FIM DA MISÉRIA?
João
Eichbaum
A
demagogia não tem limites. Vai do estelionato ao ridículo. E o pior é quando
junta as duas coisas.
Querem
ver?
Anteontem
a Dilma montou um espetáculo cheio de pompa e circunstância par anunciar o fim
da miséria no Brasil. Discursos, senhores engravatados, senhoras muito chiques,
cheias de colares e pingentes, a elite dos políticos enganadores estava ali
reunida, para proclamar alto e bom som a grande arrancada do governo do PT,
para erradicar a miséria: setenta reais por mês, é mínimo que cada pessoa deve
ganhar.
É claro
que ali não estava nenhum beneficiário dessa enganação. Não havia gente maltrapilha,
suja, de pés descalços, raquítica e desdentada. O espetáculo foi armado longe
dos miseráveis.
O engodo
publicitário, que leva o nome de “Brasil Sem Miséria”, deve ter sido feito
especialmente para ignorantes, quer dizer, exatamente para aquelas pessoas que
irão se beneficiar dele, e são pessoas que não têm boca pra nada, nem para
criticar, nem para reclamar, e muito menos para agradecer. Então, não sei
porque os políticos botaram terno e gravata e as senhoras se enfeitaram para a
festa.
Nenhuma
pessoa inteligente e honesta, neste país, irá aplaudir a medida demagógica.
Não é com
esmolas que se tira alguém da miséria. É com oportunidades. Oportunidade para
ter saúde, em primeiro lugar. Em segundo lugar, oportunidade para ter educação,
formação profissional. Em terceiro lugar, oportunidade de trabalho.
Só ganha
menos de setenta reais por mês, quem não trabalha de jeito nenhum, quem não
tira a bunda da cadeira ou o corpo da rede. Perguntem aos catadores de lixo,
aos que passam o dia juntando latinhas, se eles ganham menos de setenta reais
em uma semana de trabalho.
Como é que
uma pessoa pode viver com setenta reais durante um mês? Poderá matar a fome,
limitando as refeições a feijão, arroz e
carne? Sobrará alguma coisa para o pão, para o café, para o leite? E a roupa, e
o calçado?
Ora, vá
fazer as contas, dona Dilma.
Claro que
os setenta reais, saídos da nossa conta, serão distribuídos. Disso ninguém
duvida. Não iriam resolver sequer o problema da fome, se alguém confiasse neles
para viver. Mas vão ajudar na compra do crack, certamente. Ou será que o
pessoal da “crakolândia”, os personagens daquela cena deprimente da Avenida
Brasil, no Rio de Janeiro, estão fora das contas da Dilma?
É claro que entre os muitos beneficiários
haverá quem se lembre do PT na hora do voto. É nisso que a dona Dilma aposta:
menos de 1% dos vinte e dois milhões de beneficiários, devidamente cadastrados,
já bastará para fazer a diferença. Voto barato, hein! Setenta pila por cabeça.
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