sexta-feira, 21 de agosto de 2015

PAIXÕES
João Eichbaum

Tulio Milman, que assina o “Informe Especial” em Zero Hora, se sai muito bem como cronista. Na edição de sábado passado, colorado confesso, ele pincelou algumas frases interessantes sobre aquilo que chama de “paixão pelo futebol”. O texto tem a ver com a humilhante goleada sofrida no Gre-nal.

Diz o seguinte: “A paixão pelo futebol é inexplicável. Na hora da tempestade, a raiva sempre ganha muito espaço. É normal. O futebol é um espaço consentido de irracionalidade, de incoerência. Um palco largo e perfeito para a catarse.”

O ser humano é o único animal que se deixa dominar pela paixão. E, dominado pela paixão, ele não usa a razão. Só não volta ao estado puro da animalidade porque qualquer ato seu, praticado sob o domínio da paixão, é ditado pelo pensamento, pela vontade. Ou seja, não deixa de ser racional, vá lá.

Então, paixão, tudo bem. O homem, exatamente por ser racional, foi feito para se apaixonar, para se apegar, para delirar. Abstraída a paixão comum, fruto do impulso sexual ingênito em suas funções biológicas, ele tende a se apaixonar também por determinados agrupamentos: religiosos, políticos e lúdicos.

A diferença entre a paixão do indivíduo pelo indivíduo e a do indivíduo pelo grupo está na duração. A primeira com tempo passa, se esboroa, se esfuma, desaparece. Mas a paixão pelo grupo, salvo exceções que confirmam a regra, dura para sempre.

Esse tipo de paixão tem uma explicação que diz muito com o animal: o desejo de poder. O apaixonado quer que sua religião, seu partido político ou seu clube de futebol se sobreponha aos adversários, porque isso lhe dá uma sensação de poder, alçando-o a um patamar superior, dando-lhe a segurança de pertencer a um grupo mais forte. Ele quer que seu grupo seja o que ele, individualmente, não foi.


Em suma, é a natureza gregária do homem que o leva a se apaixonar por determinados grupos. Não é correto dizer que ele se apaixona por futebol. O grupo, seja qual for sua atividade, o enlevará. Essa é a razão pela qual ele não deixará de ver na televisão ou de assistir da arquibancada nem um torneio de cuspe a distância, se esse for disputado pelo seu grupo. A isso se chama paixão.

Nenhum comentário: