ANTES DO CARNAVAL, SÓ
DESGRAÇAS
João
Eichbaum
joaoeichbaum@gmail.com
Será que alguma pessoa séria
e consciente, neste país, teve ânimo, teve motivos para festejar e se esbaldar
no Carnaval?
Nas semanas que o
precederam, quem se lembra de alguma manchete capaz de encher de alegria, de
alimentar esperanças, de convencer alguém de que a vida é bela e a gente tem
mais é que aproveitar mesmo o Carnaval, como fazem os cariocas e os
pernambucanos?
Não. Não acredito que as
desgraças que precederam o Carnaval tenham terminado em samba, com a coreografia
sensual das mulatas quebrando as
cadeiras.
Primeiro, a demonstração da
força satânica do crime em Santa Catarina, com bandidos debochando da sociedade
e das instituições, ateando fogo em veículos, atirando contra policiais,
semeando o medo e o terror, mostrando que quem manda neste país são eles, ao
lado dos demais bandidos eleitos pelo povo.
Depois, a madrugada do
horror em Santa Maria, onde a morte chegou disfarçada de alegria, mas, apagando os
rastros de sua farsa, se transformou num carrasco sádico, que foi matando aos
poucos, negando o ar para os pulmões, acelerando a sufocação, respingando fogo,
jogando pelo chão pessoas semi-conscientes, entregando-as ao delírio, antes de
acabar com todos os seus sonhos sob os pés
dos desesperados. E desatou o desespero sufocante, a mudez do descrédito, a dor
interminável e sem remédio, que é a dor da alma, a revolta, a indignação de
pais, parentes e amigos de mais de duas centenas de jovens.
Ninguém conseguirá descrever
uma tragédia que nunca viveu. E os que a viveram não encontrarão palavras,
porque antes das palavras virá o trauma, o bloqueio causado pela lembrança do
indesejável.
Então fiquemos por aqui,
para lembrar a outra, a terceira desgraça, que não necessita de descrição,
porque, sendo de natureza moral, é sentida por todos os que têm vergonha na
cara: a eleição de Renan Calheiros para a presidência do Senado e a de Henrique
Alves para a da Câmara dos Deputados.
Só quem teve alegria e não
experimentou escrúpulos para comemorar essa última desgraça, de que tirarão
proveito, foram os aliados do governo federal. Essa alegria sepultará a
tristeza, que eles não puderam evitar, com a tragédia de Santa Maria, e os fará
dar de ombros para a violência dominante em Santa Catarina, que recusou auxílio
federal.
Essas figurinhas,
certamente, foram para a Avenida, para os clubes, para os palanques, enchendo a
cara e os olhos, porque a vida, longe de terminar, é um longo caminho de
vantajosas safadezas para eles.
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