quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013


FIM DA MISÉRIA?

João Eichbaum

A demagogia não tem limites. Vai do estelionato ao ridículo. E o pior é quando junta as duas coisas.
Querem ver?
Anteontem a Dilma montou um espetáculo cheio de pompa e circunstância par anunciar o fim da miséria no Brasil. Discursos, senhores engravatados, senhoras muito chiques, cheias de colares e pingentes, a elite dos políticos enganadores estava ali reunida, para proclamar alto e bom som a grande arrancada do governo do PT, para erradicar a miséria: setenta reais por mês, é mínimo que cada pessoa deve ganhar.
É claro que ali não estava nenhum beneficiário dessa enganação. Não havia gente maltrapilha, suja, de pés descalços, raquítica e desdentada. O espetáculo foi armado longe dos miseráveis.
O engodo publicitário, que leva o nome de “Brasil Sem Miséria”, deve ter sido feito especialmente para ignorantes, quer dizer, exatamente para aquelas pessoas que irão se beneficiar dele, e são pessoas que não têm boca pra nada, nem para criticar, nem para reclamar, e muito menos para agradecer. Então, não sei porque os políticos botaram terno e gravata e as senhoras se enfeitaram para a festa.
Nenhuma pessoa inteligente e honesta, neste país, irá aplaudir a medida demagógica.
Não é com esmolas que se tira alguém da miséria. É com oportunidades. Oportunidade para ter saúde, em primeiro lugar. Em segundo lugar, oportunidade para ter educação, formação profissional. Em terceiro lugar, oportunidade de trabalho.
Só ganha menos de setenta reais por mês, quem não trabalha de jeito nenhum, quem não tira a bunda da cadeira ou o corpo da rede. Perguntem aos catadores de lixo, aos que passam o dia juntando latinhas, se eles ganham menos de setenta reais em uma semana de trabalho.
Como é que uma pessoa pode viver com setenta reais durante um mês? Poderá matar a fome, limitando as refeições  a feijão, arroz e carne? Sobrará alguma coisa para o pão, para o café, para o leite? E a roupa, e o calçado?
Ora, vá fazer as contas, dona Dilma.
Claro que os setenta reais, saídos da nossa conta, serão distribuídos. Disso ninguém duvida. Não iriam resolver sequer o problema da fome, se alguém confiasse neles para viver. Mas vão ajudar na compra do crack, certamente. Ou será que o pessoal da “crakolândia”, os personagens daquela cena deprimente da Avenida Brasil, no Rio de Janeiro, estão fora das contas da Dilma?
 É claro que entre os muitos beneficiários haverá quem se lembre do PT na hora do voto. É nisso que a dona Dilma aposta: menos de 1% dos vinte e dois milhões de beneficiários, devidamente cadastrados, já bastará para fazer a diferença. Voto barato, hein! Setenta pila por cabeça.

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