PAIXÕES
João Eichbaum
Tulio Milman, que assina o
“Informe Especial” em Zero Hora, se sai muito bem como cronista. Na edição de
sábado passado, colorado confesso, ele pincelou algumas frases interessantes
sobre aquilo que chama de “paixão pelo futebol”. O texto tem a ver com a
humilhante goleada sofrida no Gre-nal.
Diz o seguinte: “A paixão
pelo futebol é inexplicável. Na hora da tempestade, a raiva sempre ganha muito
espaço. É normal. O futebol é um espaço consentido de irracionalidade, de
incoerência. Um palco largo e perfeito para a catarse.”
O ser humano é o único
animal que se deixa dominar pela paixão. E, dominado pela paixão, ele não usa a
razão. Só não volta ao estado puro da animalidade porque qualquer ato seu,
praticado sob o domínio da paixão, é ditado pelo pensamento, pela vontade. Ou seja,
não deixa de ser racional, vá lá.
Então, paixão, tudo bem. O
homem, exatamente por ser racional, foi feito para se apaixonar, para se
apegar, para delirar. Abstraída a paixão comum, fruto do impulso sexual ingênito
em suas funções biológicas, ele tende a se apaixonar também por determinados
agrupamentos: religiosos, políticos e lúdicos.
A diferença entre a paixão
do indivíduo pelo indivíduo e a do indivíduo pelo grupo está na duração. A
primeira com tempo passa, se esboroa, se esfuma, desaparece. Mas a paixão pelo
grupo, salvo exceções que confirmam a regra, dura para sempre.
Esse tipo de paixão tem uma
explicação que diz muito com o animal: o desejo de poder. O apaixonado quer que
sua religião, seu partido político ou seu clube de futebol se sobreponha aos
adversários, porque isso lhe dá uma sensação de poder, alçando-o a um patamar
superior, dando-lhe a segurança de pertencer a um grupo mais forte. Ele quer
que seu grupo seja o que ele, individualmente, não foi.
Em suma, é a natureza
gregária do homem que o leva a se apaixonar por determinados grupos. Não é
correto dizer que ele se apaixona por futebol. O grupo, seja qual for sua
atividade, o enlevará. Essa é a razão pela qual ele não deixará de ver na
televisão ou de assistir da arquibancada nem um torneio de cuspe a distância, se
esse for disputado pelo seu grupo. A isso se chama paixão.
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