segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013


SEXO NA BARCA DE PEDRO

João Eichbaum

A concupiscência e a ganância são dois impulsos de que a maioria dos animais humanos não abre mão.
É por isso que o Vaticano, mesmo tendo sido destinado como sede da representação diplomática de Deus, passados séculos e séculos, ainda não conseguiu se libertar delas.
Joseph Ratzinger, denominado Papa Bento XVI, atormentado pelos estragos que essa dupla dinâmica continua fazendo naquele palácio, que era para ser sagrado, até se esqueceu de que é um teólogo renomado e se saiu com essa: “il Diavolo sporca la creazione”.
A frase tem a ver com o relatório que lhe entregaram os cardeais Julián Herranz Casado, Jozef Tomko e Salvatore De Giorgi, encarregados de fazer uma investigação sobre abusos e comportamentos nada evangélicos, testemunhados pelas seculares paredes e pelos porões soturnos do Vaticano.
Tais e tantos eram os escândalos e pecados hediondos a bradarem contra os céus, que os ralos, mas alvíssimos cabelos de Bento XVI se puseram em pé, obrigando Sua Santidade a esquecer seu doutorado teológico para se sair com essas palavras: “o Diabo conspurca a criação”.
A frase soa como bola levantada para a religião dos não crentes, a quem ocorrem, de imediato, duas perguntas: mas quem criou o Diabo? Então o Diabo tem mais poder do que Deus, conseguindo estragar o que o Todo Poderoso (mas a essa altura já nem tanto) criou?
Vejam a que ponto chegou o tormento de Joseph Ratzinger, oferecendo matéria para discurso de ateu.
Mas, não era para menos. Na parte da ganância e dos negócios escusos, a figura proeminente é a do cardeal Tarcisio Bertone, Secretário de Estado do Vaticano, que usa o Banco como lavanderia, faz escamoteios com o dinheiro de Deus, dá as cartas e joga de mão.
Na área da concupiscência, a lista é mais comprida. Nos Estados Unidos, o cardeal Mahony anda às voltas com a Justiça, por ter acobertado dezenas de casos de pedofilia atribuídos a padres de sua diocese. O cardeal Timothy Dolan está enrascado pelo mesmo motivo. O cardeal Seán Brady, Primaz da Irlanda, não está em lençóis melhores. No mesmo time joga Godfried Daneels, cardeal belga. Nada menos de quatro acusações de assédio sexual pesam sobre o cardeal Keith O'Brien. Os objetos de seus desejos são três sacerdotes e um ex-padre.
Angelo Balduci, ex-presidente do Conselho Nacional Italiano de Obras Públicas e o  nigeriano Chinedu Thiomas Eheim, da Capela Musical da Basílica de São Pedro, são acusados de organizar encontros homossexuais para seminaristas e membros do coral, na sauna Quarta Miglo, em Roma, num salão de beleza dentro da Santa Sé, e na república universitária de Trasone.
Nada mudou radicalmente. Da história da Igreja não se pode suprimir a depravação da corte papal de Avignon, as orgias dos Bórgias em Roma, a luxúria dos tempos de Leão X, Alexandre VI, Clemente VII, Gregório XIII, o nepotismo por conta da lascívia. Hoje, a concupiscência e a ganância continuam marcando presença na história de uma Instituição, que era para ser assistida pelo Espírito Santo. Mas portas do inferno só “não prevalecem contra ela”, porque é exatamente assim que o diabo gosta.
 Joseph Ratzinger vai saltar fora, não porque a barca de Pedro esteja fazendo água, mas para não correr o risco de estar no timão de um prostíbulo flutuante. E só espera que não o acusem de estar levando para seu retiro definitivo um calendário daqueles de borracharia.



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