A COPA DAS INDIGNAÇÕES
João Eichbaum
joaoeichbaum@gmail.com
Menos de vinte e quatro
horas depois das vaias no Mané Garrincha e do levante da turba dos indignados,
quando os políticos ainda zanzavam à cata das razões que levavam multidões às
ruas, iluminado por um clarão que só o diabo consegue acender eu já perguntava:
“será que o povo está se dando conta de que temos um Legislativo que só faz
leis burras, um Executivo que só quer o nosso dinheiro, e um Judiciário que não
tem a mais puta idéia do que seja Justiça?”
Um dia depois, aparecia a
manchete na Folha de São Paulo: “Contra tudo” e por mudanças, milhares vão às
ruas”.
Mais dois dias e surgia o
resultado da pesquisa realizada pelo Datafolha: da população de São Paulo,
apenas 19% acha que o Executivo tem muito prestígio, 42 % dizem que o
Legislativo não tem prestígio algum e apenas 20% têm o Judiciário na conta de
alguma coisa que preste.
O último baluarte da
esperança, que era o Judiciário, está assim, na credibilidade dos paulistanos
e, “mutatis mutandis”, dos brasileiros: apenas 1% a mais do que o Executivo, e
perdendo feio para os políticos.
Assim é: o povo está
revoltado contra a má administração, o uso do poder em proveito pessoal e a
inoperância do sistema como um todo. O transporte público é caro porque
não tem qualidade: seus concessionários são achacados pelos políticos e, por sua
vez, exploram os que ralam a barriga nas catracas. O sistema viário sem
investimento provoca exasperantes engarrafamentos, a polícia de tocaia pratica
verdadeira extorsão com multas. É mais fácil pegar bêbados ao volante do que
construir estradas seguras, pois assim sobra dinheiro para a corrupção.
Enquanto isso, o Judiciário faz vistas grossas para a dupla tributação, a do
IPVA e a dos pedágios.
Por mais que alguém puxe
pela memória, jamais irá lembrar da última lei que fez feliz a todos os
brasileiros. Pelo contrário, as leis de que ninguém esquece são a que entregou
o país ao domínio do crime, com o desarme dos cidadãos honestos, e a que
impediu até o padre de rezar missa, se tiver que dirigir veículo.
É para isso que deputados
e senadores embolsam tudo o que podem, privilégios na saúde, verbas de
gabinete, diárias, viagens, indenizações, forrando as burras, e ficando ricos
de uma hora para outra? Claro, é por isso que todo mundo morre, mas o Sarney
ainda está no poder.
E o Executivo, que não
presta conta dos gastos com cartões corporativos, que ao invés de criar
empregos dá bolsa-família, que banca a truculência do MST, mas paga
merrecas para os professores, que resposta dá para os impostos que a classe
média paga?
De que adianta pagar
imposto, se ainda precisa pagar escola, plano de saúde, e um guardinha para dar
um olhada na casa de vez em quando?
E o Judiciário, cheio de
pompa e lerdeza, que julga os outros, mas não cuida do própria cauda,
denunciada pelo guiso das mordomias e privilégios? E que dizer de juízes,
desembargadores e ministros, que assinam sentenças feitas por estagiários e
assessores? O que se espera de um Judiciário que ordena a soltura de
assassinos, estupradores, assaltantes, em nome dos “direitos humanos”, e nos
manda para a cadeia, só porque tomamos umas biritas e pegamos nosso fusquinha
meia zero, ou porque - já que não temos telhado de vidro - jogamos umas
pedrinhas nas vidraças da Prefeitura?
Dá licença, motivo para
berrar nunca faltou. Mas, agora estourou o saco de todo mundo.
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