segunda-feira, 14 de janeiro de 2013


O PARÁGRAFO DE MOISÉS


João Eichbaum
joaoeichbaum@gmail.com

Segundo a mitologia judaico-cristã, houve um ente superior, assexuado, eterno, chamado Deus, que, entediado pela rotina da eternidade, decidiu criar este planeta terra, onde colocou seres viventes, com a finalidade única de o adorarem.

Depois de ordenar “faça-se isso, faça-se aquilo”, resolveu botar a mão na massa, ops, no barro e modelou um boneco, no qual não deixou de encaixar um pinto. Pinto pra quê? Ah, sim, quando se deu conta de que o pinto, sem mulher, não servia pra nada, criou a mulher, a Eva. Fez o macho Adão de barro e tirou dele uma costela para fazer a mulher.
Depois, segundo a mesma lenda, o ente, por fofoca duma serpente, teria brigado com os dois seres. Os pobres diabos, que não tinham pedido para vir ao mundo, foram expulsos do paraíso, onde haviam feito um estágio probatório. Atrás da expulsão veio a ordem de  “se multiplicarem”.
“Multiplica-te”. Não é exatamente esse o verbo que a gente usa, para mandar longe alguém que  aprontou. O que a gente diz é “te phode”.
Pois bem. Então Deus, irado, enfurecido, pê da cara, disse esse palavrão que a Bíblia não publica, e expulsou Adão e Eva do paraíso (mas deixou lá a pecadora serpente), sem lhes dar direito à reincidência.
Que castigo, hein! Ele bem que poderia ter inventado, ou imposto, outros castigos, com tanta ou até maior intensidade de prazer do que esse, o de “multiplicar-se”. Mas, inventou esse, que é bom e concentra a essência do melhor dos prazeres conhecidos. Que seja feita sua vontade.
Só que tem o seguinte. Muitos anos depois, quando a turma descobriu como é bom o “multiplicar-se”, Deus inventou outra regra, limitando a primeira. Convocou Moisés - um cara que nem podia tirar folha corrida, porque tinha um homicídio no currículo - para introduzir um parágrafo, estabelecendo a proibição de “pecar contra a castidade” e, outro, pior ainda, de “desejar a mulher do próximo”.
Ora, meus amigos, se ele tinha poderes para multiplicar a humanidade, criando bonequinhos que nem precisavam de pinto, e fazendo mulheres com costelas dos ditos bonequinhos, por que é que  mandou os caras se “multiplicarem” daquele jeito, que é a melhor coisa do mundo? Será que ele não sabia que isso é tão bom assim? Ou só foi descobrir depois que a Sara, mulher do pai Abraão, começou a dar pro Faraó?
Ao descobrir que o ato de “se multiplicar” era bom, Deus instaurou uma repressão feroz contra o sexo. Além da proibição genérica de “pecar contra a castidade”, estabeleceu outra mais dura, vetando a mulher do próximo como  opção para o ato de se multiplicar.
 Então, esse parágrafo introduzido através de Moisés, restringindo a multiplicação só com a patroa, é que ninguém entende. Antes, quando a coisa estava liberada geral, não havia problemas, a Sara fez o que fez, o Abraão traçou a empregada Hagar, a Tamar se fez de garota de programa para encarar um “love” com o sogro. Tudo numa boa.
A proibição mudou para pior o homem e o mundo. Nem o filho que Deus gerou na Maria, mulher do próximo, consertou o estrago.



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