quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013


ANTES DO CARNAVAL, SÓ DESGRAÇAS

João Eichbaum
joaoeichbaum@gmail.com

Será que alguma pessoa séria e consciente, neste país, teve ânimo, teve motivos para festejar e se esbaldar no Carnaval?
Nas semanas que o precederam, quem se lembra de alguma manchete capaz de encher de alegria, de alimentar esperanças, de convencer alguém de que a vida é bela e a gente tem mais é que aproveitar mesmo o Carnaval, como fazem os cariocas e os pernambucanos?
Não. Não acredito que as desgraças que precederam o Carnaval tenham terminado em samba, com a coreografia sensual  das mulatas quebrando as cadeiras.
Primeiro, a demonstração da força satânica do crime em Santa Catarina, com bandidos debochando da sociedade e das instituições, ateando fogo em veículos, atirando contra policiais, semeando o medo e o terror, mostrando que quem manda neste país são eles, ao lado dos demais bandidos eleitos pelo povo.
Depois, a madrugada do horror em Santa Maria, onde a morte  chegou disfarçada de alegria, mas, apagando os rastros de sua farsa, se transformou num carrasco sádico, que foi matando aos poucos, negando o ar para os pulmões, acelerando a sufocação, respingando fogo, jogando pelo chão pessoas semi-conscientes, entregando-as ao delírio, antes de acabar com  todos os seus sonhos sob os pés dos desesperados. E desatou o desespero sufocante, a mudez do descrédito, a dor interminável e sem remédio, que é a dor da alma, a revolta, a indignação de pais, parentes e amigos de mais de duas centenas de jovens.
Ninguém conseguirá descrever uma tragédia que nunca viveu. E os que a viveram não encontrarão palavras, porque antes das palavras virá o trauma, o bloqueio causado pela lembrança do indesejável.
Então fiquemos por aqui, para lembrar a outra, a terceira desgraça, que não necessita de descrição, porque, sendo de natureza moral, é sentida por todos os que têm vergonha na cara: a eleição de Renan Calheiros para a presidência do Senado e a de Henrique Alves para a da Câmara dos Deputados.
Só quem teve alegria e não experimentou escrúpulos para comemorar essa última desgraça, de que tirarão proveito, foram os aliados do governo federal. Essa alegria sepultará a tristeza, que eles não puderam evitar, com a tragédia de Santa Maria, e os fará dar de ombros para a violência dominante em Santa Catarina, que recusou auxílio federal.
Essas figurinhas, certamente, foram para a Avenida, para os clubes, para os palanques, enchendo a cara e os olhos, porque a vida, longe de terminar, é um longo caminho de vantajosas safadezas para eles.


UM

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