João
Eicbaum
Inacio de Loyola era um cara normal.
Garboso militar, elegante, gostava de mulher e de outras coisas nem tão boas
como as filhas de Deus e dos homens.
Até que um dia levou um tiro nas partes
debaixo e ficou broche. Aí, então, sem poder (ou phoder) mais nada na vida,
resolveu fundar uma ordem religiosa, a Companhia de Jesus, cujos membros são
conhecidos como jesuitas.
Entende-se: já que a vida aqui na terra
tinha perdido o sentido para ele, nada mais lhe restava senão apostar suas
fichas no reino do céu. Mudou do dia para a noite, tornou-se um energúmeno do
Deus cristão, que era o antigo Javé dos hebreus. Tanto assim que estabeleceu,
como objetivo de sua Companhia, um trabalho intenso para "a maior glória
de Deus". O lema acabou sendo adotado pela ordem, levando como sigla
oficial as iniciais AMDG (ad majorem Dei gloriam).
Em Roma, um padre magro, baixinho, careca,
com ar abestalhado, sem atributo algum que pudesse agradar às mulheres, também
fundou a sua congregação religiosa, a que deu o nome de Pia Sociedade das
Missões.
Chamava-se Vicente Pallotti. Como nasceu
em Roma e nunca saiu de lá, sonhava com uma congregação que se alastrasse pelo
mundo, para pregar missões, convertendo os gentios e levando a palavra de Deus
a todos quantos dela necessitassem – partindo-se da improvável hipótese de que
Deus fale com alguém. E aí foi mais longe do que Inácio de Loyola, pois queria
que seus homens trabalhassem para a
“infinita glória de Deus”, “ad infinitam
Dei gloriam” (AIDG) em latim.
Agora pensem comigo. A “maior” gloria de
Deus depende dos homens? Em que é que podem os homens contribuir para a “maior”
glória de Deus?
Pô, se o cara já é Deus, será que ele já
não tem glória que chegue? Deus está cheio de glória, minha gente, tem glória
até no santo saco. Não serão os homens, seres mortais, com prazo de validade,
que irão aumentar a “glória” de Deus.
Pior do que isso é querer que a “glória”
de Deus seja infinita, à custa do trabalho dos homens, que são finitos.
E Deus, por acaso, necessita de glória? Será
que ele vive de glória? Se os homens não lhe derem glória, ó, nada feito? Mas,
e antes de aparecerem os homens na face da terra, quem é que lhe enviava
glória?
É assim que funciona, quando os homens inventam
deuses. Eles lhes atribuem as “necessidades” que eles próprios, os inventores,
têm. Porque, é claro, os homens têm necessidade de glória. Os homens que não
têm “glória” se sentem desmerecidos, rebaixados à massa informe do povão, que
jamais saberá o que é glória na sua puta vida.
Então, fiquemos por aqui. Os deuses já têm
glória suficiente, e a glória que os homens querem lhes acrescentar não serve
para bosta nenhuma. O material humano é de baixa qualidade e seria incompatível
com a transcedência divina – se essa, realmente, existisse.
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