terça-feira, 25 de junho de 2013

OS VÂNDALOS
João Eichbaum
joaoeichbaum@gmail.com



Os vândalos não são falhas da cadeia de montagem de Deus, não. Eles são os verdadeiros homens. São os homens que correspondem às suas origens. Por que são, verdadeiramente, animais.
O animal homem não é, por natureza, um animal manso. Como não o são o leão, o tigre, a serpente. O animal homem foi amansado pelos filósofos, pelas religiões, pelas convenções sociais, que outra coisa não são senão frutos da filosofia, da religião e das conveniências de qualquer grupo dominante.
Alguns, talvez maioria, assimilaram esses ensinamentos, passaram-nos aos filhos, esses passaram-nos adiante, e assim foi, de geração em geração: são como os elefantes, mansos, que não sabem a força que têm.
Mas, os poucos que os não assimilaram, ou simplesmente os recusaram, ou se os assimilaram, tiveram-nos destruídos pela hipocrisia social, esses voltaram à estaca zero, voltaram a ser homens em sua natureza pura, a natureza animal, na qual está ínsita a violência, projeção natural do instinto de sobrevivência. Ou simplesmente porque gostam de ver Roma pegar fogo.
Quer porque não tenham o que outros têm, a mulher gostosa e  fiel, a conta no banco, o carro último tipo, o celular idem, a casa com piscina, a casa na praia, as férias nas ilhas gregas, a chefia na empresa; quer porque não tenham sido contemplados pela sorte de pertencer ao grupo melhor aquinhoado; quer porque sua voz não tenha sido ouvida quando bradavam contra  injustiças e desequilíbrios sociais, eles sempre terão mil razões para  se afastarem da turma dos bem educados, dos certinhos, dos que fazem tudo de acordo com o manual.
Eles sabem que, sozinhos, não conseguirão nada. Então ficam à espera da ocasião, porque inteligentes, como os outros da sua espécie, eles são. São ocasiões raras, mas, enfim, podem acontecer. E digamos que aconteçam, como estão acontecendo agora: os mauricinhos e as patricinhas, que não têm a mais puta idéia do que seja passar uma noite na fila do SUS, e que, fazendo bem as contas, ainda não tiveram motivos para dizer que se deram mal na vida, resolvem protestar, sair com bandeiras, gritando palavras de ordem, a maioria menos por vontade própria do que arrastados pelo receio de comprometer sua biografia pela “alienação”.
E aí, os homens no seu estado puro, aderem. Aderem mais por obediência aos impulsos da natureza, porque não assimilaram as lições da hipocrisia. Então, eles dão vazão ao que lhes vai pelo bestunto e saem quebrando, batendo, ferindo, rapinando, pedindo a bunda de alguém, ao contrário dos outros, que só querem “paz”.
E são chamados de vândalos, de bestas, e são vaiados, alguns são presos, segregados do convívio social.
Nesses momentos, nenhum sociólogo se apresenta. Todos estão do mesmo lado, o lado dos certinhos, dos cordeiros, o lado dos que obedecem às hipócritas convenções sociais, que não botam o seu na reta. Ninguém defende os verdadeiros homens, os homens fiéis à sua natureza, chamados pela linguagem "cult" de vândalos. Ninguém se dá conta de que essa rejeição torna mais forte a natureza animal que sempre falou mais alto por eles, os vândalos.

De modo que a história vai ser sempre assim. A menos que os descendentes de Átila e de Nero vençam no segundo turno, levando a melhor sobre os descendentes de Jesus Cristo.

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