PRA DIABO NENHUM BOTAR DEFEITO
João Eichbaum
O doutor
Pereirinha, causídico de foros e tribunais, personagem do meu romance (no
prelo) “Esse circo chamado justiça”, certamente colocaria, entre seus
“relatados e sucedidos”, essa cruza de novela mexicana com filme de terror, bem
no seu estilo, como segue.
Os serviços de
missas, batizados, casamentos e enterros na paróquia Bom Jesus, de Goiânia, têm
sido atravessados por problemas de quatro operações no dízimo e destemperos
outros no ramo de travesseiros e lençóis, envolvendo batinas. E tudo acabando
em missas de sétimo dia.
A meada teve
começo com o passamento do padre Adriano Curado, remetido ao reino dos céus a
poder de veneno com dose para elefante. De carona em cochichos e interrogações,
tinha chegado aos tímpanos do bispo diocesano o aviso de que os sagrados votos
do celibato andavam por conta de despaupérios em roupas de cama, na paróquia
Bom Jesus, onde também as contas “de menos” estavam a infestando a
contabilidade do dízimo.
O padre Adriano tinha sido plantado lá, para
botar moral na paróquia, apurando o que havia por baixo das batinas e em cima
das contas. Mas adernou para sempre, depois do café da manhã, no seu terceiro
dia de ministério.
Desentranhando
conversas de ouvido através dos fios, a polícia descobriu que o padre Moacir
Bernardino, colega de Adriano, andava repartindo, debaixo dos lençóis, seus
sessenta anos de idade com o noviço Dairan Freitas, de 23.
Chegados os
autos às mãos do juiz da comarca, o meritíssimo resolveu botar os apóstolos
atrás das grades, sob a suspeição de haverem agraciado o padre Adriano com a
vida eterna, para evitar o escândalo público.
Mas nas asas dum
“habeas corpus” eles saíram voando. Dois anos depois, porém, veio o segundo
capítulo: o padre Moacir Bernardino teve a alma despachada para lugar incerto e
não sabido, com dois tiros na cara.
Para o terceiro
ato de sangue na Paróquia Bom Jesus compareceu o padre José Altino. Tido como
amigo do padre Moacir, era conhecido também da polícia: além de suspeito da
morte do colega, já tinha sido preso por ter feito trafegar bala de trinta e
oito na direção de um irmão, por quesilhas de herança.
Tinha também um
amor atrasado no currículo. Coisa de vinte anos, haviam se conhecido ele e a
noviça Creuza Macena, que acabou trocando a virgindade prometida ao carpinteiro
Jesus pelo sacramento de aliança com o pedreiro José Amilton. Agora,
reencontrando-se na paróquia, o padre e a ex-noviça resolveram botar em dia
aquele amor de vinte anos distanciados.
Por diz-que-diz,
José Amilton passou a sentir coceiras nos parietais. Seguindo o “procurai e
achareis” do evangelho, fez tocaia para a mulher, e achou. Com aqueles
olhos que haveriam de desenhar o céu quadriculado, viu a Creuza, já sem a
antiga virgindade, a bombordo do celibato sacerdotal do padre Altino, na
direção do Motel Sky, em Aparecida de Goiânia.
Acompanhado de
uma militante em serviços de cama, contratada especialmente para o evento, o
pedreiro também foi para Motel. Entrou com o pé na porta do quarto onde os
antigos apaixonados mal tinham começado o aquecimento, e botou o trezoitão em
serviço, mirando o padre. A pessoa do reverendíssimo entregou a alma sem saber
pra quem, mas sabendo por onde.
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