EM
NOME DE JESUS
João Eichbaum
joaoeichbaum@gmail.com
Rolava a maior devoção na igreja.
Eram quarenta pessoas rezando, cantando, suplicando a Deus, fazendo oferendas
para se livrarem de doenças e males em geral e agradecendo ao Senhor por ter
ele se esquecido do fim do mundo, programado para dezembro do ano passado.
A
postura teatral, mãos levantadas para cima, olhos fechados, era o cenário
ideal.
Alguém
gritou, atrás dos piedosos fiéis, alto e bem forte:
“Em
nome de Jesus”!
E quando o povo se voltou, para ver quem assim
exclamava, com o tanta emoção, colocando na voz uma convicção até maior do que
o pastor, viram três homens, armados de revólver, e ouviram a mesma voz,
completando:
“É um assalto”.
A cena a seguir foi a mesma de sempre, de que não fica
fora nenhum dos figurantes em assalto coletivo: todos quietos, deitados no
chão, se mijando de medo.
E aí os mensageiros do nome de Jesus foram se
apoderando, em primeiro lugar, do dízimo, que os fiéis guardavam para entregar ao
pastor, o tesoureiro de Deus, como pagamento por todas as graças recebidas.
Juntaram numa sacola, além do dízimo, alianças, anéis, relógios, celulares, etc.
Depois exigiram as chaves de um automóvel que lhes
havia chamado a atenção, um “Strada”. O dono, sem titubear, as entregou.
Os piedosos assaltantes tiveram uma ligeira
dificuldade para obter a chave de um
segundo veículo, um Vectra. Mas a dificuldade foi arredada, não pela
misericórdia de Deus, mas pela mão deles: fizeram uma menina de doze anos, sob
a mira de um revólver, os levar até o dono do carro.
De posse das chaves deram as mesmas ordens que a
burocracia dos assaltos exige:
“Fiquem deitados, esperem vinte minutos.”
E acrescentaram:
“Temos o rádio da polícia. Se vocês chamarem a Brigada,
voltaremos e mataremos todos”.
E, antes de sair, bradaram, colocando na voz a mesma
tonalidade pungente, usada por todos os representantes de Deus na terra:
“ Fiquem na paz do Senhor”.
O fato aconteceu em Caxias do Sul, na semana passada.
O nome da Igreja, onde ocorreu o assalto é Pentecostal
do Amor de Deus...
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