sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013


O HOMEM QUE NUNCA CHOROU

João Eichbaum
joaoeichbaum@gmail.com

Embora seja uma cidade pequena, Santa Maria tem reputação internacional. Com a segunda maior universidade federal no Estado, a cidade tem uma população universitária que extravasa os limites da cidade, do Estado e, em alguns casos, do país.
Então o prefeito da cidade, deve ter consciência de sua responsabilidade de que não está governando um povinho interiorano, mas uma população com representatividade no concerto nacional.
Agora, com essa desgraça que aconteceu, atingindo famílias da cidade, do Estado, do país e também do exterior, evidentemente essa responsabilidade começou a pesar nos ombros do prefeito, o César Schirmer.
Dias desses ele teve um treco, foi atendido por médicos que até então estavam disponíveis para atender familiares das vítimas do incêndio na boate. Mas não era nada, pressão alta ou coisa que o valha.
O pior, porém, veio depois. Com uma passeata que, segundo estimativas, reunia mais de sessenta mil pessoas, começaram as cobranças das responsabilidades do poder público, entre as quais as responsabilidades da prefeitura de Santa Maria. Na passeata, apareceram cartazes específicos, onde se reclamava contra omissões da prefeitura.
No dia seguinte, o prefeito foi entrevistado num programa de TV com audiência muito abrangente, e as cobranças da entrevistadora foram diretas.
Ao invés de responder direta e objetivamente às perguntas que lhe eram feitas, o prefeito tergiversava e fazia um discurso igual ao do Brizola, que nunca respondeu, com clareza, ao que lhe era perguntado.
Resultado, a entrevistadora encerrou a entrevista e deixou o prefeito falando sozinho. No mesmo dia, a mulher dele postou uma mensagem no face book, dizendo que o marido dela era um coitadinho, vítima da “mídia” e de politiqueiros. Que não dormia, não comia,vivia deprimido.
No dia seguinte, ele deu entrevista com a mesma lengalenga e disse mais, que vivia chorando, logo ele, um homem que nunca tinha chorado.
Um homem que diz que nunca chorou, dispensa comentários. Quem é que não levou um tapa na bunda para chorar, quando nasceu? Quem é que não perdeu um amigo, um parente, um pai, uma mãe, um avô, uma avó, sem derramar alguma lágrima? Quem é que não chorou de saudades da amada, de quem levou um pontapé na bunda? Que tipo de pessoa é essa que não chora? Pertence ao nosso gênero?
Bem, o Schirmer, prefeito de Santa Maria, nunca trabalhou. Sempre foi político, viveu de política. Ele não sabe o que é ter que fazer as contas para ver se o dinheiro chega para pagar o mercado, o aluguel, a luz, a água, os impostos, o telefone, etc.
Ele nunca fez um concurso, nunca disputou uma vaga, cujo sucesso dependesse da qualidade do candidato.
Por isso, ele nunca chorou. Não precisou chorar. Nós, que temos que disputar empregos, concursos, e fazer contas de chegar, para viver, temos motivos de sobra para chorar. Porque a nossa vida é dura.
Agora ele posa de vítima. E, se duvida, ele quer ser a maior vítima da tragédia de Santa Maria.
Só que essa o povo não vai engolir e lhe vai dar a oportunidade de procurar emprego, de mostrar suas qualidades. E esperamos que as tenha.
Porque a carreira política dele terminou. A menos que ele vá para o norte e para o nordeste, se juntar à dupla Zé Sarney e Calheiros.




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