segunda-feira, 21 de outubro de 2013

E DEUS PRECISA DE GLÓRIA?




João Eicbaum


Inacio de Loyola era um cara normal. Garboso militar, elegante, gostava de mulher e de outras coisas nem tão boas como as filhas de Deus e dos homens.
Até que um dia levou um tiro nas partes debaixo e ficou broche. Aí, então, sem poder (ou phoder) mais nada na vida, resolveu fundar uma ordem religiosa, a Companhia de Jesus, cujos membros são conhecidos como jesuitas.
Entende-se: já que a vida aqui na terra tinha perdido o sentido para ele, nada mais lhe restava senão apostar suas fichas no reino do céu. Mudou do dia para a noite, tornou-se um energúmeno do Deus cristão, que era o antigo Javé dos hebreus. Tanto assim que estabeleceu, como objetivo de sua Companhia, um trabalho intenso para "a maior glória de Deus". O lema acabou sendo adotado pela ordem, levando como sigla oficial as iniciais AMDG (ad majorem Dei gloriam).
Em Roma, um padre magro, baixinho, careca, com ar abestalhado, sem atributo algum que pudesse agradar às mulheres, também fundou a sua congregação religiosa, a que deu o nome de Pia Sociedade das Missões.
Chamava-se Vicente Pallotti. Como nasceu em Roma e nunca saiu de lá, sonhava com uma congregação que se alastrasse pelo mundo, para pregar missões, convertendo os gentios e levando a palavra de Deus a todos quantos dela necessitassem – partindo-se da improvável hipótese de que Deus fale com alguém. E aí foi mais longe do que Inácio de Loyola, pois queria que seus homens trabalhassem para  a “infinita glória de Deus”,  “ad infinitam Dei gloriam” (AIDG) em latim.
Agora pensem comigo. A “maior” gloria de Deus depende dos homens? Em que é que podem os homens contribuir para a “maior” glória de Deus?
Pô, se o cara já é Deus, será que ele já não tem glória que chegue? Deus está cheio de glória, minha gente, tem glória até no santo saco. Não serão os homens, seres mortais, com prazo de validade, que irão aumentar a “glória” de Deus.
Pior do que isso é querer que a “glória” de Deus seja infinita, à custa do trabalho dos homens, que são finitos.
E Deus, por acaso, necessita de glória? Será que ele vive de glória? Se os homens não lhe derem glória, ó, nada feito? Mas, e antes de aparecerem os homens na face da terra, quem é que lhe enviava glória?
É assim que funciona, quando os homens inventam deuses. Eles lhes atribuem as “necessidades” que eles próprios, os inventores, têm. Porque, é claro, os homens têm necessidade de glória. Os homens que não têm “glória” se sentem desmerecidos, rebaixados à massa informe do povão, que jamais saberá o que é glória na sua puta vida.
Então, fiquemos por aqui. Os deuses já têm glória suficiente, e a glória que os homens querem lhes acrescentar não serve para bosta nenhuma. O material humano é de baixa qualidade e seria incompatível com a transcedência divina – se essa, realmente, existisse.





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