sexta-feira, 14 de agosto de 2015

É DE BLABLABÁ QUE O POVO GOSTA
João Eichbaum

"Se você abre uma porta, você pode ou não entrar em uma nova sala. Você pode não entrar e ficar observando a vida. Mas se você vence a dúvida, o temor, e entra, dá um grande passo: nesta sala vive-se ! Mas, também, tem um preço... São inúmeras outras portas que você descobre. Às vezes curte-se mil e uma. O grande segredo é saber quando e qual porta deve ser aberta. A vida não é rigorosa, ela propicia erros e acertos. Os erros podem ser transformados em acertos quando com eles se aprende. Não existe a segurança do acerto eterno. A vida é generosa, a cada sala que se vive, descobre-se tantas outras portas. E a vida enriquece quem se arrisca a abrir novas portas. Ela privilegia quem descobre seus segredos e generosamente oferece afortunadas portas. Mas a vida também pode ser dura e severa. Se você não ultrapassar a porta, terá sempre a mesma porta pela frente. É a repetição perante a criação, é a monotonia monocromática perante a multiplicidade das cores, é a estagnação da vida... Para a vida, as portas não são obstáculos, mas diferentes passagens!"
(Içami Tiba)

O texto acima colheu quase dez mil “curtidas” no “Facebook”. Quer dizer, recebeu a aclamação de quase dez mil analfabetos funcionais. Analfabetos funcionais são pessoas simplesmente alfabetizadas, isto é, pessoas que sabem ler e escrever, mas não têm capacidade de interpretação.

Além de proclamar a asneira de que “a vida é generosa” (será que ele nunca viu gente passando fome e dormindo ao relento?), o cara que escreveu o texto não disse novidade alguma. Não revelou segredos, não ensinou a conquistar sucessos. Apenas disse o óbvio, que qualquer papagaio falante sabe, sem que seja necessário que alguém lhe ensine: a vida de qualquer pessoa depende das decisões que ela tomar. Há decisões que a tornarão feliz, lhe trarão sucesso, mas há decisões que a colocarão num beco sem saída ou a levarão para o abismo.

O principal, isto é, como tomar a decisão acertada ou como revertê-la, o cara não ensinou. Ora, ora, ninguém toma decisões erradas por gosto. E nem sempre o insucesso depende só da decisão. A vida é uma grande “bolsa de valores”, com altos e baixos, um verdadeiro turbilhão de circunstâncias, e essas circunstâncias é que determinarão o sucesso ou o fracasso das decisões pessoais. Ninguém é invulnerável à desgraça.

Em outras palavras: a vida é governada, ou desgovernada, pelos acasos, pela sorte ou pelo azar. Essa é a dura realidade. Não existem teorias ou regras que ensinem como se deve tomar uma decisão acertada. “Cada um, cada um”, diz a filosofia popular. Ou seja, cada caso é um caso, cada pessoa é uma pessoa, cada um tem o seu modo de agir perante as circunstâncias da vida.

A “curtição” do texto acima revela um alarmante número de otários ou analfabetos funcionais que sustentam espertalhões. Esses, os espertalhões, são dotados da capacidade de seduzir, de engambelar, de apaixonar ingênuos, de dobrar as pessoas que possuem inteligência de passarinho.


Ainda bem que existe hoje o Facebok, mostrando aqui, ali e acolá, focos de grandezas e aviltamentos do ser humano. A revelação dessas causas do desequilíbrio social serve para apaziguar a consciência de quem gostaria que o mundo fosse melhor. A inversão de valores fica por conta dos analfabetos funcionais - que são a maioria.

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