O HOMEM QUE NUNCA CHOROU
João
Eichbaum
joaoeichbaum@gmail.com
Embora seja uma cidade pequena, Santa Maria tem
reputação internacional. Com a segunda maior universidade federal no Estado, a
cidade tem uma população universitária que extravasa os limites da cidade, do
Estado e, em alguns casos, do país.
Então o prefeito da cidade, deve ter consciência de
sua responsabilidade de que não está governando um povinho interiorano, mas uma
população com representatividade no concerto nacional.
Agora, com essa desgraça que aconteceu, atingindo
famílias da cidade, do Estado, do país e também do exterior, evidentemente essa
responsabilidade começou a pesar nos ombros do prefeito, o César Schirmer.
Dias desses ele teve um treco, foi atendido por médicos
que até então estavam disponíveis para atender familiares das vítimas do
incêndio na boate. Mas não era nada, pressão alta ou coisa que o valha.
O pior, porém, veio depois. Com uma passeata que,
segundo estimativas, reunia mais de sessenta mil pessoas, começaram as
cobranças das responsabilidades do poder público, entre as quais as
responsabilidades da prefeitura de Santa Maria. Na passeata, apareceram
cartazes específicos, onde se reclamava contra omissões da prefeitura.
No dia seguinte, o prefeito foi entrevistado num
programa de TV com audiência muito abrangente, e as cobranças da entrevistadora
foram diretas.
Ao invés de responder direta e objetivamente às
perguntas que lhe eram feitas, o prefeito tergiversava e fazia um discurso
igual ao do Brizola, que nunca respondeu, com clareza, ao que lhe era
perguntado.
Resultado, a entrevistadora encerrou a entrevista e
deixou o prefeito falando sozinho. No mesmo dia, a mulher dele postou uma
mensagem no face book, dizendo que o marido dela era um coitadinho, vítima da
“mídia” e de politiqueiros. Que não dormia, não comia,vivia deprimido.
No dia seguinte, ele deu entrevista com a mesma
lengalenga e disse mais, que vivia chorando, logo ele, um homem que nunca tinha
chorado.
Um homem que diz que nunca chorou, dispensa comentários.
Quem é que não levou um tapa na bunda para chorar, quando nasceu? Quem é que
não perdeu um amigo, um parente, um pai, uma mãe, um avô, uma avó, sem derramar
alguma lágrima? Quem é que não chorou de saudades da amada, de quem levou um
pontapé na bunda? Que tipo de pessoa é essa que não chora? Pertence ao nosso gênero?
Bem, o Schirmer, prefeito de Santa Maria, nunca
trabalhou. Sempre foi político, viveu de política. Ele não sabe o que é ter que
fazer as contas para ver se o dinheiro chega para pagar o mercado, o aluguel, a
luz, a água, os impostos, o telefone, etc.
Ele nunca fez um concurso, nunca disputou uma vaga,
cujo sucesso dependesse da qualidade do candidato.
Por isso, ele nunca chorou. Não precisou chorar. Nós,
que temos que disputar empregos, concursos, e fazer contas de chegar, para
viver, temos motivos de sobra para chorar. Porque a nossa vida é dura.
Agora ele posa de vítima. E, se duvida, ele quer ser a
maior vítima da tragédia de Santa Maria.
Só que essa o povo não vai engolir e lhe vai dar a oportunidade
de procurar emprego, de mostrar suas qualidades. E esperamos que as tenha.
Porque a carreira política dele terminou. A menos que
ele vá para o norte e para o nordeste, se juntar à dupla Zé Sarney e Calheiros.
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