões expelidos pelo genro e repetidos pelo papagaio. Sem contar a bexiga cheia e o nenê borrado, berrando. Sorte que os puns são entregues ao vento, pelas janelas abertas. Tudo por falta de IPI.



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