terça-feira, 23 de abril de 2013


O INFLUXO DA NALGA  NA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL

João Eichbaum
joaoeichbau@gmail.

Não ouvi de terceiros. Quem me contou foi ela própria. A Graziela - chamemo-la assim, embora eu saiba que ela gosta que a tratem por “Grazi” - é uma mulher menos do que lindérrima, mas tem uma compensação que a faz ultrapassar esse superlativo: é sensual. Ninguém diz que ela tem uma filhinha de dois anos. Só não me perguntem quem é o pai, porque não sei.
 Tendo passado no vestibular de Direito da Unisinos, onde qualquer um passa, desde que conheça as letras do alfabeto, ficou fascinada pelo mundo jurídico.
Então, como precisava trabalhar, foi à luta, disposta a enfrentar a batalha, a receber muitos “não”. Mas foi com seu corpinho de sereia, sem barriga, ubres salientes, manequim trinta e seis na parte de cima, e quarenta e dois, na parte mais aberta da curva abaixo do quadril: um biótipo que combina com o gosto dos machos.
Assim, preparada para qualquer batalha, foi em busca do seu espaço. Esse, é claro, só poderia ser o foro, o tribunal, um cartório qualquer. Pois foi ao foro e logo deu de cara com um aviso na porta do primeiro cartório cível: “estamos cadastrando candidatos para estágio”.
Parece que a palavra “cadastrar” tinha sido empregada de propósito. Se o candidato fosse macho, precisando trabalhar, sob a pressão da necessidade, leria com rapidez o anúncio, e na certa daria as costas. Se, para ser estagiário, precisaria ser “castrado”, preferia ficar sem o emprego.
De sorte que a maioria era formada por candidatas do glorioso sexo feminino. Nossa amiga Grazi entre elas.
Antes de entrar no cartório, viu que tinha uma maquininha dessas que emitem senhas. Apanhou a sua senha e ficou esperando entre senhores engravatados, jovens barbudos, de tênis e camisa para fora das calças, e menininhas de jeans colados no corpo.
Quando chegou sua vez, disse a que vinha, queria informações sobre a vaga de estagiário. “É com o escrivão”, explicou a atendente, que foi chamar o chefe.
Aí então, estava a nossa amiga ouvindo do escrivão tudo o que era necessário para se candidatar ao cargo, como declaração da escola, prova de residência, disponibilidade de horário, etc, quando seu informante foi interrompido por um senhor que estava mais para meia idade do que para a adolescência:
- O que deseja a moça?
- É candidata a estagiária, doutor. Estou lhe informando sobre  os requisitos.
E a resposta do doutor:
- Manda ela passar no meu gabinete.
Era o meritíssimo juiz. Ele estava entrando no cartório, viu a nossa Grazi de costas e pensou: “é o meu número”!
O que a Grazi não me contou é se ela teve que fazer o teste do clunis.
Ora, ora... Não venham me dizer que vocês não sabem o que é clunis!
Clunis, meus caros, é um substantivo latino da terceira declinação, que significa, nalga. Certo?  E foi pelo seu belo clunis, benza Deus, que a Clunis, digo, a Grazi, arrumou o serviço. E ela agora está lá no foro, despachando, dando sentenças, deferindo e indeferindo.
A única coisa que ela me confidenciou foi o seguinte: só não disse pro juiz que eu tenho uma filha...!
Dizem que o teste da nalga é o mais aplicado pelos juízes que querem estagiárias e secretárias. E passa no teste a candidata cujo clunis tem o tamanho que o colo do meritíssimo exige.
E vocês não sabiam a razão da existência de tanta matéria fecal nos despachos e sentenças, né?

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